Viagem em família
A narrativa se passa em 1990 e acompanha a jornalista Ruth (Lena Dunham) que viaja à Polônia para conhecer a cidade em que os pais cresceram. Ela é acompanhada pelo pai, Edek (Stephen Fry), um octogenário sobrevivente do Holocausto. Os dois se afastaram depois da morte da mãe de Ruth, então a viagem é também uma tentativa dos dois em se reaproximarem. De início Edek reluta em voltar para sua antiga cidade, mas o retorno acaba despertando nele sentimentos que havia esquecido.
Acostumado com personagens excêntricos, Stephen Fry é ótimo como Edek, um senhor que puxa conversa e faz amizades por onde passa. Por outro lado, conforme a trama progride, vemos fraturas nessa fachada boa praça e como ele usa isso para esconder suas dores, seja pelo falecimento da esposa, seja pelo passado de viver o Holocausto. Se no início a desculpa dele para não viajar de trem através da Polônia com Ruth soa como uma idiossincrasia curiosa, ao fim descobrimos como, na verdade, suas razões para isso são fruto de traumas passados.
Fry desenvolve uma química afetuosa com a Ruth de Lena Dunham, uma jovem insegura que parece estar em busca de algo que lhe falta. Se inicialmente Edek parece contrário aos esforços de Ruth em se conectar com o passado de sua família, ao longo da narrativa ele passa a ver as coisas sob a perspectiva da filha, enquanto Ruth percebe também a importância de seguir adiante e não deixar se prender pelo passado. É uma estrutura bem manjada, mas que funciona pelo afeto sincero que se desenvolve entre os dois.
Extermínio e reparação
O discurso sobre o Holocausto, no entanto, carece de qualquer observação mais elaborada, se limitando a reconhecer o sofrimento da população judaica e a importância de preservar a memória desses eventos para que nunca se repitam. A narrativa até coloca situações com alguma complexidade moral, como na cena em que Ruth tenta comprar de volta a porcelana de seus avós da família que agora vive no imóvel.
É um momento que poderia render uma discussão interessante, já que a família que vive no local claramente foi beneficiada por uma política antissemita, tendo recebido um prédio confiscado de uma família judia e reverbera esse antissemitismo ao praticamente extorquir Ruth ao cobrar valores absurdos pelo artefato. Ao mesmo tempo, há uma questão de classe social presente, já que a família vive em condições de grande pobreza, com um bebê doente inclusive, e Ruth chega sacudindo seu dinheiro e privilégio diante deles, então é compreensível que eles tentem conseguir recursos para melhorar um pouco seus problemas urgentes. A narrativa porém explora pouco essas camadas, da legítima busca por reparação de um lado e da precariedade dos que vivem lá e temem perder o pouco que tem. A Polônia, por sinal, como um todo é retratada como um país devastado e arruinado, com paisagens decadentes e uma fotografia na qual tons frios dessaturados dominam.
Há bastante coração em Tesouro no modo como ele desenvolve sua
relação entre pai e filha, mas falta contundência nas reflexões que a trama
tenta construir a respeito do Holocausto.
Nota: 5/10
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