sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Crítica – Alice: Subservience (Submissão)

 

Análise Crítica – Alice: Subservience

Review – Alice: Subservience
Você já se perguntou como seria o filme Megan (2023) se ao invés de um robô boneca tivéssemos uma robô boazuda? Não? Pois azar o seu, já que é exatamente essa resposta que o filme Alice: Subservience tenta dar. Sua narrativa de um futuro próximo poderia pensar em precarização do trabalho ou transhumanismo, mas prefere ser um slasher genérico com pitadas de um erotismo frígido.

Alma de silicone

A trama acompanha o empreiteiro Nick (Michele Morrone, do pavoroso 365 Dias), cuja esposa está hospitalizada com um sério problema cardíaco. Sem conseguir dar conta das demandas de trabalho e dos filhos, ele compra a robô doméstica Alice (Megan Fox). Dedicada, Alice logo se torna alguém que Nick e os filhos passam a confiar, mas a androide logo demonstra querer ir além de seu papel de ajudante.

Há também uma subtrama envolvendo o trabalho de Nick com construção e como ele e os colegas vão aos poucos sendo substituídos por robôs. É algo que poderia ser usado para discutir a presença de IA no mundo de hoje e os impactos que isso pode ter na força de trabalho, embora aqui essa discussão não vá para lugar algum e existe só para que um dos trabalhadores demitidos hostilize Nick por ter mantido seu emprego e motive Alice a agredir o sujeito para proteger seu dono.

A relação entre Alice e Nick segue uma dinâmica bem óbvia da robô querer atender todas as necessidades do dono, incluindo as sexuais, ser rechaçada e entrar numa onda homicida contra todo mundo que ela vê como uma ameaça a sua relação com Nick, incluindo sua esposa e filhos. Não há nenhuma situação particularmente tensa e as mortes sequer são criativas no uso da violência e do gore.

Humanos mecanizados

Alice se beneficia da interpretação mecânica de Megan Fox, que convence como um autômato sem alma ou emoção. Por outro lado Michele Morrone soa mais robótico que Fox como Nick, nunca convencendo das incertezas, dores ou dúvidas do construtor em uma performance tão inexpressiva que faria o trabalho de Ricardo Macchi como Cigano Igor em Explode Coração parecer teatro elisabetano.

As cenas de sexo entre os dois carecem de intensidade ou erotismo por conta da inexpressividade dos dois personagens e também da própria condução dessas cenas, filmadas sem volúpia, sem qualquer traço marcante. Eu poderia questionar o porquê de se fazer uma robô de serviços domésticos atraente e com genitais que funcionam, mas imagino que devem existir clientes com objetivos mas err... digamos...multiuso para esse tipo de produto. Menos sentido, porém, faz em um robô com esses propósitos ser extremamente forte e resistente. Isso faz sentido para os robôs de construção, mas não para serviços domésticos.

O fato de Nick se deixar levar por Alice inicialmente poderia ser usado para discutir transhumanismo e como as máquinas estão se tornando cada vez mais parte de nós ao ponto de nos conectarmos a ela como outras pessoas, um debate que produções como Ex Machina (2015) ou Titane (2022) fazem de maneira bem mais instigante. Na prática o que o filme faz é criar um conflito inconsistente. Depois da primeira vez que transa com Alice, Nick se sente culpado e insiste várias vezes que não podem fazer isso de novo. Quando Alice insiste ele volta a rechaçar a robô dizendo que ela nunca irá sentir emoções verdadeiras nem o faria sentir nada por ela.

Entretanto quando a esposa de Nick descobre o que estava acontecendo ao invés de demonstrar a mesma culpa de antes ele rechaça as acusações da esposa dizendo que Alice é um eletrodoméstico e que ele transar com a ela seria o equivalente de uma mulher usar um vibrador (embora eu diria que a metáfora mais adequada seria equivaler a enfiar o pênis no aspirador de pó). É uma postura diametralmente oposta ao que o personagem teve até então e que esvazia todo o conflito interno que a narrativa tentou construir. Se eu fosse comparar Alice: Subservience com um software, diria que ele está para o cinema como o Internet Explorer está para navegadores de internet.

 

Nota: 2/10


Trailer

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