Passado de luta
O filme começa com imagens de arquivo, mostrando entrevistas de Chico Mendes enquanto ele narra a situação com fazendeiros no Acre e a necessidade de evitar o desmatamento. O documentário intercala imagens de arquivo com entrevistas e imagens do presente acompanhando lideranças do movimento. É um produto de natureza mais expositiva, que visa informar o espectador sobre quem foi Chico Mendes, a pauta do movimento, suas conquistas e os problemas atuais da causa.
É uma produção que segue bem as estruturas de documentário expositivo, recorrendo a reportagens, dados e entrevistas para dar ao espectador conhecimento sobre essa realidade. Mesmo não saindo do convencional, ele cumpre o que propõe ao nos fazer entender a centralidade de Chico Mendes para a organização e ação do movimento. Através do arquivo e das falas no presente aprendemos sobre a ideia de “empate” forma de resistência pacífica estruturada por Mendes para evitar que grileiros e latifundiários avançassem no desmatamento contra a floresta. Mesmo com a morte de Chico Mendes aprendemos sobre o então sucesso da luta e conquista de uma reserva florestal que garantiu a preservação da mata.
Ameaças crescentes
Esse não é, entretanto, um documentário apenas sobre o passado do movimento, ele também reflete sobre o presente da luta e como, mais do que nunca, os seringueiros precisam se mobilizar contra o avanço da pecuária que insiste em desmatar a floresta e não exibe preocupação com uma relação sustentável com a mata.
Acompanhamos reuniões do movimento e discussões sobre a necessidade de resistência ao mesmo tempo em que ouvimos entrevistas sobre como o assédio dos fazendeiros vem aumentando nos últimos anos, seja através de uma presença mais constante no local, seja através de processos judiciais. Nesse sentido sinto falta do filme mostrar essa tensão de maneira mais direta ou específica, mostrando documentos de processos ou as interações, seja filmando ou com cenas encenadas baseadas nos depoimentos das fontes, com os fazendeiros que ameaçam a comunidade. Do jeito que está, por vezes é uma ameaça que soa muito distante até chegarmos à cartela de texto final que nos diz que muitos moradores da reserva perderam boa parte de suas terras.
Essa discussão do avanço das ameaças contra a população local remete ao nosso contexto político dos últimos anos, com os entrevistados narrando que a partir do governo Temer as coisas pioraram muito em termos da invasão da floresta e do desmatamento. Como a produção foi realizada por volta de 2018 ou 2019, ela não entra nos anos do governo Bolsonaro, mas dá uma perspectiva desalentadora do que se avizinhava para aquela comunidade e para a pauta de preservação ambiental como um todo. É um senso de retrocesso e de que não aprendemos nada com os problemas do nosso passado, tendo que repetir as mesmas lutas e discutir as mesmas coisas não para melhorar a situação, mas apenas para impedir que piorem.
Mesmo sendo um documentário
expositivo bem tradicional, Empate faz
um trabalho importante de resgatar a luta do movimento seringueiro, explicando
a importância de Chico Mendes, além de lembrar porque essa continua sendo uma
luta relevante nos dias atuais.
Nota: 6/10
Trailer
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