quinta-feira, 10 de abril de 2025

Crítica – O Deserto de Akin

 

Análise Crítica – O Deserto de Akin

Review – O Deserto de Akin
Não me lembro de outra produção brasileira antes deste O Deserto de Akin que tenha explorado o programa Mais Médicos e a vinda de médicos cubanos para o Brasil. Apesar de ter sido um assunto que tomou a esfera pública por um bom tempo, não tenho lembrança de muitas outras produções brasileiras sobre o tema.

Deserto particular

A trama é centrada em Akin (Reynier Morales), um médico cubano trabalhando no interior do Espírito Santo que vai aos poucos se conectando ao local e é afetado pela mudança no programa e no governo brasileiro depois de 2018. Ele não tem muitas amizades fora do trabalho, tendo em Érica (Ana Flávia Cavalcante) sua única conexão afetiva. Logo a dupla também agrega Sérgio (Guga Patriota), cozinheiro pernambucano que, assim como Akin, se sente solitário e deslocado no local.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Crítica – Força Bruta: Punição

 

Análise Crítica – Força Bruta: Punição

Review – Força Bruta: Punição
Os outros Força Bruta eram filmes ação básicos, mas ao menos divertiam por conta das cenas de ação e do carisma de seu astro. Este Força Bruta: Punição continua focando nesses aspectos, mas agora eles já não chamam a atenção como antes.

Crimes digitais

Na trama, o detetive Ma Seok-Do (Ma Dong-Seok/Don Lee) se junta à unidade de crimes cibernéticos para deter uma grande organização de jogos de azar online que usa o dinheiro para financiar outras operações criminosas. Considerando o crescimento dos cassinos online ao redor do mundo (incluindo aqui no Brasil com o jogo do tigrinho e similares) e como eles nem sempre operam na legalidade, o conflito central do filme soa bastante atual.

terça-feira, 8 de abril de 2025

Crítica – Ainda Não é Amanhã

 

Análise Crítica – Ainda Não é Amanhã

Review – Ainda Não é Amanhã
O tabu em volta do aborto muitas vezes reduz a discussão em torno dele como uma discussão meramente de cunho moral. Isso impede que o problema seja visto como uma questão de saúde pública ou que se discuta outras facetas do problema. Nesse sentido, a produção pernambucana Ainda Não é Amanhã traz uma reflexão mais ampla sobre o tema ao pensar no ambiente inseguro que a proibição do aborto cria para as mulheres.

Alternativas limitadas

A narrativa é protagonizada por Janaína (Mayara Santos), uma jovem que mora com a mãe e a avó na periferia de Recife. Janaína é uma aplicada estudante de direito e namora com Jefferson (Mário Victor), que vive de fazer entregas com sua bicicleta. Quando Janaína descobre estar grávida de Jefferson ela começa a ver seus prospectos de futuro diminuírem e começa a analisar as opções limitadas que tem para resolver a questão.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Crítica – The White Lotus: 3ª Temporada

 

Análise Crítica – The White Lotus: 3ª Temporada

Review – The White Lotus: 3ª Temporada
Chegando em sua terceira temporada, a série de antologia The White Lotus encontra aqui suas tramas menos interessantes. Muito se falou da cadência lenta deste terceiro ano, mas a verdade é que a série sempre desenvolveu seus conflitos em um cozimento lento. As tensões se construíam de maneira deliberada em pequenos gestos, falas sutis que iam se acumulando até estourarem em conflitos. Não é esse o problema real do terceiro ano. O que torna a temporada mais recente inferior às demais é que a maioria dos conflitos ou desdobramentos termina soando superficial, mal construída ou uma repetição de outras temporadas.

Ilha da fantasia

A temporada se passa na Tailândia e apresenta um novo grupo de hóspedes como o trio de amigas Kate (Leslie Bibb), Laurie (Carrie Coon) e Jacklyn (Michelle Monaghan) que estão em uma viagem para curtir, mas acabam desenterrando antigos ressentimentos. Rick (Walton Goggins) chega com a namorada Chelsea (Aimee Lou Wood, de Sex Education), mas esconde dela que está lá para uma vingança pessoal. O rico empresário Timothy Ratliff (Jason Isaacs) está com sua família, a esposa dondoca Victoria (Parker Posey), os filhos Saxon (Patrick Schwarzenegger) e Lochlan (Sam Nivola), e a filha Piper (Sarah Catherine Hook). Retornando da primeira temporada está Belinda (Natasha Rothwell) que vai para a Tailândia aprender novas técnicas de massagem, mas reencontra figuras do passado.

domingo, 6 de abril de 2025

Crítica – Um Dia Daqueles

 

Análise Crítica – Um Dia Daqueles

Review – Um Dia Daqueles
Com Hollywood tão focada em grandes blockbusters, filmes de super-heróis e universos compartilhados a impressão é que certos gêneros ou subgêneros foram colocados em escanteio pela indústria e a comédia besteirol, tão frequente no final da década de 90 e no início dos anos 2000, é um deles. Um Dia Daqueles soa como o tipo de comédia amalucada que Hollywood parece ter esquecido de como fazer, apenas ocasionalmente entregando produções como Loucas em Apuros (2023).

Amigas sem dinheiro

A narrativa acompanha as amigas Dreux (Keke Palmer) e Alyssa (SZA), que dividem um apartamento juntas. Quando o namorado trambiqueiro de Alyssa gasta o dinheiro do aluguel, elas precisam correr contra o tempo para levantar a quantia até o final do dia para não serem despejadas. Em meio a tudo isso, a dupla é caçada por Bernice (Aziza Scott), a raivosa amante do namorado de Alyssa.

sábado, 5 de abril de 2025

Crítica – Centro Ilusão

 

Análise Crítica – Centro Ilusão

Review – Centro Ilusão
Escolher viver de arte não significa que a arte irá escolher você. Independente do talento é possível amargar sucesso e anonimato por muito tempo e muita gente abandona essa busca artística por conta de desilusões. Centro Ilusão trata exatamente disso, do quanto o mundo da arte pode te mastigar e cuspir de volta e de onde é possível encontrar ânimo para continuar.

Música errante

A narrativa acompanha dois músicos que se conhecem na seleção para um laboratório musical. Kaio (Bruno Kunk) é um jovem músico que vê no laboratório a chance de finalmente poder atuar profissionalmente como músico ao invés de tocar na rua passando o chapéu. Tuca (Fernando Catatau) é um homem de meia idade que a despeito do talento nunca decolou como músico e vê no laboratório uma última chance. Enquanto aguardam o resultado da seleção, ambos perambulam pelo centro de Fortaleza conversando sobre suas experiências.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Crítica – 3 Obás de Xangô

 

Análise Crítica – 3 Obás de Xangô

Review – 3 Obás de Xangô
Dirigido por Sérgio Machado (responsável por filmes como Cidade Baixa e A Luta do Século), o documentário 3 Obás de Xangô analisa a amizade entre três artistas baianos, a influência deles na cultura do estado e como eles ajudaram a promover culturas afro brasileiras e a enfrentar o preconceito contra as religiões de matriz africana.

A invenção da Bahia

A produção narra a amizade entre o escritor Jorge Amado, o músico Dorival Caymmi e o artista plástico Carybé a partir da conexão que eles tinham com o terreiro de Mãe Stella de Oxóssi no qual ocupavam a posição de Obá de Xangô, um título honorífico que reconhecia o papel deles na visibilidade que davam à cultura afro e o combate ao preconceito. Estruturalmente é um documentário bem convencional, recorrendo a imagens de arquivo que mostram as interações entre os três personagens, produções inspiradas nas obras deles (como as adaptações cinematográficas de Jorge Amado), além de entrevistas com personalidades contemporâneas, como o ator Lázaro Ramos ou o escritor Itamar Vieira Junior, que falam da influência dos três artistas.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Crítica – A Queda do Céu

 

Análise Crítica – A Queda do Céu

Review – A Queda do Céu
Dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, o documentário A Queda do Céu se baseia no livro homônimo de Davi Kopenawa e Bruce Albert. O livro trazia reflexões do xamã yanomami Davi Kopenawa sobre as noções brancas de progresso e desenvolvimento, narrando também o modo como os xamãs se relacionam com o mundo espiritual para proteger a natureza e evitar a “queda do céu” que seria causada pela desarmonia promovida pelos brancos.

Cosmovisão nativa

É um filme focado principalmente em nos fazer entender a cosmovisão do povo yanomami. Ou seja, como eles veem o mundo, o funcionamento do universo e o que eles pensam das práticas das pessoas de fora, supostamente desenvolvidas. A produção inicia com uma longa cena de um grupo de yanomamis se deslocando por uma trilha em meio a um descampado e dá o tom para um filme que é, em essência, sobre as movimentações dessa população. Como eles se movimentam pela região e vivem com a floresta, como tentam se proteger de ataques externos e como eles se movimentam internamente em seus rituais xamânicos na busca por revelações sobre o devir e por proteção nos conflitos com os brancos.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Crítica – Holland

 

Análise Crítica – Holland

Review – Holland
Depois de um interessante primeiro longa em Fresh (2022), a diretora Mimi Cave nos traz este Holland, que tenta construir uma atmosfera de mistério e estranhamento, mas que termina sendo mais uma história sobre como a idílica vida de classe média em uma pequena cidadezinha estadunidense pode ser mais sombria do que parece. É uma produção que atira em várias direções ao mesmo tempo e que não é certeira em nenhuma, dependendo do carisma de Nicole Kidman para manter tudo coeso.

Perfeição artificial

A narrativa é protagonizada por Nancy (Nicole Kidman), uma dona de casa na pequena cidade de Holland, um lugarejo no interior dos Estados Unidos que tenta emular o estilo de vida na Holanda. Ela tem uma vida aparentemente pacata ao lado do marido, Fred (Mathew Macfadyen), e do filho, Harry (Jude Hill). Essa existência aparentemente perfeita é maculada quando Nancy descobre papeis relativos as viagens de trabalho do marido que provam que ele não ia para as cidades que dizia que ia. Imediatamente Nancy começa a investigar os hábitos de Fred e alista o colega de trabalho Dave (Gael Garcia Bernal) para ajudá-la. Ao curso da investigação os dois se aproximam ao mesmo tempo em que descobrem coisas sombrias a respeito de Fred.

terça-feira, 1 de abril de 2025

Crítica – Presença

 

Análise Crítica – Presença

Review – Presença
É curioso que este Presença, filme de 2024 de Steven Soderbergh tenha chegado aqui depois do filme mais recente do diretor, Código Preto. Se Código Preto trazia o realizador de volta a algo menos experimental que seus últimos filmes, Presença é um trabalho mais conceitual de Soderbergh em termos de como ele conta a história.

Câmera-olho

A câmera é uma presença constante em cena, mas ela opera de maneira relativamente paradoxal. Apesar de estar fisicamente no espaço em muitos casos ela age como um olhar onisciente sobre aquele universo ficcional, com os personagens nunca reconhecendo a presença do dispositivo, sendo simultaneamente uma presença e uma ausência. De certa forma a câmera age como um espectro, uma assombração, vendo sem ser vista. Soderbergh leva isso para a literalidade ao contar toda a história de Presença do ponto de vista de uma assombração presente em uma casa. A câmera funciona aqui como o olhar etéreo dessa entidade que vaga pelo imóvel.

segunda-feira, 31 de março de 2025

Crítica – Reacher: 3ª Temporada

 

Análise Crítica – Reacher: 3ª Temporada

Review – Reacher: 3ª Temporada
Quando escrevi sobre a temporada anterior de Reacher, mencionei como a série era como um feijão com arroz. Algo básico, mas com capacidade de satisfazer por ser bem temperado e bem cozido. Esse terceiro ano segue da mesma forma entregando uma “confort food” para quem gosta de narrativas de ação e suspense, executando bem o que se espera desse tipo de produto sem, no entanto, arriscar muito.

Inimigo Íntimo

A trama coloca Reacher (Alan Ritchson) no encalço de Xavier Quinn (Brian Tee), um criminoso que ele pensou ter eliminado em seus tempos de exército. A caçada o coloca no meio de uma operação liderada pela agente federal Susan Duffy (Sonya Cassidy) que investiga a ligação de um poderoso empresário, Beck (Anthony Michael Hall), com um esquema de contrabando que pode ser liderado por Quinn. Sem escolha, Reacher aceita colaborar com a investigação e se infiltra na organização de Beck, se tornando segurança do filho do empresário, Richard (Johnny Berchtold).

quinta-feira, 27 de março de 2025

Rapsódias Revisitadas – Os Produtores

 

Crítica – Os Produtores

Análise – Os Produtores
Escrito e dirigido por Mel Brooks, Primavera para Hitler (1967) era uma divertida comédia que satirizava a indústria do entretenimento e também o nazismo. O sucesso rendeu uma adaptação para a Broadway como musical e depois o musical teatral foi levado aos cinemas neste Os Produtores (um percurso similar ao de A Pequena Loja dos Horrores) que foi lançado em 2005.

Contabilidade criativa

A narrativa acompanha o fracassado produtor de teatro Max Bialystock (Nathan Lane), longe do seu auge e que recorre a seduzir velhinhas para continuar financiando suas peças. Quando seu contador, Leo Bloom (Matthew Broderick), descobre ser possível embolsar mais dinheiro com um fracasso do que com um sucesso, eles se unem para produzir o pior musical da história de modo a sair de cartaz depois da estreia e eles poderem fugir com o dinheiro da produção. O material escolhido é uma peça nazista chamada Primavera para Hitler, um musical escrito por um ex-soldado alemão, Franz Liebkind (Will Ferrell), feito para exaltar o terceiro reich. Com um material desprezível em mãos, os dois creem ter encontrado um fracasso certo, mas a produção acaba sendo um sucesso, sendo recebida como uma sátira, criando problemas para os dois.

terça-feira, 25 de março de 2025

Drops – Moana 2

 

Crítica – Moana 2

Review – Moana 2
O primeiro Moana: Um Mar de Aventuras (2016) era uma aventura bacana, carregada por personagens carismáticas, boas canções e uma reviravolta final que ressignificava muito do que tínhamos visto até então. Este Moana 2, por outro lado, soa como uma continuação burocrática, pensada apenas para capitalizar em cima do sucesso do primeiro filme.

Mar adentro

Na trama, Moana (voz de Auli’i Cravalho) se torna a exploradora de sua vila e é incumbida de encontrar uma ilha mítica que teria sido escondida pelo deus Nalo (voz de Tofiga Fepulea'i). Essa ilha seria capaz de apontar as rotas para todos os povos que vivem no mar e unir as populações. Para alcançar a ilha, Moana mais uma vez busca a ajuda do semideus Maui (voz de Dwayne “The Rock” Johnson).

segunda-feira, 24 de março de 2025

Crítica – Ruptura: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – Ruptura: 2ª Temporada

Review – Ruptura: 2ª Temporada
Depois de três anos da excelente primeira temporada, Ruptura finalmente volta para seu segundo ano com uma trama que amplia os conflitos de seus personagens e aprofunda a mitologia de seu universo, explorando mais o passado da Lumon e do processo de ruptura.

Trabalho interno

Depois dos eventos do fim do primeiro ano Mark (Adam Scott) volta a trabalhar refinando macrodados na Lumon. Seu interno não sabe como voltou para lá nem o que aconteceu no mundo exterior depois que conseguiram visitá-lo, mas sabe que sua esposa ainda está viva em algum lugar na empresa e tenta encontrá-la com a ajuda dos colegas Irv (John Turturro), Dylan (Zach Cherry) e Helly (Britt Lower), por quem está apaixonado. A saída deles também impacta no modo como a Lumon lida com os funcionários que passaram por ruptura, anunciando mudanças que supostamente vão melhorar a qualidade de vida deles.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Crítica – Entre Montanhas

 

Análise Crítica – Entre Montanhas

Review – Entre Montanhas
Estrelado por Miles Teller e Anya Taylor-Joy, Entre Montanhas é mais uma daquelas produções de streaming que parece ter sido pensada por algum algoritmo. Pega elementos de diferentes gêneros que atraem segmentos distintos da audiência, combina eles em um pacote que parece feito para maximizar o alcance de público e justificar o orçamento, mas o resultado final não passa de uma colcha de retalhos sem alma.

Romance à distância

Na trama, o atirador de elite Levi (Miles Teller) recebe a missão de vigiar uma misteriosa fenda entre montanhas. Seu predecessor não te dá muitas informações além de que da fenda saem seres bizarros chamados de “homens ocos” cujo avanço deve ser contido. Do outro lado da fenda a atiradora Drasa (Anya Taylor-Joy), também vigia o local. Apesar da comunicação entre os atiradores ser proibida, a solidão leva os dois a interagirem e começam a se aproximar. Além de se apaixonarem, eles também decidem desvendar o mistério da fenda.

quinta-feira, 20 de março de 2025

Crítica – Guns of Fury

 

Análise Crítica – Guns of Fury

Review – Guns of Fury
A mistura entre os tiroteios explosivos da franquia Metal Slug e mecânicas de metroidvania me atraíram de imediato para Guns of Fury, produzido pela Gelato Games, responsável por Goblin Sword. É uma mescla que não lembro de ter visto, mesmo num cenário de produções indie com um fluxo constante de metroidvanias.

Andando e atirando

A narrativa se passa em um futuro próximo no qual um cientista criou uma nova forma de energia limpa que pode resolver a crise energética e climática que toma o planeta. Dois dias depois do anúncio da nova tecnologia o cientista é sequestrado por um grupo que deseja usar sua célula de energia para criar uma nova super-arma e o soldado Vincent é despachado para investigar e resgatar o cientista.

quarta-feira, 19 de março de 2025

Crítica – Sem Chão

 

Análise Crítica – Sem Chão

Review – Sem Chão
Feito por pessoas tanto da Palestina quanto de Israel, Sem Chão se debruça especificamente sobre a situação da região de Masafer Yatta na Cisjordânia cujas vilas são constantemente destruídas por tropas israelenses sob a justificativa de que a área é um local de treino para as forças armadas israelenses.

Terra de ninguém

É um documentário feito sobre e na urgência da situação, com imagens sendo captadas no momento que as tropas chegam para remover as pessoas, derrubar as casas com resultados muitas vezes trágicos de moradores desarmados que protestam a situação sendo baleados pelas tropas. As imagens, muitas vezes tremidas, muitas vezes distantes ou não devidamente enquadradas são um reflexo dessa urgência e comunicam sobre as condições sob as quais o filme foi realizado.

terça-feira, 18 de março de 2025

Crítica – Milton Bituca Nascimento

Análise Crítica – Milton Bituca Nascimento

Review – Milton Bituca Nascimento
Fui assistir Milton Bituca Nascimento achando que seria um documentário sobre os bastidores de sua última turnê. Não deixa de ser sobre isso, mas a produção aproveita o gancho de ser uma turnê de despedida do músico para refletir sobre seu legado artístico, sobre o que torna Milton um artista tão diferenciado e as inspirações de sua arte. O resultado é um mergulho mais abrangente e compreensivo da arte de seu objeto do que se ele se limitasse a apenas acompanhar bastidores da turnê, ainda que seja um documentário bem típico em sua estrutura.

Caçador de mim

Narrado por Fernanda Montenegro, o filme analisa a trajetória do cantor e seu impacto, mostrando como ela repercute tanto no Brasil quanto no resto do mundo. Há uma qualidade poética no texto da narração que tenta dar conta da força sensorial e emotiva da força de Milton, mas o texto é também bastante didático em explicar os aspectos mais técnicos e musicológicos do que torna sua música tão diferenciada. Nesse sentido, a narração de Fernanda Montenegro consegue dar a medida da capacidade expressiva da arte de Milton, de sua complexidade e de fazer a audiência entender como é feita essa música.

segunda-feira, 17 de março de 2025

Crítica – The Electric State

 

Análise Crítica – The Electric State

Review – The Electric State
Segunda colaboração dos irmãos Russo com a Netflix depois do insosso Agente Oculto (2022), este The Electric State consegue ser ainda mais derivativo e menos memorável do que a primeira colaboração entre os irmãos e a plataforma de streaming. É uma narrativa sobre uma distopia na qual as pessoas passam boa parte do tempo em mundos virtuais, presas em sua própria nostalgia e um adolescente precisa enfrentar o líder da corporação maligna que controla tudo. Se isso lhe pareceu familiar é porque essa é a mesma trama de Jogador Número 1 (2018) e The Electric State é basicamente uma versão piorada desse filme que já não era grande coisa para começo de conversa.

Futuro Mecânico

A trama, que adapta um romance escrito por Simon Stalenhag, se passa em uma versão alternativa da década de noventa na qual a humanidade criou robôs conscientes. Esses robôs se rebelaram iniciando uma guerra que foi vencida quando o inventor Ethan Skate (Stanley Tucci) criou um dispositivo que permitia que as pessoas controlassem drones robóticos remotamente, igualando a batalha. Anos depois do fim do conflito Michelle (Millie Bobby Brown) é uma órfã que vive em um lar adotivo hostil até o dia em que recebe a visita de um estranho robô que diz ter a mente do irmão que Michelle acreditava estar morto. Agora ela parte ao lado do robô para reencontrar o irmão.

sexta-feira, 14 de março de 2025

Crítica – Invencível: 3ª Temporada

 

Análise Crítica – Invencível: 3ª Temporada

Review – Invencível: 3ª Temporada
Depois de uma segunda temporada equivocadamente dividida em duas partes, Invencível retorna para sua terceira temporada no formato habitual de um episódio por semana e sem a desnecessária divisão que mais prejudicou do que ajudou a temporada anterior. Esse terceiro ano é talvez o mais intenso da série até aqui, testando as convicções e lealdades dos personagens ao limite.

Guerra interna

Lidando com as consequências da batalha contra Angstrom Levy, Mark pondera se a violência que cometeu o aproxima do genocídio cometido por seu pai e se ele corre o risco de se tornar igual a ele. Ao mesmo tempo ele avalia a possibilidade de uma relação com Eve e sua parceria com o implacável Cecil por discordar dos métodos dele.

quarta-feira, 12 de março de 2025

Crítica – Código Preto

 

Análise Crítica – Código Preto

Review – Código Preto
Nos últimos anos o diretor Steven Soderbergh se entregou a vários experimentos no audiovisual, desde experimentações com modos de filmar, realizando filmes com celulares como Distúrbio (2018) e High Flying Bird (2019). Experimentou com formatos narrativos como na série Mosaic (2018) e também experimentou com formas de distribuição em diferentes produções para streaming como A Lavanderia (2019), Let Them All Talk (2020) ou Nem um Passo em Falso (2021). Ele deixou de lado o experimentalismo dois anos atrás com o fraco Magic Mike: A Última Dança (2023). Código Preto, por sua vez, segue essa fase menos experimental do realizador e entrega o melhor trabalho de Soderbergh em muito tempo.

Espião contra espião

A trama é protagonizada pelo agente de inteligência George (Michael Fassbender) que recebe a informação de que cinco de seus colegas podem ter roubado uma poderosa arma digital, um desses colegas é sua esposa, Kathryn (Cate Blanchett). Agora George precisa descobrir quem se apoderou da arma e onde sua lealdade, com a missão ou com seu casamento, reside.

Crítica – Amizade

 

Análise Crítica – Amizade

Review – Amizade
Dirigido por Cao Guimarães, o documentário Amizade funciona como um filme-ensaio mesclando imagens de arquivo e narrações para construir um senso de que acompanhamos o fluxo de consciência do realizador enquanto ele reflete sobre amizade e conexões afetivas.

Alma que mora em dois corpos

O ponto de partida do filme é a mudança do diretor para o Uruguai e durante a viagem ele capta imagens de um dos amigos que o ajuda na mudança. Em seu novo lar ele examina imagens antigas, registradas em diferentes mídias, para refletir sobre o papel da amizade em sua vida. A narração do diretor ajuda a dar unidade a esses fragmentos de memória plasmados em imagem nos mostrando essas cenas de interação entre ele e as pessoas próximas para refletir como essas conexões e afetos são importantes em sua vida. Sem a narração essas imagens bastante pessoais e descontextualizadas, que provavelmente não significariam nada para alguém que não está inserido nesse círculo de amizade.

terça-feira, 11 de março de 2025

Crítica – O Melhor Amigo

 

Análise Crítica – O Melhor Amigo

Review – O Melhor Amigo
Dirigido por Allan Deberton, do ótimo Pacarrete (2019), O Melhor Amigo é uma comédia romântica musical com um inesperado clima de nostalgia. É uma trama sobre encontros e desencontros amorosos que se vale dos números musicais para fins de humor e criar um clima de excentricidade.

Romance difuso

A narrativa acompanha Lucas (Vinícius Teixeira) que vai sozinho em uma viagem de férias para a praia de Canoa Quebrada depois de uma crise com o namorado, Martin (Léo Bahia). Lá ele reencontra um antigo colega de faculdade, Felipe (Gabriel Fuentes), que trabalha como guia no local. Os dois se reconectam, trazendo desejos antigos à tona.

segunda-feira, 10 de março de 2025

Crítica – Máquina do Tempo

 

Análise Crítica – Máquina do Tempo

Review – Máquina do Tempo
Misturar a estrutura de um filme found footage com uma trama de viagem no tempo não é exatamente novo, Projeto Almanaque (2015) já tinha feito isso. A produção britânica Máquina do Tempo adiciona ficção histórica à mistura para dar sabor próprio a essa bricolagem de gênero.

Futuro imperfeito

A trama se passa na Inglaterra em 1941 e é toda contada por meio de rolos de filme feitos pelas irmãs Thomasina “Thom” Hanbury (Emma Appleton) e Martha “Mars” Hanbury (Stefanie Martini). As duas criam Lola, um aparato que permite acessar transmissões de rádio e televisão de qualquer ponto no tempo. Com o experimento elas tem contato com informações do futuro, se encantando com a arte da década de 90 como a música de David Bowie ou os filmes de Stanley Kubrick. Elas também tem acesso ao que acontece durante a Segunda Guerra Mundial e como os bombardeios nazistas afetam a ilha. Assim, as duas irmãs decidem colocar seu invento à disposição do governo britânico, ajudando a coletar inteligência de ações futuras dos nazistas.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Crítica – Autoconfiança

 

Análise Crítica – Autoconfiança

Review – Autoconfiança
Dirigido e estrelado pelo ator Jake Johnson, Autoconfiança parte de uma premissa inusitada para tentar refletir sobre solidão e conexões humanas. A trama é protagonizada por Tommy (Jake Johnson), um homem que se isolou depois do término de um longo relacionamento. Um dia ele é abordado pelo ator Andy Samberg (interpretando a si mesmo) na rua e é convidado a participar de um estranho reality show da deep web: ele precisa sobreviver por 30 dias sendo caçado por outros participantes, se conseguir receberá um milhão de dólares. Tommy decide aceitar se apoiando na regra de que ninguém pode tentar matá-lo se ele estiver próximo de outra pessoa, uma norma feita para evitar que não participantes se firam, mas isso não é tão fácil como ele pensa.

A presa menos perigosa

Todo o começo com Tommy sendo levado por Samberg em uma limusine até o galpão em que dois nórdicos excêntricos lhe explicam as regras dá a entender que tudo será uma aventura aloprada, mas a verdade é que a trama carece desse senso de maluquice que os primeiros minutos imprimem na narrativa. Eu entendo que a prioridade de Johnson é esse lado mais introspectivo, de ruminar sobre conexões interpessoais, mas para que a mudança de atitude de Tommy tenha credibilidade precisamos sentir que ele está nessa situação de vida ou morte que o obriga a repensar suas prioridades.