sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Crítica – Comando das Criaturas

 

Análise Crítica – Comando das Criaturas

Review – Comando das Criaturas
Primeiro produto do novo universo DC capitaneado por James Gunn, a série animada Comando das Criaturas traz vários personagens de quarta ou quinta categoria da DC para fazer o que Gunn faz de melhor, dar camadas a esses vilões que nas mãos de outras pessoas seriam buchas de canhão para os heróis baterem, mas aqui viram indivíduos com várias camadas e razões compreensíveis para que suas vidas os tenham levado para o rumo que tomaram.

Circo de aberrações

A narrativa começa quando Amanda Waller (Viola Davis) precisa montar uma nova equipe clandestina para agir contra uma ameaça na remota nação do Pokolistão e proteger a governante local, a princesa Ilana (Maria Bakalova). Como o uso de prisioneiros se tornou controverso depois dos eventos na ilha de Corto Maltese em O Esquadrão Suicida (2021), Waller decide empregar seres que não seriam considerado “humanos”, colocando Rick Flag Sr (Frank Grillo) para comandar um grupo de criaturas formado pela Noiva (Indira Varma), o Robô Recruta (Sean Gunn), Dr. Fósforo (Alan Tudyk), Nina Mazurski (Zoe Chao) e o Doninha (Sean Gunn).

Como em outras produções de Gunn, a série é bastante competente em pegar essa equipe de desajustados sem nada incomum e aos poucos desenvolver as relações entre eles, explorando como esses indivíduos são figuras incompreendidas, marcadas pela tragédia e profundamente solitárias, já que até mesmo o sádico Dr. Fósforo carrega em si o lamento por não conseguir ter contato com outras pessoas por conta de seu corpo flamejante. Personagens que poderiam ser meros alívios cômicos, como o Doninha, tem seu passado explorado de um modo que passamos a vê-lo como uma figura triste e carente ao invés de apenas um ser aberrante esquisito.

Embora se preocupe em compreender seus personagens, a série não perde de vista o senso de absurdo que envolve eles ou suas habilidades. Assim, ao mesmo tempo em que sentimos pela solidão e busca de propósito do Robô Recruta, que deseja encontrar companheiros para cumprir sua diretriz de matar nazistas, não deixa de ser divertida a fixação monotemática do personagem ou as cenas de ação ultraviolentas que seguem quando ele efetivamente tem a chance de matar seus alvos, uma carnificina que ele desempenha com muita alegria. O mesmo acontece com o Frankenstein (David Harbour), cuja obsessão com a Noiva o torna extremamente perigoso por sua disposição em matar qualquer um que veja como obstáculo para sua “amada” e ao mesmo tempo patético por viver em negação de que a Noiva não tem o menor interesse nele, crendo que tudo é parte de um complexo jogo de sedução por parte dela.

Missão caótica

A empreitada do Comando ao Pokolistão também é marcada por várias reviravoltas dignas de tramas de espionagem, com personagens dúbios, traições e manipulações. Talvez o melhor exemplo disso seja a princesa Ilana, que soa boa parte do tempo como uma dondoca ingênua atacada por forças que não compreende, mas sua conduta também dá a entender que ela sabe mais do que revela aos heróis e que muito de como ela age pode ser uma fachada.

A trama também acerta ao não exibir qualquer reserva em eliminar seus personagens, deixando claro o perigo da missão e mostrando as consequências de não saber lidar com as ameaças. Algumas mortes chocam inclusive por serem inesperadas ou por atingirem personagens que não imaginamos que serão alvos de mortes violentas. Claro, como a maioria deles são criaturas com poderes esquisitos é sempre possível que essas mortes sejam revertidas, mas no contexto da trama elas servem para dar um senso de peso e consequência para as ações dos personagens.

Por outro lado, o episódio final deixa a desejar justamente pela resolução apressada de toda a intriga no Pokolistão. Sim, há uma preocupação em contar a história de Nina e explorar seu passado trágico, algo que o episódio faz muito bem. Os minutos finais, porém, correm para explicar o real intento da princesa Ilana e a conspiração ao redor dela e da feiticeira Circe (Anya Chalotra, de The Witcher). Todo esse desfecho soa mal amarrado e sem muito senso de consequência. Fica a impressão de que a série precisaria ao menos de mais um episódio para desenvolver melhor seu clímax.

Mesmo tropeçando no final, essa primeira temporada de Comando das Criaturas entrega um começo envolvente ao novo universo DC por conta de seus personagens insólitos, senso de humor e uma narrativa que explora diferentes facetas de seus protagonistas.

 

Nota: 8/10


Trailer

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