terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Crítica – Maria Callas

 

Análise Crítica – Maria Callas

Review – Maria Callas
Terceira biografia dirigida pelo chileno Pablo Larraín depois de Jackie (2016) e Spencer (2021), Maria Callas conta a história da famosa cantora de ópera de origem grega. Como as outras biografias de figuras históricas femininas dirigidas por Larraín, é um filme que acerta ao tentar entender a subjetividade de sua biografada, embora este seja o mais fraco da trilogia do diretor.

Vida em revisão

A narrativa acompanha os últimos dias de Maria Callas (Angelina Jolie) vivendo uma existência solitária em seu apartamento em Paris. Ela passa os dias isolada, se enchendo de medicamentos que mexem com sua cognição e a fazem imaginar que está sendo entrevistada para um documentário. Esses delírios são uma maneira do filme nos deixar imersos no ponto de vista da protagonista, alguém que há muito já passou do seu ápice e agora se encontra em uma profunda depressão por conta de problemas de saúde que a impedem de cantar. Ao mesmo tempo, essa escolha também tenta servir como uma metalinguagem para as estruturas típicas de cinebiografias.

Como a encontramos em seus últimos dias, Callas olha para o passado com certa melancolia, analisando suas mágoas e os obstáculos de sua vida ao mesmo tempo em que lembra seu auge na música. Essa escolha, porém, faz a narrativa soar demasiadamente episódica, saltando de um ponto no tempo a outro sem dar o devido tempo de entender os impactos de certos eventos em sua vida e sem fazer as devidas conexões de como eles repercutem em outros momentos ou decisões da cantora. Outro elemento que prejudica o estudo de personagem a narrativa tenta empreender é o excesso de diálogos expositivos nos quais os personagens dizem o tempo todo como se sentem ou o que pensam sem efetivamente construir em cena esses sentimentos.

Canto sem voz

Angelina Jolie é hábil em criar a aura de diva que paira sobre Maria Callas, convencendo que estamos diante de uma figura geniosa que cria sua própria realidade como lhe convém, mas que intimamente exibe uma grande vulnerabilidade emocional. Por outro lado, Jolie nunca convence nas cenas de canto. Em biografias musicais é comum que os atores dublem as performances musicais dos representados e aqui, considerando a virtuosidade do canto lírico de Callas, ninguém esperaria algo diferente. O problema é que a performance de Jolie não cria qualquer ilusão de que ela poderia estar realmente cantando, deixando evidente que ela está apenas mexendo os lábios para uma música que será inserida a posteriori. Com isso parece mais que estamos diante de alguém tentando imitar Maria Callas do que de uma representação convincente da cantora, quebrando nossa imersão.

Embora o filme tenha sua parcela de números musicais, a narrativa falha em nos dar a devida dimensão do impacto que Callas teve no meio da ópera ou o que fazia seu canto ser tão especial e tão marcante. Parte desse problema vem da dublagem pouco convincente de Jolie, mas também da escolha de vermos Callas em seus últimos dias, não nos permitindo vê-la em seu auge. A impressão é que cena do Tom Hanks narrando uma ópera cantada por Callas em Filadélfia (1993) faz mais para nos dar um senso da força expressiva e emocional do canto de Callas do que esse filme inteiro faz.

Ainda que Maria Callas faça um esforço de nos colocar dentro da subjetividade de sua biografada, a produção faz pouco além de exibir momentos chave de sua vida sem conseguir nos dar a devida dimensão do que a cantora representou para a música lírica.

 

Nota: 5/10


Trailer

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