Who wants to live forever?
Centrado na figura de Bryan, o documentário tem como fontes o próprio protagonista e pessoas que trabalham diretamente com ele, como sua assistente de marketing. Isso torna boa parte dos depoimentos sobre os supostos resultados que ele tem pouco confiáveis e, na maioria dos casos, resultados como baixa de colesterol, sódio e níveis ideais de vitaminas poderia simplesmente ser obtido com uma boa alimentação e exercícios regulares, sem a necessidade de métodos nas bordas da ciência ou tomar mais de cem comprimidos por dia.
As raras e breves vezes que a produção recorre a pesquisadores eles narram como o que Bryan faz não apenas é perigoso, como não é ciência. Como ele aplica vários tratamentos e substâncias ao mesmo tempo é difícil separar o que funciona e o que não funciona, além de uma única cobaia não servir como amostra confiável, assim, nenhum dos resultados dele contribui para o avanço das pesquisas antienvelhecimento. Um dos cientistas entrevistados inclusive comenta que Bryan contribuiria mais se usasse seus milhões para financiar pesquisas ao invés de sair usando todo e qualquer tratamento maluco que aparecesse no caminho, inclusive coisas que já foram desacreditadas, tipo eletroestimulação de músculos. Imediatamente me lembrei das propagandas com a Feiticeira nos anos 90 vendendo um cinto eletroestimulador que prometia os mesmos resultados de academia, o que obviamente não era verdade.
Assessoria não é apuração
O filme nunca coloca essas questões diante de seu protagonista, nunca o confronta com suas contradições ou falhas em seus planos. Ele nunca é questionado, por exemplo, sobre a natureza eugenista de seu modo de pensar e os perigos disso. Também não há questionamento ao fato de milionários como Bryan ou Peter Thiel torram milhões nesses métodos antienvelhecimento sob a justificativa de que isso ira futuramente melhorar as vidas de todos quando eles poderiam usar seus milhões para melhorar hoje a vida das pessoas investindo em ações para promover alimentação saudável ou saneamento em comunidades carentes. A verdade é que esse ricaços provavelmente pouco se importam com as vidas do resto do mundo e estão se preocupando apenas com a própria existência, mas o filme não parece enxergar além do discurso de fachada.
Ao invés disso a produção parece agir como uma assessoria de imprensa do bilionário, rapidamente relativizando ou minimizando qualquer questão, como faz com o processo de uma ex-noiva contra ele. O documentário narra o processo, mas rapidamente deixa de lado esse fio narrativo com uma fala de Bryan a respeito de como ela queria tirar dinheiro dele e isso minou sua capacidade de confiar em outras mulheres e ter um relacionamento, em momento algum a produção menciona ter tentado ouvir a ex do protagonista.
Do mesmo modo, quando retrata o fato de Bryan estar praticamente criando uma seita em torno de si e se comparando a Jesus, o filme minimiza essas questões como meras idiossincrasias de um ricaço excêntrico e não como algo perigoso. Sim, ele exibe alguns comentários de jornalistas e cientistas que apontam como tudo pode ser picaretagem, mas são tão breves diante do tempo que o filme dá a Bryan para falar o que quiser sem ser questionado que parece que essas críticas foram colocadas no filme só para que os realizadores possam dizer que ouviram “o outro lado” sem efetivamente confrontar essas perspectivas e, o que é pior, muitas vezes reduzindo questões de fatos científicos a meras questões de opinião.
Personagem superficial
Essa tentativa de forçar um olhar positivo sobre Bryan se dá também no modo como o filme insere as relações dele com o filho e com o pai. A discussão desses relacionamentos familiares vem justamente no momento em que o filme vai falar da troca de plasma sanguíneo que ele faz com o filho e a narrativa tenta construir todo um apelo emocional em cima da ideia de que eles são uma família se ajudando sem, no entanto, discutir muito a ciência e a eficácia disso tudo. É um expediente que tenta pegar o espectador pelo emocional, mas que não tem substância alguma da discussão científica sobre métodos antienvelhecimento que o filme propõe.
Mesmo quando vai olhar para o passado de Bryan, que cresceu como mórmon e depois deixou a igreja, tudo é enquadrado como uma história de superação e não há esforço de entender como ter crescido em uma fé tão radical na qual ele não se encaixava o impeliu a ser tão materialista e a pensar em viver uma eternidade agora ao invés de crer na eternidade metafisica da religião na qual cresceu. Basicamente é como se ele substituísse uma doutrina radical por outra, já que ele vive de maneira extremamente regrada e isolada, por mais Bryan tente racionalizar seu estilo de vida, não muda o fato de que ele se impõe tantas ou mais restrições que qualquer seita radical e essa é uma ironia que o filme nunca aponta.
Diluindo sua discussão sobre
pesquisa antienvelhecimento com sensacionalismo e meias-verdades e apresentando
um olhar deslumbrado sobre seu objeto, aderindo ao seu discurso quase que sem
questionar O Homem Que Quer Viver Para
Sempre é um desserviço a qualquer tentativa de construir um debate
científico sobre o tema.
Nota: 1/10
Trailer
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