segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Crítica – Sol de Inverno

 

Análise Crítica – Sol de Inverno

Review – Sol de Inverno
Segundo longa-metragem do realizador japonês Hiroshi Okuyama, Sol de Inverno é uma história sobre amadurecimento e desilusão. O diretor narra essa história com um ritmo bastante deliberado e um olhar contemplativo diante de seus personagens conforme eles navegam pelos relacionamentos entre si.

Você é meu sol

A trama acompanha Takuya (Keitatsu Koshiyama), um garoto tímido e levemente gago que não tem muita aptidão para esportes, mas que tenta participar das ligas de sua cidade para acompanhar os amigos. Um dia ele se encanta por Sakura (Kiara Takanashi), uma jovem patinadora que está treinando para ser profissional. O técnico de Sakura, Arakawa (Sōsuke Ikematsu), ele próprio um ex-campeão de patinação, crê que Sakura e Takuya podem funcionar bem como uma dupla e que trabalhar em equipe pode ser bom para Sakura.

O filme preza muito pelo uso de luz natural, com a brancura da neve invernal preenchendo a imagem com reflexos brancos e criando uma atmosfera um tanto gélida, fazendo predominar cores em baixa saturação e tons frios. A fotografia constrói uma clara oposição a isso nas cenas em que Takuya vê Sakura patinar, ficando evidente já na primeira vez em que a vemos se mover pelo rinque ao som de Clair de Lune de Debussy e a iluminação adota tons mais amarelados e o entorno de Sakura é preenchido por luz, conferindo à garota uma dimensão solar e comunicando através da imagem como essa presença luminosa chama a atenção de Takuya.

Sempre que Takuya a vê patinando ou que eles patinam juntos, Sakura é cercada por uma luz etérea, quase como se ela fosse uma criatura celestial aos olhos de Takuya. A garota, no entanto, não tem interesse em Takuya, estando focada em melhorar como patinadora e também com uma medida de crush platônico no técnico Arakawa que obviamente não a corresponde por ser adulto, além de ser gay e viver em um relacionamento com Igarashi (Ryûya Wakaba).

Solidão queer

Com muita sensibilidade a trama vai desenvolvendo a conexão que se forma entre os três e como eles vão se transformando em uma família conforme o inverno e os treinos avançam. Logicamente, como as expectativas dos três em relação uns aos outros é bastante diferente, essa é uma relação que soa fadada ao conflito já que Sakura não tem interesse em corresponder o afeto de Takuya e Arakawa não é o que Sakura imagina.

A questão é que o conflito que vem nos minutos finais não é devidamente construído pela trama. Sim, vemos que a narrativa se passa em algum lugar nos anos 80 onde a homofobia era bem mais presente e normalizada, mas até então nada no filme dava a entender que o preconceito seria um ponto central da narrativa até que a descoberta de Sakura do namorado de Arakawa fratura a relação do trio.

Até então nada dava a entender que uma trama tão luminosa seria tomada pela sombra do preconceito e o foco passaria a ser mais em Arakawa do que na jovem dupla conforme o acompanhamos ser rapidamente ostracizado por aquela comunidade. O problema nem é a mudança inesperada de foco, mas como as consequências da demissão de Arakawa são abordadas de maneira muito rápida, com vários saltos no tempo fazendo as cenas soarem soltas, episódicas que não dá o devido tempo para que o impacto de tudo isso repercuta nos personagens.

Usando a iluminação para transmitir os sentimentos de seus personagens, Sol de Inverno é uma delicada história de amadurecimento e primeiras desilusões ainda que seu desfecho passe rapidamente por vários temas que não recebem a atenção que deveriam.

 

Nota: 7/10


Trailer

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