Ouriço sombrio
A trama coloca Sonic (Ben Schwartz) e seus amigos contra uma nova ameaça, o ouriço Shadow (Keanu Reeves), que acordou de seu sono criogênico de cinquenta anos para se vingar da GUN, a força internacional que patrulha ameaças alienígenas. Como a fuga de Shadow foi possibilitada por alguém usando os drones do Dr. Robotnik (Jim Carrey), Sonic decide se aliar ao cientista para conter essa perigosa ameaça. No percurso eles vão descobrir mais sobre o passado de Shadow e da família Robotnik, bem como testar as convicções do Sonic.
O filme acerta ao focar mais nas relações de Sonic, Shadow e os demais do que nos coadjuvantes humanos. O trio de heróis formado por Sonic, Tails (Colleen O'Shaughnessey) e Knuckles (Idris Elba) diverte pelo modo como suas personalidades se complementam, com o sorumbático e sério Shadow servindo como um contraponto para o senso de humor do trio. Mais do que um “Sonic do mal” Shadow serve como um reflexo do que Sonic poderia ser se tivesse sido tomado pelo luto e pela raiva ao invés de ter encontrado amigos e família na Terra, sendo que conforme o conflito se agrava e Sonic vê seus entes queridos na mira de Shadow os dois ouriços percebem que tem mais em comum do que pensavam.
Os personagens são usados mais para dar algum lastro emocional a esses personagens digitais ao invés do filme gastar tempo demais com eles em cenas cômicas dispensáveis. O pouco de Tom (James Marsden) é aproveitado para sedimentar a relação familiar entre ele e Sonic e o quanto o humano importa para ele. Do mesmo modo, os flashbacks do passado de Shadow nos fazem compreender o porquê da perda de Maria (Alyla Browne) ter sido tão impactante. Até mesmo a amizade entre Robotnik e seu capanga, o agente Rocha (Lee Majdoub), recebe uma inesperada atenção, já que eu não imaginava ser capaz de me importar com um capanga que nos outros filmes está ali apenas para ser saco de pancadas do vilão.
Visão dobrada
Como nos outros filmes, porém, quem rouba a cena é Jim Carrey que aqui trabalha em dobro como o Dr. Ivo Robotnik e seu avô, Gerald Robotnik. Desde o primeiro filme Carrey entendeu muito bem o espírito caótico de desenho animado que essas histórias tem e liga o absurdo no nível máximo, devorando o cenário sem hesitação. Aqui ele encontra em si mesmo um parceiro de cena à altura do nível de excesso que ele traz ao seu vilão como se apenas Jim Carrey fosse capaz de igualar a comicidade absurda que Jim Carrey faz (a única outra pessoa que poderia fazer Gerald nesse nível de histrionismo seria talvez Robin Williams). São personagens maiores do que a vida ou do que a realidade em si e Carrey é muito bom em fazer esse tipo de desenho animado de carne e osso como na sequência em que Ivo e Gerald passam tempo juntos brincando em uma simulação.
Por outro lado, isso não significa que o filme não tenha seus momentos dispensáveis com personagens humanos. A cena em que Tom e Maddie (Tika Sumpter) entram em uma base da GUN disfarçados como a irmã de Maddie, Rachel (Natasha Rotwell) e o marido dela, tem os mesmos problemas do segmento do casamento do segundo filme ao dedicar tempo a uma personagem sem graça que não faz muito além de reproduzir o estereótipo da mulher negra descontrolada e que destoa do restante do filme. Rachel mais parece uma personagem de filme do Tyler Perry jogada no meio de um filme do Sonic. Inclusive, a escolha de disfarce sequer faz sentido quando descobrimos mais adiante que os dois podem usar o aparato holográfico do Tails para se disfarçarem como o comandante Walters (Tom Butler) e a diretora Rockwell (Krysten Ritter, completamente desperdiçada). Se eles podiam imitar as maiores autoridades da organização que teriam mais facilidade de acessar o local, porque não fazer isso logo de partida?
Preciso correr mais rápido
A ação é outro ponto alto do filme, com a fuga de Shadow no início já evidenciando os poderes do ouriço e toda a perseguição em Tóquio mostrando como novo antagonista consegue superar o trio de heróis. O segmento no Japão ilustra tanto a personalidade implacável de Shadow como a capacidade dele em superar Sonic em combate e em velocidade. Ele precisaria pilotar uma moto ou empunhar para fugir do Sonic? Certamente não, mas ao menos é estiloso e uma referência divertida ao fato de Shadow usar armas nos games.
O confronto final entre Sonic e Shadow usando as Esmeraldas do Caos deixa claro o absurdo nível de poder dos dois conforme eles correm o mundo, causam destruição e vão para o espaço enquanto lutam. Talvez seja o mais perto que Hollywood já chegou em emular o estilo de combate grandiloquente de um anime. O embate funciona não apenas pela encenação da luta em si como pelo que está em jogo para ambos, já que o filme construiu de maneira convincente a rivalidade entre os dois e quando eles eventualmente se unem ao menos eles têm motivações mais compreensíveis do que as mães deles terem o mesmo nome.
É estranho que Sonic e os demais consigam respirar e falar no vácuo do espaço mesmo sem o poder das Esmeraldas, principalmente quando o filme anterior traz uma cena do Sonic quase se afogando (com direito à tensa música dos games) mostrando que o ouriço precisa respirar. Talvez a equipe criativa tenha se esquecido disso. Aliás, o uso de temas musicais dos jogos é uma constante em todos os três filmes e continua aqui, com direito ao uso da canção Live and Learn de Sonic Adventure 2 quando Sonic e Shadow se unem no final.
Ao focar na dinâmica de seus
heróis e vilões e dando a Jim Carrey a oportunidade de amplificar sua
insanidade ao contracenar consigo mesmo, Sonic
3: O Filme entrega a melhor aventura do ouriço até aqui.
Nota: 7/10
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