terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Crítica – Better Man: A História de Robbie Williams

 

Análise Crítica – Better Man: A História de Robbie Williams

Review – Better Man: A História de Robbie Williams
Conheço muito pouco da trajetória do cantor Robbie Williams, então não estava particularmente curioso para este Better Man: A História de Robbie Williams. Como foi feito com a participação direta do cantor, que inclusive interpreta a si mesmo, temi que fosse aquele tipo de biografia chapa branca que existe só para divulgar as músicas do artista e foge de polêmicas como I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston (2022). Felizmente não é esse o caso e o filme abraça as contradições e problemas de seu protagonista com uma autoanálise bem consciente que me remeteu a Rocketman (2019).

Trajetória selvagem

A trama segue a trajetória de Robbie desde sua infância, passando pelo início da fama com a boy band Take That, sua carreira solo e seus problemas pessoais com drogas, além da relação complicada que tem com o pai. Robbie interpreta a si mesmo, mas não está exatamente em cena, já que ao invés do corpo do cantor temos um macaco antropomórfico. A ideia de colocar Williams como macaco é uma tentativa de ilustrar a insegurança e senso de deslocamento do artista, que sempre se viu como um pária, alguém que não pertencia ao lugar onde estava, inseguro do próprio valor e se vendo como uma criatura mais primitiva.

É uma maneira de deixar o espectador imerso na subjetividade do biografado, de certa forma o vendo como ele se vê e como ele vê o mundo ao seu redor. Há, ao longo do filme, um esforço de entender o que move Robbie, de onde vêm seus impulsos autodestrutivos e sua inspiração para fazer música. Se muitas biografias recentes de músicos parecem se contentar com meramente recriar de modo mimético os fatos mais marcantes da trajetória dessas pessoas como Bohemian Rhapsody (2018), I Wanna Dance With Somebody (2022), Bob Marley: One Love (2024) ou Back to Black (2024), aqui há um interesse de que o espectador saia entendendo melhor quem é Robbie Williams e porque a vida dele tomou os rumos que teve, algo que lembra bastante a biografia de Elton John Rocketman (2019).

Os números musicais seguem essa abordagem de usar as canções de Robbie para mostrar como ele se sente do que apenas recriar performances marcantes ou videoclipes. Esse esforço já é visível desde o início do filme quando acompanhamos o personagem na infância e temos um número em que ele canta Feel para ilustrar a carência dele enquanto garoto e o quanto esse sentimento vem da ausência do pai, também sugerindo como os elementos dessa canção são inspirados pelas experiências pessoais dele. O mesmo acontece posteriormente com a canção Angels, que no filme é usada para demonstrar o luto do protagonista pela morte da avó. Nos números musicais, sentimos que entramos na realidade interior do personagem.

É também uma biografia que não se esquiva dos sentimentos mais mesquinhos, como a inveja que ele tem de certos membros da Take That que Robbie considera mais talentosos que ele mesmo ou suas disputas com os irmãos Gallagher do Oasis. A biografia também não se furta em mostrar seu abuso de drogas ou como a conduta autodestrutiva de Robbie o afasta de amigos e causa problemas em seus relacionamentos.

Estrada já visitada

Por outro lado, é possível pensar também que o uso do macaco digital seja também porque Williams não é lá grande coisa como ator e a criatura digital consegue evitar que as limitações dele estejam muito evidentes. Afinal, viver uma situação não implica diretamente em ser capaz de atuar ou encenar essa mesma situação posteriormente. Nesse sentido, não me parece acidental que o filme recorra tanto a narrações em off nas quais o cantor diz como se sentiu em determinada situação ao invés de construir essas emoções em cena, provavelmente porque Robbie não daria conta de trazer todos esses sentimentos em sua performance de ator.

O uso constante das narrações faz o filme soar excessivamente didático em muitos momentos, indo de encontro à proposta de uma experiência mais subjetiva, mais sensorial que é bem desenvolvida principalmente nos números musicais. Ainda que arrisque em seu dispositivo de colocar um macaco digital no lugar de seu biografado, a estrutura narrativa não consegue ir além do típico arco de ascensão, queda e redenção que é bem comum nas biografias musicais.

Não que essas questões tornem o filme ruim. Better Man: A História de Robbie Williams ainda é mais interessante do que muitas outras biografias recentes de músicos, entregando performances musicais enérgicas e construindo um entendimento do que move seu biografado, mas não alcança todo o potencial excêntrico que pretende.

 

Nota: 7/10


Trailer

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