Torneio caótico
A trama começa meses depois do fim da segunda parte, após um dos discípulos de Kreese (Martin Kove) ter sido morto durante uma briga generalizada no torneio internacional Sekai Taikai. Apesar de toda a briga e morte do adolescente ter sido transmitida ao vivo pela televisão não há muita consequência para ninguém além do cancelamento do torneio. Silver (Thomas Ian Griffith), porém, não está disposto a desistir depois de chegar tão perto de mostrar sua superioridade perante Johnny (William Zabka), Daniel (Ralph Macchio) e Kreese. Silver visita os organizadores do torneio e os convence a retomar a competição sob seu patrocínio.
Assim como na segunda parte é difícil crer que Silver, tendo sido pego subornando juízes pouco tempo atrás, seria bem aceito no meio ou que o organizador do Sekai Taikai, alguém que a trama constrói como rigidamente honrado, aceitaria qualquer parceria com alguém como Silver. A narrativa chega a dizer ao longo dessa última leva de episódios que a reputação de Silver estava arruinada e ainda assim ele transita por esse grande torneio internacional como se não fosse uma figura infame no meio. Tirando uma pergunta feita a ele durante uma entrevista (e que não tem qualquer consequência) é como se nada tivesse acontecido.
Igualmente sem qualquer peso ou senso de consequência é o arco da sensei Kim (Alicia Hannah-Kim), que finalmente toma o controle de seu dojo enfrentando seu cruel avô e não vai competir no Sekai Taikai. Seria a chance da personagem mostrar como ela é diferente da crueldade de seu avô, mas a trama não faz nada com esse desdobramento da personagem porque precisa deixar o caminho livre para que Johnny eventualmente retome o nome Cobra Kai para si.
Se em temporadas anteriores as finais eram embates carregados de tensão porque a trama construía bem a rivalidade entre os lutadores e nos fazia entender o que movia cada um deles, aqui esse drama está ausente porque figuras com Axel (Patrick Luwis), Zara (Rayna Vallandingham) ou o sensei Wolf (Lewis Tan) não são mais do que pedaços de carne no caminho dos protagonistas. Vilões genéricos e unidimensionais que são tão desprovidos de qualquer personalidade ou motivação própria que torna óbvia a derrota dessas figuras.
Cobra Kai nunca morre
Por outro lado, o desfecho da série acerta bastante quando retoma seu foco em Johnny e na relação dele com as pessoas a sua volta como Daniel, Kreese, Miguel (Xolo Maridueña) e Robby (Tanner Buchanan). Cobra Kai sempre foi sobre Johnny e como ele poderia finalmente superar seu passado, amadurecer e ficar em paz sendo quem é e o final da série é esperto ao nos lembrar disso.
A morte do discípulo faz Kreese finalmente reavaliar a relação agressiva e tóxica que ele sempre construiu com seus alunos, incluindo Johnny. Isso leva o severo sensei a buscar Johnny e se desculpar por tudo que fez com ele em sua juventude, reconhecendo o impacto negativo que teve em sua vida e como muito do desajuste de Johnny vem da percepção equivocada de relações sociais que ele desenvolveu ao longo de seu tempo com Kreese.
Eu já escrevi antes sobre como as primeiras temporadas de Cobra Kai funcionavam como um alerta aos perigos da nostalgia e como viver preso a uma ideia de “passado glorioso” que, na prática, não foi nem tão glorioso assim pode ser um atraso de vida. Esses últimos episódios retomam essa ideia fazendo Johnny finalmente ser capaz de lidar com seus traumas e colocar o passado de lado para poder construir um novo futuro ao lado de Carmen (Vanessa Rubio), Miguel, Robby e os demais.
Há uma emoção genuína em ver Johnny, depois de tudo que ele passou, finalmente entendendo que não precisa fazer tudo sozinho, que ele pode confiar nas pessoas, se abrindo para a amizade com Daniel ou para o amor de Carmen. Por todos os erros que a série teve em seu percurso, o arco de Johnny sempre foi o mais consistente em seus progressos, recaídas e retrocessos. Um protagonista longe de ser perfeito, mas que aos poucos passou a ativamente se esforçar para ser melhor e lidar com suas falhas, para seu próprio bem e para o bem daqueles à sua volta.
De certa forma a superação do passado também é presente no arco de Daniel, embora não tão bem construído quanto o de Johnny. Toda a história do passado duvidoso do Sr. Miyagi acaba não fazendo qualquer diferença, já que Daniel poderia chegar à epifania de que o Miyagi-Do não precisava ser o maior dojo do mundo nem ganhar competições para ser importante sem qualquer um desses novos elementos do passado de seu mentor. Isso sem falar da imagem bizarra que é o Miyagi criado por IA que aparece em um sonho de Daniel. Porque Hollywood ainda insiste nesse tipo de aberração digital?
Se antes Daniel sempre foi contra Johnny usar o nome Cobra Kai por tudo que o dojo representou para ele no passado, agora ele entende que aquela filosofia é indissociável de quem Johnny é e que esse modo de pensar não é necessariamente maligno. Assim, é também indicativo do percurso dele até aqui que Daniel vista os trajes pretos do Cobra Kai para treinar Johnny para a batalha final, fechando o ciclo da rivalidade dos dois.
Assim, ainda que tenha sua
parcela de tropeços, os episódios finais da sexta temporada de Cobra Kai ao menos conseguem entregar um
final digno para a história de redenção de Johnny Lawrence.
Nota: 6/10
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