quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Crítica – O Macaco

 

Análise Crítica – O Macaco

Review – O Macaco
Dirigido por Osgood Perkins, responsável por Longlegs: Vínculo Mortal (2024), este O Macaco adapta o conto homônimo de Stephen King. Ele usa seu brinquedo amaldiçoado para falar de nosso medo da morte e como se deixar paralisar por isso nos impede de viver. Apesar desse tema ele não é uma produção que almeja ser um terror mais “cabeça”, muito pelo contrário. A intenção parece ser um pastiche de horror B setentista ou oitentista nos moldes de Maligno (2021), de James Wan, embora não seja tão bem sucedido.

Brinquedo assassino

A trama acompanha Hal (Christian Convery, de Sweet Tooth). Na infância ele e o irmão gêmeo Bill (Christian Convery) mexem nas coisas do pai que os abandonou e encontram um misterioso macaco de brinquedo que ele trouxe de uma viagem. Depois de dar corda no brinquedo para que o macaco toque seu tambor, alguém próximo a eles sempre morre no que parece ser algum acidente bizarro. Depois de várias tragédias eles decidem se livrar do boneco. Vários anos se passam e já adulto Hal (Theo James) tenta se reconectar com o filho, Petey (Colin O’Brien) levando ele para uma viagem a um parque de diversões. Os planos mudam quando Hal recebe a notícia da morte da tia que os criou e lá acaba mais uma vez reencontrando o macaco e toda a morte que vem junto com ele.

O clima da narrativa é o de uma realidade absurdista com pessoas agindo de maneira exagerada e muitas vezes pouco condizentes com a realidade. Isso fica evidente já no primeiro funeral frequentado por Hal quando um atrapalhado sacerdote tropeça nas palavras em sua homilia fúnebre, incapaz de oferecer conforto à sua congregação e com uma conduta que não condiz de alguém na posição dele.

Isso não é um problema ou um erro do filme, mas uma escolha deliberada. Ele quer evocar a atmosfera de produções de baixo orçamento da década de setenta em que ninguém se preocupava muito em fazer algo que parecesse real e sim criar uma universo de absurdos no qual todo tipo de piração, criatura ou morte sangrenta soaria possível e é isso que acontece aqui. É um olhar similar ao de Maligno (2021) e assim como o filme do James Wan essa sensibilidade de “filme B” pode não agradar alguns. Pessoalmente, me diverti com o senso de absurdo que o filme imprime em sua narrativa.

Esse senso de absurdo está presente principalmente nas mortes. Conduzidas como uma série de coincidências infelizes ou acidentes bizarros que remetem às mortes da franquia Premonição, a maneira como os personagens morrem aqui é tão exagerado que chega ao cartunesco. Uma mulher que salta em uma piscina acidentalmente eletrificada explode em milhares de pedaços com sua perna voando na direção de Hal. Um homem pisoteado por cavalos é praticamente transformado em geleia. Para quem gosta de gore o filme oferece momentos igualmente chocantes e hilários.

Pecados parentais

Depois de tudo que vivenciou na infância Hal cresce para se tornar um adulto solitário, que evita contato com as pessoas e que não construiu relacionamentos significativos, tudo por conta do trauma envolvendo o sinistro macaco. Por medo que a criatura reapareça e mate pessoas ao seu redor ele se afastou do filho, Petey, a quem vê só uma vez no ano por medo do que possa acontecer. Apesar do próprio Hal ter sido abandonado pelo pai e de saber como isso impacta uma criança, ele impõe a mesma situação ao filho (provavelmente por conta das mesmas circunstâncias envolvendo o macaco).

O arco do personagem é justamente o de entender que ele não pode passar a vida se escondendo, que se isolar do mundo por si só não vai evitar catástrofes de acontecerem e que ao decidir viver de maneira solitária ele apenas machuca a si mesmo e aqueles que ama. O problema é que Theo James nunca convence do trauma ou do temor constante sob o qual Hal vive, se limitando a um estoicismo fechado que não dá conta do peso dos traumas que o protagonista carrega consigo. James se sai melhor como Bill, que simplesmente pirou depois dos eventos da infância e agora vive como um completo lunático. O exagero de Bill permite a James exercitar uma faceta mais cômica de paranoia, embora ele também deixe a desejar nos momentos em que o texto necessita que vejamos a dor que motiva a loucura de Bill.

O texto também deixa alguns elementos estranhamente soltos, como o padrasto de Petey, Ted (Elijah Wood). Quando Hal vai pegar o filho na casa da esposa, a trama faz questão de pontuar como Ted, que é um “coach de paternidade”, é um babaca desprezível e isso dá a impressão de que ele irá desempenhar algum papel mais adiante ou que morrerá horrivelmente por conta do macaco. Afinal filmes de terror são histórias sobre moralidade e toda vez que um filme desse tipo aponta a conduta de alguém como repreensível, em geral esse julgamento é seguido de uma morte sangrenta. A corretora inescrupulosa que aborda Hal na casa da tia dele, por exemplo, é morta pouco tempo depois de a conhecermos e vermos que ela só se importa com o quanto pode faturar. Apesar da introdução marcante de Ted, no entanto, ele nunca volta a aparecer e não faz diferença, no fim das contas, se o padrasto de Petey é um tremendo babaca ou se só é um sujeito tentando fazer a coisa certa por um garoto negligenciado pelo pai.

Há também algumas conveniências e elementos incoerentes, como o fato de Bill ser um paranoico lunático que transformou a casa em uma fortaleza cheia de armadilhas (pensem numa versão sanguinária do Kevin de Esqueceram de Mim), mas convenientemente ter deixado aberta a portinhola de cachorro que é usada para invadir sua casa. O personagem sequer tem um cachorro (o que motivaria deixar a porta), então não há muito motivo para que ela exista senão a necessidade da narrativa.

Mesmo com alguns problemas na construção da narrativa, O Macaco diverte pelo seu senso de absurdo e pela criatividade sangrenta das suas mortes.

 

Nota: 6/10


Trailer

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