Guerras secretas
A trama se passa em 1983 e acompanha o agente do FBI Terry Husk (Jude Law), que é enviado para reestruturar um escritório do FBI no interior de Idaho. É aparentemente um posto vazio, sem muita ação, algo que Husk deseja para poder ter a chance de se reconectar com a esposa e a filha. As coisas, no entanto, não continuarão tranquilas. Um policial local, Jamie (Tye Sheridan), avisa Husk de suas suspeitas de que a onda de assaltos a banco e roubos de carro forte que assolam a região podem estar conectadas a grupos neonazistas que estão acumulando recursos para planejar alguma grande ação.
De início Husk desconfia, já que não é o modus operandi desses grupos, mas conforme vai analisando as evidências percebe que Jamie pode ter razão e que a ameaça é mais real e imediata do que imaginaria. A postura de Husk de inicialmente subestimar a possível ameaça de grupos neonazistas é algo refletido em superiores da agência e lideranças da polícia local que consideram os grupos de supremacistas brancos mais como um grupo de doidinhos de bairro ou ameaças locais, negando a possibilidade de que eles tenham capacidade de se organizar como uma força de terrorismo doméstico.
A narrativa mostra, portanto, como a postura das autoridades de subestimar ou fazer vista grossa para esses grupos permitiu que eles crescessem, se organizassem e se espalhassem pelo país ao longo do tempo, desembocando inclusive nos dias atuais com grupos neonazistas apoiando políticos de extrema direita e insuflando ações como a invasão ao Capitólio em seis de janeiro. Há uma cena entre Bob (Nicholas Hoult), líder do grupo de assaltantes, e um pastor de uma igreja ultraconservadora na qual o pastor diz a Bob para ter paciência, que eles estão se articulando para eleger líderes políticos alinhados com seus pontos de vista e Bob rechaça dizendo que está cansado de esperar. A cena ilustra como tudo que acontece hoje é um projeto de poder construído ao longo de décadas e da conexão próxima que há entre políticos ultraconservadores e os grupos armados de supremacistas raciais.
Investigação sóbria
O diretor Justin Kurzel (de Macbeth: Ambição e Guerra e Assassin’s Creed) conduz tudo com um realismo sóbrio, analisando de maneira desencantada como as autoridades décadas atrás já tinham ciência do perigo representado pelos grupos neonazistas e ainda assim pouco fizeram para desmantelá-los. Essa sobriedade também se traduz na ação, que evita uma encenação mais explosiva em prol de uma tentativa de mostrar os assaltos e tiroteios de modo mais realista.
Durante a ação os personagens medem suas movimentações com cuidado, sempre disparando de uma posição protegida e tentando se mover de cobertura a cobertura, lembrando um pouco o modo como Michael Mann conduz a ação em seus filmes. É um ritmo mais deliberado, no qual qualquer ação mais intempestiva pode ter consequências severas, como acontece com Jamie durante uma perseguição no clímax na qual ele corre atrás de um suspeito em um espaço aberto sem buscar cobertura.
A intempestividade de Jamie opera em paralelo com o pragmatismo de Husk, um sujeito que passou anos trabalhando infiltrado em grupos criminosos e desenvolveu uma visão de mundo mais cinzenta. Como Husk, Law parece carregar consigo um constante desencanto e cansaço com o mundo, de seus olhos pesados, passando pelos ombros arqueados e a barba sempre por fazer. O texto nunca vai além do arquétipo do detetive calejado que colabora com um novato impetuoso, mas Law dá credibilidade ao senso de desgaste físico e emocional do personagem.
Igualmente lugar-comum é o supremacista branco vivido por Nicholas Hoult, já que o texto nos apresenta a ele quando seu personagem está no extremo do radicalismo e nunca investiga muito do que o levou a isso. O ator consegue trazer a intensidade necessária para que acreditemos que Bob pode ser muito perigoso, tanto pela sua agressividade quanto por sua capacidade de angariar seguidores para seus planos extremistas.
A verdade é que o texto parece
mais concentrado em pensar sobre os eventos da época e a relação disso com o
presente do que em dar mais camadas aos seus personagens. Assim, ainda que suas
figuras principais sejam arquétipos familiares, A Ordem consegue entregar uma sóbria reflexão sobre os impactos presentes
da falta de ação passada em relação a ameaça que grupos surpremacistas brancos
representavam para os Estados Unidos.
Nota: 7/10
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