terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Crítica – Setembro 5

 

Análise Crítica – Setembro 5

Review – Setembro 5
O sequestro de atletas da delegação israelense por um grupo de terroristas durante as Olimpíadas de 1972 em Munique, na Alemanha, não é um tema novo no cinema. Steven Spielberg já tinha explorado esse evento no competente e pouco visto Munique (2005) e agora ele é revisitado sob a ótima dos responsáveis pela transmissão do evento neste Setembro 5.

Jornalismo analógico

A trama acompanha a história real um grupo de jornalistas dos Estados Unidos em Munique fazendo a cobertura esportiva das Olimpíadas. Quando o sequestro dos atletas israelenses, os responsáveis pela transmissão, Roone (Peter Sarsgaard) e Geoffrey (John Magaro), precisam se adaptar às nuances de transmitir ao vivo um atentado terrorista.

É uma narrativa mais interessada em discutir práticas do jornalismo do que falar sobre elementos específicos do atentado. Tudo é estruturado como um thriller, nos mantendo na sala de controle da transmissão em Munique e dentro da perspectiva daqueles que estavam lá dentro, tendo acesso a informações do que acontecia em campo apenas pelas imagens dos cinegrafistas, construindo um senso de claustrofobia e mistério conforme aquelas pessoas presas em uma sala fechada tentam entender o que está acontecendo.

A produção faz um retrato fiel de fazer uma cobertura internacional ao vivo num momento em que a tecnologia em termos de portabilidade de equipamento e transmissão via satélite era limitada, obrigando a equipe de campo a recorrer à engenhosidade para conseguir os melhores resultados. Ao longo da trama os personagens são confrontados com as escolhas de como narrar essa história e a narrativa nos lembra o peso de escolher qual o termo usado para se referir à situação, a responsabilidade que é transmitir ao vivo uma ação violenta como aquela (e se eles registrarem alguém sendo executado? E se as imagens que eles transmitem estiverem ajudando os agressores?) e também as consequências de relatar algo sem a devida apuração.

Registro sem contexto

O problema é que o filme mais aponta essas questões do que efetivamente as discute e aí por mais que esses dilemas sobre ética e representação, ainda mais em uma situação limite como essa, sejam relevantes ainda hoje o filme acaba tendo pouco a dizer sobre isso. Em alguns casos ele resolve certas ideias de maneira muito fácil, como o momento em que descobrem que os agressores estavam acompanhando as imagens da transmissão do lugar onde mantinham os reféns e usavam essa informação para lidar com as autoridades que se aproximavam. Os personagens até se questionam até que ponto eles inadvertidamente ajudaram os agressores, mas logo alguém deixa de lado essa ideia ao elencar os vários erros da polícia alemã no caso como se isso anulasse os erros da emissora.

Por mais que eu entenda que o foco é na cobertura e na discussão sobre jornalismo, não consigo deixar estranhar o quão apartado o filme é sobre qualquer discussão mais complexa sobre a questão de Israel e Palestina. Sim, a produção se refere a um evento ocorrido há mais de cinquenta anos, mas a arte não existe desconectada de seu contexto de produção ou de recepção e chama atenção como algo feito na contemporaneidade com tudo que está acontecendo em termos de conflito na região, lance um olhar tão simplório para um conflito que é altamente complexo. Por mais que a energia esteja focada em discutir a cobertura, quando o filme resolve falar algo sobre o conflito o faz através de simplificações rasas, nunca reconhecendo a nuance de toda a questão. Eu entendo que provavelmente muitas opiniões ditas pelos personagens foram coisas que os indivíduos reais disseram em 1972, mas esse filme está sendo feito nos dias de hoje e a discussão sobre isso já é capaz de olhar para esse evento sob diferentes vieses. Ainda assim, a produção parece agir como se estivesse apartada de qualquer noção de historicidade como se fosse possível separar um discurso do contexto no qual é produzido.

Para além das questões de representação do conflito real, há também o fato de que os personagens não são muito mais do que veículos para a exposição de diferentes ideias. Nunca sentimos que há qualquer coisa em jogo em um nível pessoal para eles. O início até nos aponta alguns diálogos que narram como Geoffrey é relativamente inexperiente em comandar esse tipo de cobertura ao vivo, mas a narrativa não nos dá um senso de consequência em relação ao que pode acontecer caso ele falhe em lidar com a situação à contento. Como acompanhamos essas pessoas ao longo de toda a narrativa, não temos nada que nos faça aderir a elas ou nos importar com seu sucesso ou fracasso.

Por mais que Setembro 5 aponte para discussões éticas importantes acerca do registro jornalístico, o filme peca por ficar na superfície dessas questões e pelo modo simplório como lida com o conflito real no centro de sua história.

 

Nota: 5/10


Trailer

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