Registro mimético
A trama segue Bob Dylan (Timothee Chalamet) desde sua chegada a Nova Iorque em 1961 até o lançamento de Like a Rolling Stone no qual ele se distancia de boa parte de seus padrinhos artísticos da música folk. É uma biografia que mais está interessada em narrar os eventos da trajetória do cantor do que realizar qualquer tipo de estudo de personagem ou chegar a um entendimento maior de quem é Dylan e o que movia a construção de sua arte, se limitando a dizer que Dylan não gostava de ficar estagnado.
Não só o filme é desprovido de qualquer visão específica sobre o cantor, como também é desprovido de drama. Não há nada em jogo para Dylan, não há tensão dramática, senso de risco ou de perda, algo que segue até o desfecho no qual mesmo a ruptura com seus padrinhos artísticos não tem um clímax ou um senso de que há algo a ser perdido pelo protagonista.
Chalamet entrega uma mimese competente do modo de falar e do timbre específico de Dylan, inclusive fazendo suas próprias cenas de canto, mas sua composição, assim como o texto do filme é desprovida de uma intenção interior, como se ele apenas estivesse preocupado em reproduzir os trejeitos ao invés de buscar entender o que o faz se comportar assim.
Tempos em mutação
Melhor sorte tem Edward Norton como Pete Seeger, um dos mentores de Dylan. Norton nos faz sentir o calor humano e a impetuosidade afetuosa que guia as ações de Seeger tanto em suas empreitadas artísticas quanto em seu ativismo político, um sujeito que fomenta a arte e a ação social por ter uma genuína preocupação com a coletividade. Monica Barbaro traz a intensidade de Joan Baez e faz o melhor que pode para dar mais dimensões à cantora ainda que o material a limite a ser uma figura que gravita ao redor de Bob Dylan.
Ao menos a narrativa é competente
em capturar o espírito da época que retrata, a efervescência criativa da Nova
Iorque da década de sessenta da qual saíam importantes artistas e figuras do
ativismo político, com essas duas atividades intimamente conectadas no
cotidiano da cidade. Nesse sentido, o filme nos faz entender a importância de
canções como Blowin’ in the Wind, Masters of War, A Hard Rains Gonna Fall ou The
Times They Are A-Changin para os movimentos sociais e contracultura do
período. Para quem não conhece a vida e a obra de Dylan o filme consegue fazer
o espectador entender a importância de seu legado artístico, mas não vai além
disso e empalidece diante de outras produções sobre o cantor, como Não Estou Lá.
Nota: 6/10
Trailer
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