quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Crítica – Um Completo Desconhecido

 

Análise Crítica – Um Completo Desconhecido

Review – Um Completo Desconhecido
Um dos melhores filmes biográficos que já assisti é Não Estou Lá (2007), de Todd Haynes. É uma biografia do cantor Bob Dylan que não o cita nominalmente e não usa sua música, mas trás vários segmentos em que atores e atrizes diferentes interpretam personagens que representam as diferentes fases da carreira e da vida de Dylan. É uma obra abrangente, que nos faz entender as multidões que Dylan continha em si e tudo o que o movia. Por isso não fiquei interessando quando soube desde Um Completo Desconhecido, já que dificilmente ele estaria no mesmo patamar que o filme de Haynes.

Registro mimético

A trama segue Bob Dylan (Timothee Chalamet) desde sua chegada a Nova Iorque em 1961 até o lançamento de Like a Rolling Stone no qual ele se distancia de boa parte de seus padrinhos artísticos da música folk. É uma biografia que mais está interessada em narrar os eventos da trajetória do cantor do que realizar qualquer tipo de estudo de personagem ou chegar a um entendimento maior de quem é Dylan e o que movia a construção de sua arte, se limitando a dizer que Dylan não gostava de ficar estagnado.

Não só o filme é desprovido de qualquer visão específica sobre o cantor, como também é desprovido de drama. Não há nada em jogo para Dylan, não há tensão dramática, senso de risco ou de perda, algo que segue até o desfecho no qual mesmo a ruptura com seus padrinhos artísticos não tem um clímax ou um senso de que há algo a ser perdido pelo protagonista.

Chalamet entrega uma mimese competente do modo de falar e do timbre específico de Dylan, inclusive fazendo suas próprias cenas de canto, mas sua composição, assim como o texto do filme é desprovida de uma intenção interior, como se ele apenas estivesse preocupado em reproduzir os trejeitos ao invés de buscar entender o que o faz se comportar assim.

Tempos em mutação

Melhor sorte tem Edward Norton como Pete Seeger, um dos mentores de Dylan. Norton nos faz sentir o calor humano e a impetuosidade afetuosa que guia as ações de Seeger tanto em suas empreitadas artísticas quanto em seu ativismo político, um sujeito que fomenta a arte e a ação social por ter uma genuína preocupação com a coletividade. Monica Barbaro traz a intensidade de Joan Baez e faz o melhor que pode para dar mais dimensões à cantora ainda que o material a limite a ser uma figura que gravita ao redor de Bob Dylan.

Ao menos a narrativa é competente em capturar o espírito da época que retrata, a efervescência criativa da Nova Iorque da década de sessenta da qual saíam importantes artistas e figuras do ativismo político, com essas duas atividades intimamente conectadas no cotidiano da cidade. Nesse sentido, o filme nos faz entender a importância de canções como Blowin’ in the Wind, Masters of War, A Hard Rains Gonna Fall ou The Times They Are A-Changin para os movimentos sociais e contracultura do período. Para quem não conhece a vida e a obra de Dylan o filme consegue fazer o espectador entender a importância de seu legado artístico, mas não vai além disso e empalidece diante de outras produções sobre o cantor, como Não Estou Lá.

 

Nota: 6/10


Trailer

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