quarta-feira, 12 de março de 2025

Crítica – Amizade

 

Análise Crítica – Amizade

Review – Amizade
Dirigido por Cao Guimarães, o documentário Amizade funciona como um filme-ensaio mesclando imagens de arquivo e narrações para construir um senso de que acompanhamos o fluxo de consciência do realizador enquanto ele reflete sobre amizade e conexões afetivas.

Alma que mora em dois corpos

O ponto de partida do filme é a mudança do diretor para o Uruguai e durante a viagem ele capta imagens de um dos amigos que o ajuda na mudança. Em seu novo lar ele examina imagens antigas, registradas em diferentes mídias, para refletir sobre o papel da amizade em sua vida. A narração do diretor ajuda a dar unidade a esses fragmentos de memória plasmados em imagem nos mostrando essas cenas de interação entre ele e as pessoas próximas para refletir como essas conexões e afetos são importantes em sua vida. Sem a narração essas imagens bastante pessoais e descontextualizadas, que provavelmente não significariam nada para alguém que não está inserido nesse círculo de amizade.

É também uma reflexão das tecnologias audiovisuais como uma forma de memória, preservando tempos e espaços para que sejam revisitados e nos permitindo reconectar com os sentimentos de outrora. O filme ainda se lança em algumas reflexões tangenciais, como a situação política do Brasil na época em que foi filmado, mas a maioria dessas tangentes não tem a mesma consistência das ideias principais sobre amizade e acabam sendo tergiversações desnecessárias.

Sociabilidade em tela

Quando o filme entra no contexto da pandemia, por outro lado, consegue conectar o que poderia ser uma tangente a suas ideias principais sobre amizade e sobre o audiovisual como um meio de conectar pessoas e preservar memória. Afinal, a obrigação de isolamento social impede interações físicas e a necessidade de estar com quem se gosta passa a ser suprida (ainda que não de todo) por lives e videochamadas em grupo. Dispositivos que mostram novas configurações de construção de laços afetivos e que marcam também a diferença das imagens de encontros físicos mostradas em momentos anteriores. A contraposição desses dois tipos de imagem nos faz pensar também em como a sociabilidade online provavelmente não terá o mesmo impacto ou força para nós do que as interações presenciais, por mais que no momento da pandemia fossem importantes.

As imagens da pandemia também reforçam como precisamos desses laços afetivos, de como eles nos ajudam a nos mantermos sãos, a nos conectarmos com quem somos e a preservar nossa saúde mental. É uma ponderação a respeito de como somos seres sociais e sem as trocas e partilhas sensíveis de laços de amizade são essenciais em nossa trajetória.

 

Nota: 6/10


Trailer

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