Espião contra espião
A trama é protagonizada pelo agente de inteligência George (Michael Fassbender) que recebe a informação de que cinco de seus colegas podem ter roubado uma poderosa arma digital, um desses colegas é sua esposa, Kathryn (Cate Blanchett). Agora George precisa descobrir quem se apoderou da arma e onde sua lealdade, com a missão ou com seu casamento, reside.
É um universo habitado por pessoas dúbias, que nunca são o que parecem e sempre tem algo à esconder. Desde o início a narrativa estabelece esses personagens como figuras pouco confiáveis, com mentiras dentro de mentiras e planos dentro de planos de um modo que nos deixa em um constante estado de incerteza.
Ao invés de construir uma narrativa veloz, cheia de reviravoltas explosivas, o texto de David Koepp e a condução de Soderbergh optam por uma cadência mais realista e deliberada, estruturando a investigação de George ao redor de longas conversas que podem até parecer casuais, mas que escondem segundas e terceiras intenções entre todos os envolvidos.
São figuras que sempre nos dão motivos para desconfiar deles, como Freddie (Tom Burke, de Furiosa) que ressente George por ter sido preterido em uma promoção, o sempre ambicioso Stokes (Regé-Jean Page) que parece disposto a qualquer coisa para ascender. Além deles temos a terapeuta Zoe (Naomie Harris), que parece usar suas habilidades para mexer com cabeça daqueles à sua volta e a analista de imagens Clarissa (Marissa Abela, de Back to Black) que demonstra ser muito mais esperta e engenhosa do que deveria para alguém em sua posição. Completando os suspeitos está Kathryn, alguém que parece muito devotada ao marido, mas que parece usar a lealdade dele para seus próprios fins.
Teste de fidelidade
Toda essa trama de espionagem não é apenas sobre salvar o mundo, é também sobre lealdade. Em especial sobre lealdade nos relacionamentos e como uma relação não funciona sem que um esteja disposto a fazer qualquer coisa para ajudar o outro. As lealdades e interesses de todos são postos à prova já que os suspeitos também têm conexões afetivas uns com os outros e George se vale disso para tentar induzir o traidor ao erro.
Cada um desses personagens sabe o que está em jogo e a maneira como os diálogos são montados ressalta o silêncio entre as falas dos personagens, como se eles estivessem cuidadosamente lendo o ambiente ao seu redor e escolhendo cuidadosamente cada palavra a ser dita. Tanto os personagens quanto a audiência sabem que uma palavra errada pode por tudo a perder e Soderbergh filma essas conversas como quem acompanha uma partida de esgrima, deixando evidente que cada troca é uma tentativa de fintar, provocar ou atingir o interlocutor e que cada um deles está cuidadosamente analisando o outro. A fotografia contribui com esse ambiente de dubiedade através do uso de luzes estouradas, cheias de borrões e flashes nas lentes para dar a impressão de que esses personagens caminham por ambientes turvos.
Claro, é um mérito que não reside apenas no texto ou na direção, mas principalmente no elenco. Fassbender transita com uma constante poker face, sempre tomando muito cuidado para não transparecer nada. Uma fachada que se desfaz no instante em que percebe que estava sendo usado e pode cair como bode expiatório da situação ainda que ele consiga se manter no controle e não permite que os outros percebam sua inquietação.
Assim como Fassbender, os demais são igualmente habilidosos em construir a ambiguidade de seus personagens. Naomie Harris traz certa sinceridade no modo como sua terapeuta inquire seus pacientes, como se tivesse um interesse genuíno neles, embora ela também não hesite em usar seus conhecimentos para explorar as vulnerabilidades dos outros. Regé-Jean Page traz uma arrogância agressiva a Stokes que nos faz pensar que ele pode ter algo a esconder ou talvez seja só um babaca. É por conta dessas nuances que cada um traz aos personagens que ficamos investidos na investigação e somos deixados em suspense por ela, uma vez que qualquer um dos cinco pode ser um traidor potencial.
O desfecho amarra com habilidade
as várias tramas que o filme constrói, inclusive ecoando a cena inicial do
jantar de uma maneira mais intensa conforme esses personagens abandonam seus
subterfúgios de antes. Com concisos noventa minutos, Código Preto entrega um intenso suspense com uma direção precisa e
personagens envolventes examinando os laços de lealdade que os conectam ou os
afastam.
Nota: 8/10
Trailer
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