Futuro Mecânico
A trama, que adapta um romance escrito por Simon Stalenhag, se passa em uma versão alternativa da década de noventa na qual a humanidade criou robôs conscientes. Esses robôs se rebelaram iniciando uma guerra que foi vencida quando o inventor Ethan Skate (Stanley Tucci) criou um dispositivo que permitia que as pessoas controlassem drones robóticos remotamente, igualando a batalha. Anos depois do fim do conflito Michelle (Millie Bobby Brown) é uma órfã que vive em um lar adotivo hostil até o dia em que recebe a visita de um estranho robô que diz ter a mente do irmão que Michelle acreditava estar morto. Agora ela parte ao lado do robô para reencontrar o irmão.
A narrativa tenta usar o conflito com os robôs como uma metáfora para o preconceito e subjugação de minorias, mas nunca vai além de platitudes vazias. O mesmo pode ser dito de sua tentativa de criticar a alienação causada pelo uso excessivo de telas e o tempo que passamos online. O discurso sobre a nostalgia cai na mesma contradição de Jogador Número 1 (2018), já que o filme faz exatamente aquilo que critica, usando a nostalgia à década de noventa através do uso da música e citações à cultura pop como uma muleta afetiva tentando manter o espectador interessado por uma exploração rasa de sentimentos nostálgicos. Não só o filme regurgita várias ideias que já vimos antes, como não tem nada a dizer a respeito delas.
Distopia esquecível
Se o filme ao menos fosse divertido isso até seria perdoável, mas não é o caso. Apesar da heroína e do vilão estarem em uma corrida contra o tempo para buscarem seus objetivos, não há qualquer senso de urgência durante toda a narrativa, que se arrasta em cena após cena de vazio dramático por conta dos personagens inanes. Tanto Michelle quando o ex-soldado Keats (Chris Pratt) nunca vão além do clichê do protagonista marcado pelo peso de um trauma passado. A recusa de Michelle em usar os capacetes de realidade virtual soa mais como uma necessidade do roteiro para que quando ela finalmente use um deles no clímax isso seja um grande momento dramático do que algo construído de maneira convincente na personagem.
Giancarlo Esposito é mais uma vez desperdiçado como um mercenário genérico tal como em Capitão América: Admirável Mundo Novo. Aqui é ainda pior já que ele passa boa parte do tempo controlando um drone robótico, então o filme sequer aproveita como ele pode ser uma presença intimidadora em cena. A crise de consciência que seu personagem tem no final nunca soa devidamente merecida, acontecendo mais porque a trama quer que aconteça do que como uma consequência natural da trajetória do personagem. Stanley Tucci, por sua vez, não tem muito a oferecer como um empresário maligno genérico com motivações vagas.
Mesmo em termos de ação ou de construção visual a produção não exibe nada que seja capaz de empolgar ou despertar encantamento. A ação nunca nos faz sentir que há algum perigo real diante dos personagens, prejudicada também porque não temos nenhum motivo para nos importarmos minimamente com ninguém. Visualmente o filme é bastante derivativo, com suas paisagens dilapidadas e autômatos com design retrô parecendo uma repetição do que Neill Blomkamp já fizera em Chappie (2015).
É um produto que parece ter sido
feito em alguma reunião de executivos, colando sem muito critério tendências de
mercado (nostalgia, distopias), atores em evidência e temas relevantes
(preconceito, dominação tecnológica) achando que juntar coisas populares irá
automaticamente fazer um filme funcionar. O que The Electric State entrega, no entanto, é uma regurgitação
preguiçosa, vazia e sem graça de elementos familiares sem qualquer ambição de
oferecer algo minimamente envolvente ao espectador.
Nota: 2/10
Trailer
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