Supremacia nacional
A trama, que surpreendentemente precisou de quatro pessoas para ser escrita, envolve a presidente dos Estados Unidos Danielle Sutton (Viola Davis) que vai para a reunião do G20 com um plano para acabar com a fome mundial envolvendo criptomoedas, algo esquisito e extremamente mal explicado que soa mais como um esquema pirâmide do que como política internacional. A reunião é sequestrada pelo terrorista Rutledge (Antony Starr, de The Boys) que toma os líderes mundiais como reféns e usa suas imagens em deepfakes para convencer o mundo a transformar todo seu dinheiro em criptomoedas para que ele próprio consiga enriquecer. Sutton, no entanto, consegue escapar com a ajuda de seu segurança, Manny (Ramon Rodriguez).
É tudo muito confuso e idiota, provavelmente reflexo de ter muita gente escrevendo uma premissa tão simples, o que não seria necessariamente ruim. Muitas produções dos anos 80 e noventa conseguiam divertir justamente porque assumiam a idiotice da própria premissa, mas isso não ocorre aqui. Há uma tentativa de falar algo sobre a posição dos Estados Unidos como liderança global, ao mesmo tempo em que tenta usar o vilão para criticar os gastos de nações desenvolvidas com guerras que existem apenas para encher os cofres desses países quando o dinheiro poderia ser empregado para ajudar os necessitados. O problema é que os discursos e personagens são tão inconsistentes, mudando de direção conforme o roteiro necessita, que no fim das contas não há nada a dizer.
Comando em ação
Sozinha em um prédio cheio de terroristas, a presidente recorre a seu passado como soldado para tentar resolver a situação. É tudo muito conectado ao ufanismo do cinema de ação das décadas de 80/90 usando aqui a figura presidencial como metonímia para o poderio e supremacia estadunidense, tal qual Força Aérea Um (1997) fez com o presidente vivido por Harrison Ford. A questão é que essas produções ao menos tinham consciência de seu senso de exagero e canastrice, evitando se levar a sério demais, um erro que G20 incorre.
As cenas de ação até tentam criar esses momentos de impacto com frases de efeito engraçadinhas que parecem saídas de produções de décadas atrás, só que a seriedade com a qual tudo é conduzido só faz esses momentos soarem deslocados do resto do filme. Se ao menos assumisse os excessos, o filme poderia ser uma farofa divertida. A ação ainda é prejudicada pela montagem picotada e câmera em constante movimento, escolhas que parecem pensadas para dar dinamismo aos embates, mas que terminam deixando tudo como uma bagunça picotada.
É uma pena, porque Viola Davis traz o misto de altivez e emoção necessário para fazer a presidente Sutton soar crível e os esforços da atriz são sabotados pelo péssimo texto e ação que não a valoriza plenamente. O mesmo pode ser dito do trabalho de Antony Starr que depois de anos em The Boys é perfeitamente capaz de construir uma aura de ameaça conforme interpreta um sujeito instável e violento, o problema é que o roteiro não parece decidir se Routledge é um anarquista lutando por uma causa ou se ele está só atrás de dinheiro fazendo o vilão não ir a lugar nenhum.
A produção ainda desperdiça um
ótimo elenco de apoio em personagens inúteis, como Clark Gregg como um
vice-presidente que passa o filme inteiro sentado olhando para monitores (até
Glenn Close teve mais o que fazer como a vice de Força Aérea Um) ou Sabrina Impacciatore (da segunda temporada de The White Lotus) como a presidente do
FMI. Assim, nem mesmo a intensidade de Viola Davis consegue salvar G20 de ser um filme de ação sem graça
com personagens mal desenvolvidos, ação genérica e texto que não sabe o que
quer dizer.
Nota: 4/10
Trailer
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