Perfeição artificial
A narrativa é protagonizada por Nancy (Nicole Kidman), uma dona de casa na pequena cidade de Holland, um lugarejo no interior dos Estados Unidos que tenta emular o estilo de vida na Holanda. Ela tem uma vida aparentemente pacata ao lado do marido, Fred (Mathew Macfadyen), e do filho, Harry (Jude Hill). Essa existência aparentemente perfeita é maculada quando Nancy descobre papeis relativos as viagens de trabalho do marido que provam que ele não ia para as cidades que dizia que ia. Imediatamente Nancy começa a investigar os hábitos de Fred e alista o colega de trabalho Dave (Gael Garcia Bernal) para ajudá-la. Ao curso da investigação os dois se aproximam ao mesmo tempo em que descobrem coisas sombrias a respeito de Fred.
De início parece mais uma história sobre as hipocrisias da classe média suburbana e como essa vida idealizada na verdade é um vazio entediante no qual as pessoas precisam encontrar válvulas de escape para manter a fachada que a sociedade espera. É uma premissa feita à exaustão, mas que costumeiramente rende produções que analisam de maneira contundente os problemas de tentar se encaixar em um estilo de vida idealizado, como Beleza Americana (1999), Pecados Íntimos (2006) ou Foi Apenas um Sonho (2008). Aqui, no entanto, a narrativa não faz muito além de mostrar como nenhuma dessas pessoas é o que parece sem pensar no que há por trás disso.
Mesmo quando a trama apresenta sua principal reviravolta, ela não faz mais do que dar uma guinada para o terreno de uma história sobre serial killers, mas ainda sem nada digno de nota. Não ajuda que a narrativa seja povoada por acontecimentos que não parecem repercutir no resto dos eventos, nem causar nenhuma reação nos demais personagens, como o ataque xenófobo feito na casa Dave, que nunca é citado depois e praticamente não tem qualquer impacto na narrativa.
Investigação caótica
Nicole Kidman, por sua vez, é ótima como uma dona de casa tão de saco cheio da própria vida que ativamente parece procurar algum conflito para que, talvez, tenha algum senso de movimento ou consiga sentir algo. Isso fica evidente desde a primeira cena na qual demite a babá (Rachel Sennott) do filho sob a acusação de roubar um brinco seu sem qualquer prova de que a garota fez isso. A investigação de uma possível traição do marido serve a este propósito, oferecendo a ela a chance de fazer algo, como toda a trama investigativa ao lado de Dave, que saia de seu cotidiano entediante.
Do mesmo modo, no instante que ela encontra o que pensa ser prova de traição Nancy se joga nos braços de Dave, como se estivesse procurando uma desculpa para trair ou pensar em se divorciar do marido. As cenas entre ela e Dave planejando como investigar Fred ou conseguir provas cabais de sua traição são as melhores coisas do filme pelo seu senso de absurdo ao deixar claro que a dupla não tem a menor ideia do que está fazendo ou de onde estão se metendo, lembrando inclusive o clima de filmes dos irmãos Coen como Fargo (1996), O Grande Lebowski (1998) ou Queime Depois de Ler (2006). A diferença é que aqui o material se limita a reconhecer que essa é uma conduta que nasce de uma vida entediante e não vai muito além.
É uma pena, porque a premissa
tinha muito potencial e Mimi Cave constrói uma estética kitsch em sua cidade pseudo holandesa que explora de maneira
divertida a cafonice de uma classe média tosca que se acha refinada ao
reproduzir elementos da cultura europeia. O problema é que falta ao filme
contundência para confrontar todas as ideias que ele apresenta, não aproveitando plenamente esse clima kitsch no resto da produção e mesmo a
performance de Nicole Kidman como uma dona de casa em busca de alguma emoção na
vida não é suficiente para tornar Holland
interessante.
Nota: 4/10
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