Deserto de ideias
A narrativa adapta o conto homônimo escrito por George R.R Martin (autor de As Crônicas de Gelo e Fogo) em 1982. Seguimos a bruxa Gray Alys (Milla Jovovich) em uma jornada através de um deserto pós-apocalíptico de onde surgiu magia e criaturas sobrenaturais. Existe apenas uma cidade segura no mundo e ela é governada com mão de ferro. Um dia a Rainha (Amara Okereke) procura a bruxa para pedir a ela o poder de se transformar em lobo. Alys aceita o pedido e parte para caçar um transmorfo de modo a roubar seu poder, mas para navegar nas perigosas terras perdidas ela contrata o caçador Boyce (Dave Bautista).
Tudo se estrutura ao redor dessa jornada de Alys e Boyce, que usa a viagem para disfarçar o vazio da narrativa e simplesmente encadear uma sequência de ação atrás da outra. Em meio a tudo isso, Alys e Boyce se conectam pelo fato de ambos serem párias e acompanhamos toda uma intriga palaciana envolvendo a Rainha, seu idoso marido e o ambicioso Patriarca (Fraser James) pelo poder na cidade. Todo arco entre Boyce e Alys é previsível, do envolvimento amoroso dos dois à reviravolta envolvendo a real identidade de Boyce. Com a dupla não passa de uma coleção de clichês, fica difícil se importar. Todo aspecto da intriga palaciana poderia até render algo interessante em termos de suspense, mas é resolvido tão fácil e tão rápido que não tem impacto algum.
Espaço virtual
Considerando a presença de Jovovich e de Bautista, dois veteranos em filmes de ação, era de se imaginar que a pancadaria aproveitasse o talento dos dois para esse tipo de encenação, o que não acontece. A ação é conduzida com aquela montagem picotada que não valoriza em nada as habilidades marciais de seus atores, sendo ainda prejudicada pelo excesso de slow motion carregado do mesmo fetichismo inane das produções mais recentes de Zack Snyder que só tornam a ação mais truncada ao invés de conferir intensidade. Como mencionei lá no início, Anderson parece preso a uma série de paradigmas de ao menos uma década atrás do cinema de ação.
Durante a divulgação do filme muito foi falado sobre o uso da Unreal Engine 5, um motor gráfico comumente usado em games, para desenvolver os cenários digitais do filme. A ideia por trás disso é que a produção teria cenários plenamente tridimensionais que poderiam ser explorados pela câmera ao invés de serem apenas fundos chapados em uma tela verde por trás dos atores. Supostamente seria uma revolução no modo de usar cenários digitais.
Digo supostamente porque nada disso é sentido no produto final. Os ambientes digitais são um borrão alaranjado de desertos e ruínas genéricas que evocam a estética de games lá dos anos 2010 (pensem em coisas como Call of Duty: Modern Warfare 2 e sua paleta alaranjada que foi infinitamente copiada na época) que não só não oferecem nada marcante em termos de direção de arte, como são entediantes de olhar em seu aspecto monocromático. Os ambientes e paisagens devastadas são desprovidos de qualquer senso de personalidade própria, sempre parecendo cópias pioradas de Mad Max ou outras distopias da ficção recente. Para não ser injusto, há sim alguma variação. Em alguns momentos o filme sai de ambientes entediantes de laranja monocromático para um azul monocromático que é igualmente entediante. Então não é possível extrair daqui nem mesmo uma satisfação com a plasticidade visual dos efeitos especiais ou dos ambientes que o filme cria. Produções como Sin City (2005) ou Capitão Sky e o Mundo do Amanhã (2004) construíram cenários digitais mais visualmente interessantes duas décadas atrás.
Nas Terras Perdidas é um filme que soa datado em tudo que faz, não
oferecendo nada que já não tenha sido feito melhor antes (inclusive pelo
próprio diretor), entregando em uma regurgitação vazia de cacoetes desgastados.
Nota: 1/10
Trailer
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