Dor insensível
A narrativa acompanha Nate (Jack Quaid), um bancário que vive uma existência pacata e isolada por conta de sua completa incapacidade de sentir dor. Um dia ele se aproxima da colega de trabalho Sherry (Amber Midthunder, de Predador: A Caçada) e se apaixona por ela. As coisas se complicam quando o banco em que Nate trabalha é assaltado e Sherry é levada como refém pelo líder da gangue, Simon (Ray Nicholson, de Sorria 2). Agora Nate decide encontrar Sherry, usando sua incapacidade de sentir dor como vantagem no enfrentamento dos bandidos.
Assim como em The Boys, Jack Quaid é ótimo em construir um protagonista que soa como um sujeito comum, ingênuo e pacato colocado em situações extraordinárias que o obrigam a ser mais assertivo e a lutar pelo que quer. Midthunder, por sua vez, é adorável como o par romântico de Quaid, evitando ainda que Sherry seja reduzida a uma mera donzela em perigo.
O que chama atenção no filme, no entanto, são as alopradas cenas de ação que exploram de maneira sangrenta e criativa a incapacidade de sentir dor do protagonista. De colocar as mãos em óleo fervente para pegar uma arma, passando pelo uso de uma flecha cravada em sua perna para empalar a cabeça de um inimigo, as lutas parecem uma versão mais sanguinolenta de um desenho dos Looney Tunes, com muito do humor vindo das reações de Nate a tudo que é submetido ou como ele explora sua falta de dor para virar o jogo em cima dos inimigos.
Mergulhando em excessos
Ainda que este não seja o tipo de filme do qual espero muito realismo e sei que a intenção aqui é explorar o excesso, conforme a trama avança fica a impressão de que o material pede muita suspensão de descrença do espectador. Sim, Nate não sente dor, mas seu corpo ainda funciona como o de qualquer pessoa, então é difícil crer que ele conseguiria se mover normalmente com múltiplas fraturas, perfurações nas pernas e perda de sangue mesmo não sentindo a dor disso.
O grande problema, porém, é durante o clímax no qual o filme parece forçar demais suas próprias regras e recorre a muitas conveniências para tentar criar um longo embate entre Nate e o vilão. É difícil crer, por exemplo, que a primeira atitude da polícia depois de balear um assaltante não seria a de pegar a arma de suas mãos e verificar se ele está vivo. Se Nate ao menos tem sua insensibilidade a dor para justificar como ele pode continuar depois de tanto dano, o vilão Simon não possui esse atributo, sendo estranho que ele continue lutando normalmente mesmo depois de ser baleado mais de uma vez, eletrocutado na cabeça e esfaqueado múltiplas vezes. Se ao menos a trama nos dissesse que ele está sob efeito de drogas ou qualquer coisa assim a situação seria ao menos um pouco crível. Do jeito que está o filme praticamente o transforma em algo sobre-humano do nada.
Mesmo com o terceiro ato passando
um pouco do ponto, Novocaine: À Prova de
Dor consegue ser uma comédia de ação bacana por conta do carisma do casal
principal e da criatividade sangrenta de suas cenas de ação. É um filme idiota
e tem plena consciência disso, investindo no clima aloprado que sua premissa
propicia.
Nota: 6/10
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