Crítica – Um Dia Daqueles

 

Com Hollywood tão focada em grandes blockbusters, filmes de super-heróis e universos compartilhados a impressão é que certos gêneros ou subgêneros foram colocados em escanteio pela indústria e a comédia besteirol, tão frequente no final da década de 90 e no início dos anos 2000, é um deles. Um Dia Daqueles soa como o tipo de comédia amalucada que Hollywood parece ter esquecido de como fazer, apenas ocasionalmente entregando produções como Loucas em Apuros (2023).

Amigas sem dinheiro

A narrativa acompanha as amigas Dreux (Keke Palmer) e Alyssa (SZA), que dividem um apartamento juntas. Quando o namorado trambiqueiro de Alyssa gasta o dinheiro do aluguel, elas precisam correr contra o tempo para levantar a quantia até o final do dia para não serem despejadas. Em meio a tudo isso, a dupla é caçada por Bernice (Aziza Scott), a raivosa amante do namorado de Alyssa.

É um fiapo de narrativa que serve para justificar que as protagonistas se envolvam em várias confusões, desde uma tentativa frustrada de obter um empréstimo a juros exorbitantes, a vender o próprio sangue e até se envolverem com o gângster local, Lolo (Amin Joseph). Em meio a toda maluquice, a amizade entre Dreux e Alyssa é ancorada por uma química bastante sincera entre Keke Palmer e SZA, convencendo como amigas de longa data. Sim, de certa forma é o lugar comum da dupla com personalidades opostas, com Dreux sendo mais pé no chão e Alyssa mais aloprada, mas as atrizes principais conseguem situar a amizade das duas em um afeto genuíno, nos fazendo nos importar com elas.

Comunidade coesa

Elas são auxiliadas por um divertido elenco de apoio que preenche a vizinhança habitada pelas protagonistas com personalidades excêntricas. O comediante Katt Williams interpreta um mendigo que tenta dissuadir as protagonistas de contraírem um empréstimo, Janelle James (a Ava de Abbott Elementary) interpreta uma atrapalhada enfermeira que cria várias confusões em um banco de sangue enquanto Maude Apatow (de Euphoria) vive uma influencer que se muda para o condomínio das protagonistas no esforço do senhorio em gentrificar o local.

A narrativa diverte com suas situações exageradas e repletas de comédia física, como a cena do banco de sangue com sangue esguichando para todo lado e pessoas escorregando ou o momento em que Alyssa toma choque em um poste de eletricidade. No entanto, mesmo em meio a todo absurdo a narrativa consegue dar um senso claro de risco para as personagens, seja em perder o apartamento ou o risco de vida ao se envolverem com o gângster da região. Assim, há um senso de peso, de consequência para o que as personagens fazem, evitando que tudo soe como um conjunto de esquetes soltos.

A comédia também se constrói em cima de problemas cotidianos da comunidade negra dos Estados Unidos, desde a precarização da saúde, que torna inviável chamar uma ambulância mesmo em claras emergências por conta dos altos custos, passando pelo modo como empresas financeiras devastam comunidades pobres com empréstimos abusivos, mantendo a população local refém delas.

Mesmo com uma trama simples, Um Dia Daqueles diverte pela química da dupla principal, situações absurdas e observações sobre as dificuldades da comunidade negra.

 

Nota: 7/10

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