segunda-feira, 28 de julho de 2025

Crítica – Amores Materialistas

 

Análise Crítica – Amores Materialistas

Review – Amores Materialistas
Em Amores Materialistas a diretora Celine Song tenta expandir algumas ideias sobre relacionamentos amorosos que trabalhou no excelente Vidas Passadas (2023). Lá ela desconstruía a ideia de que existe uma alma gêmea para cada pessoa, pensando que essa noção de pessoa ideal tem muito a ver com oportunidade e conveniência. Aqui em Amores Materialistas ela pondera sobre a natureza transacional dos relacionamentos.

Material girl

A narrativa gira em torno de Lucy (Dakota Jonhson), que trabalha numa agência de relacionamentos voltada para clientes de alta classe. Seu trabalho consiste em encontrar os pares ideais para seus clientes, homens e mulheres, que buscam alguém para casar. Em seu cotidiano ela pesa preferências de cada um, nível de renda e o que cada cliente exige de um par ideal. É um trabalho que pensa em relacionamentos quase como produtos, nos quais alguém busca um objeto com certas características e ela procura outra pessoa que se encaixe nas exigências e que cumpra as da outra pessoa. No casamento de uma cliente, Lucy conhece Harry (Pedro Pascal), um rico e charmoso investidor que reúne a beleza e dinheiro que ela espera de um par. Lucy também se reencontra com seu ex, John (Chris Evans), um ator de teatro cuja carreira nunca decolou e ainda vive de pequenos bicos mesmo próximo dos quarenta anos de idade. Apesar de não ter nada de material a oferecer, Lucy tem uma forte conexão afetiva com John e constantemente desabafa com ele.

A primeira cena do filme, com um homem das cavernas se aproximando de uma mulher levando flores e ferramentas feitas de osso e ela cede aos avanços do homem. É uma cena que ilustra como relacionamentos podem se construir a partir do interesse no que a outra pessoa tem a lhe oferecer, seja conforto material, status social que vem de riqueza ou aparência física, seja do prazer sexual que a outra pessoa lhe dá. Casamentos, afinal, são contratos e como qualquer contrato depende do interesse de ambas as partes. Esse componente materialista e até mesmo primitivo dos relacionamentos se verifica no presente nas reuniões que Lucy tem com os clientes nas quais homens e mulheres elencam o que buscam no parceiro, desde faixa de renda, passando por idade, altura ou medidas do corpo. Lucy encara tudo com um pragmatismo extremo, indagando aos clientes que elementos eles estariam dispostos a abrir mão na busca por um par e quais não são negociáveis, partindo da ideia de que nos relacionamos com alguém na medida em que percebemos que a outra pessoa nos agrega valor, mesmo que seja um valor sentimental, intangível.

Assim, ela é colocada em um triângulo amoroso no qual suas convicções serão testadas. De um lado Harry é tudo que sua mente materialista sempre desejou, ele atende a todos os seus critérios e ela os dele, já que ele é tão pragmático em sua visão de relacionamentos quanto ela. Por outro lado, John é alguém que está sempre presente, alguém que ela sabe que pode depender para suporte emocional e que consegue saber que Lucy não está bem pelas mínimas nuances de voz ou rosto. Johnson, Pascal e Evans formam um trio charmoso, com Evans e Pascal dotando seus personagens de uma medida de vulnerabilidade emocional que ajuda a dar aos dois personagens mais camadas. A dinâmica que o trio de atores estabelece entre si torna crível o dilema da protagonista mesmo quando o texto deixa pistas muito explícitas a respeito de quem ela irá escolher.

Relações abusivas

O principal problema do filme nem é a previsibilidade do triângulo amoroso, já que Evans e Pascal são pretendentes atraentes e carismáticos o bastante para manter nosso interesse, mas a maneira desajeitada com a qual a narrativa insere uma subtrama de abuso sexual envolvendo Sophie (Zoe Winters), uma das clientes de Lucy. A primeira coisa que chama atenção é o modo pouco crível pelo qual a situação é construída. Lógico, Lucy ou qualquer pessoa da empresa não tem como ter certeza total que os homens que participam do serviço não são agressores em potencial, mas considerando que é um serviço para pessoas de alta classe e os tempos em que estamos vivendo é difícil crer que a empresa de Lucy não possua qualquer protocolo para lidar com isso, como um botão de pânico ou um serviço de emergência.

Também incomoda que toda a trama de Sophie não discuta o abuso, a falta de punição para os homens que cometem isso ou outras variáveis sociais da questão. O abuso de sofrido pela personagem existe apenas para avançar a história de Lucy, já que a violência que Sophie passa e o confronto entre ela e Lucy lembram a protagonista dos perigos de tratar pessoas como objetos. O abuso de Sophie é um mero motivador para Lucy repensar suas convicções e as escolhas que faz em relação a John e Harry, lembrando que por mais transacional que um relacionamento seja, é difícil funcionar ou durar sem alguma medida de afeto.

O clímax é igualmente pouco crível, já que é difícil de acreditar que Sophie não tinham mais ninguém para ligar além de Lucy, mesmo tendo aberto um processo contra a empresa dela. Sim, ela pode ser uma pessoa tão focada na carreira que não tem amigas, mas se ela é essa figura bem sucedida ela provavelmente teria uma colega de trabalho, uma secretária, uma estagiária, alguém que pudesse chamar. Do jeito que está tudo soa forçado para fazer a redenção de Lucy, mesmo que o texto não a tenha feito merecer essa redenção.

Assim, a diretora Celine Song continua a trazer reflexões instigantes sobre a natureza dos relacionamentos, pensando em sua dimensão de transação a partir de um romance que se sustenta pelo charme de seu trio principal, já que a trama tropeça em algumas escolhas problemáticas.

 

Nota: 6/10


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sexta-feira, 25 de julho de 2025

Crítica – O Esquema Fenício

 

Análise Crítica – O Esquema Fenício

Review – O Esquema Fenício
O diretor Wes Anderson se tornou famoso por seu estilo peculiar facilmente identificável e que a essa altura já foi bastante parodiado. Em O Esquema Fenício ele continua a exercitar seu jeito particular de conduzir tramas permeadas por personagens excêntricos, mas dessa vez soa como uma repetição de ideias que ele já fez antes.

Bilionário em fuga

A narrativa acompanha Zsa-zsa Korda (Benício Del Toro), um excêntrico e ardiloso bilionário que desenvolveu um esquema para enriquecer com um grande projeto de infraestrutura em um país remoto. Seus planos, porém, o tornam alvo de governos ao redor do mundo que tem interesses na região. Assim, Korda é constantemente alvo de tentativas de assassinato. Temendo que seus inimigos o peguem, Korda entra em contato com Liesl (Mia Threapleton, filha de Kate Winslet), sua filha mais velha de quem está afastado há anos. Liesl quer ser freira, mas Korda a convence a viajar com ele e ser a herdeira de seus empreendimentos caso ele sucumba aos ataques dos inimigos. Dessa forma, os dois viajam pelo país remoto tentando convencer os investidores de Korda a honrarem o esquema ao mesmo tempo em que tentam reparar o relacionamento problemático entre eles.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Drops – Bailarina

 

Resenha Crítica – Bailarina

Análise Crítica – Bailarina
Considerando que o quarto filme do John Wick encerrou a história do personagem de maneira relativamente definitiva, a única maneira de contar histórias sobre esse universo seria através de outros personagens. É exatamente isso que Bailarina faz ao tentar expandir o mundo criado nos filmes do John Wick com uma nova personagem.

Dança mortal

A narrativa se passa entre o terceiro e o quarto filme do John Wick, tendo Eve (Ana de Armas) como protagonista. Eve viu o pai ser morto na frente dela ainda pequena e depois desse evento é acolhida pela Diretora (Angelica Houston) da Ruska Roma, o mesmo clã mafioso no qual John Wick cresceu. Treinada desde jovem para ser uma assassina, Eve começa a ascender nesse mundo de mercenários, mas logo reencontra membros do grupo que matou seu pai e decide buscar vingança.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Crítica – The Alto Knights: Máfia e Poder

 

Análise Crítica – The Alto Knights: Máfia e Poder

Review – The Alto Knights: Máfia e Poder
No papel The Alto Knights: Máfia e Poder soa como um filme promissor. A história real de uma rivalidade entre dois grandes mafiosos estrelada por Robert De Niro e dirigida pelo renomado Barry Levinson parece um filme com tudo para dar certo. Infelizmente, no entanto, o que parece se conduzir como se fosse um novo Os Bons Companheiros (1990) termina mais próximo de um desastre como Gotti: O Chefe da Máfia (2018).

Dupla explosiva

A narrativa se baseia na história real da rivalidade entre Frank Costello (Robert De Niro) e Vito Genovese (também Robert De Niro), dois imigrantes italianos que trabalharam juntos em organizações mafiosas nos Estados Unidos da metade século XX e se tornaram rivais disputando pelo controle. Suas personalidades são opostas, com Costello sendo um sujeito mais suave, mais político, enquanto Vito é cabeça quente, irascível e propenso a resolver tudo na base da violência. Quando um atentado à vida de Frank fracassa, ele resolve se aposentar do comando da organização passando tudo para Vito, mas a ambição e paranoia de Vito colocam tudo em risco.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Crítica – Família, Pero no Mucho

 

Análise Crítica – Família, Pero no Mucho

Review – Família, Pero no Mucho
Comédia é inversão da ordem, é subverter expectativas. Se você sabe exatamente o que vai acontecer em uma piada ou situação cômica é difícil rir porque não houve essa quebra. A previsibilidade sabota o humor. Isso é bem visível neste Família, Pero no Mucho estrelado por Leandro Hassum, que se apoia em estereótipos manjados sobre argentinos para tentar fazer rir.

Entrando numa Fria

A trama é protagonizada por Otávio (Leandro Hassum), cuja filha, Mariana (Julia Svaccina), está para conseguir uma bolsa para estudar música na Europa, mas Otávio não aprova que a filha vá para longe e a deixe sozinho cuidando do restaurante da família. Eles brigam, mas ela vai mesmo assim. Anos depois, já formada, Mariana retorna e traz consigo a novidade de que irá casar com um rapaz que conheceu na Europa. O jovem, no entanto, não é europeu, mas argentino e Mariana organiza uma viagem de sua família para Bariloche para conhecer a família do noivo. Logicamente Otávio não aprova a união e isso causará muitas confusões.

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Crítica – Iracema: Uma Transa Amazônica

 

Análise Crítica – Iracema: Uma Transa Amazônica

Review – Iracema: Uma Transa Amazônica
Realizado por Orlando Senna e Jorge Bodanzky e lançado em 1975 Iracema: Uma Transa Amazônica chegou a ser proibido pela ditadura militar por muitos anos e só foi lançado no Brasil em 1981. Hoje o filme recebe uma restauração em 4K para voltar aos cinemas e revisitá-lo agora traz a constatação melancólica de que muito pouco mudou no país entre os cinquenta anos que separam sua produção do seu retorno às salas de cinema.

Mitos desconstruídos

A narrativa acompanha o caminhoneiro Tião Brasil Grande (Paulo César Peréio) que vai para o norte do Brasil por conta da promessa de progresso e riqueza que a rodovia Transamazônica (oficialmente a BR-230) supostamente traria. Chegando lá ele conhece Iracema (Edna de Cássia), uma adolescente indígena que sobrevive de prostituição, e a leva consigo em suas viagens pelo norte. É um filme que mistura atores e cenas encenadas com personagens reais, colocando Peréio para interagir com pessoas da região enquanto dialoga sobre o suposto progresso que o governo militar diz estar acontecendo por conta da obra da rodovia.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Crítica - Apocalipse nos Trópicos

 

Análise Crítica - Apocalipse nos Trópicos

Em Democracia em Vertigem (2019) a diretora Petra Costa narra a queda de Dilma Roussef da presidência com grande vigor arquivístico, mas que se acomodava em fazer de sua narrativa uma grande bricolagem de vários momentos chave que foram narrados continuamente no noticiário político brasileiro sem oferecer muito em termos de uma nova perspectiva ou de uma grande sacada interpretativa que contribuísse para uma compreensão mais aprofundada dos fatos. Neste Apocalipse nos Trópicos a diretora se propõe a fazer um mergulho no ambiente da direita conservadora, principalmente àquela ligada a igrejas neopentecostais, para melhor entender a ascensão desse grupo na política brasileira.

Repetição histórica

Digo que o filme propõe esse mergulho porque ele fica na proposta apenas. A ideia de um debate para tentar compreender a ascensão da direita evangélica e sua adesão ao bolsonarismo é logo abandonada para que a diretora basicamente repita os mesmos procedimentos de Democracia em Vertigem, um apanhado de imagens de arquivo e outras registradas pela diretora que recapitulam momentos chave da vida política brasileira que tiveram bastante exposição midiática nos últimos anos, tudo embalado por uma narração sussurrante, lamuriosa que fala através de platitudes que explicitam o óbvio das imagens.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Crítica – Y2K: O Bug do Milênio

 

Análise Crítica – Y2K: O Bug do Milênio

Review – Y2K: O Bug do Milênio
Quem viveu o final dos anos 90 se lembra do pânico sobre o bug do milênio. O temor de que quando os sistemas de computadores fizessem a passagem do 99 para o 00 do 2000 geraria uma pane nos sistemas que poderia causar uma série de problemas. O filme Y2K: O Bug do Milênio tenta falar desse medo em uma trama que mistura terror e comédia, mas não sai bem sucedido nesses esforços.

Rebelião das máquinas

A narrativa é centrada em Eli (Jaeden Martell) que junto com o melhor amigo Danny (Julian Dennison) pensam em como pegar garotas na festa de ano novo da escola que vai marcar a virada para o ano 2000. Eli pensa em se aproximar de Laura (Rachel Zegler), a garota popular por quem é apaixonado, mas assim que chega a meia-noite os computadores ganham autonomia e começam a matar pessoas. Agora eles precisam sobreviver.

terça-feira, 15 de julho de 2025

Drops – Chefes de Estado

 

Crítica – Chefes de Estado

Review – Chefes de Estado
É curioso como às vezes ideias similares são produzidas quase que ao mesmo tempo em Hollywood. Meses atrás a Amazon lançou G20, filme que trazia Viola Davis como presidente enfrentando uma ameaça terrorista. Agora, a mesma Amazon lança outro filme com líderes mundiais partindo para a ação neste Chefes de Estado.

Relacionamento especial

Assim como G20, a trama de Chefes de Estado é muito idiota e não se preocupa muito em ser crível ou realista. A diferença é que aqui ao invés de se levar à sério como G20 fez, o filme tem plena consciência de sua idiotice e assume o compromisso com a diversão sem noção. O filme acompanha Will (John Cena), astro de cinema recém eleito presidente dos Estados Unidos, e Sam (Idris Elba), primeiro ministro britânico. Quando os dois são atacados em uma viagem diplomática, precisam se unir para sobreviver a despeito de suas personalidades conflitantes e desvendar quem está por trás da conspiração. Ao longo do percurso eles terão ajuda da agente Noel (Priyanka Chopra).

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Crítica – Karate Kid: Lendas

 

Análise Crítica – Karate Kid: Lendas

Review – Karate Kid: Lendas
A série Cobra Kai conseguiu ressuscitar a franquia Karate Kid quando ela parecia morta, já que mesmo uma tentativa de remake estrelada por Jackie Chan (inexplicavelmente trocando caratê por kung fu a despeito do título se manter) não chegou a decolar embora não tenha sido um fracasso. Com Cobra Kai se encerrando depois de se alongar demais, a franquia volta aos cinemas neste Karate Kid: Lendas, que reúne o Sr. Han (Jackie Chan) do remake com Daniel Larusso (Ralph Macchio).

Novo protagonista, mesma história

A narrativa é encabeçada por Li Fong (Ben Wang), estudante e sobrinho do Sr. Han que se muda da China para os Estados Unidos depois que sua mãe consegue um emprego em um hospital em Nova Iorque. Lá ele se aproxima da garota Mia (Sadie Stanley) e do pai dela, Victor (Joshua Jackson), dono de uma pizzaria no bairro. Quando Li descobre que Victor está devendo para pessoas perigosas e vai tentar recuperar o dinheiro em uma luta de boxe, Li decide ajudar Victor a treinar com seu conhecimento de Kung Fu. Ao mesmo tempo, ele disputa a atenção de Mia com o valentão Conor (Aramis Knight).

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Drops – Desastre Total: Cruzeiro do Cocô

 

Crítica – Desastre Total: Cruzeiro do Cocô

Review – Desastre Total: Cruzeiro do Cocô
Parte do selo Desastre Total da Netflix, que compreende documentários sobre catástrofes ou eventos controversos, Cruzeiro do Cocô narra um desastre marítimo ocorrido em 2013 que mobilizou a imprensa dos Estados Unidos.

Viagem de merda

O documentário conta a história do navio de cruzeiro Carnival Triumph que em 2013 sofreu um incêndio na casa de máquinas que destruiu os geradores de energia da embarcação e a deixou sem energia. Como até mesmo a descarga das privadas dependiam de geradores para funcionar, os passageiros sequer conseguiam usar o banheiro direito. Soma-se isso a uma demora da empresa que gerenciava o cruzeiro em mandar um reboque para trazer a embarcação de volta a um porto próximo, temos um grande desastre que colocou a vida de todos em risco.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Crítica – Cuckoo: O Medo Chama

 

Análise Crítica – Cuckoo: O Medo Chama

Review – Cuckoo: O Medo Chama
Estrelado por Hunter Schafer, Cuckoo: O Medo Chama cria uma misteriosa atmosfera de horror para sua história, mas conforme progride não consegue dar conta dos múltiplos temas que tenta abordar. A narrativa é centrada em Gretchen (Hunter Schafer), uma jovem que se muda para a Alemanha com o pai, Luis (Marton Csokas), a madastra, Beth (Jessica Henwick), e a irmã caçula Alma (Mila Lieu), que desde que nasceu nunca conseguiu falar. Luis vai para o país a trabalho, para reformar o remoto resort nas montanhas de propriedade do excêntrico Konig (Dan Stevens). Gretchen começa a trabalhar como recepcionista do remoto resort, mas logo começa a notar estranhos fenômenos e a ser perseguida por uma bizarra mulher encapuzada. Como ninguém mais vê a tal mulher, o pai e a madrasta acham que Gretchen está tentando chamar atenção, já que eles estão focados nos problemas de saúde de Alma.

Espécie invasora

A narrativa vai aos poucos construindo um senso de tensão e estranheza conforme fenômenos bizarros vão acontecendo ao redor de Gretchen, desde conduta esquisita dos hóspedes, passando por estranhos sons e momentos de deja vu que ela experimenta até as violentas perseguições da mulher encapuzada. Há uma ambiguidade nesses momentos que nos deixa incertos se é tudo na mente de Gretchen, que lida com o senso de isolamento e o falecimento inesperado de sua mãe, ou se há de fato uma criatura à espreita que explica todos os fenômenos estranhos.

Por outro lado, alguns segredos são bem óbvios desde o início como o fato de Konig claramente estar escondendo algo, o que mina parte da ambiguidade que a narrativa tenta construir. O que era uma narrativa sobre o luto de Gretchen e o senso de não pertencimento dela à nova família do pai vai se abrindo a outros temas a partir do momento em que o filme decide explicar o que de fato está acontecendo e qual a natureza da ameaça.

As experiências de Konig com criaturas híbridas deslocam os temas do luto para falar de ética científica, direitos reprodutivos da mulher e diferentes configurações de família, mas nunca há tempo suficiente para desenvolver todas essas ideias. O filme se torna um slasher competente, com bons momentos de tensão graças aos visuais bizarros e senso de estranheza com o qual tudo é conduzido, mas fica a impressão de que a narrativa levanta muitas questões e não as trabalha a contento.

 

Nota: 6/10


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quarta-feira, 9 de julho de 2025

Crítica – Shadow Force: Sentença de Morte

 

Análise Crítica – Shadow Force: Sentença de Morte

Review – Shadow Force: Sentença de Morte
É impressionante como quase nada funciona neste Shadow Force: Sentença de Morte, misto de ação com comédia romântica que tenta fazer tanta coisa ao mesmo tempo, misturando diferentes gêneros e propostas estéticas ou narrativas que nada consegue operar conjuntamente com coesão. A impressão que fica é a de um filme que parece brigar consigo mesmo o tempo todo.

Conflito interior

A trama acompanha o casal de mercenários Issac (Omar Sy) e Kyrah (Kerry Washington). No passado eles serviram juntos da Shadow Force, divisão secreta que realizada missões de assassinato. Quando eles se apaixonaram e tiveram um filho decidiram abandonar a divisão, mas isso os colocou na mira do líder, o ardiloso Jack Cinder (Mark Strong). Eles vivem separados, com Issac cuidando do filho do casal, enquanto Kyrah caça os remanescentes do grupo que estão atrás deles. As coisas mudam quando Issac impede um assalto à banco, atraindo atenção da mídia e fazendo seu rosto circular na mídia, chamando atenção de quem os caçava, obrigando ele e Kyrah a se reunirem e eliminarem a ameaça de uma vez por todas.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Crítica – Superman

 

Análise Crítica – Superman

Review – Superman
Depois de uma tentativa de construir um universo cinematográfico da DC que não engrenou por conta de escolhas questionáveis e uma demora da Warner em corrigir o rumo este Superman tenta ser um recomeço tanto para o personagem quanto para o universo DC. James Gunn já tinha colocado as mãos em personagens com O Esquadrão Suicida (2021) e seus derivados e aqui assume tanto como diretor quanto como a mente criativa por trás do recém criado DC Studios.

Olhe para o céu

Na trama, Clark Kent (David Corenswet) já é Superman há alguns anos e agora lida com uma crise da confiança do público em si depois que ele impede uma guerra entre dois países distantes. Lex Luthor (Nicholas Hoult) aproveita para minar ainda mais a credibilidade do herói para mobilizar a opinião pública e o governo contra ele, convencendo as autoridades a lhe darem carta branca para tratar o Superman como um inimigo do Estado, ao mesmo tempo em que lucra com a guerra no exterior que o Superman tentou impedir.

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Crítica - Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá

 

Análise Crítica - Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá

Review - Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá
Ainda há uma espécie de senso comum equivocado de que a repressão da ditadura militar brasileira foi algo focado nos grandes centros urbanos e que quem estava à margem disso foi pouco afetado. O sucesso de Ainda Estou Aqui no ano passado e certas reações a ele mostrou como esse senso comum ainda está presente, falhando em entender como a ditadura também afetou populações fora desses centros urbanos, como as populações indígenas. O documentário Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, conta exatamente uma dessas histórias de como comunidades indígenas foram impactadas nesse período.

Diáspora indígena

O filme parte da busca de Sueli Maxakali (uma das diretoras do filme) e sua irmã Maiza Maxakali, pelo pai delas, Luiz Kaiowá, de quem foram separadas quando eram pequenas ainda no período da ditadura militar. A narrativa conta como Luiz foi removido à força de seu território natal no Mato Grosso do Sul pelo então governo, sendo transportado por vários estados até chegar ao território dos Tikmũ’ũn (também chamados de Maxakali) em Minas Gerais, onde conheceu a mãe de Sueli e Maiza. Depois Luiz sofre um novo deslocamento forçado por parte do governo e perde o contato com a família que constituiu em Minas Gerais.

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Drops – Improvisação Perigosa

 

Análise Crítica – Improvisação Perigosa

Review – Improvisação Perigosa
Não esperava nada quando comecei a assistir Improvisação Perigosa, mas me surpreendi com uma comédia divertida que consegue aproveitar o potencial absurdo da premissa que apresenta. A trama é centrada em Kat (Bryce Dallas Howard), uma atriz vivendo em Londres cuja carreira não decolou e vive de dar aulas de comédia de improviso. Marlon (Orlando Bloom) também é um ator cuja carreira está estagnada e faz parte da turma de Kat. Hugh (Nick Mohammed) é um sujeito tímido que entra na turma de Kat para aprender a socializar melhor. Os três são recrutados pelo policial Billings (Sean Bean) para trabalharem em operações disfarçadas, mas suas habilidades de improviso permitem que eles consigam ir além da missão inicial.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Crítica – Coração de Ferro

 

Análise Crítica – Coração de Ferro

Review – Coração de Ferro
Anunciada em 2020, mas só lançada agora em 2025, Coração de Ferro foi parte de um período conturbado da divisão de televisão da Marvel em que suas produções foram reavaliadas e passaram por revisões, refilmagens, quando não foram refeitas do zero. Séries como Eco ou Demolidor: Renascido conseguiram sair desse crisol ao menos como produtos coesos, com uma visão bem demarcada da história que queriam contar. Coração de Ferro, por outro lado, não tem a mesma sorte. Aviso que o texto contem spoilers da série.

Gênia indomável

A narrativa segue Riri Williams (Dominique Thorne) depois dos eventos de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (2022). Riri continua tentando criar um novo traje de ferro e uma IA similar à que encontrou em Wakanda, mas quando seus experimentos causam mais um grande acidente na faculdade, ela termina expulsa. Riri volta para Chicago, sua cidade natal, e para financiar sua pesquisa não encontra outro meio senão colaborar com os esquemas criminosos da gangue liderada por Parker (Anthony Ramos), que recebe a alcunha de Capuz por conta do capuz místico que lhe confere estranhos poderes.

terça-feira, 1 de julho de 2025

Crítica – O Presidente Surdo

 

Análise Crítica – O Presidente Surdo

Review – O Presidente Surdo
O documentário é capaz de resgatar eventos que não ficaram na memória coletiva, nos abrir a realidades que não conhecíamos. O Presidente Surdo faz exatamente isso ao contar a história de uma mobilização estudantil da universidade Gallaudet na década de oitenta.

O som do silêncio

O filme acompanha eventos ocorridos em 1988 na Universidade Gallaudet, a primeira universidade dedicada à educação de pessoas surdas criada nos Estados Unidos ainda no século XIX. Os estudantes estavam mobilizados pela eleição de um presidente que fosse surdo, mas quando o conselho gestor da universidade aponta uma presidente que não é surda e se mostra insensível às demandas e questões do corpo discente, os estudantes se organizam para exigir mudanças.

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Crítica – Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia

 

Análise Crítica – Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia

Review – Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia
Sendo um dos programas de televisão mais longevos dos Estados Unidos, tendo completado 50 anos neste ano, Saturday Night Live faz parte da história da comédia e do entretenimento no país. Dirigido por Jason Reitman, Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia tenta honrar o legado do programa ao narrar a origem do programa e como ele marcou por fazer algo muito diferente da comédia televisiva de então.

Embalos de sábado à noite

A narrativa é centrada no produtor Lorne Michaels (Gabriel LaBelle, de Os Fabelmans) e sua esposa Rosie Shuster (Rachel Sennott) horas antes do primeiro Saturday Night ir ao ar ao vivo. Lorne corre contra o tempo para ajeitar os últimos detalhes, conciliar os egos dos membros dos elencos e roteiristas conforme lida com os executivos da emissora e uma desconfiança de que esse programa enorme, ao vivo, feito por comediantes desconhecidos, pode ser um grande fracasso.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Rapsódias Revisitadas – Grey Gardens

 

Análise Rapsódias Revisitadas – Grey Gardens

Review - Grey Gardens
Dirigido pelos irmãos Maysles, nomes chave do movimento do cinema direto dos Estados Unidos, Grey Gardens foi lançado em 1975 e até hoje permanece como um documentário envolvente tanto pela abordagem observacional dos Maysles, que pregam por interferir o mínimo possível nas cenas, e as personalidades pitorescas das duas protagonistas, que parecem apreciar serem observadas pelas câmeras do documentário. O resultado é uma enorme sinergia entre quem filma e quem é filmado, tornando difícil não se deixar absorver pelo que está em tela.

Elite decadente

A trama acompanha a idosa Edith e sua filha de meia idade Edie. Elas são tia e prima de Jackie Kennedy Onassis, ex-primeira dama do país. Em 1973 a dupla tomou as manchetes dos jornais depois que uma série de denúncias e vistorias de órgãos municipais decretou que a mansão dilapidada em que viviam, chamada de Grey Gardens, estava condenada e elas seriam removidas do local para que o imóvel fosse demolido. Jackie e irmã ajudam as parentes da minimamente reformarem a casa e elas são autorizadas a voltarem a morar no local e esse é o ponto de partida do filme, acompanhando o cotidiano de mãe e filha nesse imóvel acabado.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Crítica – Tempo de Guerra

 

Análise Crítica – Tempo de Guerra

De certa forma Tempo de Guerra passa por questões similares a Falcão Negro em Perigo (2001). Ambas são produções tecnicamente bem feitas nas suas reconstruções de situações de guerra, mas que é míope demais no contexto ao redor desse conflito para que seu efeito seja qualquer outra coisa que não uma celebração maniqueísta da resiliência das tropas retratadas.

Guerra interior

A trama conta a história real de uma tropa de fuzileiros durante a Guerra do Iraque que ficou acuada em dentro de uma casa enquanto tentavam dar suporte a outra unidade. Sem ter como sair e com soldados feridos, eles tentam resistir aos ataques externos enquanto buscam um modo de cuidar dos feridos e evacuar em segurança. A narrativa se passa em tempo real, acompanhando a situação conforme ela se desenrola e busca um registro mais realista de uma operação de guerra.

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Crítica – Homem Com H

 

Análise Crítica – Homem Com H

Review – Homem Com H
Desde o início dos anos 2000 as cinebiografias musicais se tornaram um filão comercial no cinema brasileiro. Nem todas estão no mesmo nível de qualidade, com algumas, como Tim Maia (2014), se destacando enquanto outras, como a biografia dos Mamonas Assassinas, ficando aquém de seus biografados. Homem Com H, por sua vez, é uma das melhores produções dos últimos anos ao acompanhar a trajetória de Ney Matogrosso.

Sangue Latino

A narrativa acompanha Ney (Jesuíta Barbosa) desde sua juventude até cerca dos anos 90 quando ele perde seu companheiro, Marco (Bruno Montaleone), por complicações relativas à AIDS. Ao longo de sua vida, vemos Ney Matogrosso lidou com o preconceito desde cedo por conta de seu pai (Rômulo Braga), militar severo que batia no filho por conta do comportamento afeminado, além de desafiar a ditadura militar com seus figurinos e performances musicais.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Crítica – Premonição 6: Laços de Sangue

Análise Crítica – Premonição 6: Laços de Sangue

Review – Premonição 6: Laços de Sangue
Me aproximo desse Premonição 6: Laços de Sangue como alguém que não é um profundo conhecedor da franquia. Assisti o primeiro e o segundo filme e, assim como aconteceu com Jogos Mortais, me dei por satisfeito e resolvi parar por aí. Com esse sexto filme chegando mais de uma década depois do quinto fiquei curioso por terem resolvidos ressuscitar a franquia.

Desafiando a morte

A trama é centrada em Steph (Kaitlyn Santa Juana), uma jovem universitária que começa a ter sonhos recorrentes com o desabamento de um restaurante panorâmico que mata várias pessoas. Com o tempo ela descobre que uma das pessoas no sonho era sua avó e como as visões estão atrapalhando em seu desempenho na faculdade, ela decide descobrir o que aconteceu com a sua avó e, no processo desenterra segredos de sua família.

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Crítica – Branca de Neve

 

Análise Crítica – Branca de Neve

Review – Branca de Neve
Toda a produção deste Branca de Neve foi tomada por tantas polêmicas e controvérsias que era difícil que todo o discurso sobre o filme antes mesmo que ele fosse lançado não afetasse seu desempenho nas bilheterias. Desde a escolha de Rachel Zegler para ser a protagonista, passando pelo recuo da Disney em escalar atores com nanismo para fazer os sete anões por conta de uma declaração de Peter Dinklage (os anões do filme acabaram sendo digitais), além de histórias de desentendimentos entre Zegler e Gal Gadot por conta de perspectivas políticas, tudo no filme estava envolto em polêmica. A verdade, no entanto, é que mesmo descontando todas as controvérsias, não há muita substância que sustente o filme ou que o torne minimamente envolvente.

Conto antigo

A premissa da história se mantem a mesma, Branca de Neve (Rachel Zegler) é uma jovem princesa que cresce controlada pela Rainha Má (Gal Gadot), que tomou o controle do reino depois da morte de seu pai. A Rainha é obcecada pela beleza e por ser a mais bela do reino, mas quando seu espelho mágico diz que Branca de Neve é a mais bela, a Rainha decide matá-la. Assim, Branca de Neve foge para a floresta onde é acolhida pelos sete anões. Em seu exílio ela conhece Jonathan (Andrew Burnap), um charmoso renegado que lidera a resistência contra a Rainha.

terça-feira, 17 de junho de 2025

Crítica – Echo Valley

 

Análise Crítica – Echo Valley

Review – Echo Valley
Existem dois filmes dentro de Echo Valley e, infelizmente, a produção escolhe por priorizar o menos interessante deles. Apesar de um começo promissor e de um elenco competente, a produção acaba degringolando em um suspense B que sequer consegue executar bem suas principais reviravoltas.

Querida menina

Depois de uma perda pessoal severa, Kate (Julianne Moore) passa a viver reclusa em sua fazenda de cavalos. O cotidiano solitário dela é interrompido pelo retorno Claire (Sydney Sweeney), sua filha viciada em drogas. De início parece que Claire está disposta a se reestruturar, mas logo fica evidente que ela está ali só para conseguir dinheiro e outros recursos antes de voltar para as ruas. Kate tenta ajudá-la, mas logo se vê enredada nos crimes da filha.