Fui assistir Milton Bituca Nascimento achando que seria um documentário sobre os
bastidores de sua última turnê. Não deixa de ser sobre isso, mas a produção
aproveita o gancho de ser uma turnê de despedida do músico para refletir sobre
seu legado artístico, sobre o que torna Milton um artista tão diferenciado e as
inspirações de sua arte. O resultado é um mergulho mais abrangente e
compreensivo da arte de seu objeto do que se ele se limitasse a apenas
acompanhar bastidores da turnê, ainda que seja um documentário bem típico em
sua estrutura.
Caçador de mim
Narrado por Fernanda Montenegro,
o filme analisa a trajetória do cantor e seu impacto, mostrando como ela
repercute tanto no Brasil quanto no resto do mundo. Há uma qualidade poética no
texto da narração que tenta dar conta da força sensorial e emotiva da força de
Milton, mas o texto é também bastante didático em explicar os aspectos mais
técnicos e musicológicos do que torna sua música tão diferenciada. Nesse sentido,
a narração de Fernanda Montenegro consegue dar a medida da capacidade
expressiva da arte de Milton, de sua complexidade e de fazer a audiência
entender como é feita essa música.
Dirigido por Cao Guimarães, o
documentário Amizade funciona como um
filme-ensaio mesclando imagens de arquivo e narrações para construir um senso
de que acompanhamos o fluxo de consciência do realizador enquanto ele reflete
sobre amizade e conexões afetivas.
Alma que mora em dois corpos
O ponto de partida do filme é a
mudança do diretor para o Uruguai e durante a viagem ele capta imagens de um
dos amigos que o ajuda na mudança. Em seu novo lar ele examina imagens antigas,
registradas em diferentes mídias, para refletir sobre o papel da amizade em sua
vida. A narração do diretor ajuda a dar unidade a esses fragmentos de memória
plasmados em imagem nos mostrando essas cenas de interação entre ele e as
pessoas próximas para refletir como essas conexões e afetos são importantes em
sua vida. Sem a narração essas imagens bastante pessoais e descontextualizadas,
que provavelmente não significariam nada para alguém que não está inserido
nesse círculo de amizade.
Dirigido por Allan Deberton, do
ótimo Pacarrete (2019), O Melhor Amigo é uma comédia romântica
musical com um inesperado clima de nostalgia. É uma trama sobre encontros e
desencontros amorosos que se vale dos números musicais para fins de humor e
criar um clima de excentricidade.
Romance difuso
A narrativa acompanha Lucas
(Vinícius Teixeira) que vai sozinho em uma viagem de férias para a praia de
Canoa Quebrada depois de uma crise com o namorado, Martin (Léo Bahia). Lá ele
reencontra um antigo colega de faculdade, Felipe (Gabriel Fuentes), que
trabalha como guia no local. Os dois se reconectam, trazendo desejos antigos à
tona.
A cerimônia do Oscar foi realizada
ontem, dois de março, e foi uma noite histórica para o Brasil, com Ainda Estou Aquivencendo como melhor
filme internacional, levando o primeiro Oscar para o cinema brasileiro.
Infelizmente Fernanda Torres não levou o prêmio de melhor atriz, que ficou com
Mikey Madison de Anora. O filme de Sean
Baker, por sinal, foi o maior vencedor da noite, com cinco prêmios e Baker se tornou
a primeira pessoa a vencer quatro Oscars numa mesma noite com o mesmo filme. Apesar
de treze indicações Emilia Perezlevou
apenas dois prêmios, com o filme perdendo força durante a campanha por conta de
declarações problemáticas de pessoas envolvidas com o filme. Confiram abaixo a
lista completa dos indicados e dos vencedores.
Dirigido por Cacá Diegues e
lançado em 1979, já próximo ao final da ditadura militar brasileira, Bye Bye Brasil é uma reflexão sobre esse
período da história do país e das consequências dele em nossa sociedade. É um
filme sobre conhecer o Brasil, suas transformações, imposições, sonhos e
distopias. Em ver como é possível construir um país em meio a tudo que aconteceu,
acontece e, de certa forma, continua a acontecer mesmo nos dias de hoje.
Turnê itinerante
A narrativa acompanha uma trupe
de artistas ambulantes que viaja pelo interior do Brasil, a Caravana Rolidei.
Ela é liderada pelo Lorde Cigano (José Wilker) e composta pela dançarina Salomé
(Betty Faria) e pelo homem forte Andorinha (Príncipe Nabor). Eventualmente o
sanfoneiro Ciço (Fábio Jr.) e sua esposa grávida Dasdô (Zaira Zambelli) se
juntam à trupe. Conforme viajam o grupo tem dificuldade de conseguir público
para seus shows, já que mesmo os menores rincões agora tem ao menos uma
televisão que serve de entretenimento para o público e os distrai do circo.
Cigano, no entanto, adquire esperança de um novo lugar ao ouvir sobre Altamira
no Pará, onde a rodovia transamazônica está sendo construída e que se tornou um
lugar de grande oportunidade.
Na manhã desta quinta, 23 de
janeiro, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgou os indicados
ao Oscar 2025. Para nós, brasileiros, a melhor notícia foi Ainda Estou Aquiter conseguido três indicações, incluindo uma
indicação inédita ao prêmio de melhor filme. O filme com mais indicações foi Emilia Perez, que recebeu treze menções,
seguido por O Brutalista, que recebeu
dez indicações. A cerimônia do Oscar acontecerá no dia três de março, domingo
de carnaval, e será apresentada por Conan O’Brien. Confiram abaixo a lista
completa de indicados.
A trama acompanha Chico Bento
(Isaac Amendoim) e seus amigos da Vila Abobrinha enquanto eles tentam impedir
que um empresário local derrube a goiabeira do Nhô Lau (Luis Lobianco) para
construir uma estrada. É uma trama simples que foca mais no lado de uma
aventura pueril e na comédia do que no desenvolvimento emocional presente nos
filmes da Turma da Mônica.
Ao acompanhar um grupo de
malandros que tenta um assalto mirabolante, Passagrana
funciona como uma versão brasileira de Onze
Homens e Um Segredo. A trama é protagonizada pelo quarteto Zóinhu (Wesley
Guimarães), Linguinha (Juan Queiroz), Mãodeló (Elzio Vieira) e Alãodelom (Wenry
Bueno). Eles vivem de pequenos esquemas até que resolvem partir para um golpe
mais ousado e roubam o carregamento de dois caminhões. O que eles não sabiam é
que o carregamento pertencia ao policial corrupto Britto (Caco Ciocler), que os
ameaça a cobrir seu prejuízo. Agora eles resolvem roubar um banco para devolver
o dinheiro.
Já faz alguns anos que Hollywood
vem fazendo continuações tardias de sucessos de décadas atrás. Produções que em
muitos casos se resumem a um apelo a nostalgia passada, sem oferecer muito mais
que isso. Agora parece que o cinema brasileiro se atentou para o potencial
comercial desse tipo de continuação tardia, com O Auto da Compadecida 2 sendo o primeiro de um ciclo que já
anunciou produções como Deus é Brasileiro
2 e um segundo filme da Bruna Surfistinha.
De volta ao sertão
Se passando vários anos depois do
original, a narrativa tem João Grilo (Matheus Nachtergaele) voltando para
Taperoá e reencontrando Chicó (Selton Mello), que transformou sua história de
morte e ressurreição em uma lenda e João Grilo se tornou uma figura amada no
local. Isso coloca a dupla na mira dos dois candidatos a prefeito da cidade, o
coronel Ernani (Humberto Martins) e o empresário Arlindo (Eduardo Sterblich).
João Grilo precisa então usar a sua esperteza para engambelar os dois e sair
ileso.
O cinema brasileiro já produziu
vários filmes sobre o período da ditadura militar, um período que nunca
passamos realmente a limpo e cujas consequências da impunidade em relação aos
envolvidos continua a impactar o presente do país. Ainda assim não esperava me
impactar tanto por Ainda Estou Aqui do
jeito que me impactei, principalmente pelo modo como o filme constrói a jornada
de sua protagonista sem didatismos, sem discursos fáceis. A dureza dos seus
dias e seus esforços para seguir adiante são o suficiente para comunicar a
brutalidade daqueles tempos.
Luzes e sombras
A trama acompanha Eunice Paiva
(Fernanda Torres), esposa do ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello). Quando
Rubens é levado por homens do governo, Eunice busca descobrir o que aconteceu
com o marido enquanto tenta manter sua casa funcionando e os cinco filhos em
segurança.
Focado na luta do movimento
seringueiro do Acre, o documentário Empate
explora o passado e o presente dessa luta e da figura de Chico Mendes como
principal mobilizadora desses trabalhadores em prol da proteção das matas. O
filme acompanha algumas das principais vozes do movimento, praticamente todos
atuaram ao lado de Mendes até ele ser assassinado, para compreender como eles
se organizaram e o que vem pela frente.
Passado de luta
O filme começa com imagens de
arquivo, mostrando entrevistas de Chico Mendes enquanto ele narra a situação
com fazendeiros no Acre e a necessidade de evitar o desmatamento. O
documentário intercala imagens de arquivo com entrevistas e imagens do presente
acompanhando lideranças do movimento. É um produto de natureza mais expositiva,
que visa informar o espectador sobre quem foi Chico Mendes, a pauta do
movimento, suas conquistas e os problemas atuais da causa.
O cinema de André Novais e dos
outros diretores da Filmes de Plástico é muito calcado na construção de um
senso de cotidianidade. Se o drama normalmente tenta se concentrar nos grandes
momentos de triunfo ou tragédia da vida comum, André e seus colegas entendem
que a vida se constrói principalmente nos interlúdios entre essas duas coisas,
que o grosso de nosso tempo se concentra nesse “eterno quase” de conseguirmos
ou não aquilo que desejamos e neste "eterno quase" em que residem muitos de nossos momentos especiais. O Dia Que Te
Conheci é um romance que se desenvolve justamente nesses momentos.
A ausência de um ente querido
promove mudanças no cotidiano de todo mundo afetado por esse vazio. A produção
cearense Quando Eu Me Encontrar se
propõe justamente a examinar as consequências dessa ausência e como as pessoas
reexaminam suas vidas diante dela.
Marcas da ausência
Na trama, a jovem Dayane vai
embora de casa sem dar satisfação nenhuma à família. Sua mãe, Marluce (Luciana
Souza) fica em choque com a partida repentina que a faz reexaminar sua relação
com a própria mãe. Antônio (David Santos), noivo de Dayane, tenta de algum modo
encontrar uma explicação para o sumiço da amada, se aproximando da melhor amiga
dela, Cecília (Di Ferreira). A irmã mais nova de Dayane, Mariana (Pipa),
enfrenta problemas na escola de classe média que ela frequenta como bolsista
depois que uma amiga é abusada durante uma festa e elas se tornam alvos de
comentários maldosos.
Um dos atores de carreira mais
longeva e marcante na dramaturgia brasileira, Grande Otelo, nome artístico de Sebastião
Bernardes de Souza Prata, demorou para ter o devido reconhecimento. Parte disso
se deve ao racismo da época em que ele atuou, parte por sua trajetória ser
muito marcada pela comédia, um gênero muitas vezes considerado “menos artístico”
ou “menos sofisticado”. O documentário Othelo:
O Grande reconta a trajetória do ator, suas dificuldades, seus triunfos e
seu ativismo político.
Memória audiovisual
A narrativa é toda contada através
de imagens de arquivo, usando produções das quais Otelo participou e também
várias entrevistas e discursos públicos que o ator deu ao longo de sua carreira.
A pesquisa de arquivo é a principal força do filme trazendo imagens raras e em
ótima qualidade de trabalhos antigos, como o Moleque Tião ou suas comédias para
a Atlântida, que quase sempre encontramos em qualidade ruim pela internet.
A pesquisa de arquivo também é
eficiente nas falas que traz do ator, com ele trazendo desde seus
posicionamentos, denunciando o racismo ao longo de sua trajetória, narrando experiências
com diretores renomados, como a impagável fala em que conta como foi trabalhar
com Werner Herzog em Fitzcarraldo (1982),
e também refletindo sobre a natureza da dramaturgia brasileira nos palcos, no
cinema e na televisão. Há uma fala interessante de Grande Otelo sobre o Cinema
Novo em que ele pondera que o fato do movimento nunca ter atingido as massas
como almejavam seus agitadores provavelmente se relacionava com a linguagem
experimental de seus filmes, mencionando como uma produção como Macunaíma (1969) teve penetração junto
ao público justamente por ter uma linguagem mais próxima das comédias populares
de sua época.
Otelo e o cinema brasileiro
Nesse sentido, conhecer a
história de Grande Otelo é também conhecer a história do teatro e do
audiovisual brasileiro, considerando a longevidade de sua trajetória e a
amplitude de diretores e movimentos com os quais colaborou. Vemos o histórico
de racismo na dramaturgia onde até mesmo alguém da competência de Grande Otelo
tinha dificuldade em conseguir trabalho porque papéis negros eram interpretados
por brancos em blackface, algo que
Joel Zito Araújo também mostrou no documentário A Negação do Brasil (2001).
Acompanhando a trajetória de
Grande Otelo vemos a ascensão das chanchadas (não confundir com pornochanchadas)
da Atlântida em filmes como Carnaval Atlântida (1952). Testemunhamos o surgimento de diretores como Nelson
Pereira dos Santos, com quem Grande Otelo trabalhou em Rio, Zona Norte (1957) e a eclosão de vanguardas como o Cinema
Novo. Vemos o surgimento e a consolidação da televisão como meio de comunicação
de massa e sua difusão pelo país no trabalho de Grande Otelo em programas como A Escolinha do Professor Raimundo. Como
o filme nos mostra, conhecer Grande Otelo é conhecer o desenvolvimento do
audiovisual brasileiro.
Por outro lado, o documentário se
prende demais às convenções de um filme de arquivo, soando demasiadamente
expositivo e convencional para uma figura que não pode ser facilmente colocada
em caixinhas. Grande Otelo é uma figura complexa, multifacetada e bastante
singular. O filme transmite isso nas falas e depoimentos, mas fica a impressão de
que a forma, não apenas o conteúdo, poderia também ser usada para construir a
complexidade do biografado.
Mesmo nunca saindo das convenções
de um documentário de arquivo, Othelo: O
Grande envolve pela trajetória longeva do ator e como ela se mescla com o
desenvolvimento do cinema brasileiro.
O primeiro Estômago (2007) divertia por sua mistura narrativa inusitada entre
gastronomia, comédia e trama criminal. Era uma história bem executada, que
amarrava com habilidade seus arcos narrativos e nunca senti que havia
necessidade ou espaço para uma continuação. Talvez por isso vi com
estranhamento o anúncio deste Estômago 2:
O Poderoso Chef, que nos coloca novamente ao lado do cotidiano do
protagonista como um detento e cozinheiro.
O chef agora é outro
Nonato (João Miguel) continua
preso e continua cozinhando, agora não apenas para o líder de facção Etcetera
(Paulo Miklos), mas para os guardas e o diretor do presídio, usando seu talento
para obter mordomias. A dinâmica da prisão muda quando o misterioso italiano
Dom Caroglio (Nicola Siri), chega para cumprir pena. As tensões aumentam e
Nonato tenta acalmar os ânimos ao mesmo tempo em que voltamos ao passado para
descobrir como o italiano passou de um ator fracassado chamado Roberto ao Dom
de uma família criminosa.
Motéis são um espaço de discrição
e também de livre exercício de nossos desejos. Um lugar em somos encorajados a
fazer o que queremos porque ninguém nos vê. Não é acidente, portanto, que a
locação central de Motel Destino, um filme
cuja história gira em torno de desejo e da necessidade de se esconder, seja um
motel.
Neon Noir
A trama é protagonizada por
Heraldo (Iago Xavier). Ele e o irmão trabalham para a chefe de uma facção local
e são incumbidos de eliminar um rival dela. Um dia antes do assassinato,
Heraldo se envolve com uma mulher que conheceu em um show e vai com ela para um
motel, ele acorda no dia seguinte atrasado para o assassinato e quando chega no
local combinado descobre que o irmão tentou o ataque sozinho e foi morto.
Temendo a vingança da chefe e dos companheiros, Heraldo volta ao motel para se
esconder e convence o casal de donos, Dayana (Nataly Rocha) e Elias (Fábio
Assunção) a deixá-lo ficar lá em troca de emprego. Aos poucos, tanto Elias
quanto Dayana demonstram interesse nele, com Heraldo eventualmente se
envolvendo com Dayana.
Desde que comecei a Lixo Extraordinário, essa coluna
dedicada a filmes lendários por sua ruindade, nos idos de 2017 sempre ouço a mesma pergunta: “e
quando você vai falar sobre Cinderela
Baiana?”. Talvez o mais lendário filme ruim do cinema brasileiro Cinderela Baiana foi lançado em 1998 e
trazia Carla Perez interpretando uma versão ficcionalizada de si mesma e de sua
trajetória de garota pobre de Salvador a estrela da dança. O filme foi um imenso
fracasso no lançamento e só começou a ser visto pelas pessoas quando caiu na
internet nos primeiros anos do Youtube (reza a lenda que Carla Perez teria adquirido e destruído boa parte dos VHS do filme) se tornando uma espécie de clássico cult
da ruindade.
Ele foi, provavelmente, o filme
que iniciou o meu masoquismo audiovisual e sem ele provavelmente nunca teria
pensado em criar essa coluna. Talvez por conta disso eu tenha esperado para
falar sobre ele em uma ocasião especial. Essa ocasião acabou sendo minha participação
no Festival Cinderela Baiana de Cinema que ocorreu de 16 a 18 de agosto aqui em
Salvador. Fui convidado pela organização do festival a falar sobre o filme,
então tive que revê-lo e aproveitei para fazer por escrito minhas
considerações. O que vem a seguir é menos uma análise pormenorizada do filme e
mais uma tentativa de explicar como ele ganhou seu status lendário de ruindade e porque ele continua sendo discutido
mesmo sendo tão ruim.
O Brasil é um país profundamente
desigual e Mais Pesado é o Céu conta
a história de duas pessoas tentando sobreviver em meio à miséria nas áreas mais
remotas do país. Não é uma narrativa de superação como outras histórias sobre a
pobreza. É, sim, uma narrativa que pondera sobre as consequências de ter que
estar sempre “se virando” para sobreviver e os impactos físicos ou psicológicos
de se submeter a violências ou humilhações para conseguir o mínimo para se
sustentar.
Antônio (Matheus Nachtergaele)
está cruzando o Ceará rumo ao norte do país para encontrar um amigo que
aparentemente tem um negócio de caranguejo. No caminho ele decide parar em sua
antiga cidade que agora foi alagada por açude. Lá ele encontra Teresa (Ana
Luiza Rios), que também foi ver as ruínas da antiga cidade e encontra um bebê
abandonado no local. Agora os dois resolvem ficar juntos para ajudar a prover
para o bebê.
Baseado no livro de mesmo nome de Daniela Arbex, o
documentário Holocausto Brasileiro
foi lançado em 2016 e narra a chocante história real do hospital psiquiátrico
Colônia, localizado em Barbacena, interior de Minas Gerais. Em seus oitenta
anos de funcionamento o hospital abrigou milhares de pacientes, alguns que
sequer tinham problemas psiquiátricos, mas as condições desumanas do local
causaram a morte de mais de sessenta mil pessoas.
Estruturado ao redor de entrevistas e imagens de arquivo, o
documentário conta a história do hospital desde sua origem no início do século
XX, quando foi criado como um centro terapêutico para a elite carioca, e depois
quando se tornou um hospital psiquiátrico pertencente ao estado de Minas
Gerais. A partir daí vemos como o local se tornou um espaço de exclusão e
tormento no qual as autoridades não apenas aprisionavam pessoas com transtornos
mentais severos, mas também qualquer um que não tivesse para onde ir, como
crianças órfãs e pessoas em situação de rua. Todos os que estavam no hospital,
independente do diagnóstico, eram tratados como pacientes psiquiátricos,
recebendo uma medicação pesada e até tratamentos mais agressivos, como
eletrochoques.
Inspirado no livro-reportagem Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex (que baseou o documentário de 2016 de mesmo nome), este Ninguém Sai
Vivo Daqui narra a história do hospital psiquiátrico Colônia, localizado no
interior de Minas Gerais, como uma história de terror. Com mais de 60 mil
internos mortos ao longo de décadas, muitos dos quais sequer sofriam de
transtornos mentais, o caso se tornou um símbolo da luta antimanicomial no
Brasil.
A narrativa se passa nos anos 70 e é focada em Elisa
(Fernanda Marques), enviada à força para Colônia pela família depois de
engravidar de um namorado e recusar o casamento arranjado com outro homem feito
por seu pai. Inicialmente sem saber o motivo de estar lá, ela logo descobre que
outros internos e internas do lugar tem histórias como a dela, pessoas sem
histórico de doença mental que foram colocados lá por não aderirem a certas
normas sociais ou por não terem nada nem ninguém para onde ir. Ao vivenciar um
cotidiano de maus tratos e torturas, ela tenta encontrar um meio de fugir.