segunda-feira, 23 de setembro de 2024
Crítica – O Dia Que Te Conheci
segunda-feira, 16 de setembro de 2024
Crítica – Quando Eu Me Encontrar
Marcas da ausência
Na trama, a jovem Dayane vai embora de casa sem dar satisfação nenhuma à família. Sua mãe, Marluce (Luciana Souza) fica em choque com a partida repentina que a faz reexaminar sua relação com a própria mãe. Antônio (David Santos), noivo de Dayane, tenta de algum modo encontrar uma explicação para o sumiço da amada, se aproximando da melhor amiga dela, Cecília (Di Ferreira). A irmã mais nova de Dayane, Mariana (Pipa), enfrenta problemas na escola de classe média que ela frequenta como bolsista depois que uma amiga é abusada durante uma festa e elas se tornam alvos de comentários maldosos.
terça-feira, 3 de setembro de 2024
Crítica – Othelo: O Grande
Memória audiovisual
A narrativa é toda contada através de imagens de arquivo, usando produções das quais Otelo participou e também várias entrevistas e discursos públicos que o ator deu ao longo de sua carreira. A pesquisa de arquivo é a principal força do filme trazendo imagens raras e em ótima qualidade de trabalhos antigos, como o Moleque Tião ou suas comédias para a Atlântida, que quase sempre encontramos em qualidade ruim pela internet.
A pesquisa de arquivo também é eficiente nas falas que traz do ator, com ele trazendo desde seus posicionamentos, denunciando o racismo ao longo de sua trajetória, narrando experiências com diretores renomados, como a impagável fala em que conta como foi trabalhar com Werner Herzog em Fitzcarraldo (1982), e também refletindo sobre a natureza da dramaturgia brasileira nos palcos, no cinema e na televisão. Há uma fala interessante de Grande Otelo sobre o Cinema Novo em que ele pondera que o fato do movimento nunca ter atingido as massas como almejavam seus agitadores provavelmente se relacionava com a linguagem experimental de seus filmes, mencionando como uma produção como Macunaíma (1969) teve penetração junto ao público justamente por ter uma linguagem mais próxima das comédias populares de sua época.
Otelo e o cinema brasileiro
Nesse sentido, conhecer a história de Grande Otelo é também conhecer a história do teatro e do audiovisual brasileiro, considerando a longevidade de sua trajetória e a amplitude de diretores e movimentos com os quais colaborou. Vemos o histórico de racismo na dramaturgia onde até mesmo alguém da competência de Grande Otelo tinha dificuldade em conseguir trabalho porque papéis negros eram interpretados por brancos em blackface, algo que Joel Zito Araújo também mostrou no documentário A Negação do Brasil (2001).
Acompanhando a trajetória de Grande Otelo vemos a ascensão das chanchadas (não confundir com pornochanchadas) da Atlântida em filmes como Carnaval Atlântida (1952). Testemunhamos o surgimento de diretores como Nelson Pereira dos Santos, com quem Grande Otelo trabalhou em Rio, Zona Norte (1957) e a eclosão de vanguardas como o Cinema Novo. Vemos o surgimento e a consolidação da televisão como meio de comunicação de massa e sua difusão pelo país no trabalho de Grande Otelo em programas como A Escolinha do Professor Raimundo. Como o filme nos mostra, conhecer Grande Otelo é conhecer o desenvolvimento do audiovisual brasileiro.
Por outro lado, o documentário se prende demais às convenções de um filme de arquivo, soando demasiadamente expositivo e convencional para uma figura que não pode ser facilmente colocada em caixinhas. Grande Otelo é uma figura complexa, multifacetada e bastante singular. O filme transmite isso nas falas e depoimentos, mas fica a impressão de que a forma, não apenas o conteúdo, poderia também ser usada para construir a complexidade do biografado.
Mesmo nunca saindo das convenções
de um documentário de arquivo, Othelo: O
Grande envolve pela trajetória longeva do ator e como ela se mescla com o
desenvolvimento do cinema brasileiro.
Nota: 6/10
Trailer
quarta-feira, 21 de agosto de 2024
Crítica – Estômago 2: O Poderoso Chef
O chef agora é outro
Nonato (João Miguel) continua preso e continua cozinhando, agora não apenas para o líder de facção Etcetera (Paulo Miklos), mas para os guardas e o diretor do presídio, usando seu talento para obter mordomias. A dinâmica da prisão muda quando o misterioso italiano Dom Caroglio (Nicola Siri), chega para cumprir pena. As tensões aumentam e Nonato tenta acalmar os ânimos ao mesmo tempo em que voltamos ao passado para descobrir como o italiano passou de um ator fracassado chamado Roberto ao Dom de uma família criminosa.
terça-feira, 20 de agosto de 2024
Crítica – Motel Destino
Neon Noir
A trama é protagonizada por Heraldo (Iago Xavier). Ele e o irmão trabalham para a chefe de uma facção local e são incumbidos de eliminar um rival dela. Um dia antes do assassinato, Heraldo se envolve com uma mulher que conheceu em um show e vai com ela para um motel, ele acorda no dia seguinte atrasado para o assassinato e quando chega no local combinado descobre que o irmão tentou o ataque sozinho e foi morto. Temendo a vingança da chefe e dos companheiros, Heraldo volta ao motel para se esconder e convence o casal de donos, Dayana (Nataly Rocha) e Elias (Fábio Assunção) a deixá-lo ficar lá em troca de emprego. Aos poucos, tanto Elias quanto Dayana demonstram interesse nele, com Heraldo eventualmente se envolvendo com Dayana.
segunda-feira, 19 de agosto de 2024
Lixo Extraordinário – Cinderela Baiana
Ele foi, provavelmente, o filme que iniciou o meu masoquismo audiovisual e sem ele provavelmente nunca teria pensado em criar essa coluna. Talvez por conta disso eu tenha esperado para falar sobre ele em uma ocasião especial. Essa ocasião acabou sendo minha participação no Festival Cinderela Baiana de Cinema que ocorreu de 16 a 18 de agosto aqui em Salvador. Fui convidado pela organização do festival a falar sobre o filme, então tive que revê-lo e aproveitei para fazer por escrito minhas considerações. O que vem a seguir é menos uma análise pormenorizada do filme e mais uma tentativa de explicar como ele ganhou seu status lendário de ruindade e porque ele continua sendo discutido mesmo sendo tão ruim.
terça-feira, 6 de agosto de 2024
Crítica – Mais Pesado é o Céu
Antônio (Matheus Nachtergaele) está cruzando o Ceará rumo ao norte do país para encontrar um amigo que aparentemente tem um negócio de caranguejo. No caminho ele decide parar em sua antiga cidade que agora foi alagada por açude. Lá ele encontra Teresa (Ana Luiza Rios), que também foi ver as ruínas da antiga cidade e encontra um bebê abandonado no local. Agora os dois resolvem ficar juntos para ajudar a prover para o bebê.
terça-feira, 9 de julho de 2024
Rapsódias Revisitadas – Holocausto Brasileiro
Estruturado ao redor de entrevistas e imagens de arquivo, o documentário conta a história do hospital desde sua origem no início do século XX, quando foi criado como um centro terapêutico para a elite carioca, e depois quando se tornou um hospital psiquiátrico pertencente ao estado de Minas Gerais. A partir daí vemos como o local se tornou um espaço de exclusão e tormento no qual as autoridades não apenas aprisionavam pessoas com transtornos mentais severos, mas também qualquer um que não tivesse para onde ir, como crianças órfãs e pessoas em situação de rua. Todos os que estavam no hospital, independente do diagnóstico, eram tratados como pacientes psiquiátricos, recebendo uma medicação pesada e até tratamentos mais agressivos, como eletrochoques.
segunda-feira, 8 de julho de 2024
Crítica – Ninguém Sai Vivo Daqui
A narrativa se passa nos anos 70 e é focada em Elisa (Fernanda Marques), enviada à força para Colônia pela família depois de engravidar de um namorado e recusar o casamento arranjado com outro homem feito por seu pai. Inicialmente sem saber o motivo de estar lá, ela logo descobre que outros internos e internas do lugar tem histórias como a dela, pessoas sem histórico de doença mental que foram colocados lá por não aderirem a certas normas sociais ou por não terem nada nem ninguém para onde ir. Ao vivenciar um cotidiano de maus tratos e torturas, ela tenta encontrar um meio de fugir.
quarta-feira, 19 de junho de 2024
Rapsódias Revisitadas – Rio, Zona Norte
Dirigido por Nelson Pereira dos Santos, responsável por obras seminais do cinema brasileiro como Vidas Secas (1963), Rio, Zona Norte foi lançado em 1957. É uma narrativa sobre a vida na periferia do Rio de Janeiro, do samba que dela emerge e como esse samba é apropriado pela elite carioca, deixando à míngua os músicos do morro.
O protagonista é Espírito da Luz (Grande Otelo), um sambista da periferia carioca que cai de um trem lotado saindo da Central do Brasil e machuca a cabeça. Enquanto ele agoniza, voltamos aos seus últimos meses, quando ele lutava para gravar seus sambas, mas tem suas músicas roubadas pelo parceiro Maurício (Jece Valadão). Ele também enfrenta problemas com o filho Lourival (Haroldo de Oliveira), que se envolve com uma gangue de criminosos.
terça-feira, 18 de junho de 2024
Crítica – O Estranho
A trama gira em torno de Alê (Larissa Siqueira), uma mulher que trabalha no aeroporto de Guarulhos e lida com uma dupla ausência. De um lado trabalhar naquele local a faz pensar na história passada de sua família indígena que foi removida da região e de outro da filha, que desapareceu décadas atrás. Outra ausência iminente é a da namorada, Silvia (Patricia Saravy), que está para se mudar para um local mais longe, também se afastando de suas origens e do terreiro do qual faz parte.
quarta-feira, 12 de junho de 2024
Crítica – Evidências do Amor
A trama gira em torno de Marco (Fábio Porchat), que não supera o fim do noivado com Laura (Sandy Leah). Agora toda vez que ouve a canção Evidências, de Chitãozinho & Xororó, música que cantou junto com Laura em um karaokê quanto se conheceram, ele é transportado ao passado e revive memórias do relacionamento. Reviver essas memórias o faz perceber que a decisão dela em terminar talvez não tivesse sido tão súbita quanto pensava e que ele tem responsabilidade no fim da relação. Assim, Marco tenta embarcar nessas memórias para pensar em uma maneira de retomar o relacionamento.
segunda-feira, 10 de junho de 2024
Crítica – 13 Sentimentos
A narrativa tem uma estrutura que remete a comédias românticas hollywoodianas, com o protagonista passando por vários encontros, conhecendo diferentes tipos de pretendentes e conversando a respeito disso com uma dupla de amigos. É uma estrutura que o filme executa razoavelmente bem, ainda que repita certos clichês que soam bem manjados hoje. O principal é o dos amigos que parecem existir para gravitar em torno dele, já que os dois não tem qualquer arco narrativo e servem basicamente como orelha para João falar sobre os próprios sentimentos, além de ocasional alívio cômico.
quarta-feira, 3 de abril de 2024
Crítica – Uma Família Feliz
A trama é protagonizada por Eva (Grazi Massafera), prestes a ter seu primeiro filho com o marido, Vicente (Reynaldo Gianecchini), que tem duas filhas de um casamento anterior. Cuidando do recém nascido e também das duas enteadas, Eva começa a se sentir sozinha em casa e o cansaço de fazer tudo sozinha começa a afetá-la. Ao mesmo tempo seu bebê e as duas enteadas começam a exibir machucados desconhecidos, que Eva não sabe como explicar e Vicente começa a desconfiar dela.
sexta-feira, 22 de março de 2024
Crítica – Not Dead
Quando falamos em música em Salvador normalmente pensamos em axé music, mas o cenário musical da cidade é muito mais diverso que isso e o documentário Not Dead visa falar de uma das formas musicais que teve (e tem) uma presença na cidade que é o punk rock. Como alguém que viveu praticamente a vida toda em Salvador, achei interessante conhecer um aspecto da vida cultural da cidade que é pouco falado e pouco visto nas representações midiáticas.
O filme segue um grupo de pessoas influentes no surgimento da cena punk em Salvador nos anos 80, contando sobre a criação da loja Not Dead, que vendia roupas e mercadorias com estética punk e servia como um espaço para congregar a cultura punk em Salvador. A partir disso ele nos mostra como está a cena punk hoje, as bandas que surgiram naquela época que ainda estão ativas e como a ideologia punk transformou a vida dos envolvidos mesmo aqueles que não seguem diretamente engajados na cena punk soteropolitana hoje.
quinta-feira, 21 de março de 2024
Crítica – A Flor do Buriti
A narrativa vai da década de 1940 aos dias atuais, mas sem seguir uma cronologia, acompanhando a população da Aldeia Pedra Branca no presente e se deslocando no tempo conforme eles contam as histórias do passado ou seus espíritos entram em contato com ancestrais no passado, misturando cenas encenadas e personagens reais para narrar como a opressão aos indígenas sempre foi uma constante em suas vidas.
Se filmes como Martírio (2016) mostram anos de descaso ou políticas questionáveis da parte do Estado brasileiro, aqui essas décadas de descaso e perseguição são apresentadas do ponto de vista dos próprios indígenas, narrado, inclusive em sua própria língua. O fato dos Krahô falarem seu em sua língua é uma escolha estética e política, permite que eles se coloquem em seus próprios termos, com seu vernáculo e com toda a construção subjetiva e visão de mundo imbricada na própria língua.
quarta-feira, 20 de março de 2024
Crítica – Ecos do Silêncio
Protagonizado por Thalles Cabral (o Nem de As Five) Ecos do Silêncio é um filme sobre errância, sobre se perder, se encontrar e tentar dar algum sentido ao caos da nossa existência. Infelizmente a produção nem sempre alcança as pretensões temáticas que se propõe a discutir.
A narrativa é centrada em Davi (Thalles Cabral), que viaja para a Argentina para estudar musicoterapia na esperança de poder ajudar o irmão que tem autismo severo. De lá ele parte para a Índia em uma jornada espiritual e acaba confrontando sua relação com a família e os traumas que o moveram até então.
O filme se move entre o presente de Davi, memórias de seu passado e ocasionais flashfowards de sua jornada na Índia. A impressão é que o filme tenta nos mergulhar no fluxo de consciência do personagem, mostrando como o passado materializa seu presente e informa o seu futuro, bem como nos faz sentir a conexão metafísica que o protagonista diz sentir em relação ao irmão.
terça-feira, 19 de março de 2024
Crítica – A Batalha da Rua Maria Antônia
A narrativa se passa ao longo de um dia em outubro de 1968 durante a ocupação da Faculdade de Filosofia da USP pelo movimento estudantil e os confrontos dos estudantes com alunos da Mackenzie e de instituições repressoras. O filme se divide em 21 cenas, todas construídas como planos-sequência, para narrar o aumento das tensões e eventual invasão do prédio da USP pela polícia. No centro disso tudo está Lilian (Pâmela Germano), uma estudante de filosofia que não está envolvida diretamente com o movimento estudantil, mas decide ficar na ocupação para ajudar a amiga Ângela (Isamara Castilho) na esperança de conversar com ela e entender porque Ângela tem se afastado apesar das duas serem amigas de infância.
segunda-feira, 18 de março de 2024
Crítica – Estranho Caminho
A trama é focada em David (Lucas Limeira), um jovem cineasta brasileiro radicado em Portugal que volta para sua cidade natal para apresentar seu longa em um festival de cinema. Quando a pandemia estoura e o lockdown é decretado no Brasil ele fica sem ter como voltar para Portugal e sem hospedagem na cidade. Sem opção, ele tenta entrar em contato com o pai, Geraldo (Carlos Francisco, do excelente Marte Um), com quem não fala há anos.
domingo, 17 de março de 2024
Crítica – Sem Coração
A narrativa se passa durante o verão de 1996 na região litorânea de Alagoas. Tamara (Maya de Vicq) está para ir para a faculdade em Brasília, então aproveita seu último verão com os amigos. Eles passam os dias na praia, em festas e entrando em imóveis vazios ou abandonados no lugar. Tamara acaba voltando a sua atenção para uma garota que seus amigos chamam de Sem Coração (Eduarda Samara) e que se mantem distante do resto da juventude do local. Tamara decide então se aproximar da garota.