Nos últimos anos tivemos várias
cinematografias de músicos bastante protocolares que pareciam versões
ilustradas de verbetes de Wikipedia, narrando fatos notórios da vida dessas
pessoas, sem oferecer qualquer insight a
respeito do que as move. Produções
como Bohemian Rhapsody(2018), I Wanna Dance With Somedoby: A História de Whitney Houston(2023) ou Bob Marley:
One Love. Este Back to Black,
cinebiografia de Amy Winehouse, está em outro patamar, sendo uma produção que
não é apenas rasa, ela parece ativamente detestar a pessoa que está
biografando.
Reescrevendo a história
A narrativa acompanha a
trajetória da cantora Amy Winehouse (Marisa Abela), focando no lançamento do
álbum Back to Black e na relação
entre ela e seu pai, Mitch (Eddie Masran), e o marido, Blake (Jack O’Connell),
bem como os problemas da cantora com drogas. Como as produções que citei no
primeiro parágrafo, o filme se limita a reconstruir momentos notórios da vida
da cantora, mas não ajuda a compreender quem ela era para além desse retrato
midiático.
Considerando o quanto Ayrton
Senna é importante para o esporte brasileiro e os vários documentários feitos
sobre ele é até estranho que tenham demorado tanto para fazer uma ficção. A
minissérie Senna é exatamente isso,
tentando condensar toda a trajetória do piloto em seis episódios, acompanhando
desde seu início na Formula Ford, até seu dia derradeiro na Formula 1, quando
faleceu em um acidente.
Vida veloz
A série sofre por tentar
compreender um período de tempo muito longo em uma quantidade pequena de
episódios e com isso passa muito rápido pelos eventos marcantes da vida de
Senna sem dar o devido tempo para analisar como essas experiências impactaram
sua trajetória. Talvez tivesse sido melhor se a produção fosse pensada como uma
série de duas ou três temporadas. Do jeito que está fica a impressão de uma
história compostos por verbetes soltos de Wikipedia que se limitam apenas a
narrar os feitos mais notáveis do personagem sem buscar alguma compreensão
deles.
O primeiro Sorria(2022) foi uma grata surpresa com sua atmosfera macabra. Com
o sucesso dele era de se esperar uma continuação. Esse Sorria 2 tem uma estrutura bem similar ao primeiro, mas tenta
superá-lo pelo modo intenso com o qual constrói a tensão ao redor de sua
protagonista.
O horror da fama
A narrativa é protagonizada por
Skye Riley (Naomi Scott, de Aladdin)
uma pop star que tenta retomar sua carreira depois de problemas com drogas e um
acidente de carro que matou seu namorado, Paul (Ray Nicholson), e a deixou com
várias cicatrizes e dores pelo corpo. Depois de sentir dor durante um ensaio,
ela procura o traficante Lewis (Lukas Gage) em busca de analgésicos potentes.
Chegando lá, encontra Lewis transtornado, com um sorriso macabro, e ele acaba
por se matar na frente dela. A partir de então ela começa a ter visões com
acontecimentos bizarros e pessoas com sorrisos sinistros.
Você já se perguntou como seria o
filme Megan(2023) se ao invés de um
robô boneca tivéssemos uma robô boazuda? Não? Pois azar o seu, já que é
exatamente essa resposta que o filme Alice: Subservience tenta dar. Sua narrativa de um futuro próximo
poderia pensar em precarização do trabalho ou transhumanismo, mas prefere ser
um slasher genérico com pitadas de um
erotismo frígido.
Alma de silicone
A trama acompanha o empreiteiro
Nick (Michele Morrone, do pavoroso 365
Dias), cuja esposa está hospitalizada com um sério problema cardíaco. Sem
conseguir dar conta das demandas de trabalho e dos filhos, ele compra a robô
doméstica Alice (Megan Fox). Dedicada, Alice logo se torna alguém que Nick e os
filhos passam a confiar, mas a androide logo demonstra querer ir além de seu
papel de ajudante.
Um anime que contasse a história
do rei Helm Mão-de-Martelo e de como o a fortaleza que leva seu nome permitiu
aos Rohirrim resistirem a uma invasão séculos antes dos eventos de O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (2002)
não era a primeira coisa que eu pensaria para uma nova produção na Terra-Média
(ainda não entendo como ninguém tentou um projeto baseado em Beren & Luthien ou Os Filhos de Húrin). Mesmo não sendo um
pedaço da história deste universo que deixava os fãs ansiosos de curiosidade, O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim
é uma aventura bacana.
Lá e de volta outra vez
A trama é focada em Héra, filha
de Helm. Quando um governante do sul, Freca, tenta forçar Helm a casá-la com
seu filho, Helm o desafia para uma luta. Durante o combate Freca cai por conta
de um soco de Helm e bate a cabeça, morrendo. Helm bane Wulf, filho de Freca,
das terras de Rohan, mas ele jura vingança. Anos depois Wulf vem com um
exército de mercenários atacar o reino, obrigando todos a recuarem para a
fortaleza nas montanhas. Os irmãos de Héra morrem no primeiro ataque de Wulf e
agora apenas ela e o pai restam da família real enquanto eles ficam sitiados na
fortaleza.
O cinema de Karim Ainouz
constantemente dialoga com noções de masculinidade, analisando os problemas e
tensões de certas convenções a respeito do que é “ser homem”. Fez isso em
filmes como Motel Destino(2024), Praia do Futuro (2014) ou Madame Satã (2002). Neste O Jogo da Rainha ele deixa o contexto
brasileiro para ir à Europa do século XVI para construir uma história sobre
patriarcado, masculinidade e a resiliência feminina diante de um mundo dominado
por homens, algo que ele já fez em A Vida Invisível(2019).
Mundo masculino
A trama se baseia na história
real de Catarina Parr (Alicia Vikander), sexta esposa do rei Henrique VIII
(Jude Law). Enquanto o marido está fora em guerra, Catarina é nomeada regente e
conforme adquire poder vai se tornando uma liderança em uma revolução
protestante que via colocar a igreja acima do rei. Quando o monarca retorna da
guerra, marcado por ferimentos e infecções, além de problemas com gota, ele não
apenas remove o poder de Catarina, reduzindo sua regência a tarefas mínimas.
Henrique também se torna mais agressivo e paranoico conforme seu estado de
saúde piora e Catarina passa a temer por seu destino.
Focado na luta do movimento
seringueiro do Acre, o documentário Empate
explora o passado e o presente dessa luta e da figura de Chico Mendes como
principal mobilizadora desses trabalhadores em prol da proteção das matas. O
filme acompanha algumas das principais vozes do movimento, praticamente todos
atuaram ao lado de Mendes até ele ser assassinado, para compreender como eles
se organizaram e o que vem pela frente.
Passado de luta
O filme começa com imagens de
arquivo, mostrando entrevistas de Chico Mendes enquanto ele narra a situação
com fazendeiros no Acre e a necessidade de evitar o desmatamento. O
documentário intercala imagens de arquivo com entrevistas e imagens do presente
acompanhando lideranças do movimento. É um produto de natureza mais expositiva,
que visa informar o espectador sobre quem foi Chico Mendes, a pauta do
movimento, suas conquistas e os problemas atuais da causa.
Enquanto assistia o último
episódio da minissérie Disclaimer me
lembrei da frase do crítico Roger Ebert sobre o cinema ser uma máquina de gerar
empatia. O modo como narrativas nos mobilizam e nos fazem aderir a um
personagem, mesmo quando ele é moralmente duvidoso, e o poder da narrativa em
nos fazer agir por conta desses afetos que são mobilizados são temas centrais
da produção criada e dirigida pelo diretor Alfonso Cuarón. É uma história que
nos lembra como histórias podem ser usadas para convencer a gente sobre um
ponto de vista, mesmo que esse ponto de vista não seja capaz de dar conta de
toda a história.
Passado esquecido
A trama gira em torno de
Catherine (Cate Blanchett), uma documentarista que construiu sua carreira em
revelar transgressões que instituições querem esconder. Ela tem seu próprio
segredo do passado que está prestes a ser revelado por conta de Stephen (Kevin
Kline), um professor recém desempregado que encontra um livro escrito pela
esposa falecida, Nancy (Leslie Manville). O livro se baseia na história real da
morte de seu filho Jonathan (Louis Partridge) que se afogou na Itália décadas
atrás e pinta de maneira extremamente negativa a mulher casada com a qual se
relacionou. A mulher em questão é Catherine e Stephen vê no livro uma maneira
de se vingar dela, já que a julga responsável pelo afogamento de Jonathan.
Dirigido por Steve McQueen,
diretor responsável por 12 Anos de Escravidão(2013) e As Viúvas
(2018), Blitz retrata o período dos
constantes bombardeios nazistas contra Londres durante a Segunda Guerra
Mundial. É uma produção que tenta retratar a sobrevivência em um período de
constante perigo e escassez, mas que por vezes tenta manejar tantas ideias ao
mesmo tempo que não desenvolve nenhuma de maneira impactante.
Notícias de uma guerra cotidiana
A trama acompanha a jovem Rita
(Saoirse Ronan), que vive com o pai e o filho George (Elliott Heffernan) em uma
Londres sob constantes alvos de bombardeios. Quando o governo evacua as
crianças da cidade, Rita e George se separam, mas George não vai para o abrigo
do governo. Ele pula do trem durante o trajeto e tenta voltar para casa
sozinho, enquanto isso Rita continua a trabalhar em uma fábrica, produzindo
armamentos para o esforço de guerra, enquanto tenta sobreviver aos bombardeios
constantes.
Como seria viver a juventude com
o conhecimento e experiência de nossa versão mais velha? É essa pergunta que Meu Eu do Futuro tenta ponderar a
resposta e o resultado é um exame singelo sobre o impacto de nossas escolhas de
vida e como o tempo muda nossa perspectiva das coisas, nem sempre para melhor.
Convergência temporal
A narrativa é protagonizada por
Elliott (Maisy Stella), uma garota que aproveita suas últimas férias antes de
ir para a faculdade. Um dia ela vai acampar com as amigas Ruthie (Maddie
Ziegler) e Ro (Kerrice Brooks) e elas acabam usando cogumelos alucinógenos.
Durante a viagem nas drogas, ela encontra sua versão mais velha (Aubrey Plaza)
e pede a ela conselhos para o futuro. Seu eu do futuro a alerta que tudo irá
mudar depois que for para a faculdade, que ela deve aproveitar o tempo que tem
com os irmãos e com os pais na fazenda da família e que deve evitar se
apaixonar por um rapaz chamado Chad. No dia seguinte ela conhece um Chad (Percy
Hynes White, de Wandinha) e não
consegue entender porque a Elliott do futuro lhe disse para não se envolver com
ele.
Dirigido por Anna Muylaert,
responsável por Que Horas Ela Volta?
(2015), O Clube das Mulheres de Negócios
tenta imaginar como seria um Brasil em que as mulheres dominassem a sociedade.
É uma ideia com potencial de repensar noções de masculino e feminino, de como
muito disso é uma construção social, mas infelizmente o filme se prende a um
binarismo raso que o reduz a ser uma sátira de uma piada só.
Mundo invertido
Na trama, o renomado fotógrafo
Jongo (Luís Miranda) e o inexperiente repórter Candinho (Rafael Vitti) vão ao
famoso Clube das Mulheres de Negócios, confraria privada que abriga as mulheres
mais poderosas do país, para entrevistar as integrantes da diretoria. Jongo
está apreensivo de entrar em um ambiente de mulheres tão poderosas, mas
Candinho não se sente intimidado por ser neto da presidente do clube, a
poderosa Cesárea (Cristina Pereira).
Assim que saíram os primeiros
trailers de Dragon Age: The Veilguard
eu não fiquei muito animado. Depois de quase dez anos no limbo após Dragon Age: Inquisition o jogo que
anteriormente se chamaria Dragon Age: The
Dread Wolf tinha sido rebatizado e exibia uma direção de arte mais cartunesca
e um clima mais aventureiro que o distanciava da fantasia sombria de outrora,
assim como a jogabilidade adotava mais uma estrutura de RPG de ação do que o
combate tático de antes. Estava pronto para não gostar, mas a verdade é que ao
longo das minhas cinquenta horas com Dragon
Age: The Veilguard percebi que quanto mais analisava o jogo pelo que ele se
propunha a ser e não pelo que eu queria que ele fosse, mais ele crescia aos meus olhos.
Criado na literatura pelo
escritor James Patterson, o detetive Alex Cross já está a algum tempo na mira
Hollywood, mas os resultados dessas adaptações variavam entre o morno, com os
filmes estrelados por Morgan Freeman Beijos
que Matam (1997) e Na Teia da Aranha,
e o péssimo, com A Sombra do Inimigo
(2012), que trazia Tyler Perry como Alex Cross. Talvez o problema tenha sido
adaptar os romances de Patterson como filmes e não como séries, já que Detetive Alex Cross mostra que o
personagem funciona melhor nesse formato.
Na Broadway, o musical Wicked trazia uma interessante releitura
para a mitologia do universo de O Mágico
de Oz, ponderando como sobre o perigo de ouvir apenas um lado da história e
como isso resulta em maniqueísmos injustos. Fiquei curioso com o anúncio de uma
adaptação para cinemas, principalmente pela escolha de dividir o musical em
duas partes, que evitaria ter que condensar demais a narrativa e prejudicar a
construção dos personagens e conflitos, como aconteceu em Caminhos da Floresta(2014). Sim, esse filme é só a primeira metade
da história.
Metáforas da diferença
A narrativa começa com a derrota
da bruxa Elphaba (Cynthia Erivo) no filme de O Mágico de Oz e enquanto a terra de Oz comemora a sua morte,
Glinda (Ariana Grande), a bruxa boa, relembra o passado das duas e como ninguém
nasce naturalmente maligno. Acompanhamos então a juventude das duas e como elas
estudaram juntas para se tornarem feiticeiras, com Elphaba sempre demonstrando
uma aptidão natural para magia enquanto Glinda não tinha o mesmo talento embora
desejasse dominar a magia. As habilidades de Elphaba chamam a atenção da
professora Morrible (Michelle Yeoh), que a consideram capaz de ajudar o grande
Mágico de Oz (Jeff Goldblum), embora a aparência verde de Elphaba desperta
preconceito e intolerância nos colegas.
Adaptando um romance escrito por
Lily Brett este Tesouro tenta ser
simultaneamente um road movie sobre
pai e filha se reconectando depois da morte da mãe e um exame sobre a memória
do Holocausto e as consequências do antissemitismo. Nem sempre ele se sai bem
nas duas coisas, funcionando melhor na dimensão familiar do que no exame
histórico.
Viagem em família
A narrativa se passa em 1990 e
acompanha a jornalista Ruth (Lena Dunham) que viaja à Polônia para conhecer a
cidade em que os pais cresceram. Ela é acompanhada pelo pai, Edek (Stephen
Fry), um octogenário sobrevivente do Holocausto. Os dois se afastaram depois da
morte da mãe de Ruth, então a viagem é também uma tentativa dos dois em se
reaproximarem. De início Edek reluta em voltar para sua antiga cidade, mas o
retorno acaba despertando nele sentimentos que havia esquecido.
A impressão ao assistir essa
segunda parte da temporada final de Cobra
Kai é estar diante de alguém que já sofreu morte cerebral, mas a família se
recusa a desligar os aparelhos e aceitar que acabou. Não apenas a trama já não
tinha mais para onde ir, algo que mencionei quando escrevi sobre a primeira parte, como essa segunda parte se recusa a encerrar a
história e prolonga a série para mais uma terceira leva de episódios que não
tem mais qualquer razão para ter se alongado tanto.
É curioso como só conhecemos
certas facetas de entes queridos depois que eles falecem. O documentário A Extraordinária Vida de Ibelin explora
esse sentimento ao contar a história de Mats Steen, um jovem norueguês que
morreu aos vinte e poucos anos por conta de uma doença muscular degenerativa.
Seus pais achavam que a vida dele tinha sido só sofrimento por conta de seus
problemas de saúde e de estar preso em uma cadeira de rodas, conseguindo mexer
apenas os dedos, mas depois de seu falecimento descobriram que ele tinha uma
enorme rede de amigos, paixões e apoiadores dentro do jogo World of Warcraft e perceberam que a vida do filho não tinha sido
tão solitária quanto pensavam ser.
Não creio que ninguém que tenha
assistido Gladiador (2000) tenha
saído do filme pensando “nossa, mal posso esperar por uma continuação que conte
a história do filho do protagonista”, mas mesmo sem ninguém querer ou que fosse
necessário para amarrar qualquer ponta da história que Ridley Scott contou há
mais de vinte anos atrás, Gladiador 2
está entre nós. Não faz a menor diferença, não precisava existir, mas não é
exatamente ruim.
Ecos da eternidade
A narrativa é centrada em Lucius
(Paul Mescal), filho de Lucilla (Connie Nielsen) e Maximus (Russell Crowe) do
primeiro filme. Para ser mantido em segurança Lucius foi mandado para longe e
se tornou um guerreiro no norte da África. Quando suas terras são conquistadas
por Roma e sua esposa é morta pelo general Acacius (Pedro Pascal) ele é vendido
como escravo e usado como gladiador pelo inescrupuloso Macrinus (Denzel
Washington). Agora Lucius retorna à Roma para se vingar do general e dos cruéis
imperadores Geta (Joseph Quinn, de Stranger Things) e Caracalla (Fred Hechinger).
É basicamente a mesma premissa do
primeiro filme, mas tudo é duplicado. Ao invés de um guerreiro que luta por
vingança e para restaurar a justiça em Roma temos essas motivações divididas
entre Lucius e Acacius. Ao invés de um imperador imaturo e sádico temos dois em
Geta e Caracalla,
mas de resto é a mesma história sobre defender “o sonho de Roma” que embalou a
história trágica de Maximus.
Repetição também está no trabalho
do elenco ainda que entreguem performances competentes. Denzel Washington devora o cenário ao interpretar Macrinus como uma
versão romana e com mais joias do que um bicheiro carioca de seu Alonzo de Dia de Treinamento (2001). Macrinus é um
sujeito ardiloso, que joga em vários lados sempre visando o ganho pessoal e
está sempre a frente dos oponentes, como se ele estivesse jogando xadrez
enquanto os demais jogassem damas. É um personagem que domina cada cena em que
está, mas a essa altura da carreira Washington o interpretaria com as mãos
amarradas nas costas. Connie Nielsen traz a mesma dignidade e altivez a Lucille que apresentava
no original, enquanto Pedro Pascal traz um misto de honra e desilusão a
Acacius.
Os dois imperadores, por outro
lado são tão histriônicos que pendem para a caricatura. Joseph Quinn se sai um
pouco melhor ao conseguir injetar algum mínimo grau de humanidade a Geta, mas o
Caracalla de Fred Hirchinger passa do ponto do exagero e soa como um vilão de
desenho animado. Sim, eu entendo que ele deveria ser um sujeito louco com o
cérebro carcomido pela sífilis, mas mesmo entre toda essa loucura há uma pessoa
ali (pensem em Forrest Whitaker como Idi Amin em O Último Rei da Escócia) e o trabalho de Hirchinger é tão exagerado
ao ponto de soar falso.
Arena Mortal
O primeiro filme foi alvo de
críticas por sua falta de precisão histórica, algo que nunca me incomodou
pessoalmente, mas aqui Scott desvia tanto da realidade que o filme praticamente
entra no domínio da fantasia. Digo isso não apenas por sua trama se povoada por
muitos personagens ficcionais, mas por uma série de eventos que transcorrem,
principalmente dentro da arena do Coliseu. Aqui vemos batalhas com
rinocerontes, uma batalha naval com direito a tubarões nadando na arena uma
série de outras ocorrências que qualquer leigo é capaz de dizer que se trata de
liberdades artísticas.
Não que a ação seja ruim, pelo
contrário, ela é um dos pontos altos do filme. Essas liberdades que Scott toma
servem para evidenciar ainda mais a opulência e desigualdade de sua Roma
corrompida que gastava horrores com esses jogos no Coliseu enquanto a população
ficava à míngua e os espetáculos brutais serviam como uma distração para essa
miséria. A condução de Scott é eficiente em construir o senso de escala dessas e
o caos brutal desses embates. São lutas vencidas tanto na estratégia quanto na
força e cujas consequências sangrentas o filme faz questão de exibir. Seja nas
batalhas mais grandiosas ou em duelos mais íntimos, como na luta entre Lucius e
Acacius, a produção instila uma energia intensa na ação e um senso de que
Lucius e outros personagens passam por um risco palpável de serem derrotados. O
senso de grandiosidade e de tragédia também é construído pela música, inclusive
com o uso de faixas da trilha do primeiro filme como Now We Are Free de Hans Zimmer cuja melodia dá senso da jornada
grandiosa de seus personagens enquanto os vocais de Lisa Gerrard, cuja letra
menciona liberdade, constrói a dimensão transcendental e trágica dessa
história.
É por conta desse senso de
grandiosidade da ação e pelo trabalho do elenco que Gladiador 2 consegue oferecer algo de interessante ainda que não
tenha nada que Ridley Scott já não fez melhor antes. De certa forma é como ver
aquela banda que você gosta e que já não toca como antes sair em uma turnê
cantando seus melhores sucessos. É bacana, mas você sabe que é uma reprodução
menor do que veio antes.
O anúncio de que o recente Batman(2022) ganharia uma série
derivada centrada no Pinguim (Colin Farrell) não me soava muito interessante.
Parecia mais o tipo de tentativa de forçar mais um universo compartilhado cheio
de spin offs do que algo que partia
de alguma premissa interessante. Os primeiros episódios de Pinguim reforçaram um pouco essa impressão, já que apesar de um
drama competente, tudo soava muito derivativo. O protagonista, com seu ego
instável, sociopatia violenta, relação tóxica com a mãe e Complexo de Édipo mal
resolvido remetiam tanto ao Tony Soprano que a série parecia ser basicamente um
Família Soprano situado no universo
do Batman.
Aproveitando sua boa fase como
vilão nos filmes do Paddington ou no divertido e pouco visto Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes
(2023), Hugh Grant resolve fazer um vilão de terror neste Herege. A produção visa ser um questionamento sobre fé e
instituições religiosas conta a história de duas missionárias mórmons, Barnes
(Sophie Tatcher) e Paxton (Chloe East), que se veem presas na casa do estranho
Sr. Reed (Hugh Grant) depois dele convidá-las para falar mais do mormonismo. Na
casa, Reed irá testar as convicções delas em situações que começam desconfortáveis,
se tornam tensas e logo se transformam em desafios mortais.