Na Broadway, o musical Wicked trazia uma interessante releitura
para a mitologia do universo de O Mágico
de Oz, ponderando como sobre o perigo de ouvir apenas um lado da história e
como isso resulta em maniqueísmos injustos. Fiquei curioso com o anúncio de uma
adaptação para cinemas, principalmente pela escolha de dividir o musical em
duas partes, que evitaria ter que condensar demais a narrativa e prejudicar a
construção dos personagens e conflitos, como aconteceu em Caminhos da Floresta(2014). Sim, esse filme é só a primeira metade
da história.
Metáforas da diferença
A narrativa começa com a derrota
da bruxa Elphaba (Cynthia Erivo) no filme de O Mágico de Oz e enquanto a terra de Oz comemora a sua morte,
Glinda (Ariana Grande), a bruxa boa, relembra o passado das duas e como ninguém
nasce naturalmente maligno. Acompanhamos então a juventude das duas e como elas
estudaram juntas para se tornarem feiticeiras, com Elphaba sempre demonstrando
uma aptidão natural para magia enquanto Glinda não tinha o mesmo talento embora
desejasse dominar a magia. As habilidades de Elphaba chamam a atenção da
professora Morrible (Michelle Yeoh), que a consideram capaz de ajudar o grande
Mágico de Oz (Jeff Goldblum), embora a aparência verde de Elphaba desperta
preconceito e intolerância nos colegas.
Não esperava muita coisa de Operação Natal. O trailer dava a
impressão de um blockbuster genérico,
feito para cumprir a cota de filmes natalinos do ano, mas o resultado é uma
aventura divertida, que cria um universo interessante e tem um inesperado calor
humano. Além do mais, em um ambiente em que praticamente todos os blockbusters são continuações de
franquias longevas ou pertencem a algum universo compartilhado, é um alívio
enorme assistir um filme-pipoca que não te cobra o “dever de casa” de ter
acompanhado meia dúzia de outros filmes, séries e spin-offs para conseguir minimamente se situar na narrativa. É bom
ver que Hollywood ainda sabe fazer filmes que você pode simplesmente sentar e
se divertir.
Papai Noel em perigo
A trama é centrada em Cal (Dwayne
“The Rock” Johnson), o guarda-costas pessoal do Papai Noel (J.K Simmons). Ele
está prestes a se aposentar por estar descrente com a humanidade, cuja lista de
pessoas malvadas já superou a de pessoas boazinhas. No seu último dia de
trabalho, Noel é sequestrado e a única pista é o hacker que ajudou os
sequestradores a encontrarem a fábrica do Papai Noel. Assim, Jack (Chris
Evans), que nunca acreditou em Papai Noel, é arrastado por Cal para descobrir o
paradeiro do bom velhinho.
De certa forma é uma trama bem
esquemática. Uma dupla de personalidades opostas, com Cal sendo o sisudo focado
na missão enquanto Jack é um malandro que tenta resolver tudo na lábia e sempre
busca tirar vantagem. É claro que ao longo da trama eles irão aprender algo um
com o outro e Jack, que está na lista dos malcriados desde criança, vai
aprender a ser bonzinho e se reaproximar do filho com quem tem pouco contato. É
previsível, mas funciona pelo carisma do elenco.
Chris Evans é bem divertido
fazendo um canalha de bom coração que aos poucos aprende a importância de
formar laços com outras pessoas enquanto Johnson funciona como o contraponto
mais sério à personalidade escorregadia de Jack. Evans inclusive encontra
momentos de emoção genuína nas conversas entre Jack e o filho durante o clímax.
J.K Simmons traz a Noel uma presença que é simultaneamente marcante e humilde.
É um sujeito que demonstra um grande poder, mas uma medida similar de
benevolência e afeto.
Universo fantasioso
A produção é criativa na
construção de seu universo em que seres mitológicos vivem ocultos em meio ao
nosso mundo, com uma agência secreta que mantem a paz entre seres lideradas
pela expediente Zoe (Lucy Liu). Cal, por exemplo, consegue se mover rapidamente
para qualquer lugar do mundo usando uma rede de portais que são acessados em
qualquer loja de brinquedos e uma manopla que pode transformar qualquer
brinquedo em um objeto real, como transformar um carrinho em miniatura em um
carro de verdade. Sim, esses momentos muitas vezes servem de publicidade para
algumas marcas de brinquedos, mas não deixam de gerar alguns momentos
divertidos.
O filme também acerta nas cenas
de ação e como usa diferentes criaturas de histórias natalinas, como os bonecos
de neve que congelam tudo em que tocam e servem de capangas para a vilã ou o
modo como Cal altera entre sua forma humana e sua forma de elfo enquanto luta usando
a variação de tamanho ao seu favor como se fosse o Homem-Formiga. O fato de boa
parte dessas criaturas serem feitas usando próteses e maquiagem ajuda a tornar
tudo mais crível e a dar um senso de materialidade a esse universo, como no
segmento em que Cal e Jack invadem o lar do Krampus (Kristofer Hivju), o irmão
maligno do Papai Noel, e todas as criaturas ali são primordialmente fruto de
efeitos práticos.
Inclusive nos momentos em que o
filme recorre a criaturas completamente digitais chega a ser difícil não sentir
algum estranhamento, já que elas não parecem pertencer ao mesmo universo que o
resto dos personagens, Alguns, como o urso polar Garcia, são convincentes, mas
outros nem tanto. O melhor exemplo disso é quando a bruxa Gryla (Kiernan Shipka,
de O Mundo Sombrio de Sabrina) assume
sua forma monstruosa durante o clímax e o resultado parece mais um design rejeitado para chefão de Dark Souls.
O texto ocasionalmente apresenta
algumas incongruências. Um exemplo é o fato de Cal trabalhar há séculos
protegendo o Noel e agindo como um guarda-costas pró-ativo e diligente, mas
quando é conveniente para o roteiro ele desconhece completamente como lidar com
determinadas criaturas embora ele se comporte como se já tivesse enfrentado
esses seres antes.
Mesmo com uma trama previsível, Operação Natal diverte pelo elenco
carismático e pelo universo criativo que mistura fantasia e realidade.
Essa terceira temporada de The Legend of Vox Machina tem um clima
de apoteose considerando que ela marca o confronto derradeiro entre os
aventureiros da Vox Machina e o conclave de dragões liderado pelo poderoso
dragão vermelho Thordak. É um conflito que foi construído ao longo das duas temporadas anteriores e cuja execução aqui não decepciona.
Masmorras e dragões
Mesmo depois de coletarem os Vestígios na segunda temporada, o grupo ainda não é páreo para Thordak. Eles
são abordados por Raishan, antiga aliada de Thordak, que propõe uma aliança com
eles, já que ela quer se vingar do dragão por ter se recusado a ajudá-la a
eliminar uma maldição que a estava matando aos poucos. Mesmo relutantes, a
equipe aceita o acordo e parte em busca de uma armadura que pode absorver o
poder de Thordak. A missão se torna mais urgente com a descoberta que o dragão
está chocando centenas de ovos que estão prestes a eclodir para liberar novos
dragões contra o reino.
Depois de uma primeira temporada que demorava a desenhar seus principais conflitos e que funcionava como um
grande prólogo de uma narrativa que estava por vir, a segunda temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder
entrega uma narrativa mais concisa e focada do que seu ano de estreia. Se o
primeiro ano demorou a encontrar um rumo, esta temporada já parece saber desde
o início qual será seu foco.
Se na temporada anterior tudo
girava em torno da possibilidade de Sauron (Charlie Vickers) estar vivo, aqui a
temporada foca justamente no vilão e como ele manipula todos à sua volta, em
especial o artesão élfico Celebrimbor (Charles Edwards). Os três anéis élficos
forjados no final do primeiro ano foram realizados sem a influência de Sauron e
agora o vilão quer estar perto de Celebrimbor conforme o convence a forjar anéis
de poder para os anões e homens, inserindo suas trevas nos artefatos. Ao mesmo
tempo, Galadriel (Morfydd Clark) tenta convencer o rei Gil-Galad (Benjamin
Walker) e Elrond (Robert Aramayo) da presença de Sauron entre eles e de como os
anéis élficos podem ser importantes para a batalha que virá. O Estranho (Daniel
Weyman) segue em sua peregrinação para leste ao lado de Nori (Markella
Kavenagh) enquanto Míriel (Cynthia Addai-Robinson) e Elendil (Lloyd Owen)
retornam para Numenor apenas para se verem sob a suspeita dos opositores
liderados por Pharazon (Trystan Gravelle).
Não conhecia os quadrinhos dos Garotos Detetives Mortos do Neil Gaiman, mas sabia que se passavam
no mesmo universo de Sandman e que a
série de mesmo nome da Netflix também compartilharia o mesmo universo da série
estrelada por Morpheus. Assim, o que me atraiu inicialmente em Garotos Detetivos Mortos foi ver mais do
universo de Sandmannas telas, ainda
que a série não seja tão arrojada em suas tramas ou visuais.
A narrativa é foca em Edwin (George Rextrew) e Charles
(Jayden Revri), dois jovens fantasmas que seguem no mundo dos vivos evadindo a
Morte (Kirby) e ajudando outros fantasmas a lidarem com problemas
sobrenaturais. Depois que a dupla fica presa a uma cidade quando Edwin arruma
problema com o Gato Rei (Lukas Gage), os dois acabam estabelecendo um
escritório no local ao lado da médium Crystal (Kassius Nelson) enquanto tentam
encontram um meio de desfazer a maldição do Gato Rei.
Com uma premissa bastante insólita, é difícil não ficar
curioso para conferir O Homem dos Sonhos.
O filme narra a história do pacato e frustrado professor universitário Paul
(Nicolas Cage). Apesar de uma carreira estável, Paul anseia mais
reconhecimento, algo que vem quando várias pessoas ao redor do país começam a
dizer que estão vendo o professor em seus sonhos. O fenômeno ganha atenção da
mídia e Paul logo se torna uma espécie de celebridade. O problema é que a fama
não é o que o professor esperava.
É uma trama que transita entre comédia, drama, terror e
surrealismo, com muito do que sustenta essa variação sendo a performance de
Nicolas Cage. Logo quando conhecemos Paul o vemos como um sujeito pacato e
relativamente patético, exemplificado na cena em que ele cobra de outra
acadêmica os créditos por um termo que ele crê ter cunhado. A cena em questão
nos mostra o anseio do personagem ao mesmo tempo em coloca algo de ridículo no
modo como ele parecer exigir do mundo algum reconhecimento. Conforme a trama
progride e a fama passa a ser um fardo para Paul e sua família, Cage transita
entre a dor e a frustração de ver que nem assim suas ambições irão se realizar.
Abrindo com um diálogo que diz algo tipo “existem muitas
histórias sobre cavaleiros salvando donzelas em perigo, essa não é uma delas”
faz parecer que Donzela, produção
original da Netflix,tem algo de
bastante subversivo. O problema é que o filme não faz nada de interessante com
essa ideia e ou que já tenha sido feito melhor por outros filmes com
protagonistas femininas.
A trama é protagonizada por Elodie (Millie Bobby Brown), uma
princesa de um reino que está definhando e é convencida pelo pai, lorde Bayford
(Ray Winstone), e pela madrasta, Lady Bayford (Angela Bassett), a se casar com
um príncipe de um próspero reino distante para salvar o seu próprio. Chegando
lá se encanta pela beleza do local e como é recebida pela rainha Isabelle
(Robin Wright) e o príncipe Henry (Nick Robinson). No casamento, porém, ela
descobre que tudo não passa de uma farsa e um ritual para sacrificá-la a um
dragão que habita o reino muito antes dos humanos chegarem. Sozinha no covil do
dragão, Elodie precisa encontrar um jeito de sobreviver.
Mais nova tentativa de um live action de suas animações clássicas,
A Pequena Sereia é mais uma animação
a usar tecnologia de ponta para recriar de maneira bastante realista o universo
submarino de sua protagonista. A exemplo de produções como o remake de O Rei Leão (2019) esse fotorrealismo
mais tira do que acrescenta à experiência.
Na trama Ariel (Halle Bailey) é
uma sereia sonhadora que anseia em conhecer o mundo da superfície apesar de seu
pai, o poderoso Rei Tritão (Javer Bardem) alertá-la dos perigos que os humanos
representam. Quando Ariel salva o príncipe Eric (Jonah Hauer King) ela se torna
ainda mais decidida em experimentar o modo de vida dos humanos. A sereia decide
aceitar um perigoso acordo com a bruxa do mar Ursula (Melissa McCarthy) para se
tornar humana, mas isso coloca os mares e a superfície em risco.
O filme recria o fundo do mar com
muita fidelidade e competência técnica, mas essa escolha por realismo faz o
reino submarino soar vazio, sem graça e desprovido de encantamento. Isso fica
evidente no número musical de Aqui no Mar,
uma das canções mais marcantes da animação que perde muito da sua energia e
deslumbramento porque as criaturas marinhas estão presas a se movimentarem como
criaturas marinhas. Se até o filme do Aquaman
(2018) conseguiu colocar um polvo tocando bateria, não vejo porque uma trama
mais lúdica e fantasiosa como A Pequena
Sereia deveria se prender tanto ao realismo.
A primeira parte da terceira
temporada de The Witchersofria ao
deixar o trio principal perdido em meio a um monte de subtramas que não
necessariamente incidiam sobre eles. Esperava que essa segunda parte pudesse
corrigir isso ao devolver o foco a Geralt (Henry Cavill), mas mais uma vez ele
se perde na quantidade enorme de núcleos de personagem. É uma pena considerando
que Cavill é o melhor da série e essa é sua última temporada como o
protagonista, já que ele será substituído por Liam Hemsworth a partir do quarto
ano.
Essa segunda parte inicia onde a
primeira parou, com Djikstra (Graham McTavish) tomando o controle de Aretusa e
todos por lá ao mesmo tempo que elfos a serviço de Nilfgaard atacam o local em
busca de Ciri (Freya Allan). Geralt percebe que não é mais possível fugir ou
ficar à margem da guerra que se desenha e decide ajudar as feiticeiras a
rechaçarem ambos invasores.
Situado em um universo que mescla
fantasia e tecnologia, a animação Nimona
trata de preocupações bastante contemporâneas sem abrir mão do lúdico e do
senso de encantamento, se apoiando principalmente na relação de seus dois
personagens principais. Em um mundo futurista no qual cavaleiros protegem o
reino de monstros, Ballister é o primeiro plebeu a ser considerado como
cavaleiro, a divisão de elite do reino. Na sua cerimônia de nomeação sua espada
inesperadamente dispara um raio na rainha e ele é acusado de assassinato. Sem
saber o que aconteceu Ballister foge para a floresta além das muralhas do reino
e lá conhece a garota Nimona, que se dispõe a ajudá-lo a provar a que é
inocente.
Visualmente a produção se destaca
pelo modo como mistura uma estética medieval com um visual futurista, criando
um universo em que cavaleiros de armadura pilotam motos voadoras e castelos
futuristas coexistem com arranha-céus e letreiros luminosos na paisagem urbana.
Não lembro de nenhuma produção recente que usou uma ambientação assim e isso
ajuda a dar personalidade ao universo que a trama tenta criar.
Pensei seriamente se assistiria
essa terceira temporada de The Witcher.
O anúncio de que Henry Cavill, o elemento mais consistente da série, sairia ao
fim deste terceiro ano e seria substituído na quarta temporada por Liam
Hemsworth diminuiu um pouco do meu interesse. Mesmo menos empolgado do que em
temporadas anteriores, resolvi conferir esse terceiro ano, que continua a
acertar no clima de mistério e no universo sombrio que apresenta, ainda que
sofra dos problemas de ritmo da primeira temporada.
A trama segue mais ou menos onde
o segundo ano parou, com Geralt (Henry Cavill) e Yennefer (Anya Chalotra) se
unindo para cuidarem de Ciri (Freya Allan). Depois dos eventos de Kaer Morhen,
o trio tenta viver escondido, mas a quantidade de pessoas que buscam Ciri para
propósitos pessoais torna difícil ficar escondido muito tempo ou manter a
garota plenamente segura. Assim, eles partem em busca de uma solução.
Se a temporada anterior se
beneficiava por manter muito da trama focada em poucos lugares e dava bastante
tempo para a relação entre Geralt e Ciri florescer, aqui ela se divide entre
vários lugares e um elenco cada vez maior de personagens ao ponto em que fica
difícil lembrar quem está aonde, fazendo o quê e por qual motivo. Essas
mudanças constantes de ambiente dão a impressão de que a trama principal não
caminha e que Geralt está virando quase um coadjuvante na própria história.
Tudo bem que isso serve para mostrar a situação política complicada do reino e
a quantidade de ameaças que pairam sobre Ciri, mas talvez nem todas as
maquinações precisariam efetivamente aparecer a menos que fossem impactar
diretamente nos protagonistas.
Considerando que as tentativas
anteriores de Hollywood em levar as telonas o universo de Dungeons & Dragons rendeu péssimos filmes, inicialmente não
tinha nenhuma vontade de conferir este Dungeons
& Dragons: Honra Entre Rebeldes. As coisas começaram a mudar quando
saíram os primeiros trailers, que davam a impressão de uma aventura divertida e
também o fato de que estava sendo dirigido pela mesma dupla do super engraçado
e pouco visto A Noite do Jogo (2018).
A trama é centrada no bardo Edgin
(Chris Pine), outrora um espião hoje ele vive ao lado da bárbara Holga
(Michelle Rodriguez) como criminosos. Depois de um tempo preso, Edgin descobre
que o antigo aliado, Forge (Hugh Grant), se tornou o governante de Nevenunca e
guardião da filha do bardo, mentindo para ela sobre os motivos para o qual o
pai fora preso. Agora Edgin vai reunir um grupo de aliados para assaltar os
cofres de Forge, provar a verdade para a filha e recuperar um artefato que lhe
permitirá ressuscitar a esposa morta.
Da mesma forma que acontece na
série A Lenda de Vox Machina, o filme
capta muito bem a atmosfera caótica de uma mesa de RPG, no qual os personagens
nem sempre se comportam como se espera, as coisas dão errado e é preciso improvisar
com o que se tem para tentar sobreviver. Isso é evidente na cena em que o
paladino Xenk (Regé Jean-Page, de Bridgerton)
tenta explicar o complexo funcionamento de uma armadilha apenas para o
feiticeiro Simon (Justice Smith) acioná-la por acidente, obrigando o grupo a
pensar em alternativas para superar o obstáculo.
Outro acerto são as interações
entre os personagens, que de fato soam como um grupo de pessoas que não
necessariamente gosta um do outro, mas é obrigado a conviver por conta de um
objetivo em comum, precisando aprender a ajudar um ao outro e trocando farpas e
provocações no processo. O elenco tem uma química divertida entre si e faz
todas as piadas soarem naturais diante daquelas situações, algo que pessoas
naquela situação poderiam dizer e não apenas um chiste inane para dar a
impressão de que algo está acontecendo em cena. Aqui é tudo consistente com as
personalidades que a trama estabelece para os heróis e ao fim vemos um
crescimento genuíno neles e nas interações.
Chris Pine é perfeito como o tipo
de herói blasé e cafajeste que Hollywood tenta há anos forçar Chris Pratt a fazer, mas Pine já provou ser bem mais eficiente desde suas performances como
Kirk no reboot de Star Trek. O jeito
largado de Edgin rende interações divertidas com o sisudo e galante paladino
vivido por Regé Jean-Page (outra escalação precisa de elenco), sendo uma pena
que Page acabe aparecendo tão pouco. Justice Smith e Sophia Lillis tem bons
momentos como Simon e a druida Doric, mas o foco acaba sendo a amizade entre Edgin
e a bárbara Holga, interpretada por Michelle Rodriguez com uma personalidade
abrasiva, mas repleta de calor humano.
Hugh Grant rouba todas as cenas
em que aparece como o cínico lorde Forge, sendo uma pena que ele seja
abandonado no clímax por uma necromante clichê interpretada por Daisy Head.
Tudo bem que a atriz é eficiente em criar uma aura de ameaça ao redor da bruxa
Sofina, mas ela é o tipo de vilã que já vimos a rodo em tramas de fantasia e o
texto não faz nada para lhe dar qualquer nuance. Na verdade, toda a narrativa é
a típica caça para achar e/ou destruir itens mágicos que a fantasia nos entrega
há séculos, sem muito o que sair desse molde.
O que faz o material ser
envolvente é o já citado carisma do elenco e também o modo criativo como as
cenas de ação exploram as habilidades dos heróis, vilões e monstros que
encontramos ao longo da jornada, sejam as formas animais de Doric, a varinha de
portais de Simon ou as ilusões de uma pantera deslocadora. Tudo é conduzido de
modo a manter um frescor aos embates e perseguições, mantendo nosso interesse
tanto pela inventividade visual quanto por nossa conexão com os personagens.
Assim, mesmo que apresente uma
trama típica de fantasia, Dungeons &
Dragons: Honra Entre Rebeldes capta bem a diversão caótica de uma sessão de RPG de mesa, conquistando pelo seu despretensioso senso de
aventura, o carisma de seus personagens e a inventividade de algumas cenas de
ação.
A primeira temporada de Cidade Invisível surpreendeu ao misturar
uma trama investigativa com elementos sobrenaturais das mitologias
nativo-brasileiras. Esta segunda temporada, porém, derrapa em uma trama que
demora de engrenar e acaba de maneira muito abrupta, quase como se fosse um
capítulo de transição ou uma preparação para um conflito que ainda vai ocorrer
do que uma narrativa com começo meio e fim.
Depois dos eventos do primeiro
ano, Luna (Manu Dieguez), a filha de Eric (Marco Pigossi), vai com Inês
(Alessandra Negrini) ao Pará para tentar trazê-lo de volta. A garota acaba
fazendo um acordo com a Matinta Perê (Letícia Spiller) para trazer seu pai de
volta. Eric retorna, mas a entidade cobra seu preço a Luna e agora Eric precisa
encontrá-la. No meio do caminho, o protagonista encontra um esquema para usar o
poder das entidades para alcançar o Marangatu, um lugar espiritual cujos
fazendeiros da região creem encontrar muitas riquezas.
Adaptando um romance escrito por
Vonda McIntyre, A Filha do Rei teve
uma longa jornada até os cinemas. O filme foi feito em 2014, mas ficou
engavetado até 2022 quando foi lançado sem muito barulho e depois de tê-lo
assistido entendi o motivo. Não consegui encontrar muita coisa em termos do por
que ter sido engavetado e esperado sete anos para sair, no entanto, o resultado
pavoroso torna compreensível o porquê do filme ser jogado de qualquer jeito nas
salas de cinema. Imagino que a produtora sabia do fracasso que tinha em mãos e
preferiu reduzir as perdas ao não gastar muito com publicidade.
A trama se passa no século XVIII.
O rei Luís XIV (Pierce Brosnan) volta a Paris depois de uma guerra custosa que
coloca parte da população contra ele. Obcecado com a ideia de imortalidade, o
rei descobre que seu desejo pode ser alcançado se roubar a força vital de uma
sereia e despacha sua marinha em busca da criatura. Ao mesmo tempo, ele tenta
se aproximar de Marie-Josephe (Kaya Scodelario), a filha que manteve em segredo
do mundo e até dela mesma. Usando a ocorrência de um eclipse, o rei manda
trazer Marie a Paris sob o pretexto que ela toque em uma cerimônia, mas na
verdade deseja revelar à jovem que é seu pai.
Dirigido por Guillermo del Toro,
esta nova versão de Pinóquio sai
meses depois que a Disney lançou mais um insosso remake live action de sua versão animada. A de del Toro, por sua
vez, se sai melhor tanto por sua estética stop
motion peculiar como pelos temas que agrega ao conto originalmente escrito
por Carlo Collodi.
A trama se passa na Itália sob o
regime fascista de Mussollini. Em plena guerra, Gepetto perde o filho depois
que sua pequena vila é bombardeada. Devastado pelo trauma, o carpinteiro decide
recriar a aparência do filho em um boneco de madeira e um espírito da floresta
decide dar vida ao boneco. Agora Gepeto precisa cuidar do travesso Pinóquio,
mas ele ainda enxerga o filho no boneco.
O conto original era uma fábula
moral sobre infância, educação e consciência, mas aqui além desses temas del
Toro também se debruça sobre questões um pouco mais adultas e sombrias. Não
seja um filme desaconselhável para crianças, não há nada aqui de muito
explícito em termos de violência ou linguajar, no entanto, certos temas
provavelmente vão ressoar mais com adultos do que com os pequenos.
Confesso que não estava
exatamente empolgado para este O Senhor
dos Anéis: Os Anéis de Poder. Depois da decepcionante tentativa de forçar O Hobbitem uma trilogia, fazer uma
série baseada nas lacunas da mitologia de Tolkien ou em um período sobre o qual
ele escreveu de forma passageira em O
Silmarillion tinha cara de que poderia dar muito errado. Mesmo a noção de
que o espólio de Tolkien daria consultoria e acompanharia mais de perto a
produção fez pouco para mudar minhas ressalvas. Felizmente o resultado é fiel
ao espírito das narrativas e universo criados por Tolkien e ainda que tenha
seus momentos de tomar algumas liberdades com elementos estabelecidos do cânone
é, em geral, coerente com o material original.
A trama se passa durante a
Segunda Era da Terra-Média. Morgoth, o primeiro Senhor do Escuro, foi derrotado
e o continente vive em uma aparente paz. Galadriel (Morfydd Clark), no entanto,
crê que a guerra ainda não acabou. Sauron, principal discípulo de Morgoth,
segue vivo e Galadriel varre o continente em busca dele. Ao mesmo tempo, orques
começam a se mobilizar nas terras do sul, ameaçando a população humana que ali
vive. Em outra parte do continente, o cotidiano pacífico dos hobbits é alterado
quando um Estranho (Daniel Weyman) cai dos céus.
Depois do apocalipse de Mad Max: Estrada da Fúria (2015), o
diretor George Miller resolve explorar o poder da fábula em Era Uma Vez um Gênio, adaptando um
romance escrito por A.S Byatt. É uma trama que explora o quanto a fabulação e
arte são importantes em nossa vida, ainda que muitas vezes subestimemos esses
elementos.
A trama é protagonizada por
Alithea (Tilda Swinton) que em uma viagem para a Turquia liberta um Djinn
(Idris Elba) preso na garrafa. Agora a criatura se oferece para conceder três
desejos a Alithea em troca da liberdade dele, mas Alithea não sabe o que pedir.
O Djinn então começa a narrar suas desventuras ao longo dos últimos três mil
anos.
O filme chama atenção pela construção
visual das fábulas contadas pelo Djinn, cheias de elementos singulares e que
nos conquistam pela capacidade de imaginação dos realizadores em conceber tudo
aquilo. A tramas em si envolvem pelo modo como elas se costuram uma na outra,
como pequenas ações causam repercussões que serão sentidas séculos depois e
irremediavelmente mudam a trajetória do Djinn e das pessoas com as quais ele se
envolve. O próprio visual do Djinn, com extremidades douradas, palmas vermelhas
e uma constante fumaça ao seu redor convencem de que estamos diante de uma
criatura que, como ele mesmo diz, é feita de fogo e poeira.
Não tenho muita familiaridade com
os quadrinhos de Sandman escritos por
Neil Gaiman apesar de já ter ouvido bastante sobre ele e lido algumas histórias soltas. O anúncio de uma série
baseada nele me deixou curioso e igualmente cauteloso considerando o quanto Deuses Americanos, outra série baseada
em obra de Gaiman, desandou rápido depois de um começo promissor. Aparentemente
Gaiman se fez mais presente durante Sandman
justamente para evitar os problemas que Deuses
Americanos teve.
Na trama, Sonho (Tom Sturridge) é
um dos perpétuos, seres que controlam aspectos chave da nossa realidade. Ele
reina sobre o Sonhar, dimensão na qual os seres humanos vão quando estão sonhando,
e tem pleno domínio sobre nossos sonhos e pesadelos. Preso por humanos durante
um ritual de magia que dá errado, Sonho passa quase todo o século XX em
cativeiro. Quando finalmente escapa descobre que seu reino ficou em ruínas, os
sonhos e pesadelos escaparam para o mundo material e seus objetos de poder
estão na mão de humanos. Assim, Sonho parte em uma busca para reconstruir seu
reino e seu poder.
A demora de Palm Springs em receber um lançamento oficial no Brasil é um
daqueles casos inexplicáveis de distribuidoras e plataformas digitais deixando
um filme ótimo (e bastante elogiado lá fora) passar enquanto catálogos digitais
e salas de cinema recebem porcarias. A essa altura muita gente que estava
ciente do filme provavelmente já viu pirateado por conta da demora em chegar
aqui, então as instâncias de distribuição só tem a perder demorando de trazer
um filme para nosso mercado.
Na trama, Nyles (Andy Samberg) é
um sujeito despreocupado que tenta aproveitar o casamento de uma amiga da
namorada quando conhece a dama de honra Sarah (Cristin Milioti). Os dois passam
a noite conversando até o ponto em que Nyles é perseguido por um estranho homem
e Sarah tenta ajudá-lo, mas acaba atravessando um estranho portal dentro de uma
caverna. Para a surpresa de Sarah, ela acorda de volta no dia do casamento da
irmã e descobre não apenas que está em um loop
temporal, mas que Nyles está há tempos preso nesse mesmo loop. Assim, os dois tentam pensar em
como quebrar o ciclo ao mesmo tempo em que tentam experimentar essa vida sem
consequências.
Depois da recepção e bilheteria
abaixo do esperado de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald(2018), a Warner decidiu adiar o
terceiro filme da saga para reestruturar os planos. Outros atrasos aconteceram
por conta da pandemia, mas a ideia do estúdio reconhecer o erro e repensar o
caminho dava esperança de que este terceiro filme, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, poderia finalmente
acertar.
Na trama, uma eleição está para
decidir a nova liderança do mundo bruxo e Grindelwald (Mads Mikkelsen) planeja
controlar o pleito a seu favor. Por sua vez Dumbledore (Jude Law) percebe que
não pode mais acompanhar de longe a ascensão do rival e bola um plano que
envolve Newt Scamander (Eddie Redmayne), Kowalski (Dan Fogler) e outros
aliados.
A primeira coisa que chama
atenção é o quão inconsequentes a maioria dos personagens são para a trama. Personagens
são presos, resgatados, atentados são feitos e nada disso faz qualquer
diferença. Se no anterior os personagens ao menos tinham algum arco dramático,
como a jornada de Newt em compreender o imperativo moral de enfrentar o
fascismo, aqui ninguém tem qualquer narrativa própria, passa por qualquer
transformação ou aprendizado. Tirando Dumbledore e Grindelwald nenhum deles soa
necessário para a trama. Alguns personagens, como o irmão de Newt (tão sem
personalidade que nem me lembro o nome), poderiam ser limados completamente que
não faria diferença.