Homem de Ferro 2 é o tipo do filme que te faz sair satisfeito do cinema. Tem boas sequências de ação, personagens carismáticos, um roteiro fechadinho e algo cada vez mais raro nos blockbusters hollywodianos: não subestima a inteligência do espectador.
Sim, porque nada soa gratuito neste Homem de Ferro 2, desde as atitudes dos personagens, como o comportamento autodestrutivo de Stark(que atinge o ápice na cena do aniversário) que já vinha sendo trabalhado desde o filme anterior, desde às reviravoltas da trama, a maneira como Ivan Vanko(Mickey Rourke) passa a perna em Justin Hammer é sugerida logo no primeiro contato dos dois.
Além disso, o filme trabalha muito bem as questões levantadas no filme anterior quando Stark(Robert Downey Jr) anunciou ao mundo ser o Homem de Ferro, continuando com a abordagem um pouco mais realista do filme anterior, o diretor Jon Favreau mostra a todo tempo as modificações na balança de poder mundial e dentro do governo americano causadas pela aparição do Homem de Ferro.
As consequências vão desde as tentativas de terroristas imitarem a tecnologia de Stark a comissões de inquérito do senado americano, passando por espionagem industrial de empresas concorrentes. Para quem conhece as histórias do personagem é basicamente uma mistura dos arcos Demônio na Garrafa, que mostra Stark chegando ao fundo do poço devido ao alcolismo(que não achei que seria trabalhado por causa do lançamento de Hancock em 2008, mas felizmente o filme foi um fracasso e tocou no ponto superficialmente) e a Guerra de Armaduras, quando a tecnologia do Homem de Ferro é roubada e começa a ser maciçamente replicada.
Assim como no filme anterior, boa parte do mérito reside sobre Robert Downey Jr que constrói um Tony Stark inconsequente, arrogante, egocêntrico e dotado de sarcasmo e ironia bastante afiada(a cena em que ele é interrogado pelo governo é impagável), além de um enorme carisma que não nos permite deixar de gostar do personagem mesmo com todos os seus defeitos.
Gwyneth Paltrow também continua oferecendo um ótimo contraponto ao personagem principal, sua Pepper Potts vive constantemente preocupada e irritada com o comportamento impulsivo e imaturo de seu chefe, tentando sempre colocar algum juízo em sua cabeça argumentando com o mesmo cinismo do próprio Stark. Don Cheadle assume o papel de Terrence Howard como Rhodes e dessa vez o personagem tem um arco dramático próprio, ficando dividido entre sua amizade com Tony e suas obrigações como militar.
As novas adições no elenco também são bastante eficientes. Mickey Rourke constrói um Ivan Vanko assustador e maquiavélico, valendo-se de uma caracterização repleta de tatuagens que nos remete a Robert De Niro em Cabo do Medo, dentes de ouro e um cabelo desgrenhado(sem falar que a aparência normal do Rourke já é mais feia do que encoxar a mãe no tanque) e que não mede esforços para atingir o que quer, inclusive fingindo inferioridade, como quando diz a Hammer que não fala inglês apenas para que este pense estar tratando com alguém estúpido e abrir a guarda.
Sam Rockwell faz seu Justin Hammer como uma espécie de Bill Gates ou Steve Jobs do mal, sempre sorridente diante das câmeras, mostrando grande satisfação em exibir sua superioridade à imprensa, mas também disposto a qualquer bajulação ao governo ou ato ilícito para conseguir um monopólio para sua empresa. Scarlett Johansson constrói uma Viúva Negra com uma personalidade misteriosa e deliciosamente letal e, para minha própria segurança, isso é tudo que comentarei a respeito de seu trabalho sob pena de ser esfolado pela patroa.
A trilha sonora continua como um dos pontos altos, ajudando a conferir personalidade à fita, o diretor mantém seu foco em faixas de música eletrônica, rock e heavy metal, nada mais apropriado para um herói que se chama Homem de Ferro.
Os longos parágrafos que tratam da construção dos personagens em relação aos demais elementos da obra podem causar estranheza, mas isso acontece porque os personagens são de fato o coração do filme(lembrando que o diretor Jon Fravreu começou como ator e inclusive faz pontas nos dois filmes como Happy Hogan), todos eles bem trabalhados, com arcos específicos e bem desenvolvidos e a ação e os efeitos especiais trabalha em função dessa construção e não o contrário como na maioria dos filmes.
Talvez decepcione aqueles que esperavam por uma ação mais explosiva a la Michael Bay, mas aqueles que desejam ver um bom blockbuster que mostra que é possível sim casar entretenimento e conteúdo e o espectador só tem a ganhar com essa excelente mistura. Homem de Ferro 2 faz parte do rol de filmes que deveria ser usado para ensinar os executivos de estúdio a como fazer cinema comercial sem idiotizar a plateia.
Nota: 9