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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Crítica – Wicked

 

Análise Crítica – Wicked

Review – Wicked
Na Broadway, o musical Wicked trazia uma interessante releitura para a mitologia do universo de O Mágico de Oz, ponderando como sobre o perigo de ouvir apenas um lado da história e como isso resulta em maniqueísmos injustos. Fiquei curioso com o anúncio de uma adaptação para cinemas, principalmente pela escolha de dividir o musical em duas partes, que evitaria ter que condensar demais a narrativa e prejudicar a construção dos personagens e conflitos, como aconteceu em Caminhos da Floresta (2014). Sim, esse filme é só a primeira metade da história.

Metáforas da diferença

A narrativa começa com a derrota da bruxa Elphaba (Cynthia Erivo) no filme de O Mágico de Oz e enquanto a terra de Oz comemora a sua morte, Glinda (Ariana Grande), a bruxa boa, relembra o passado das duas e como ninguém nasce naturalmente maligno. Acompanhamos então a juventude das duas e como elas estudaram juntas para se tornarem feiticeiras, com Elphaba sempre demonstrando uma aptidão natural para magia enquanto Glinda não tinha o mesmo talento embora desejasse dominar a magia. As habilidades de Elphaba chamam a atenção da professora Morrible (Michelle Yeoh), que a consideram capaz de ajudar o grande Mágico de Oz (Jeff Goldblum), embora a aparência verde de Elphaba desperta preconceito e intolerância nos colegas.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Crítica – Coringa: Delírio a Dois

 

Análise Crítica – Coringa: Delírio a Dois

Review – Coringa: Delírio a Dois
É impossível um realizador ter pleno controle sobre a recepção de sua arte. A recepção é um processo semiopragmático que depende da interpretação do espectador e, nesse sentido, comunidades interpretativas podem chegar até mesmo a um entendimento que não é sustentado pela materialidade da obra (Umberto Eco chamaria isso de interpretação aberrante). Não importa o quanto um realizador seja perfeccionista, é sempre possível que as pessoas gostem de um filme por motivos errados.

Piada explicada perde a graça

David Fincher é famoso pelo seu perfeccionismo e nem ele foi capaz de impedir que seu Clube da Luta (1999) fosse lido como um chamado ao retorno a um hipermasculinismo para reconstruir a ordem social e não como uma crítica a uma masculinidade que prefere criar uma seita terrorista e explodir o mundo a lidar com os próprios sentimentos. Há quem veja O Lobo de Wall Street (2013) como uma celebração da cultura de excessos da especulação financeira e não como a óbvia sátira que o filme é. Do mesmo modo, há quem goste de Coringa (2019) por ver o protagonista como um revolucionário se rebelando contra uma sociedade que o maltrata apesar do filme (e o próprio personagem) dizer explicitamente que ele não é nada disso.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Crítica – Quando Eu Me Encontrar

 

Análise Crítica – Quando Eu Me Encontrar

Review – Quando Eu Me Encontrar
A ausência de um ente querido promove mudanças no cotidiano de todo mundo afetado por esse vazio. A produção cearense Quando Eu Me Encontrar se propõe justamente a examinar as consequências dessa ausência e como as pessoas reexaminam suas vidas diante dela.

Marcas da ausência

Na trama, a jovem Dayane vai embora de casa sem dar satisfação nenhuma à família. Sua mãe, Marluce (Luciana Souza) fica em choque com a partida repentina que a faz reexaminar sua relação com a própria mãe. Antônio (David Santos), noivo de Dayane, tenta de algum modo encontrar uma explicação para o sumiço da amada, se aproximando da melhor amiga dela, Cecília (Di Ferreira). A irmã mais nova de Dayane, Mariana (Pipa), enfrenta problemas na escola de classe média que ela frequenta como bolsista depois que uma amiga é abusada durante uma festa e elas se tornam alvos de comentários maldosos.

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Lixo Extraordinário – Cinderela Baiana

 

Crítica – Cinderela Baiana

Review - Cinderela Baiana
Desde que comecei a Lixo Extraordinário, essa coluna dedicada a filmes lendários por sua ruindade, nos idos de 2017 sempre ouço a mesma pergunta: “e quando você vai falar sobre Cinderela Baiana?”. Talvez o mais lendário filme ruim do cinema brasileiro Cinderela Baiana foi lançado em 1998 e trazia Carla Perez interpretando uma versão ficcionalizada de si mesma e de sua trajetória de garota pobre de Salvador a estrela da dança. O filme foi um imenso fracasso no lançamento e só começou a ser visto pelas pessoas quando caiu na internet nos primeiros anos do Youtube (reza a lenda que Carla Perez teria adquirido e destruído boa parte dos VHS do filme) se tornando uma espécie de clássico cult da ruindade.

Ele foi, provavelmente, o filme que iniciou o meu masoquismo audiovisual e sem ele provavelmente nunca teria pensado em criar essa coluna. Talvez por conta disso eu tenha esperado para falar sobre ele em uma ocasião especial. Essa ocasião acabou sendo minha participação no Festival Cinderela Baiana de Cinema que ocorreu de 16 a 18 de agosto aqui em Salvador. Fui convidado pela organização do festival a falar sobre o filme, então tive que revê-lo e aproveitei para fazer por escrito minhas considerações. O que vem a seguir é menos uma análise pormenorizada do filme e mais uma tentativa de explicar como ele ganhou seu status lendário de ruindade e porque ele continua sendo discutido mesmo sendo tão ruim.

quinta-feira, 14 de março de 2024

Crítica – Meninas Malvadas

 

Análise Crítica – Meninas Malvadas

Review – Meninas Malvadas
Quando foi lançado em 2004, Meninas Malvadas surpreendeu pelo seu olhar crítico sobre o universo de panelinhas adolescentes. O sucesso do filme gerou uma continuação sem o envolvimento da equipe criativa original, Meninas Malvadas 2 (2011), cujo resultado foi execrável, e também um musical da Broadway inspirado no filme de 2004. Agora a versão musical é adaptada aos cinemas e não tem muita coisa a acrescentar ao ótimo original.

A trama segue a mesma. Cady (Angourie Rice) é uma garota ingênua que cresceu educada pelos pais enquanto eles viajavam pela África em pesquisa. Quando eles voltam para os Estados Unidos Cady vai experimentar pela primeira vez um colégio comum. Lá faz amizade com os excluídos Janis (Auli’i Cravalho) e Damian (Jaquel Spivey), mas também chama a atenção do grupo de garotas populares liderados por Regina George (Reneé Rapp) e logo aprende como o colégio não é muito diferente de uma selva.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Crítica – A Cor Púrpura

 

Análise Crítica – A Cor Púrpura

Review – A Cor Púrpura
O célebre romance de Alice Parker já tinha sido adaptado para os cinemas por Steven Spielberg em 1985. Depois se tornou um musical da Broadway e agora esse musical é novamente adaptado para os cinemas novamente no eterno ouroboros que é Hollywood neste A Cor Púrpura.

Na trama, Celie (Fantasia Barrino) uma mulher que desde cedo sofre abusos nas mãos do pai, Alfonso (Deon Cole), e depois é forçada por ele a se casar com o violento viúvo Mister (Colman Domingo). Além de agredir Celie e reduzi-la a uma empregada doméstica, o marido também expulsa Nettie (Halle Bailey) da casa da família, privando Celie do contato com a única irmã. Ao longo dos anos, Celie encontra em outras mulheres da vizinhança o apoio e conforto para suportar os maus tratos do marido.

O filme acerta ao situar os números musicais de Celie como parte de sua imaginação, fazendo esses momentos funcionarem como uma fuga dela de sua realidade dura, ajudando a entender como ela se mantem suportando tudo aquilo. Por outro lado, nem todos os números musicais funcionam tão bem. A cena de Sofia (Danielle Brooks) deixando o marido basicamente só faz musicar o diálogo original e acaba carecendo de um certo senso de espetáculo, diferente dos números que envolvem Celie.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Crítica – Acampamento de Teatro

 

Análise Crítica – Acampamento de Teatro

Review – Acampamento de Teatro
Inspirado no curta-metragem de mesmo nome, Acampamento de Teatro remete a comédias dos anos 80 sobre acampamentos de férias cujas tramas giravam em torno de salvar um acampamento humilde, mas adorado pelos veranistas, da falência ou de ser comprado pelo acampamento dos ricos esnobes. Ele segue essa mesma premissa, misturando com uma estrutura de falso documentário e um humor que parodia o universo do teatro musical.

Durante décadas Joan (Amy Sedaris) dirigiu um acampamento de férias dedicado a crianças que queriam estudar teatro. Embora humilde, o local era adorado pelas crianças, mas quando Joan sofre um derrame, seu filho influencer, Troy (Jimmy Tatro), assume a gestão do local implementando mudanças e cortes de gastos para tentar salvar o local da falência. Demitindo boa parte dos instrutores, cabe aos professores remanescentes, Amos (Ben Platt) e Rebecca-Diane (Molly Gordon, que fez a namorada do Carmy em O Urso), tentarem manter o local funcionando a contento e organizar um espetáculo em homenagem a Joan.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Drops – Leo

 

Análise Crítica – Leo

Review – Leo
Não sabia o que esperar de Leo animação produzida e estrelada por Adam Sandler, mas o que encontrei é uma aventura infantil razoavelmente divertida e inofensiva apesar de lugar-comum. Na trama, Leo (Adam Sandler) é um lagarto de 74 anos que vive como mascote de uma turma de quinta série em uma escola na Flórida. Quando ele descobre que pode ter apenas mais um ano de vida, decide fugir para aproveitar o tempo que resta. Acontece que ele acaba se envolvendo com os problemas pessoais dos alunos e decide ajudá-los.

Os arcos das crianças são tramas bem comuns nesse tipo de história, como a criança que se sente deslocada depois do divórcio dos pais, crianças inseguras com a própria aparência, outra que é superprotegida pelos pais ou uma cujos pais substituem presentes e bens materiais por afeto. Ainda assim há um calor humano genuíno nas interações entre Leo e as crianças, com o crescimento e aprendizado que elas têm sendo coerente com a dinâmica que a trama estabelece e mostrando como uma criança pode se desenvolver se lidar com seus problemas.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Rapsódias Revisitadas – O Estranho Mundo de Jack

 

Análise Crítica – O Estranho Mundo de Jack

Review – O Estranho Mundo de Jack
Embora muita gente pense ser um filme dirigido pelo Tim Burton, a animação stop motion O Estranho Mundo de Jack foi produzida pelo diretor e escrita a partir de um argumento desenvolvido por ele. A confusão, no entanto, é compreensível, já que o nome dele era sempre usado na divulgação quando o longa foi lançado em 1993 e também porque ele tem vários elementos que encontrávamos nos filmes do diretor ali no final da década de 80 e início dos anos 90.

A trama se passa na Cidade do Halloween, um lugar habitado por criaturas que vivem para assustar e trazer o Halloween para o nosso mundo. Se destacando entre os habitantes está o esqueleto Jack, considerado o Rei Abóbora e principal referência da cidade em sustos. Apesar de ser admirado por todos na cidade, passar ano após ano pensando apenas no Halloween faz Jack se sentir vazio. Vagando pela floresta nos arredores da cidade, Jack encontra portais para as cidades de outras datas comemorativas e entra na Cidade do Natal. Lá ele se encanta pelas luzes e cores natalinas e decide que o próximo Natal será feito por sua cidade. A questão é que os aterrorizantes habitantes da Cidade do Halloween não entendem exatamente o espírito natalino e veem tudo como mais uma oportunidade de assustar.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Crítica – A Pequena Sereia

 

Análise Crítica – A Pequena Sereia

Review – A Pequena Sereia
Mais nova tentativa de um live action de suas animações clássicas, A Pequena Sereia é mais uma animação a usar tecnologia de ponta para recriar de maneira bastante realista o universo submarino de sua protagonista. A exemplo de produções como o remake de O Rei Leão (2019) esse fotorrealismo mais tira do que acrescenta à experiência.

Na trama Ariel (Halle Bailey) é uma sereia sonhadora que anseia em conhecer o mundo da superfície apesar de seu pai, o poderoso Rei Tritão (Javer Bardem) alertá-la dos perigos que os humanos representam. Quando Ariel salva o príncipe Eric (Jonah Hauer King) ela se torna ainda mais decidida em experimentar o modo de vida dos humanos. A sereia decide aceitar um perigoso acordo com a bruxa do mar Ursula (Melissa McCarthy) para se tornar humana, mas isso coloca os mares e a superfície em risco.

O filme recria o fundo do mar com muita fidelidade e competência técnica, mas essa escolha por realismo faz o reino submarino soar vazio, sem graça e desprovido de encantamento. Isso fica evidente no número musical de Aqui no Mar, uma das canções mais marcantes da animação que perde muito da sua energia e deslumbramento porque as criaturas marinhas estão presas a se movimentarem como criaturas marinhas. Se até o filme do Aquaman (2018) conseguiu colocar um polvo tocando bateria, não vejo porque uma trama mais lúdica e fantasiosa como A Pequena Sereia deveria se prender tanto ao realismo.

terça-feira, 14 de março de 2023

Crítica - Magic Mike: A Última Dança

 

Análise Crítica - Magic Mike: A Última Dança

Review Crítica - Magic Mike: A Última Dança
Desde sua narração inicial é visível que Magic Mike: A Última Dança é um filme cheio de pretensões conforme a voz da narradora explica como a dança é capaz de salvar a sociabilidade humana. Se o segundo filme, Magic Mike XXL (2015), que foi dirigido por Gregory Jacobs e não por Steven Soderbergh como o primeiro e este terceiro, assumia tranquilamente seu caráter de exploitation com excessos e comicidade, esse desfecho para a trilogia cai na besteira de se levar a sério demais como o original e talvez se leve até mais a sério.

Na trama, depois de perder seu negócio de móveis por conta da pandemia, Mike (Channing Tatum) passa a trabalhar como barman. É nesse trabalho que ele conhece a ricaça Max (Salma Hayek), que descobre o passado de Mike e o contrata para uma dança. Encantada pelo talento e capacidade sedutora de Mike, Max decide levá-lo para Londres para que ele organize um espetáculo de dança.

Há uma tensão sexual palpável entre Tatum e Hayek, com Hayek sendo especialmente eficiente em mostrar que por trás de toda a exuberância e esbanjamento Max tem em si uma grande medida de insegurança. Os números de dança continuam sendo o ponto alto do filme, com coreografias grandiosas e uma boa dose de sensualidade, o problema é que esses dois elementos que seriam os mais promissores são deixados de lado em prol de ideias inanes. A relação entre Mike e Max fica focada na produção do show e as danças aparecem pouco.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Crítica – I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston

 

Análise Crítica – I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston

Review – I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston
Fiquei com um pé atrás quando vi que este I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston seria feito pelos mesmos produtores de Bohemian Rhapsody (2018), cinebiografia do Freddie Mercury. Temi que o resultado fosse a mesma estrutura quadrada que passa superficialmente por vários momentos da vida de sua personagem principal sem qualquer esforço de ir a fundo neles. Pois depois de ver o filme posso dizer: é bem isso mesmo.

A trama acompanha Whitney (Naomi Ackie) desde a juventude em sua trajetória de sucesso até a eventual decadência por conta das drogas e de uma relação conturbada com o rapper Bobby Brown (Ashton Sanders). É aquela biografia bem estilo “melhores momentos” que salta rapidamente entre momentos icônicos da carreira da personagem sem dar tempo para que nenhum evento seja desenvolvido ou tenha qualquer repercussão.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Crítica – RRR: Revolta, Rebelião, Revolução

 

Análise Crítica – RRR: Revolta, Rebelião, Revolução

Review – RRR: Revolta, Rebelião, Revolução
Conheço pouco do cinema indiano, mas fiquei curioso para conferir este RRR: Revolta, Rebelião, Revolução não apenas pelas conversas de que poderia ser indicado a prêmios internacionais, como também pelo argumento de que ele não deveria ser indicado a prêmios por se tratar de uma peça de propaganda nacionalista. Ora, o que são filmes como Top Gun: Maverick (2022), Rambo 3 (1988) ou O Resgate do Soldado Ryan (1998) se não peças de propaganda nacionalista, feitas para acreditarmos nos Estados Unidos como essa heroica “polícia do mundo” com interesses puros de promover a liberdade e democracia ao redor do globo?

Porque Hollywood ou a Europa podem fazer filmes celebrando suas identidades nacionais e construindo uma versão de seu relato histórico em que seu povo é sempre o herói, mas populações colonizadas, como a da Índia, não podem fazer o mesmo? Imagino que muito do que causou essa recepção do filme se relaciona com o incômodo das populações europeias e de outros países hegemônicos em se enxergarem como vilões. Muito da história da colonização foi construída da perspectiva europeia e nela eles se colocam como bravos descobridores que civilizaram ou dominaram as selvagens e atrasadas populações dos territórios conquistados.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Drops – Matilda: O Musical

 

Análise Crítica– Matilda: O Musical

Review – Matilda: O Musical
Confesso que nunca tive lá grande vínculo com o clássico da Sessão da Tarde Matilda (1996), achava divertido, assistia quando passava, mas não foi algo tão presente na minha formação cinéfila. Ainda assim, fiquei curioso para conferir este Matilda: O Musical, que adapta o musical teatral baseado no livro de Roald Dahl que inspirou o filme de 96.

A trama é a mesma da versão da década de 90, Matilda (Alisha Weir) é uma garota precoce e genial negligenciada pelos pais picaretas que é mandada para a escola dirigida pela rígida Sra. Trunchbull (Emma Thompson), que sente prazer em humilhar as crianças. Felizmente, Matilda encontra refúgio nos amigos e na professora Honey (Lashana Lynch).

Tal como o primeiro filme, a narrativa é sobre como adultos não entendem ou subestimam as crianças, além de criticar um modelo educacional repressivo que tenta colocar as crianças dentro de um padrão restrito de conduta através de castigos arbitrários que não educam coisa alguma. Através de Matilda somos lembrados da inventividade e senso de imaginação que temos durante a infância, bem como o fato de que crianças as vezes tem motivos compreensíveis para agir de um modo que adultos considerariam como travesso.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Drops – Spirited: Um Conto Natalino

 

Análise Crítica – Spirited: Um Conto Natalino

Review – Spirited: Um Conto Natalino
Com uma trama sobre redenção e generosidade, não é de se espantar que o romance Um Conto de Natal, de Charles Dickens, siga até hoje como a quintessência da narrativa natalina. O cinema já adaptou e se inspirou na obra de Dickens de diversas maneiras e agora Spirited: Um Conto Natalino, produção da AppleTV+, resolve trazer a história para um cenário contemporâneo e para o gênero musical.

Na trama, o Fantasma do Natal Presente (Will Ferrell), ou apenas Presente para simplificar, não se sente mais desafiado pelo trabalho de redimir pessoas ruins na véspera de Natal e decide que o próximo alvo dos fantasmas deve ser alguém considerado irredimível, já que apenas corrigindo alguém assim eles conseguiriam uma mudança significativa no mundo. O escolhido é o relações públicas Clint (Ryan Reynolds), um sujeito completamente antiético, disposto a qualquer coisa para destruir seus oponentes e promover seus clientes.

sexta-feira, 18 de março de 2022

Crítica – Amor Sublime Amor

 

Análise Crítica – Amor Sublime Amor

Review – Amor Sublime Amor
Com canções escritas por Stephen Sondheim, um dos melhores compositores a passar pela Broadway, Amor Sublime Amor (1961) foi um dos melhores musicais já feitos. Assim, o diretor Steven Spielberg tinha uma tarefa difícil nas mãos em tentar fazer uma nova versão. Existiam aspectos no original que não envelheceram muito bem que davam uma possibilidade de tentar algo novo, mas o esforço de Spielberg se escora tanto no original ao ponto em que essa nova versão soa desnecessária.

A trama se passa na década de 1950 em uma zona periférica de Nova York, cujo bairro está sendo demolido para dar lugar a novos empreendimentos imobiliários. O terreno é também habitado por duas gangues rivais, os Sharks, uma gangue de imigrantes latinos, e os Jets, uma gangue formada pela comunidade branca local. Nesse cenário de disputas floresce o amor proibido entre Maria (Rachel Zegler), uma jovem imigrante irmã do líder dos Sharks, e Tony (Ansel Elgort), melhor amigo do líder dos Jets e que está tentando reconstruir a vida depois de sair da cadeia.

Muito se falou sobre como Spielberg “corrigiu” os problemas do original. A verdade, no entanto, é que colocar atores de origem latina para os personagens latinos ou não legendar as falas em espanhol, tratando-a como uma língua tão nativa quanto o inglês, é o mínimo que se espera de uma adaptação de um filme de sessenta anos em plena terceira década do século XXI. O filme avança muito pouco em boa parte das discussões sobre classe e raça em relação ao original, o que soa como um desperdício de potencial considerando o quanto esse debate avançou e a ascensão recente de grupos e discursos xenófobos nos EUA. Assim, é estranho que o olhar de Spielberg acerca de todas essas questões ainda soe tão similar a algo produzido na metade do século passado.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Crítica – Encanto

 

Análise Crítica – Encanto

Review – Encanto
De certa forma, Encanto, nova animação da Disney, conta uma típica história de conflitos familiares, com uma jovem que desvia do ideal de sua família tentando mostrar que ela é tão digna quanto os outros parentes. Ainda que tenha uma premissa e estrutura conhecidas o filme...err...encanta pelo desenvolvimento de seus personagens, senso de humor e diversão das canções.

Na trama, a família Madrigal criou ao seu redor uma pequena vila no interior da Colômbia depois que a matriarca encontrou uma vela milagrosa que deu a ela e seus descendentes poderes mágicos. A jovem Mirabel (voz de Stephanie Beatriz, a Rosa de Brooklyn 99), no entanto, nunca recebeu nenhuma habilidade mágica da vela e se sente deslocada do restante da família além de menosprezada pela avó. Problemas surgem quando os poderes de seus parentes começam a falhar e a casa mágica na qual moram começa a rachar.

É bem óbvio que até o final do filme Mirabel vai descobrir a magia em si, reparar a relação com a avó e que as rachaduras na casa são uma metáfora pouco sutil para as fraturas emocionais que existem entre os membros da família. Ainda assim funciona porque a trama consegue dar tempo para compreendermos como a rigidez e as cobranças constantes da avó afetam as primas e tias de Mirabel. Estão todas e todos tão preocupados em corresponder às expectativas da avó que anulam seus próprios sentimentos e desejos.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Reflexões Boêmias: 5 Canções de Sondheim

 Reflexões Boêmias: 5 Canções de Sondheim


Considero Stephen Sondheim um dos melhores e talvez o melhor compositor a trabalhar em musicais da Broadway. Responsável por peças como West Side Story, Gypsy, A Little Night Music, Sweeney Todd, Company ou Into The Woods, Sondheim compôs para alguns dos maiores espetáculos da Broadway, a maioria dos que foram citados aqui (que representam uma pequena parte da produção dele) inclusive foram adaptados para cinema com graus variáveis de sucesso. Sondheim nos deixou na última sexta-feira, 26 de novembro, aos 91 anos e deixa um legado imenso para a música, o teatro e o cinema.

Como uma pequena homenagem e celebração ao seu corpus de produção, resolvi falar um pouco das cinco canções dele que mais gosto. Deixo claro que faço essa lista com base em preferências pessoais mesmo, daquilo dele que mais me toca, me impacta. As escolhas também foram baseadas em músicas que servissem de amostra da versatilidade de Sondheim como compositor, que podia ir de composições simples a altamente complexas (em geral não é fácil cantar Sondheim). Em comum, no entanto, todas essas canções são excelentes em externar aquilo que os personagens sentem. Suas dores, suas dúvidas, seu júbilo e seu afeto. Muitas vezes tudo isso junto. Mesmo com a dor de termos perdido um compositor tão singular, encontro conforto em saber que carregarei as músicas dele comigo para sempre.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Crítica – Tick, Tick...BOOM!

 

Análise Crítica – Tick, Tick...BOOM!

Review – Tick, Tick...BOOM!
Estreia de Lin Manuel Miranda como diretor, este Tick, Tick...BOOM! é uma biografia do compositor Jonathan Larson, responsável por Rent um dos musicais teatrais mais marcantes da década de 1990. Apesar de influente, Larson morreu jovem, antes da estreia de Rent e nunca viu o sucesso de seu trabalho.

A trama adapta o monólogo teatral homônimo escrito e protagonizado por Larson, com cenas do cotidiano do personagem mais ao estilo de uma biografia tradicional. A narrativa foca na tentativa de Larson (Andrew Garfield) em emplacar seu primeiro musical, Superbia, e a pressão que ele sente por estar prestes a fazer trinta anos e não ter encontrado o sucesso. Então acompanhamos o personagem em sua vida cotidiana com essas cenas intercaladas pelo personagem performando o espetáculo sobre esse período da vida dele, como se as cenas no teatro dessem ao espectador a perspectiva subjetiva do protagonista.

No papel seria um experimento interessante, com as cenas biográficas e as cenas do teatro dialogando constantemente. Uma oferecendo o universo interno e subjetivo do personagem e outra mostrando o universo externo a ele e como Larson se relacionava com as pessoas ao seu redor. Na prática, no entanto, as cenas biográficas tem pouco a fazer além de servir como mera ilustração ao monólogo teatral e musical do personagem. Ele diz algo no palco e entra uma cena ilustrando o que ele disse sem que essa cena ofereça ao espectador nenhuma nova informação em relação às cenas no palco.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Crítica – Querido Evan Hansen

 

Análise Crítica – Querido Evan Hansen

Review – Querido Evan Hansen
Filmes musicais estão normalmente associados à comédia, mas é perfeitamente possível que o gênero trate de temas mais pesados como suicídio e saúde mental sem parecer que está suavizando a gravidade dessas questões. Querido Evan Hansen, adaptação de um musical da Broadway de mesmo nome, tenta abordar exatamente esses temas, mas tem alguns problemas.

Evan (Ben Platt) é um adolescente tímido que sofre de depressão e ansiedade. Para lidar com isso, seu terapeuta sugere que ele escreva cartas para si mesmo na tentativa de colocar para fora seus sentimentos. Um dia ele acidentalmente imprime uma dessas cartas na escola, que é encontrada por Connor (Colton Ryan) que acha que Evan estava zombando dele. Dias depois Connor se suicida e a carta de Evan é a única coisa encontrada com ele fazendo todos acreditarem que aquela era a carta de suicídio de Connor e que ele e Evan eram amigos. Confrontado pelos pais de Connor, Evan não consegue dizer a verdade e confirma a mentira, que vai ganhando grandes proporções conforme a história se espalha e ele passa a apreciar o fato de finalmente ser notado e ter amigos.