sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Crítica - O Impossível

Os filmes-catástrofe normalmente se estruturam em volta de uma família ou um grupo de pessoas aparentemente comuns envolvidos em alguma situação de grande calamidade. O grande problema é que por focar nas cenas de destruição os personagens ficam sempre em segundo plano, recebendo um tratamento unidimensional, esvaziando a narrativa de significado. Felizmente este é um erro que O Impossível não comete, baseado na história real de uma família que sobreviveu ao tsunami que atingiu a costa da Tailândia no início de 2004.
 
Com isso, não quero dizer que não há espaço para as cenas de destruição e efeitos especiais. A cena da chegada da onda gigante é muito bem construída, começando com tremores, lufadas de vento, para então os personagens notarem o tsunami vindo na direção do hotel. Os efeitos especiais conseguem de maneira bastante eficiente retratar a devastação rápida e violenta causada pelo tsunami e os cenários retratam bem o caos do pós-desastre.
 
Mas como eu disse, o foco é mesmo nos personagens e sua luta pela sobrevivência e os atores são absolutamente competentes em retratar sua dor, medo e fragilidade. A dor da personagem Maria (Naomi Watts) é sentida a cada passo, a cada obstáculo duramente superado ao lado de Lucas, seu filho mais velho. É claro, há o mérito também da maquiagem que torna palatável os graves ferimentos da personagem, mas é na atuação de Watts que reside nossa apreensão por seu destino. Ewan McGregor também é bastante eficiente na pele de Henry, o marido, em especial na cena em que se desespera telefonar para um parente e contar que se separou da esposa na catástrofe. É apenas lamentável que a veterana atriz Geraldine Chaplin que entra em cena para dar uma dessas “lições de vida cifradas” no melhor estilo Sr Miyagi, diz umas duas frases para os dois filhos menores de Henry e depois some por completo.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Crítica – O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

A primeira vez que ouvi que a adaptação de Peter Jackson para O Hobbit seria dividida em três filmes para poder comportar elementos da trilogia O Senhor dos Anéis fiquei com um pé atrás em relação à produção por uma série de motivos. Primeiro porque O Hobbit é mais curto que qualquer um dos volumes da trilogia do anel (cerca de 290 páginas contra a média de 500 de cada um da trilogia) e em segundo porque o O Hobbit tinha um tom bastante diferente da trilogia, com uma abordagem mais leve, bem-humorado e aventuresco em relação ao tom sombrio e grave da trilogia do anel.
Meus temores, entretanto não se confirmaram e este O Hobbit: Uma Jornada Inesperada mantém-se fiel ao espírito da obra de Tolkien, mantendo o foco em Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) e a companhia de anões liderada pelo príncipe Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard Armitage) na viagem para expulsar o dragão Smaug (Benedict Cumberbacht) da Montanha Solitária e recuperar o tesouro dos anões. As adições à narrativa, por sua vez, preenchem algumas lacunas que são apenas citadas rapidamente no livro (ou nos apêndices acrescentados por Tolkien pós trilogia do anel, já que ele não a tinha em mente quando redigiu O Hobbit). Claro, algumas ainda são totalmente inúteis como a aparição de Frodo (Elijah Wood) na toca do velho Bilbo (Sir Ian Holm) e outra envolvendo Gandalf (Sir Ian McKellen) e Galadriel (Cate Blanchett), mas no geral servem para dar a noção de que há um mal crescente rondando a Terra-Média.

domingo, 25 de novembro de 2012

Crítica - Marcados Para Morrer

Começando com um plano da perspectiva da câmera contida no capô de uma viatura policial e a narração do policial Brian Taylor (Jake Gyllenhaal) este Marcados Para Morrer parece ser mais um desses falsos documentários (ou mockumentaries) que se valem da farsa documental apenas para mascarar todos os defeitos de uma produção realizada com roteiros vazios, atores ruins e técnica capenga como ocorre em embustes do naipe de Atividade Paranormal, Apollo 18 e tantos outros engodos pseudodocumentários que invadem as telas quase que mensalmente. O filme acompanha a dupla de policiais formada por Mike (Michael Peña) e Brian em suas patrulhas pelas ruas dos guetos de Los Angeles enquanto que Brian filma tudo como parte de um projeto de faculdade.
A trama, entretanto, não cai refém de seu próprio formato e sempre que necessário recorre a outras fontes (sempre na forma de imagens captadas por outros personagens ou câmeras de vigilância) para mostrar eventos nos quais os protagonistas não estão presentes. O próprio formato da tela, mais estreita e portanto mais vertical assemelha-se ao de uma produção televisiva e ajuda a passar de vídeos caseiros. Por outro lado, todo o clima de documentário do cotidiano policial torna a trama bastante solta e apenas na proximidade do terceiro ato da projeção é possível vislumbrar um direcionamento para a narrativa.

sábado, 24 de novembro de 2012

Crítica - Os Penetras


Comédias são sempre um gênero difícil de avaliar, afinal, o que é engraçado para alguém pode não ter a menor graça para outra pessoa. Isto se mostra bastante verdadeiro para este Os Penetras, uma vez que a satisfação proporcionada pelo filme está diretamente ligada ao quanto cada um aprecia do tipo de humor defendido pelos dois protagonistas, Marcelo Adnet e Eduardo Sterblich. No filme, Marco (Adnet) é um malandro que vive de penetrar em festas chiques e aplicar pequenos golpes ao lado de seu parceiro Nelson (Stepan Nercessian) e vê em Beto (Sterblich), um homem ingênuo que está tentando reatar com a namorada, uma vítima perfeita para ser “depenada”, termo que o próprio personagem usa.

A verdade é que nenhum dos dois se esforça muito para compor um personagem, se limitando basicamente à fazer as mesmas coisas que fazem na televisão, o Beto, por exemplo canta fino do pé do ouvido do Marco tal qual o Freddie Mercury Prateado que Sterblich faz no Pânico na Band. O roteiro se baseia em um fiapo de triângulo amoroso entre os dois e a misteriosa Laura (Mariana Ximenes) e o desenvolvimento disso tudo é absurdamente frouxo, dando muitas vezes a impressão de que estamos acompanhando apenas uma sequencia de esquetes soltos de algum programa televisivo.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Crítica - Argo

Resenha Argo


Review ArgoDo início ao fim este filme dirigido por Ben Affleck se mostra bastante preocupado em assegurar ao seu espectador o quanto está sendo fiel à realidade em seu retrato da crise envolvendo a invasão a uma embaixada americana em Teerã, capital do Irã, em 1979 durante o auge da revolução que derrubou o xá Reza Pahlevi e levou ao poder o aiatolá Khomeini. No início acompanhamos um relato bastante didático que mistura histórias em quadrinhos com imagens de arquivo que contextualizam a revolução iraniana, deixando claro o papel do governo americano na instauração da ditadura do xá e o posterior asilo político dado a ele que motiva a revolta dos iranianos. Já no fim, o diretor contrapõe imagens do próprio filme com imagens e gravações de arquivo, demonstrando o quanto sua obra está próxima dos eventos reais.

Talvez essa preocupação venha do fato da recente popularização dos falsos documentários que brincam com as percepções de realidade da audiência nos tenham deixados mais cínicos quando vemos os dizeres “baseado em fatos reais” ou talvez seja motivada pelos próprios eventos narrados que parecem saídos de um filme de espionagem da década de 60.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Crítica - Gonzaga: De Pai Para Filho

A relação de um músico com a família e a influência da mesma em sua carreira não é exatamente um tema novo para o diretor Breno Silveira, responsável pelo longa Dois Filhos de Francisco (2005), no qual ele mostrava o quanto o pai da dupla Zezé de Camargo e Luciano influenciou para a iniciação e formação musical dos dois. Pois bem, neste Gonzaga: De Pai Para Filho a temática é resgatada e acompanhamos o músico Luis Gonzaga (Land Vieira) desde sua juventude no interior de Pernambuco, quando trabalhava com seu pai consertando acordeons, passando por seu sucesso e relação atribulada com seu filho Gonzaguinha (Julio Andrade). A trama inicia com Gonzaga já idoso, recebendo a visita do filho que visa se reaproximar dele e a partir de então Gonzaga passa a relatar sua vida.

O amplo escopo temporal (que vai da década de 20 aos anos 80) do filme acaba se revelando um dos maiores problemas da fita, já que no desejo de abranger a maior quantidade de eventos possíveis a grande maioria dos personagens passa rapidamente pela narrativa, recebendo um tratamento bastante unidimensional, como a segunda esposa de Gonzaga (interpretada por Roberta Gualda) que se torna quase uma madrasta má da Cinderela, ou então passam tão rápido que o público não tem tempo de estabelecer quaisquer laços afetivos. Assim, quando uma pessoa próxima do protagonista morre, o filme precisa recorrer a uma música bastante intrusiva na tentativa de extrair uma reação emocional, já que não houve muito tempo para nos importarmos com o destino daquela personagem.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Reflexões Boêmias - O fim de Lost

É meio difícil tentar definir o capítulo final de Lost que foi exibido neste domingo nos US and A ou todo impacto causado pela série ao longo dos seus seis anos de exibição. Relembrar o fenômeno cultural que a série foi ou a maneira genial como, ao longo de seis temporadas, Lost foi subvertendo sua estrura narrativa para melhor contar a sua história ou ainda a maneira como o público reagiu de modo tão intenso(para o bem ou para o mal) aos seis anos de série. Falar tudo isso seria chover no molhado.

Ao longo de seis anos fomos nos envolvendo com aquele grupo de pessoas que, de algum modo, se reunia naquela ilha cheia de mistérios. Acompanhávamos suas virtudes, seus defeitos, suas crenças, seus medos e seus traumas e nos interessávamos cada vez mais sobre o que aconteceria com aquelas pessoas que, no fim das contas, não eram boas ou más, não estavam certos ou errados, eram apenas pessoas, com toda a complexidade inerente ao ser humano. Vimos Jack abandonar sua exagerada frieza e racionalidade e tornar-se um homem de fé, vimos Sayid buscar redenção por seu passado e para mostrar que ainda havia bondade em si, acompanhamos Sawyer enquanto ele deixava de ser um golpista interesseiro para se tornar um estóico protetor de seus aliados e também vimos John Locke ser traído por sua própria crença quando, ao fazer o que acreditava ser certo, foi manipulando por uma entidade antiga que estava numa cruzada de vingança(e que também era uma vítima ao seu próprio modo), vimos o Desmond ser fodão e vimos a Kate...err...bem... vimos a Kate render uns episódios chatos pra cacete(e apesar disso a personagem se mostrou indispensável no final).

Sim, era por isso que via Lost, pelas pessoas. Claro que os mistérios eram interessantes e muitas vezes ficava matutando sobre o que diabos seria a ilha, mas, desde que a explicação de que era um local com abundante energia eletromagnética, eu sabia que a revelação final não iria além de "a ilha é um lugar mágico e ponto final", então desencanei de qualquer resposta mais elaborada ou complexa. Até porque, não importa o que dissessem, qualquer explicação apenas frustraria aqueles que não tiveram suas teorias atendidas, então melhor deixar que cada um use sua subjetividade para preencher as lacunas. O crítico Pablo Villaça inclusive fez uma ótima análise dessa necessidade de respostas que cito aqui:

"...considero-me inteligente o bastante para compreender que as lacunas podem ser preenchidas com minhas próprias teorias e "viagens". O mundo real não oferece respostas a tudo (algo que Michael Haneke adora esfregar na cara de seus fãs) e, assim, é interessante que às vezes nos divorciemos de nosso comodismo de espectadores e percebamos que, por mais que exijamos respostas para tudo, nem sempre seremos atendidos - e mesmo que fôssemos, qual a diferença? Seria uma resposta tão arbitrária e maniqueísta quanto qualquer outra que pudéssemos imaginar sozinhos. Lembrem-se do casal brincando na praia ao fim de Desejo & Reparação e percebam que uma série de respostas atiradas no final seria algo tão artificial, falso, como aquela cena - embora certamente fosse despertar uma sensação de "satisfação" em boa parte do público."

Ao invés de assistir o finale com uma listinha de perguntas que eu queria que os realizadores me respondessem, eu desprentensiosamente sentei e assisti, apreciando um final incrivelmente bem construído, que fechou os arcos de todos os personagens principais e alguns nem tanto(eu nem me lembrava da Shannon), trazendo interpretações inspiradas de todo o elenco, inclusive daqueles que estavam ali fazendo apenas participações especiais como Dominic Monaghan(Charlie) e Elizabeth Mitchell(Juliet). Como não se comover com a cena em que Juliet e Sawyer lembram um do outro, mostrando com apenas um olhar a emoção acumulada durante uma vida inteira(chorei feito uma menininha nessa cena, aliás durante boa parte dos 100 min. do finale) ou do sincero e singelo "Senti sua falta" de Kate para Jack, dos olhares de felicidade contida de Jin e Sun ao verem Sawyer, mesmo quando ele não lembra dos dois. Me surpreendi com a capacidade dramática de Jorge Garcia(Hurley) em seu diálogo final com Matthew Fox(Jack) na ilha, já que ao longo de seis anos me acostumei a vê-lo como alívio cômico.

Há de se destacar também o trabalho de Michael Emerson que teve uma trajetória brilhante como Ben Linus e encerrou o arco de seu personagem de forma não menos brilhante, da expressão de surpresa e admiração ao ser convidado por Hurley a ajudá-lo na ilha, mesmo depois de todo o mal que fizera, até o reencontro na realidade paralela evidenciando o respeito mútuo que os dois desenvolveram ao longo de uma vida; "Você foi um bom nº2", diz Hurley e Ben devolve "E você foi um bom nº1", uma fala simples, mas que revela a humildade adquirida pelo personagem, mostrando que ele não é mais aquele homem egoísta e ambicioso. Tocante também é a cena final entre Ben e John Locke(o também brilhante Terry O'Quinn), quando Ben se despe de toda vaidade e se mostra vulnerável ao homem que matou e pede seu perdão. O cuidado dos atores em suas composições é visto a cada quadro, até em pequenos gestos dos personagens como quando o "homem do delineador", Richard Alpert(interpretado por Nestor Carbonell), se mostra totalmente confuso na colocação do cinto de segurança, algo perfeitamente compressível já que o personagem nasceu no início do século 19(quando, obviamente, não existiam aviões).

A explicação sobre a natureza da realidade paralela pode não ter sido uma surpresa(e devo destacar que o vitral da igreja do flash-sideway exibe símbolos sagrados de diferentes religiões), já que era algo que se cogitava desde o início da série, mas ela, juntamente com a cena final da "realidade verdadeira"(que num plano bastante elegante encerrou inverso ao contrário do plano inicial da série), servem apenas para reafirmar que nada acaba em definitivo, todo fim remete a seu início, tudo que acaba traz consigo um novo começo e se o fim da jornada é inevitável e igual para todos, tudo o que nos resta é olhar para as pessoas com quem compartilhamos nossos momentos mais importantes e ver como tudo foi bom, como tudo valeu a pena,(tanto que aqueles que mais agiram por conta própria como Ben ou Ana Lucia "não estavam prontos" para entrar na capela) pois, como dizia Shakespeare: "não há ventura maior que a de lembrar os bons amigos.

P.S: Vejam abaixo os hilários "finais alternativos" exibidos pelo programa humorístico Jimmy Kimmel Live

sábado, 15 de maio de 2010

Os Boêmios Analisam - Robin Hood


Devo dizer que acompanhei o desenvolvimento deste Robin Hood com desconfiança. Para quem não sabe, o filme foi inicialmente intitulado como Nottingham e mostraria a história do famoso fora-da-lei sob a ótica do Xerife de Nottingham, uma premissa deveras interessante e um sopro de novidade sobre um personagem que via sempre o mesmo estilo de narrativa. Depois de um tempo, entretanto, o diretor Ridley Scott anunciou uma mudança drástica no projeto, devolvendo o foco para Robin Hood, mas querendo mostrar sua origem sob "raízes históricas". Coloco o termo entre aspas porque até hoje não há evidências que Robin Hood sequer tenha existido e a experiência mostrou que épicos históricos com personagens lendários não são uma boa idéia, vide Rei Arthur e Tróia. Então entrei na sala de projeção esperando uma bomba.

Sim, o filme é decepcionante, mas não é a grande pilha de lixo que eu pensei que seria. A fita começa mostrando Robin(Russel Crowe) como membro do exército do Rei Ricardo Coração-de-Leão(Danny Houston) na jornada de volta para Inglaterra saqueando todos os castelos pelos quais passam para acumular riquezas de modo a reverter a situação de falência da nação britânica causada pela própria cruzada do Rei Ricardo. E se é interessante contextualizar a situação da Inglaterra naquela época, bem como retratar um Ricardo menos romantizado, aqui ele ainda é amado pelos súditos, mas também é um bêbado ambicioso, arrogante e ganancioso por riqueza e adoração, e além disso mostrar as condições da deserção de Robin, o mesmo não pode ser dito do segundo e terceiro atos da narrativa.

A partir da coroação do Rei João(aqui o mesmo babaca, traiçoeiro e covarde dos mitos e histórias) e da chegada de Robin e seus companheiros de deserção João Pequeno(Kevin Durand), Alan A-Dale(Alan Doyle) e Will Scarlet(Scott Grimes) a Nottingham, pensamos que a partir daí veremos o Robin fora-da-lei e seus embates como o Xerife(Matthew MacFayden). Entretanto, o que temos a partir daí é uma enfadonha trama envolvendo Robin assumindo o lugar de Sir Robert de Loxley(que ao morrer lhe pedira para devolver sua espada ao pai) e ajudando a Inglaterra e repelir uma invasão francesa orquestrada por Sir Godfrey de Ibelin(Mark Strong).

Além de se estender mais do que deveria, a trama se desenvolve de maneira preguiçosa, o passado de Robin é resolvido em meia dúzia de frases por Sir Walter Loxley(Max Von Sydow) e não, não acrescenta em nada ao que já sabíamos do personagem, além de ser de uma coincidência absurda o fato de que a pessoa que Robin é obrigado a encontrar é exatamente a que sabe tudo sobre sua linhagem. A dinâmica entre Robin e Marian é a clássica e clichezenta abordagem do casal que se detesta mas aos poucos se apaixona. Sem falar que absolutamente do nada o sizudo Robin de Crowe se mostra um hábil discursista com tamanha capacidade de argumentar que deixa um rei sem palavras, entre outras incoerências.

A trama ainda conta com personagens estereotipados(algo que cabe nas fábulas e mitos e nas adaptações que assumem esse tom, mas não numa obra que almeja acuidade histórica), Mark Strong aparece no piloto automático como o "vilão maquiavélico padrão), o Rei João, como já citei, beira o histerismo e Lady Marian é completamente insossa, beneficiando-se apenas da presença que Cate Blanchett impõe quando está em cena. Crowe faz de seu Robin um Maximus(seu personagem em Gladiador) com arco-e-flecha, adiciando apenas uma pitada de malandragem que é indispensável para um personagem como Robin Hood. Mais feliz são os veteranos Max Von Sydow, que faz valer cada segundo do seu tempo em cena como o cego Sir Walter, e William Hurt, que faz um William Marshal como um sujeito que apesar de odiar o Rei João aceita dar-lhes conselhos ao ver que isso traria maior benefício à Inglaterra.

Nos aspectos técnicos Ridley Scott continua exibindo a mesma competência de sempre, com figurinos de época bastante realistas, uma fotografia escura e cinzenta que contribui para dar o tom mais realista que ele tanto almeja e bastante crueza nas cenas de ação, valendo bastante do estilo câmera na mão para dar mais dinamismo e veracidade nas batalhas. Uma pena, portanto, que todo esse esmero técnico vá para o vinagre com uma trama tão desinteressante e quando finalmente nos empolgamos ao ver Robin, seu bando, os orfãos e a floresta de Sherwood, a projeção chegue ao fim.

Nota: 7

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Os Boêmios Analisam - Homem de Ferro 2


Homem de Ferro 2 é o tipo do filme que te faz sair satisfeito do cinema. Tem boas sequências de ação, personagens carismáticos, um roteiro fechadinho e algo cada vez mais raro nos blockbusters hollywodianos: não subestima a inteligência do espectador.

Sim, porque nada soa gratuito neste Homem de Ferro 2, desde as atitudes dos personagens, como o comportamento autodestrutivo de Stark(que atinge o ápice na cena do aniversário) que já vinha sendo trabalhado desde o filme anterior, desde às reviravoltas da trama, a maneira como Ivan Vanko(Mickey Rourke) passa a perna em Justin Hammer é sugerida logo no primeiro contato dos dois.

Além disso, o filme trabalha muito bem as questões levantadas no filme anterior quando Stark(Robert Downey Jr) anunciou ao mundo ser o Homem de Ferro, continuando com a abordagem um pouco mais realista do filme anterior, o diretor Jon Favreau mostra a todo tempo as modificações na balança de poder mundial e dentro do governo americano causadas pela aparição do Homem de Ferro.

As consequências vão desde as tentativas de terroristas imitarem a tecnologia de Stark a comissões de inquérito do senado americano, passando por espionagem industrial de empresas concorrentes. Para quem conhece as histórias do personagem é basicamente uma mistura dos arcos Demônio na Garrafa, que mostra Stark chegando ao fundo do poço devido ao alcolismo(que não achei que seria trabalhado por causa do lançamento de Hancock em 2008, mas felizmente o filme foi um fracasso e tocou no ponto superficialmente) e a Guerra de Armaduras, quando a tecnologia do Homem de Ferro é roubada e começa a ser maciçamente replicada.

Assim como no filme anterior, boa parte do mérito reside sobre Robert Downey Jr que constrói um Tony Stark inconsequente, arrogante, egocêntrico e dotado de sarcasmo e ironia bastante afiada(a cena em que ele é interrogado pelo governo é impagável), além de um enorme carisma que não nos permite deixar de gostar do personagem mesmo com todos os seus defeitos.

Gwyneth Paltrow também continua oferecendo um ótimo contraponto ao personagem principal, sua Pepper Potts vive constantemente preocupada e irritada com o comportamento impulsivo e imaturo de seu chefe, tentando sempre colocar algum juízo em sua cabeça argumentando com o mesmo cinismo do próprio Stark. Don Cheadle assume o papel de Terrence Howard como Rhodes e dessa vez o personagem tem um arco dramático próprio, ficando dividido entre sua amizade com Tony e suas obrigações como militar.

As novas adições no elenco também são bastante eficientes. Mickey Rourke constrói um Ivan Vanko assustador e maquiavélico, valendo-se de uma caracterização repleta de tatuagens que nos remete a Robert De Niro em Cabo do Medo, dentes de ouro e um cabelo desgrenhado(sem falar que a aparência normal do Rourke já é mais feia do que encoxar a mãe no tanque) e que não mede esforços para atingir o que quer, inclusive fingindo inferioridade, como quando diz a Hammer que não fala inglês apenas para que este pense estar tratando com alguém estúpido e abrir a guarda.

Sam Rockwell faz seu Justin Hammer como uma espécie de Bill Gates ou Steve Jobs do mal, sempre sorridente diante das câmeras, mostrando grande satisfação em exibir sua superioridade à imprensa, mas também disposto a qualquer bajulação ao governo ou ato ilícito para conseguir um monopólio para sua empresa. Scarlett Johansson constrói uma Viúva Negra com uma personalidade misteriosa e deliciosamente letal e, para minha própria segurança, isso é tudo que comentarei a respeito de seu trabalho sob pena de ser esfolado pela patroa.

A trilha sonora continua como um dos pontos altos, ajudando a conferir personalidade à fita, o diretor mantém seu foco em faixas de música eletrônica, rock e heavy metal, nada mais apropriado para um herói que se chama Homem de Ferro.

Os longos parágrafos que tratam da construção dos personagens em relação aos demais elementos da obra podem causar estranheza, mas isso acontece porque os personagens são de fato o coração do filme(lembrando que o diretor Jon Fravreu começou como ator e inclusive faz pontas nos dois filmes como Happy Hogan), todos eles bem trabalhados, com arcos específicos e bem desenvolvidos e a ação e os efeitos especiais trabalha em função dessa construção e não o contrário como na maioria dos filmes.

Talvez decepcione aqueles que esperavam por uma ação mais explosiva a la Michael Bay, mas aqueles que desejam ver um bom blockbuster que mostra que é possível sim casar entretenimento e conteúdo e o espectador só tem a ganhar com essa excelente mistura. Homem de Ferro 2 faz parte do rol de filmes que deveria ser usado para ensinar os executivos de estúdio a como fazer cinema comercial sem idiotizar a plateia.

Nota: 9

Sai primeira imagem de Thor

"Coincidentemente" à estreia de Homem de Ferro 2, a Marvel liberou a primeira imagem do filme do Thor, que mostra nada mais, nada menos do que o australiano Chris Hemsworth como o deus nórdico do trovão e o visual está bem fiel aos quadrinhos.

Thor estreia em 6 de maio de 2011.