segunda-feira, 11 de março de 2013

Crítica – Killer Joe: Matador de Aluguel

É muito bom ver um diretor veterano sendo capaz de produzir obras com o mesmo vigor e impacto dos seus períodos de apogeu, assim é muito bom constatar que o quase octogenário William Friedkin entregue um filme tão instigante quanto suas pérolas de outrora como O Exorcista (1973) e Operação França (1971).
Este Killer Joe: Matador de Aluguel representa um mergulho no que há de pior no comportamento humano, nos apresentando uma galeria de personagens detestáveis, de moral distorcida e incrivelmente estúpidos. O filme conta a história de Chris (Emile Hirsch) um pequeno traficante que se vê endividado com seus fornecedores depois de sua mãe cheirar seu estoque de cocaína. Sem dinheiro, recorre a seu pai, Ansel (Thomas Haden-Church), cuja única ajuda é dizer “você deveria fugir da cidade”. A resposta para seus problemas parece ser o seguro de vida que sua mãe tem em nome de sua irmã, Dottie (Juno Temple), uma garota retraída, quase beirando o autismo, devido à violência diária que vivencia entre seu pai e sua madrasta, Sharla (Gina Gershon) por causa de seus trambiques e traições.
Assim sendo, Chris decide matar a mãe. Disposto a obter o dinheiro do seguro que garantiria o pagamento da dívida, do assassinato e ainda sobraria dinheiro, Chris chama o policial e matador profissional Joe Cooper (Matthew McConaughey), um homem que esconde uma índole selvagem e violenta sob seus modos calculados e contidos. Quando Joe pede o pagamento adiantado, a única solução que Chris encontra é oferecer sua irmã como “garantia” até que o pagamento seja pago. Sim, o sujeito prostitui a irmã socialmente incompetente para pagar por um assassinato e isso é apenas a ponta do iceberg do comportamento sujo desta família desajustada que inclui ainda sonhos incestuosos e todo tipo de agressão.

domingo, 10 de março de 2013

Crítica – Oz: Mágico e Poderoso



A primeira coisa que me veio à mente quando ouvi falar sobre a produção de Oz: Mágico e Poderoso foi “pra quê?”. Sério, duvido muito que qualquer pessoa que tenha visto o filme O Mágico de Oz(1939), dirigido pelo Victor Fleming, ou qualquer um que tenha lido o livro de L. Frank Baum tenha pensado ou ficado curioso em saber como o mágico chegou a Oz. Isso, na verdade, parece ser fruto da tendência recente em Hollywood de revisitar clássicos para mostrar as “histórias não contadas”, mesmo que ninguém queira realmente saber que histórias são essas. A própria Disney fez isso com o horrível Alice no País das Maravilhas (2010), que se apresentava como uma continuação dos dois livros escritos por Lewis Carroll, igualmente desastrosa foi a tentativa de contar a origem do psicopata Hannibal Lecter em Hannibal: A Origem do Mal (2007). Assim sendo, as chances deste Oz: Mágico e Poderoso entregar algo realmente interessante pareciam bem pequenas.
Felizmente, o filme consegue ser uma obra satisfatória, resgatando um pouco da mágica presente no clássico de 1939 e conseguindo se manter fiel ao seu espírito. Aqui acompanhamos a história de Oscar Diggs (James Franco), ou simplesmente Oz, um mágico circense do Kansas que acaba indo parar no mundo de Oz (sim, o mundo e o mágico tem o mesmo nome) depois de ser pego por um furacão. Em Oz, o mágico precisa ajudar a bruxa boa Glinda (Michelle Williams) a libertar a Cidade Esmeralda das bruxas más Theodora (Mila Kunis) e Evanora (Rachel Weisz).
A narrativa é centrada no mágico e sua transição de jovem inconsequente, aproveitador e narcisista para um sujeito capaz de confiar em si mesmo e em seus talentos e inspirar confiança e força no povo de Oz e é graças à performance carismática e cafajeste do James Franco que acreditamos no personagem. A jornada do mágico serve ao mesmo propósito da história de Dorothy na produção de 1939, passando a mensagem de que não há uma solução mágica para nossos problemas e que precisamos encontrar em nós mesmos aquilo que consideramos ser necessário para o nosso sucesso e bem estar.

Crítica – Amigos Inseparáveis

É muito triste quando vemos um competente ator veterano chegar a um ponto de sua carreira onde ele passa anos se limitando a aparecer basicamente como ele mesmo (ou como a persona pública que criou para si) em filmes sofríveis que desperdiçam seu talento. Acontece com Robert De Niro (que voltou a ter um papel digno somente com O Lado Bom da Vida), e com dois dos protagonistas deste Amigos Inseparáveis, Al Pacino (até hoje não entendo como ele foi parar no horrendo Cada Um Tem a Gêmea que Merece) e Christopher Walken. Do trio principal apenas Alan Arkin parece manter uma consistência, tendo participado de projetos premiados como Argo(2012) e Pequena Miss Sunshine (2006), além de projetos com sucesso modesto como Agente 86 (2008). Dito isto, é ótimo constatar que Amigos Inseparáveis dificilmente irá constar no rol de recentes porcarias homéricas feitas por Pacino e Walken.
O filme acompanha o mafioso Val (Al Pacino) em seu primeiro dia de liberdade depois de passar vinte e oito anos preso e seu reencontro com os amigos da velha guarda, Doc (Christopher Walken) e Hirsch (Alan Arkin). O dia do trio, entretanto, não é apenas nostalgia, já que o mafioso Claphands deseja eliminar Val como vingança por ter matado seu único filho e contratou Doc para isso. Assim, Doc planeja aproveitar o tempo que resta ao lado do amigo.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Crítica – Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer

Análise  Duro de Matar: Um Bom Dia Para MorrerO primeiro Duro de Matar (1988) foi lançado como um contraponto aos filmes de ação estrelados por brucutus indestrutíveis que enfrentavam hordas de inimigos sem dificuldade e saíam ilesos dos mais violentos confrontos e John McClane (Bruce Willis) não era assim. Apesar de ser um policial competente, McClane estava sempre acuado, em menor número e com equipamento inferior, para vencer precisava usar seu raciocínio, estratégia e ocasionalmente algumas provocações aos seus adversários. Cada confronto da trilogia original era uma luta pela vida e o risco que o protagonista corria era palpável, ao final da maioria de seus enfrentamentos McClane raramente saía ileso e ao longo dos filmes ia ficando mais debilitado, aumentando os riscos e, consequentemente, o suspense.
Boa parte desses elementos já tinham sido defenestrados no quarto filme da série Duro de Matar 4.0 (2007) e agora este Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer termina de abandonar praticamente tudo que tornava a franquia tão legal, transformando seu protagonista em um Rambo genérico que fica parado metralhando capangas que correm estupidamente rumo aos seus tiros e sobrevive a praticamente tudo sem nenhuma consequência. McClane até sangra e reclama da dor, mas logo depois ele está agindo como se nada tivesse acontecido. O cúmulo disso é a cena em que McClane e seu filho, Jack (Jai Courtney), se jogam sobre alguns andaimes e Jack termina com uma haste de metal atravessada na lateral do abdômen, seu pai retira o ferro e na cena seguinte ele corre, pula e atira como se não houvesse nenhum ferimento.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Crítica – A Hora Mais Escura

Os atentados de 11 de setembro mudaram os Estados Unidos, a superpotência que até então parecia inatingível foi ferida brutal e publicamente, já não podia mais ser vista como invencível e imune a ameaças. Parecia lógico, portanto, para esta nação que se considerava ferida perseguir o responsável como uma maneira de reparação, de fechar as feridas abertas, é exatamente sobre a busca por Osama Bin Laden que trata este A Hora Mais Escura.
O filme acompanha a jornada da agente Maya (Jessica Chastain) desde 2003 até os instantes ocorridos na casa do Paquistão onde Bin Laden foi abatido (e não, isso não é spoiler). O filme se mostra bastante didático em apresentar datas, locais e fatos de modo a reforçar que está retratando fatos reais. Contribui também para isso a divisão da narrativa em tópicos e a própria direção de Kathryn Bigelow que conduz a obra com uma objetividade quase que jornalística como se fosse um filme-reportagem.
É bom deixar claro, no entanto, que isso não significa que tudo que vemos tela ocorre tal qual a realidade, ainda estamos diante de uma obra de ficção, encenada, roteirizada e atuada. Muito bem atuada por sinal, a protagonista Jessica Chastain constrói muito bem a transformação da agente Maya que inicialmente apresenta-se incomodada com as práticas de interrogatório para, aos poucos, abrir mão de qualquer coisa e se alienar de qualquer humanidade em nome de sua obsessão em localizar de Bin Laden. É interessante inclusive como o filme usa sua protagonista feminina para chamar a atenção para o machismo que ainda existe nos locais de trabalho, principalmente na cena da reunião com o diretor da CIA onde Maya, a única mulher do recinto e a que mais conhece o assunto, é colocada para sentar em uma cadeira distante, próxima à parede, enquanto o resto da equipe senta-se à mesa e ao redor do diretor e todos conversam de costas para ela, ignorando sua presença até o momento em a agente se manifesta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Crítica – O Lado Bom da Vida

Análise O Lado Bom da VidaO diretor David O. Russel já tinha me surpreendido uma vez com Três Reis (1999), um filme que parecia ser mais um filme de ação sobre a Guerra do Golfo se revelou um retrato interessante da ocupação americana no Iraque durante o período. Me surpreendeu novamente com O Vencedor (2010), uma obra que parecia ser outro melodrama sobre boxe, mas que era, na verdade um drama eficiente sobre uma família problemática. Agora, com seu O Lado Bom da Vida, me surpreende pela terceira vez transformando o que poderia ser apenas mais um daqueles filmes indies/bonitinhos banais (sim, Juno, estou olhando para você) que sempre aparecem durante a temporada de premiações em uma comédia dramática extremamente eficiente sobre duas pessoas emocionalmente complicadas.
A história, adaptada do romance homônimo de Matthew Quick, acompanha Pat (Bradley Cooper), um homem recém-saído de um hospital psiquiátrico que volta a morar com os pais (Robert De Niro e Jacki Weaver) e tenta reconstruir sua vida e voltar para sua esposa. Buscando ter uma atitude positiva em relação à vida ele tenta reconstruir o vínculo com Ronnie (John Ortiz), seu amigo de infância, e acaba se aproximando de sua cunhada Tiffany (Jennifer Lawrence), uma jovem tão problemática quando ele próprio.
Construir uma história ao redor de indivíduos mentalmente perturbados é obviamente uma corda bamba temática, se o filme pegar leve demais e suavizar o problema cai no erro de ser condescendente e romantizar um problema sério. Por outro lado, se o diretor pesar demais a mão nos problemas dos personagens, pode acabar produzindo uma reação de repulsa ao invés de simpatia pelos protagonistas ou cair no melodrama barato que apenas visa mostrar como é trágico e difícil lidar com pessoas com esses problemas.

Crítica - Os Miseráveis

Este Os Miseráveis, dirigido por Tom Hooper (O Discurso do Rei) não adapta diretamente o romance de Victor Hugo e sim o musical da Broadway baseado no romance. Assim sendo, aconselho de se manterem afastados do filme aqueles que têm dificuldade em comprar a ideia de ter pessoas cantando o tempo todo ao invés de falarem umas com as outras, já que se trata de exemplar bastante tradicional do gênero musical.
O filme se passa na França do século XIX e conta a história de Jean Valjean (Hugh Jackman) um homem que passou vinte anos preso por roubar um pedaço de pão e foge depois de receber sua liberdade condicional, passando a ser caçado pelo inspetor Javert (Russel Crowe). Anos passam e Valjean se torna prefeito de uma pequena cidade, mas, quando decide tomar conta da filha da trabalhadora Fantine (Anne Hathaway), acaba indo em direção ao seu perseguidor e à explosão de uma revolta popular em Paris.
É uma pena que uma história tão forte e com tanto potencial foi parar em mãos tão preguiçosas quanto às de Tom Hooper que, assim como fizera com em O Discurso do Rei(2010), parece estar dirigindo com o piloto automático ligado. Seus planos são quase sempre estáticos e pouco exploram a profundidade do campo. O registro dos atores (principalmente quando estão cantando) se dá primordialmente por primeiros planos e isso se torna bastante problemático quando mais de duas pessoas interagem ao mesmo tempo já que a montagem fica pulando rapidamente de um close para outro, não valorizando ou utilizando o espaço da cena ou mesmo outros aspectos da performance de seus atores que não seus rostos. A sensação é que ele posicionou as câmeras, fez a marcação dos atores e depois saiu para tomar um café enquanto a cena era rodada.

Crítica – Caça aos Gângsteres

Um policial durão e incorruptível se cansa do domínio de um chefão da máfia sobre sua cidade e monta um esquadrão para trabalhar independente da corrupta polícia e por um fim a este reino de crimes, essa é a premissa de Os Intocávei…opa…err…de Caça aos Gângsteres que, como podem ver, tem uma sinopse rigorosamente semelhante ao clássico de 1987 dirigido por Brian de Palma e isso já indica que não veremos um filme muito inovador ou criativo.
Ambientado na Los Angeles no fim dos anos 40, acompanhamos o detetive O’Mara (Josh Brolin) formar seu grupo de intocáv….digo…esquadrão anti-gângsteres para deter psicótico mafioso Mickey Cohen (Sean Penn). Apesar do elenco de renome que contem ainda Ryan Gosling, Giovanni Ribisi, Robert Patrick e Emma Stone, os personagens não passam de um bando de estereótipos que vão, além dos já citados, para o velho pistoleiro (Patrick), o galã com problemas de jogo (Gosling), o certinho e idealista (Ribisi) e por aí vai, sem nunca desenvolvê-los de modo satisfatório ou tentar fazer deles algo além destes estereótipos. O roteiro tampouco oferece algo além de um desenvolvimento apressado (temos a sensação de que se passaram poucos dias e não os meses que de fato passam), e previsível.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Crítica - O Mestre

Durante muito tempo O Mestre era tido como uma espécie de filme-denúncia que trataria do início da cientologia, seita que arrebanha famosos como Tom Cruise e John Travolta, centrando-se na figura de seu criador, L. Ron Hubbard. O filme, entretanto passa longe disto. O diretor Paul Thomas Anderson de fato retrata um grupo bem parecido com a cientologia e o personagem Lancaster Dodd (Philip Seymour-Hoffman), o mestre do título, é a cara de Hubbard, mas sua intenção aqui parece ser muito mais tratar de ideias como controle, poder e o fascínio da crença do que apenas criticar a cientologia.
O Mestre conta a história de Freddie Quell (Joaquin Phoenix) um veterano da Segunda Guerra, confuso, alcoólatra e autodestrutivo que se encontra por acaso com Lancaster Dodd, líder do grupo conhecido como “A Causa”. A partir desse encontro, Dodd vê em Quell uma cobaia (o personagem chega a se referir a ele desta forma) para testar os métodos de sua religião e acompanhamos o desenrolar da relação dos dois bem como o crescimento do culto.
É impressionante como Phoenix desaparece em sua composição de Quell, com uma postura torta, ombros curvados e andar esquisito que revelam externamente o interior “distorcido” do personagem. A confusão interna do personagem também é retratada em sua dicção, com um tom grave e lento (como se o ato fosse incrivelmente difícil), além de mal mover os lábios para falar.

Crítica – Lincoln

Lincoln inicia com um longo texto explicando todo o contexto da guerra de secessão americana, no momento me questionei se seria realmente necessário realizar aquela longa exposição daquela forma, antes mesmo do filme propriamente dito começar, mas ao fim do filme compreendi se tratar de uma escolha acertada. A verdade é que o restante do mundo pouco conhece da história dos Estados Unidos e tampouco partilha da idolatria dos americanos para com seu presidente-mártir e é exatamente com essa idolatria que o filme conta para envolver o espectador.
Com isso não quero dizer que o filme é uma peça ufanista estúpida de propaganda do “sonho americano”, longe disso. O diretor Steven Spielberg se esforça para traçar um retrato complexo dos últimos meses em que Abraham Lincoln (Daniel Day-Lewis) ocupou a presidência dos Estados Unidos e sua luta e estratagemas para encerrar a guerra de secessão e abolir a escravidão, mas apesar de sua direção classuda e competente, o filme nunca realmente se preocupa em nos envolver e nos engajar da luta daqueles personagens como se o fato de sabermos se tratar da história de Abraham Lincoln fosse o bastante para nos colocar dentro do filme e torcendo pelos personagens.