O filme argentino O Último Elvis abre com o protagonista, Carlos Gutierrez (John McInerny), subindo ao palco devidamente paramentado como Elvis Presley sob o som da música “Also Sprach Zaratustra” (imortalizada no cinema por 2001: Uma Odisseia no Espaço). A música evoca uma dimensão de grandeza épica, de algo maior que vida, uma sensação que casa perfeitamente com o eterno rei do rock, que mesmo décadas depois de sua morte atrai uma legião de seguidores e transformou sua mansão em um local de peregrinação para fãs de todo mundo. A obra do diretor Armando Bo trata justamente do fascínio que a celebridade desperta e como esse fascínio pode ser usado para distanciar as pessoas da realidade.
Gutierrez é um operário que vive uma vida sem muitas perspectivas, mora sozinho em um apartamento caindo aos pedaços, tem um emprego que detesta e mal vê a filha, Lisa Marie (Margarita Lopez), que não por acaso tem o mesmo nome da filha de Elvis. O nome da filha não é o único lugar onde transborda sua admiração pelo icônico músico, o personagem passa boa parte de seu tempo livre assistindo apresentações e entrevistas do rei do rock e toda noite come sanduiches de pasta de amendoim e banana, iguaria que era bastante apreciada pelo Elvis real.
John McInerny traz uma composição sensível e cheia de nuances, mostrando sua recusa em ser chamado pelo nome real (ele pede para ser chamado de Elvis) como um modo de negar a própria identidade e manter a ilusão de viver como o rei do rock, cuja semelhança vocal ele considera como um dom divino a ser compartilhado. Em outro momento, sua filha lhe diz que entrou para o coral da escola e ele a interrompe abruptamente dizendo “o negócio da música é muito difícil”, projetando na criança sua frustração por saber que nunca será de verdade um ídolo da música, sendo apenas um imitador que se apresenta em bingos e asilos.