quinta-feira, 9 de maio de 2013

Crítica – Em Transe

Resenha  Em TranseHá um chavão na crítica de que quando um texto foca seus elogios na iluminação de um filme, provavelmente a obra é uma porcaria e o redator está apenas tentando lhe conferir alguma dignidade. Não é o caso deste Em Transe, mas a verdade é que os componentes estéticos do filme são seu principal mérito já que a narrativa é bastante frouxa e problemática.
O virtuosismo visual do diretor Danny Boyle não é novidade para aqueles habituados com sua obra, mesmo filmes considerados como “menores” como A Praia (2000) e Sunshine: Alerta Solar (2007) constituem composições plásticas e experiências sensoriais incrivelmente interessantes.
Em Transe conta a história de Simon (James McAvoy), um leiloeiro que ajuda um grupo de assaltantes a roubar um valioso quadro de sua casa de leilões para poder pagar dívidas de jogo. O problema é que Simon esconde o quadro e durante o assalto é atingido na cabeça esquecendo onde guardou a valiosa pintura. O líder dos assaltantes, Franck (Vincent Cassel), resolve recorrer a uma terapia de hipnose para fazer Simon recobrar a memória e para isso contrata a terapeuta Elizabeth Lamb (Rosario Dawson). A partir daí começa uma viagem hipnótica pelo subconsciente, onde nada é exatamente o que parece.
O filme usa diferentes recursos da linguagem cinematográfica para dar origem ao universo idílico de delírio hipnótico vivenciado pelos personagens. A iluminação incide forte e exagerada sobre os atores, distorcendo seus contornos e formas conferindo esse aspecto de algo fruto da nossa mente. Além disso, usa um excesso de filtros e superfícies espelhadas para gerar reflexos e flares de luz que dão às imagens uma sensação de hiper-realismo. A isso se soma o uso de uma paleta dominada por cores fortes e tons de neon que contribuem para essa impressão de estarmos diante de uma realidade delirante e amplificada.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Crítica – A Morte do Demônio

O filme Evil Dead: A Morte do Demônio (1981) é um clássico do terrortrash da década de 80, assim como suas duas sequências que lançaram ao estrelato o diretor Sam Raimi e o ator Bruce Campbell. Se tratando de um filme que já alcançou o status de cult, a notícia de um remake colocou os fãs em polvorosa, que preferiam ver uma nova continuação com Bruce Campbell retornando ao papel de Ash e sua mão de motosserra.
Felizmente o filme se mantém bem fiel à trama original, trazendo um grupo de jovens se isolando numa cabana no meio da floresta, encontrando um antigo livro de feitiços e acidentalmente invocando entidades demoníacas que trazem os mortos de volta à vida, dando início à matança e à sanguinolência desenfreada. É bem interessante, entretanto, como o filme vai cuidadosamente construindo a atmosfera de que há algo errado naquela cabana, desde a fechadura arrombada, passando pelas manchas no chão e os gatos queimados no porão.
Com todos estes indícios qualquer um poderia questionar o motivo de todos terem continuado lá, mas personagens tomando atitudes idiotas e se expondo ao perigo de forma extremamente imbecil, ignorante e desnecessária faz parte da poética do trash, assim como fazem parte também as mortes brutais, regadas a chafarizes de sangue, vômito e outras coisas igualmente nauseantes que surgem quase como punições para a incrível burrice de seus personagens.
Afinal, é pela violência absurda, normalmente beirando o hilário, que vamos ver esse tipo de filme, o prazer da apreciação não reside na expectativa de triunfo dos personagens e sim na expectativa de que eles sofram mortes incrivelmente insanas e cruéis. Assim sendo, do mesmo modo que a obra original, este A Morte do Demônio não é um filme para se esperar seriedade dramática, é uma bobagem, feita para chocar e divertir com sua violência exagerada.

Crítica - Oblivion

Review - Oblivion
O primeiro filme do diretor Joseph Kosinski, Tron: O Legado (2010), chamou a atenção apenas pelo interessante e estiloso design de produção, uma vez que todo resto era bem desinteressante. Pois nesteOblivion o diretor volta a apresentar uma obra visualmente bem conduzida, mas igualmente apática.
O longa traz a história de Jack (Tom Cruise) e Victoria (Andrea Riseborough) dois militares que vivem em uma terra devastada depois de uma guerra nuclear com alienígenas, mas destruiu a Lua e boa parte do planeta. Como a Terra se tornou inabitável, o restante da humanidade se mudou para uma estação espacial chamada Tet e iniciou a colonizar Titã, a maior das luas de Saturno. A missão de Jack e Victoria é vigiar e manter em funcionamento as usinas de fusão que recolhem a água do mar para gerar energia para as colônias humanas. Além do casal, apenas alguns sobreviventes da raça alienígena conhecida como saqueadores continua no planeta e os dois precisam proteger as usinas dos saqueadores.
Tudo isso muda quando uma misteriosa nave cai na superfície do planeta trazendo Julia (Olga Kurylenko), uma mulher que está em animação suspensa desde o início da guerra e desconhece seus resultados. A partir daí Jack passa a questionar aquilo que o cerca e inicia uma busca pela verdade. O desenvolvimento da história tem suas reviravoltas, mas nada diferente do que já foi feito em recentes filmes de ficção científica como Lunar (2009), Wall-e (2008) ou mesmo Matrix (1999) e qualquer um que tenha visto esses filmes vai ser capaz de prever as viradas da trama e reconhecer os temas e subtextos contidos no filme.

Crítica - O Acordo

Depois de aceitar receber um pacote para um amigo, o jovem Jason (Rafi Gavron) é preso e enquadrado pelas recentes leis de combate às drogas dos Estados Unidos. A lei estipula uma alta pena mínima (dez anos) para estimular os pequenos traficantes a entregarem outros de modo a obterem uma redução de sentença. Como não é de fato um traficante e não possui contatos no meio, Jason parece fadado a passar as próximas décadas na prisão. Seu pai, John (Dwayne “The Rock” Johnson), no entanto, resolve se oferecer à promotoria federal como informante em troca da libertação do filho caso suas informações levem à prisão de um grande traficante.
O filme, baseado em fatos reais, parece querer criticar a atual política de combate às drogas do governo americano que, longe de configurar uma solução definitiva e de longo prazo, cria um loop quase que infinito de pequenos traficantes acusando uns aos outros, mas que nunca chega perto dos grandes negociantes ou chefes dos cartéis de droga. A isso somam-se promotores, burocratas e políticos que estão mais preocupados com índices de condenação e popularidade entre os eleitores do que em efetivamente resolver o problema, prática personificada na promotora Keeghan (Susan Sarandon).
É interessante ver The Rock sair de sua tradicional zona de conforto de brucutus mal-encarados e invencíveis para interpretar um sujeito mais pé no chão e comum. Seu John Matthews é um sujeito desesperado e fragilizado pela situação do filho e seu sentimento de impotência ao vê-lo machucado durante uma visita à prisão é tocante. Chama atenção também o trabalho de Barry Pepper (que definitivamente merecia uma carreira melhor) como o agente Cooper, apesar do pouco tempo de tela o ator consegue colocar camadas de compassividade e preocupação genuína sob a aparência agressiva e implacável do agente federal.

Crítica – O Último Elvis

O filme argentino O Último Elvis abre com o protagonista, Carlos Gutierrez (John McInerny), subindo ao palco devidamente paramentado como Elvis Presley sob o som da música “Also Sprach Zaratustra” (imortalizada no cinema por 2001: Uma Odisseia no Espaço). A música evoca uma dimensão de grandeza épica, de algo maior que vida, uma sensação que casa perfeitamente com o eterno rei do rock, que mesmo décadas depois de sua morte atrai uma legião de seguidores e transformou sua mansão em um local de peregrinação para fãs de todo mundo. A obra do diretor Armando Bo trata justamente do fascínio que a celebridade desperta e como esse fascínio pode ser usado para distanciar as pessoas da realidade.
Gutierrez é um operário que vive uma vida sem muitas perspectivas, mora sozinho em um apartamento caindo aos pedaços, tem um emprego que detesta e mal vê a filha, Lisa Marie (Margarita Lopez), que não por acaso tem o mesmo nome da filha de Elvis. O nome da filha não é o único lugar onde transborda sua admiração pelo icônico músico, o personagem passa boa parte de seu tempo livre assistindo apresentações e entrevistas do rei do rock e toda noite come sanduiches de pasta de amendoim e banana, iguaria que era bastante apreciada pelo Elvis real.
John McInerny traz uma composição sensível e cheia de nuances, mostrando sua recusa em ser chamado pelo nome real (ele pede para ser chamado de Elvis) como um modo de negar a própria identidade e manter a ilusão de viver como o rei do rock, cuja semelhança vocal ele considera como um dom divino a ser compartilhado. Em outro momento, sua filha lhe diz que entrou para o coral da escola e ele a interrompe abruptamente dizendo “o negócio da música é muito difícil”, projetando na criança sua frustração por saber que nunca será de verdade um ídolo da música, sendo apenas um imitador que se apresenta em bingos e asilos.

Crítica – G.I Joe: Retaliação

Resenha G.I Joe: RetaliaçãoComo G.I Joe: A Origem de Cobra (2009) cometeu praticamente todos os erros que seria possível cometer com um filme de ação hoje dia com sua história que se levava mais a sério do que deveria contrastando com uma ambientação absurda e exagerada, personagens demais, ritmo truncado e cenas de ação que abusavam de uma computação gráfica demasiadamente artificial que tornava tudo chato e tedioso. Uma vez no fundo do poço, parece que o único caminho que resta é tentar subir de volta e, assim, G.I Joe: Retaliação é um filme bem melhor do que seu antecessor, abraçando sem medo os clichês e a ação despretensiosa.
O filme começa com uma breve recapitulação dos eventos do filme anterior e nos apresenta uma nova equipe de Joes liderada por Duke (Channing Tatum), composta por Roadblock (The Rock), Lady Jaye (Adrianne Palicki) e Flint (D. J. Cotrona), além do veterano ninja Snake Eyes (Ray Park) e sua aprendiz Jinx (Elodie Young). Os personagens do filme anterior que não retornam tem sua existência ignorada, não sendo citados, sendo assim o filme é ao mesmo tempo uma continuação e um recomeço para a franquia.
Os novos personagens são bacanas, principalmente o carismático The Rock que se aproveita bastante dos diálogos absurdos cheios de clichês e frases de efeito enchendo-os de humor e despretensão. Ao lado dele está o vilão Firefly (Ray Stevenson), que também constrói uma caricatura divertida com seu psicopata alucinado e piromaníaco. Igualmente bacana é a participação especial de Bruce Willis que praticamente interpreta sua própria persona cinematográfica como o general Joe.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Crítica – Chamada de Emergência

O que aconteceu com Halle Berry? Uma atriz talentosa e premiada que há anos entrega-se a um monte de produções meia-boca como Na Companhia do Medo (2003), A Estranha Perfeita (2007) Noite de Ano Novo (2010). Claro, tiveram alguns filmes razoáveis pelo caminho, como a trilogia X-Men, mas em geral seus trabalhos pós-Oscar foram sofríveis e este Chamada de Emergência não faz nada para melhorar esta percepção.
A premissa lembra um pouco Celular: Um Grito de Socorro (2004), Jordan (Halle Berry) é uma veterana operadora do serviço de emergência de Los Angeles que precisa ajudar no resgate de uma garota, Casey, (Abigail Breslin) que foi sequestrada e conseguiu ligar para emergência de dentro do porta-malas de seu captor, Michael (Michael Eklund).
O filme é inicialmente interessante por mostrar os bastidores do serviço de emergência dos Estados Unidos, o famoso 911, e toda logística envolvida no processo, desde a ligação ao envio de policiais, revelando um trabalho de pesquisa e encenação muito bem realizado e que ajuda a embarcar na história. A trama é bem conduzida e tensa, com Jordan tentando diferentes estratégias para localizar a garota, que precisa agir de dentro do porta-malas e sem chamar atenção do sequestrador. É claro que as coisas dão errado mais de uma vez e uma pilha de corpos vai se acumulando. Há alguns clichês, como o fato de Jordan ser atormentada por um erro passado que custou a vida de uma vítima, mas nada que chegue a incomodar.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Crítica - Tomb Raider



Lara Croft é um dos principais ícones dos videogames, mas desde o desastroso Tomb Raider Underworld (2008) não protagoniza um jogo. O hiato parece ter sido bem utilizado já que este Tomb Raider é um excelente recomeço para a personagem, investindo numa narrativa muito bem construída que conta o que seria o início da vida de Lara como aventureira e numa jogabilidade mais aberta que nos dá uma ilha vasta para explorar.

A história conta a primeira exploração de Lara em busca do reino perdido de Yamatai, uma ilha que ficava próxima ao Japão e era governado pela imperatriz Himiko, cujas lendas diziam ser capaz de controlar os ventos e trovões. O navio naufraga durante uma tempestade e Lara se separa do resto da tripulação, sendo capturada por um grupo de cultistas. A partir daí começa a jornada da protagonista para rever sua tripulação e desvendar os segredos de Yamatai, dignos da ilha de Lost, que envolvem não apenas cultistas, mas fortes que datam da Segunda Guerra Mundial e até samurais zumbis.

Crítica - Os Croods

Depois de quatro A Era do Gelo, era de se pensar que o tema de “seres primitivos precisam sobreviver a destruição do mundo conhecido” havia sido esgotado pelo cinema de animação, mas então a Dreamworks nos apresenta a este Os Croods, uma animação sobre um grupo de seres primitivos que precisa sobreviver ao fim do mundo como o conhecem, mais especificamente, a separação dos continentes.
Felizmente as semelhanças param por aí, já que este Os Croods tem um tema próprio a tratar. O filme foca na jovem Eep (Emma Stone), sempre descontente em viver fechada dentro de uma caverna, saindo apenas para procurar comida. Isso a coloca em constante atrito com seu pai, Grug (Nicolas Cage), cuja única regra é “nunca saia da caverna” e arrasta sua família para dentro da caverna ao sinal de qualquer perigo ou coisa diferente. A situação muda quando Eep vê uma luz vindo de fora da caverna à noite e tomada por curiosidade, decide sair da caverna e descobrir de onde vem a luz. É assim que ela conhece Guy (Ryan Reynolds) um jovem que lhe conta sobre a catástrofe iminente e a necessidade de encontrar um lugar seguro.
Assim, o filme é basicamente uma versão infantil do mito da caverna de Platão, com indivíduos presos a noções limitadas de mundo precisam sair de suas cavernas (literal e metaforicamente) para enfrentar os problemas do mundo e reavaliar suas convicções ao invés de permanecerem fechados em si mesmos. É uma premissa interessante, principalmente pelo fato do filme ser desprovido de um vilão, os obstáculos a serem superados são os próprios medos e preconceitos dos personagens, além de, é claro, a natureza selvagem e implacável.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Crítica - A Fuga

Creio que nunca o título de um filme transmitiu tão bem a sensação que eu tive durante a apreciação da obra. Durante os cerca de noventa minutos do filme (mas que pareceram durar muito mais) tudo que eu sentia era vontade de fugir da sala de cinema e tirar da memória esse desastre horrendo.
O filme acompanha um trio de ladrões que, depois de um assalto bem sucedido, rumam para a fronteira dos Estados Unidos com o Canadá. Quando o carro em que viajam sofre um acidente, apenas os irmãos Addison (Eric Bana) e Liza (Olivia Wilde) sobrevivem e decidem se separar para terem melhores chances de chegar à fronteira do Canadá. Em paralelo, o ex-boxeador Jay (Charlie Hunnam) acaba de sair da prisão e mata acidentalmente seu antigo treinador, com medo de voltar para cadeia, segue para a casa dos pais, uma fazenda próxima à fronteira do Canadá.
Até então nada que já não tenhamos visto anteriormente nesses suspenses pés-de-chinelo que passam direto no Supercine da Globo. A premissa, apesar de bem básica, poderia até render um caldo razoável ao tratar dessas pessoas que seguem em fuga não apenas de seus atos, mas de seu passado, entretanto, a execução é péssima e a sensação é que os realizadores simplesmente não sabiam o que fazer com sua narrativa, todo desenvolvimento do filme acontece apenas por necessidade do roteiro e nunca por algo realmente motivado pelos personagens ou pelo contexto.