quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Crítica – Questão de Tempo

Resenha Crítica – Questão de TempoNo nosso cotidiano muitas vezes somos soterrados por tantas atividades e demandas que muitas vezes desejamos que o dia tivesse algumas horas a mais para que pudéssemos resolver tudo e ainda aproveitar nossas vidas ou então que fosse possível voltar no tempo para evitar perdermos nossas vidas com bobagens. É justamente sobre o uso do tempo e como torná-lo um aliado ao invés de inimigo que irá tratar este Questão de Tempo.
O filme centra sua trama em Tim (Domhnall Gleeson), um tímido jovem britânico que sente dificuldade em se aproximar de garotas até o dia em que seu pai (Bill Nighy) lhe conta que os homens da sua família tem o incomum poder de voltar no tempo. Assim, Tim decide usar sua habilidade para conquistar a mulher de seus sonhos, Mary (Rachel McAdams).
Se a premissa não é lá muito original, praticamente idêntica ao enredo de Feitiço do Tempo (1993) com pitadas de Efeito Borboleta (2004), o filme nos conquista e envolve pela sua sensibilidade e naturalismo (descontando o elemento fantástico da viagem no tempo, claro). Diferente da maioria das comédias românticas atuais Questão de Tempo jamais se entrega a grandes arroubos românticos com declarações de amor excessivamente encenadas e planejadas ou tampouco pesa a mão no melodrama e no sentimentalismo barato apenas para fazer o público chorar. Aqui acompanhamos a história simples e sincera de duas pessoas que se unem e tentam construir uma vida juntos e os problemas que vão surgindo entre eles e com suas famílias conforme o tempo passa, equilibrando com bastante competência o drama e a comédia.

Crítica – Ender’s Game: O Jogo do Exterminador

Há uma dicotomia interessante na guerra e no tratamento com o inimigo. Por um lado é preciso conhecê-lo ao máximo para entender seus movimentos e modos de agir para ser mais efetivo para derrotá-lo. Por outro é necessário manter a maior distância possível, transformando-o numa coisa, num ideal, numa generalização para impedir que seja criada qualquer ligação pessoal e afetiva que suscite hesitação em eliminar o inimigo. É exatamente sobre guerra e alteridade que trata este Ender’s Game: O Jogo do Exterminador.
A trama se passa no futuro quando a Terra é atacada por alienígenas insetoides conhecidos como Formics. Depois de impedir essa primeira invasão, a Frota Internacional se prepara para um possível novo ataque alienígena e treina crianças e adolescentes com capacidade mental acima da média nas complexas estratégias necessárias para entender os planos de ação dos inimigos. O principal desses recrutas é o jovem Ender (Asa Butterfield), um exímio estrategista que é considerado pelo coronel Graff (Harrison Ford) como a principal esperança em eliminar a ameaça alienígena.
Ender é um protagonista fascinante que constantemente luta contra sua própria natureza e o agressivo condicionamento mental e moral imposto por seus superiores da Frota Internacional. Assim sendo, é um jovem que tenta resolver as coisas tentando evitar conflitos ao máximo, mas não hesita em recorrer a uma violência extrema quando acuado e chega quase a matar dois colegas que tentam intimidá-lo. Nada disso, no entanto, funcionaria sem um jovem ator capaz de dar conta de um personagem com tantas facetas e felizmente o garoto Asa Butterfield, que trabalhou com Martin Scorsese em A Invenção de Hugo Cabret(2011), consegue captar todos os conflitos do protagonista e consegue carregar o filme.

Crítica – A Vida Secreta de Walter Mitty

Em tempos de redes sociais onde todos se preocupam em registrar, filmar e fotografar cada acontecimento de modo a mostrá-los aos seus amigos virtuais, acumulando curtidas e comentários, sempre me perguntei se ao fazermos isso não estaríamos deixando de efetivamente viver essas experiências. A sensação é que ficamos mais preocupados em documentar e registrar cada momento e mostrar aos outros ao invés de absorver cada momento e tentar extrair dele algo que nos acrescente, nos transforme e nos melhore sem nos limitar a transformar cada instante em apenas uma oportunidade de fotografia.
Assim sendo, é curioso me deparar com este A Vida Secreta de Walter Mitty, que trata exatamente desta relação que temos com fotografias, redes sociais e quaisquer outros dispositivos que possuímos para registrar nossas vidas e como passamos boa parte do tempo ocupados em exibir uma imagem excessivamente positiva, exagerada e irrealista de nós mesmos que efetivamente deixamos de viver e experimentar nossas próprias vidas.
A trama é centrada em Walter (Ben Stiller) um pacato arquivista de negativos de uma grande revista. Walter não tem uma vida muito empolgante, mas constantemente sonha acordado em realizar grandes feitos, engajar-se em grandes batalhas e dar o troco em seu chefe babaca (Adam Scott) pelas provocações. Em sua vida propriamente dita, ele tenta se aproximar de Cheryl (Kristen Wiig), mas o único modo que encontra para fazer isso é tentando falar com ela através de um site de pessoas em busca de relacionamentos. As coisas se complicam para ele quando o negativo de uma importante foto do melhor fotógrafo (Sean Penn) da revista é extraviado e ele precisa localizar o profissional que está constantemente viajando e conforme roda o mundo atrás do fotógrafo, Walter passa a prestar mais atenção naquilo que o cerca do que em suas próprias fantasias.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Crítica – O Hobbit: A Desolação de Smaug

Quando falei sobre O Hobbit: Uma Jornada Inesperada mencionei como estava temeroso que a opção por dividir o curto romance de J. R. R. Tolkien em três filmes poderia resultar em produtos inchados que não justificariam sua longa duração ou a opção por três filmes e é esse o principal problema deste segundo filme.
A trama continua  a acompanhar Bilbo (Martin Freeman) e a companhia de anões liderada por Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage) para chegar à Montanha Solitária e reaver o tesouro dos anões tomado pelo dragão Smaug (Benedict Cumberbatch). Enquanto isso, um velho inimigo parece ganhar cada vez mais poder e mago Gandalf (Ian McKellen) e se afasta dos companheiros para investigar o misterioso Necromante (também com a voz de Benedict Cumberbatch).
O filme não demora tanto para engrenar como seu antecessor, sendo menos lento e mais recheado de ação. O longa também se apresenta mais coeso e menos difuso ao usar a questão da ganância e cobiça como eixo temático, unindo assim os arcos dos diferentes personagens presos a um desejo a algo que não podem ou não devem ter, vemos isso na afeição proibida de Legolas (Orlando Bloom) pela elfa Tauriel (Evangeline Lily), a ligação crescente entre Bilbo e o Um Anel, a cobiça do corrupto prefeito (Stephen Fry) da Cidade do Lago e a crescente obsessão de Thorin em reaver seu tesouro, que o deixa cada vez mais teimoso e cego ao que ocorre ao seu redor, algo que poderá ser sua ruína.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Crítica – Carrie: A Estranha

Refazer um antigo sucesso é complicado. De um lado é preciso manter aquilo que tornou o filme original tão bem sucedido, por outro, torna-se necessário agregar novos elementos e abordagens, não apenas para situar a história em novos tempos, mas para trazer algo que justifique estar refazendo determinado filme, afinal se for pra ver a mesma coisa, melhor ficar em casa e assistir o original. Este novo Carrie: A Estranha, que refaz o icônico filme homônimo de 1976 dirigido por Brian De Palma (que, por sua vez era uma adaptação da obra literária de Stephen King), padece exatamente deste problema ao ser quase um fac-símile do filme do De Palma.
A trama é centrada em Carrie (Chloe Moretz) uma tímida e retraída adolescente de dezessete anos que descobre ter poderes telecinéticos. Sofrendo com a repressão de mãe (Julianne Moore) e a zombaria de suas colegas, ela se vê cada vez mais levada ao limite e a uma reação violenta.
O desenvolvimento da narrativa é bem similar à obra estrelada por Sissy Spacek e repete todos os momentos-chave do filme de 1976 sem grande novidade. Não chega a ser exatamente uma repetição completamente aborrecida, já que o filme é bastante competente em construir o clima de tensão crescente conforme vemos os planos das estudantes para humilhar Carrie enquanto a garota desenvolve cada vez mais seus poderes e mesmo eu conhecendo o original, fiquei apreensivo pelo que aconteceria quando a jovem sofresse uma humilhação que passaria dos limites.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Crítica – Crô: O Filme

As coisas não pareciam promissoras para Crô: O Filme. A tentativa anterior de emplacar um filme baseado em um personagem de novela foi o totalmente execrável Giovanni Improtta que (felizmente) passou praticamente despercebido do público. Assim sendo, foi com uma expectativa em níveis glaciais que entrei na sala de cinema para assistir a este filme e devo dizer que, embora ele não seja a hecatombe nuclear que temi que fosse, ainda assim tem muito pouco que se aproveitar aqui.
A trama coloca Crô (Marcelo Serrado) aproveitando a vida como milionário, mas sentindo falta de um propósito em sua vida. Uma noite ele sonha com sua falecida mãe (Ivete Sangalo) e tem uma revelação: deve voltar a ser mordomo. Após o anúncio público de que irá entrevistar candidatas a patroa, Crô passa a ser visitado por todo tipo de socialite exótica, inclusive a maligna Vanusa (Carolina Ferraz), uma dona de confecção que usa mão de obra escrava de imigrantes ilegais.
O primeiro problema do filme é o tom desencontrado, já que a todo o tempo parecemos ver dois filmes distintos. De um lado temos as peripécias, o escracho e o pastelão de Crô e seus funcionários tentando encontrar uma patroa, do outro lado temos as cenas na confecção com as trabalhadoras escravas que exagera a mão na tragédia e no melodrama, principalmente através de uma música pesadamente intrusiva, e parece não casar com o tom leve e despretensioso do resto filme, principalmente porque todo o segmento da confecção tem aquele tom de denuncismo barato de boa parte das produções televisivas globais que apresenta um problema de forma simplória e maniqueísta sem nunca produzir qualquer pensamento ou reflexão acerca do problema ou das variáveis que o cercam, apenas aponta e diz “isso é ruim”, como se qualquer pessoa não fosse capaz de chegar sozinha à conclusão de traficar e escravizar pessoas é uma coisa negativa.

domingo, 24 de novembro de 2013

Crítica – Batman: Arkham Origins



O game Batman: Arkham Asylum foi um marco nos jogos baseados em super-heróis, nunca um produto do gênero tinha sido tão competente em transmitir ao jogador a sensação de controlar um personagem tão cheio de habilidades e recursos como o Batman. O jogo acertava ao abordar com competência as principais abordagens ao personagem: seu lado lutador se fazia presente através de um fluido e veloz sistema de combate baseado em ataque e contra-ataque, seu lado furtivo era sentido no modo como era possível explorar o ambiente pendurando-se em gárgulas e andando sob grades no chão para pegar os inimigos de surpresa, deixando-os com medo e, além disso, seu lado investigador se fazia presente pelas pequenas investigações e análises de evidências necessárias para seguir em frente em determinados momentos.

A sequência, Batman: Arkham City, pegava todos esses elementos e os expandia, colocando o Batman em um amplo cenário aberto cheio de missões secundárias, novos movimentos e novos equipamentos, além de uma história tão competente quanto a anterior que trazia um final bombástico. Assim sendo, foi um pouco decepcionante quando foi anunciado que o próximo game do homem-morcego não contaria com o roteirista Paul Dini (responsável pelo excelente Batman: A Série Animada nos anos 90), nem iria lidar com as consequências do final de Arkham City, mas recontaria os primeiros anos do vigilante e seus primeiros encontros com super-criminosos. Mais preocupante foi o anúncio de que o novo game não seria desenvolvido pela Rocksteady, responsável pelos anteriores, mas pela novata WB Games Montreal, elevando os temores de que este terceiro game na série poderia não ter uma jogabilidade tão afiada quanto os anteriores.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Crítica – Jogos Vorazes: Em Chamas

Resenha Crítica – Jogos Vorazes: Em ChamasO primeiro Jogos Vorazes (2012), adaptação do primeiro livro da trilogia literária escrita por Suzanne Collins, era um filme correto, certinho, mas não tinha nada demais. O filme propunha um cenário interessante na qual a capital de uma nação fictícia mantinha o controle de seus distritos através da exigência de “tributos” anuais. Esses tributos consistiam de dois jovens (um garoto e uma garota) por distrito que seriam levados à capital para competir no maior evento midiático desta nação, os Jogos Vorazes, uma espécie de reality show no qual esses jovens deveriam matar uns aos outros e apenas o último sobrevivente seria o vencedor.
O filme tratava de temas como autoritarismo, controle, alienação midiática de uma forma surpreendentemente desencantada e fatalista para um blockbuster hollywoodiano, mas ainda assim tudo isso era tratado de forma relativamente superficial, como que servisse apenas de fundo para a ação. Felizmente este Jogos Vorazes: Em Chamasconsegue ir além do seu predecessor, pegando aquilo que o primeiro filme apenas propunha e dispõe destes elementos para tecer sua trama.
Neste novo filme, Katniss (Jennifer Lawrence) e Peeta (Josh Hutcherson) são obrigados pelo Presidente Snow (Donald Sutherland) a viajar em uma “turnê de vitória” após os eventos do filme anterior. Para o presidente, as ações dos dois no filme anterior foram interpretadas por muitos como um desafio ao sistema e, sob a ameaça de repressões e ataques violentos aos distritos, ele quer que convençam a todos que o amor que encenam ter é de fato real de modo a calar os revoltosos. Ao mesmo tempo, Snow e o novo organizador dos Jogos Vorazes, Plutarch Heavensbee (Philip Seymour Hoffman), constroem uma estratégia para poderem eliminar Katniss através do “Massacre Quaternário”, uma espécie de edição especial dos Jogos que ocorre a cada 25 anos na qual antigos campeões são colocados mais uma vez nesta competição pela vida.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Crítica – O Conselheiro do Crime

Diferente do que o título nacional parece sugerir, o protagonista deste O Conselheiro do Crime não é um sujeito calejado nos meandros do crime organizado como o Tom Hagen (Robert Duvall) de O Poderoso Chefão(1972), tampouco é um escroque safado e escorregadio como o Saul Goodman da série Breaking Bad. Na verdade, é apenas um sujeito com pouca familiaridade com o crime e que vê no tráfico um modo de ganhar dinheiro fácil.
A trama,  escrita por Cormac McCarthy, guarda algumas semelhanças com outro trabalho baseado numa obra do escritor, o vencedor do Oscar de melhor filme Onde os Fracos Não Têm Vez (2008). Assim como no filme dos irmãos Coen vemos um sujeito envolvido em uma situação que não compreende com exatidão, mas ainda assim se julga mais esperto capaz de resolvê-la e acaba pagando um alto preço pela própria ignorância, sendo devorado em uma brutal espiral de crueldade e violência. O advogado interpretado por Michael Fassbender defende pequenos criminosos, mas não tem por si grande vivência ou experiência no mundo do crime, ele tenta faturar um dinheiro a mais investindo em uma operação de tráfico internacional que envolve o transporte de drogas pela fronteira do México e quando tudo dá terrivelmente errado, se vê sob a mira implacável dos cartéis mexicanos.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Crítica – Tabu

Com um título idêntico ao filme de 1931 dirigido por F.W Murnau e produzido por Robert Flaherty, este Tabu, do diretor português Miguel Gomes, não adota o mesmo título por mera coincidência ou apenas como uma referência. Se o filme dos anos 30 nos mostrava uma história focada na irrefreável perda da inocência, a obra de Gomes faz aqui o caminho inverso, começando com a culpa e a decadência para então retornar à inocência de outrora.
A trama acompanha Pilar (Teresa Madruga) uma lisboeta solitária que começa a se preocupar com sua vizinha Aurora (Laura Soveral) uma idosa que já parece distanciada da realidade, falando coisas sobre a África, jacarés e erros da juventude e que vive apenas na companhia de uma empregada cabo-verdiana que a trata com distanciamento. Quando a saúde de Aurora piora, Pilar decide cumprir um favor para a idosa e buscar um homem chamado Ventura (Henrique Espirito Santo) para encontrá-la e que pode esclarecer o que houve em seu passado.
O filme não pega apenas seu título do clássico de Murnau, mas também sua estrutura, a qual usa de modo inverso. Se na película de 31 o primeiro capítulo se chamava “Paraíso”, aqui começamos pelo “Paraíso Perdido”; que remete também ao romance de mesmo nome de John Milton sobre o pecado original, perda de inocência e expulsão do ser humano do paraíso, para então irmos à segunda parte do filme, agora sim intitulada “Paraíso” quando finalmente acompanhamos o passado de Aurora.