sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Crítica – Muita Calma Nessa Hora 2

O primeiro Muita Calma Nessa Hora (2010) foi uma grata surpresa em meio ao grande volume de comédias horrendas que a Globo Filmes começou a despejar nos cinemas nos últimos anos. Não era nenhuma obra prima, nem tinha uma trama muito elaborada, mas pelo menos era uma comédia despretensiosa, redondinha, bem realizada e conseguia divertir e fazer rir sem sentir que minha inteligência estivesse sendo sugada do meu cérebro. Assim, temi que esta continuação não fosse tão eficiente quanto o original e embora não tenha o clima de leveza e despretensão do anterior e exiba alguns problemas, ainda é uma comédia satisfatória.
A trama se passa três anos depois do original e coloca as amigas Tita (Andreia Horta), Estrela (Débora Lamm), Mari (Gianne Albertoni) e Aninha (Fernanda Souza) se reencontrando no Rio de Janeiro para um festival de música e a partir daí começam as famosas “muitas confusões”. O problema nem é a ausência de uma trama em si, mas que não há nenhuma preocupação em estabelecer qualquer tipo de conflito ou arco dramático para boa parte das personagens que simplesmente passeiam pelo filme sem, em geral, passar por qualquer transformação ou aprendizado.
Apenas Tita e Estrela apresentam alguma tentativa de possuir um arco dramático e os dois são bastante insatisfatórios. Tita enfrenta o desafio de tentar de tentar viver profissionalmente da fotografia enquanto que seus pais insistem que ela se contente com um emprego mais normal. A questão é que o filme termina sem resolver isso, vemos Tita fotografando as amigas em uma festa na cena final, mas em nenhum momento isso nos dá a sensação de que ela, enfim se tornou uma fotógrafa profissional. Já Estrela tem um arco envolvendo a herança de sua vó e as dívidas de seu pai Pablo (Nelson Freitas) a um grupo de mafiosos argentinos. Este arco funcionaria para construir algum tipo de clímax ao filme, mas falha em gerar tensão ou drama, principalmente porque os dois gangsteres jamais soam como uma ameaça crível, em especial depois do tolo “recado” à Pablo que tenta parodiar O Poderoso Chefão (1972).

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Crítica – Confissões de Adolescente

A adolescência é sempre um período de mudanças e descobertas e elas vêm sempre acompanhadas de medos, inseguranças e conflitos. Para o bem ou para mal é sempre um momento marcante de nossas vidas e este Confissões de Adolescente, adaptação da famosa série de tv dos anos 90, tenta trabalhar como essas experiências nos moldam e nos modificam.
O filme acompanha uma série de personagens, mas é focado nas irmãs Tina (Sophia Abrahão), Bianca (Isabella Camero), Alice (Malu Rodrigues) e Carina (Clara Tiezzi), cujo pai (Cássio Gabus Mendes) revela que não tem mais condição de pagar o aluguel do condomínio em que vivem e precisarão se mudar.
Por acompanhar muitos personagens simultaneamente, o filme acaba tendo um ritmo demasiadamente fragmentado e episódico, já que os arcos de cada personagem são, em geral, relativamente simples, mas são constantemente interrompidos enquanto pulamos de um personagem para outro. Isso também torna o filme um pouco irregular já que alguns personagens acabam se revelando muito mais satisfatórios do que outros.
O destaque fica por conta do arco envolvendo Juliana (Olivia Torres) e Bianca, uma vez que as duas lidam com sentimentos de inadequação, isolamento e bullying e o filme, bem como o trabalho das atrizes, trabalha com cuidado e sensibilidade essas questões, se beneficiando da ótima performance das duas. Chama atenção também a subtrama envolvendo dois garotos tentando imitar o vampiro Edward Cullen da saga Crepúsculo para tentar impressionar Carina. A dupla é responsável pelos momentos mais engraçados do filme ao tentar imitar falas e situações envolvendo o vampiro brilhoso, na verdade creio que os dois atores são melhores “Edwards” que o próprio Robert Pattinson.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Crítica – Ajuste de Contas

Um antigo campeão de boxe há muito relegado ao ostracismo tem sua história revisitada por um programa de televisão e a partir daí cresce novamente o interesse público pelo velho boxeador e mais uma vez surge a oportunidade de provar seu valor no ringue. Esse era o enredo de Rocky Balboa (2006), retorno de Sylvester Stallone ao seu papel mais famoso, mas basta acrescentar um segundo boxeador de idade avançada à premissa que temos a trama básica deste Ajuste de Contas, que novamente coloca Stallone como um velho boxeador que trinta anos depois resolve disputar uma nova luta com um antigo rival, interpretado por Robert De Niro.
Na trama Henry “Razor” Sharp (Stallone) e Billy “The Kid” McDonnen (De Niro) são ex-campeões de boxe que se enfrentaram duas vezes pelo título com uma vitória para cada lado. A terceira e decisiva luta que desempataria a disputa acabou não acontecendo devido à uma súbita decisão de Razor de se aposentar do esporte, mas a rivalidade e o ressentimento permaneceu viva entre os dois por mais de trinta anos. Quando um especial de televisão revisita a carreira dos dois um promoter oportunista (Kevin Hart) decide tentar concretizar a derradeira luta entre eles, acreditando que isto o tornará rico.
Sendo bem sincero, não é apenas a premissa que o filme pega emprestado do ótimo Rocky Balboa, mas também toda a sua temática de mostrar que a chamada terceira idade é muito mais ativa e disposta do que era a tempos atrás e que envelhecer não é algo necessariamente ruim. Temos também toda a ideia desses antigos campeões como pessoas presas ao passado que ainda sofrem com perdas e traumas antigos e que tentam de algum modo reconstruir suas vidas. Tudo isto está presente aqui, mas sem a competência, sensibilidade e equilíbrio com que Rocky Balboa tratava tudo isto.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Crítica – Frozen: Uma Aventura Congelante


Análise  Frozen: Uma Aventura Congelante


Review  Frozen: Uma Aventura CongelanteDepois de passar boa parte da última década dependendo da Pixar para produzir boas animações, a Disney parece ter reaprendido o “caminho das pedras” nos últimos anos com produções bacanas como Enrolados (2010) e Detona Ralph (2013) e com este Frozen: Uma Aventura Congelante consegue atingir o nível de seus clássicos mais recentes como A Bela e a Fera (1991), Aladdin (1992) e O Rei Leão (1994).
A história é baseada em uma das fábulas de Hans Christian Andersen e conta a história das irmãs Anna (Kristen Bell) e Elsa (Idina Menzel). Já na infância Elsa descobre poder manipular gelo, mas quando ela machuca sua irmã mais nova por acidente, seus pais a isolam do resto do mundo com medo que ela não consiga controlar seus poderes. Quando chega o dia de sua coroação, Elsa exibe seus poderes por acidente, deixando todos amedrontados e para não machucar seus súditos ela foge para longe, construindo para si um castelo de gelo nas montanhas, o que ela não sabe é que seus poderes deixaram o reino em um inverno perene. Assim, cabe a Anna conseguir chegar até sua torre de gelo e ajudar a irmã a reverter a situação, para tal ela conta com a ajuda do explorador Kristoff (Jonathan Groff) e do boneco de neve Olaf (Josh Gad).
O primeiro grande mérito do filme é conseguir equilibrar bem a aventura, o drama, o humor e os segmentos musicais. Temos algumas cenas de ação muito bem construídas como o momento em que Anna e Kristoff são perseguidos por lobos ou quando soldados invadem a torre de Elsa e ela é obrigada a se defender. Ao mesmo tempo, as canções são as melhores a aparecerem em um produto da Disney em muito tempo e certamente vão ficar na cabeça. As duas protagonistas são bem construídas com seus conflitos, virtudes e defeitos, além de passarem longe de serem somente princesas passivas que esperam algum príncipe encantando resgatá-las.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Crítica – Questão de Tempo

Resenha Crítica – Questão de TempoNo nosso cotidiano muitas vezes somos soterrados por tantas atividades e demandas que muitas vezes desejamos que o dia tivesse algumas horas a mais para que pudéssemos resolver tudo e ainda aproveitar nossas vidas ou então que fosse possível voltar no tempo para evitar perdermos nossas vidas com bobagens. É justamente sobre o uso do tempo e como torná-lo um aliado ao invés de inimigo que irá tratar este Questão de Tempo.
O filme centra sua trama em Tim (Domhnall Gleeson), um tímido jovem britânico que sente dificuldade em se aproximar de garotas até o dia em que seu pai (Bill Nighy) lhe conta que os homens da sua família tem o incomum poder de voltar no tempo. Assim, Tim decide usar sua habilidade para conquistar a mulher de seus sonhos, Mary (Rachel McAdams).
Se a premissa não é lá muito original, praticamente idêntica ao enredo de Feitiço do Tempo (1993) com pitadas de Efeito Borboleta (2004), o filme nos conquista e envolve pela sua sensibilidade e naturalismo (descontando o elemento fantástico da viagem no tempo, claro). Diferente da maioria das comédias românticas atuais Questão de Tempo jamais se entrega a grandes arroubos românticos com declarações de amor excessivamente encenadas e planejadas ou tampouco pesa a mão no melodrama e no sentimentalismo barato apenas para fazer o público chorar. Aqui acompanhamos a história simples e sincera de duas pessoas que se unem e tentam construir uma vida juntos e os problemas que vão surgindo entre eles e com suas famílias conforme o tempo passa, equilibrando com bastante competência o drama e a comédia.

Crítica – Ender’s Game: O Jogo do Exterminador

Há uma dicotomia interessante na guerra e no tratamento com o inimigo. Por um lado é preciso conhecê-lo ao máximo para entender seus movimentos e modos de agir para ser mais efetivo para derrotá-lo. Por outro é necessário manter a maior distância possível, transformando-o numa coisa, num ideal, numa generalização para impedir que seja criada qualquer ligação pessoal e afetiva que suscite hesitação em eliminar o inimigo. É exatamente sobre guerra e alteridade que trata este Ender’s Game: O Jogo do Exterminador.
A trama se passa no futuro quando a Terra é atacada por alienígenas insetoides conhecidos como Formics. Depois de impedir essa primeira invasão, a Frota Internacional se prepara para um possível novo ataque alienígena e treina crianças e adolescentes com capacidade mental acima da média nas complexas estratégias necessárias para entender os planos de ação dos inimigos. O principal desses recrutas é o jovem Ender (Asa Butterfield), um exímio estrategista que é considerado pelo coronel Graff (Harrison Ford) como a principal esperança em eliminar a ameaça alienígena.
Ender é um protagonista fascinante que constantemente luta contra sua própria natureza e o agressivo condicionamento mental e moral imposto por seus superiores da Frota Internacional. Assim sendo, é um jovem que tenta resolver as coisas tentando evitar conflitos ao máximo, mas não hesita em recorrer a uma violência extrema quando acuado e chega quase a matar dois colegas que tentam intimidá-lo. Nada disso, no entanto, funcionaria sem um jovem ator capaz de dar conta de um personagem com tantas facetas e felizmente o garoto Asa Butterfield, que trabalhou com Martin Scorsese em A Invenção de Hugo Cabret(2011), consegue captar todos os conflitos do protagonista e consegue carregar o filme.

Crítica – A Vida Secreta de Walter Mitty

Em tempos de redes sociais onde todos se preocupam em registrar, filmar e fotografar cada acontecimento de modo a mostrá-los aos seus amigos virtuais, acumulando curtidas e comentários, sempre me perguntei se ao fazermos isso não estaríamos deixando de efetivamente viver essas experiências. A sensação é que ficamos mais preocupados em documentar e registrar cada momento e mostrar aos outros ao invés de absorver cada momento e tentar extrair dele algo que nos acrescente, nos transforme e nos melhore sem nos limitar a transformar cada instante em apenas uma oportunidade de fotografia.
Assim sendo, é curioso me deparar com este A Vida Secreta de Walter Mitty, que trata exatamente desta relação que temos com fotografias, redes sociais e quaisquer outros dispositivos que possuímos para registrar nossas vidas e como passamos boa parte do tempo ocupados em exibir uma imagem excessivamente positiva, exagerada e irrealista de nós mesmos que efetivamente deixamos de viver e experimentar nossas próprias vidas.
A trama é centrada em Walter (Ben Stiller) um pacato arquivista de negativos de uma grande revista. Walter não tem uma vida muito empolgante, mas constantemente sonha acordado em realizar grandes feitos, engajar-se em grandes batalhas e dar o troco em seu chefe babaca (Adam Scott) pelas provocações. Em sua vida propriamente dita, ele tenta se aproximar de Cheryl (Kristen Wiig), mas o único modo que encontra para fazer isso é tentando falar com ela através de um site de pessoas em busca de relacionamentos. As coisas se complicam para ele quando o negativo de uma importante foto do melhor fotógrafo (Sean Penn) da revista é extraviado e ele precisa localizar o profissional que está constantemente viajando e conforme roda o mundo atrás do fotógrafo, Walter passa a prestar mais atenção naquilo que o cerca do que em suas próprias fantasias.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Crítica – O Hobbit: A Desolação de Smaug

Quando falei sobre O Hobbit: Uma Jornada Inesperada mencionei como estava temeroso que a opção por dividir o curto romance de J. R. R. Tolkien em três filmes poderia resultar em produtos inchados que não justificariam sua longa duração ou a opção por três filmes e é esse o principal problema deste segundo filme.
A trama continua  a acompanhar Bilbo (Martin Freeman) e a companhia de anões liderada por Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage) para chegar à Montanha Solitária e reaver o tesouro dos anões tomado pelo dragão Smaug (Benedict Cumberbatch). Enquanto isso, um velho inimigo parece ganhar cada vez mais poder e mago Gandalf (Ian McKellen) e se afasta dos companheiros para investigar o misterioso Necromante (também com a voz de Benedict Cumberbatch).
O filme não demora tanto para engrenar como seu antecessor, sendo menos lento e mais recheado de ação. O longa também se apresenta mais coeso e menos difuso ao usar a questão da ganância e cobiça como eixo temático, unindo assim os arcos dos diferentes personagens presos a um desejo a algo que não podem ou não devem ter, vemos isso na afeição proibida de Legolas (Orlando Bloom) pela elfa Tauriel (Evangeline Lily), a ligação crescente entre Bilbo e o Um Anel, a cobiça do corrupto prefeito (Stephen Fry) da Cidade do Lago e a crescente obsessão de Thorin em reaver seu tesouro, que o deixa cada vez mais teimoso e cego ao que ocorre ao seu redor, algo que poderá ser sua ruína.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Crítica – Carrie: A Estranha

Refazer um antigo sucesso é complicado. De um lado é preciso manter aquilo que tornou o filme original tão bem sucedido, por outro, torna-se necessário agregar novos elementos e abordagens, não apenas para situar a história em novos tempos, mas para trazer algo que justifique estar refazendo determinado filme, afinal se for pra ver a mesma coisa, melhor ficar em casa e assistir o original. Este novo Carrie: A Estranha, que refaz o icônico filme homônimo de 1976 dirigido por Brian De Palma (que, por sua vez era uma adaptação da obra literária de Stephen King), padece exatamente deste problema ao ser quase um fac-símile do filme do De Palma.
A trama é centrada em Carrie (Chloe Moretz) uma tímida e retraída adolescente de dezessete anos que descobre ter poderes telecinéticos. Sofrendo com a repressão de mãe (Julianne Moore) e a zombaria de suas colegas, ela se vê cada vez mais levada ao limite e a uma reação violenta.
O desenvolvimento da narrativa é bem similar à obra estrelada por Sissy Spacek e repete todos os momentos-chave do filme de 1976 sem grande novidade. Não chega a ser exatamente uma repetição completamente aborrecida, já que o filme é bastante competente em construir o clima de tensão crescente conforme vemos os planos das estudantes para humilhar Carrie enquanto a garota desenvolve cada vez mais seus poderes e mesmo eu conhecendo o original, fiquei apreensivo pelo que aconteceria quando a jovem sofresse uma humilhação que passaria dos limites.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Crítica – Crô: O Filme

As coisas não pareciam promissoras para Crô: O Filme. A tentativa anterior de emplacar um filme baseado em um personagem de novela foi o totalmente execrável Giovanni Improtta que (felizmente) passou praticamente despercebido do público. Assim sendo, foi com uma expectativa em níveis glaciais que entrei na sala de cinema para assistir a este filme e devo dizer que, embora ele não seja a hecatombe nuclear que temi que fosse, ainda assim tem muito pouco que se aproveitar aqui.
A trama coloca Crô (Marcelo Serrado) aproveitando a vida como milionário, mas sentindo falta de um propósito em sua vida. Uma noite ele sonha com sua falecida mãe (Ivete Sangalo) e tem uma revelação: deve voltar a ser mordomo. Após o anúncio público de que irá entrevistar candidatas a patroa, Crô passa a ser visitado por todo tipo de socialite exótica, inclusive a maligna Vanusa (Carolina Ferraz), uma dona de confecção que usa mão de obra escrava de imigrantes ilegais.
O primeiro problema do filme é o tom desencontrado, já que a todo o tempo parecemos ver dois filmes distintos. De um lado temos as peripécias, o escracho e o pastelão de Crô e seus funcionários tentando encontrar uma patroa, do outro lado temos as cenas na confecção com as trabalhadoras escravas que exagera a mão na tragédia e no melodrama, principalmente através de uma música pesadamente intrusiva, e parece não casar com o tom leve e despretensioso do resto filme, principalmente porque todo o segmento da confecção tem aquele tom de denuncismo barato de boa parte das produções televisivas globais que apresenta um problema de forma simplória e maniqueísta sem nunca produzir qualquer pensamento ou reflexão acerca do problema ou das variáveis que o cercam, apenas aponta e diz “isso é ruim”, como se qualquer pessoa não fosse capaz de chegar sozinha à conclusão de traficar e escravizar pessoas é uma coisa negativa.