Relacionamentos não são uma coisa fácil, por mais que haja amor, compreensão, coisas em comum e o desejo genuíno de ficar junto, sempre serão duas pessoas diferentes, com experiências diferentes e olhares diferentes sobre o mundo. Com o tempo é inevitável que essas diferenças colidam, que as personalidades se choquem e as coisas cheguem a um ponto que não é possível mais seguir em frente. Lidar com as dores do fim de uma relação, bem como entender a nossa conflituosa relação com uma tecnologia que nos aproxima, mas ao mesmo tempo nos distancia é o cerne deste sensível Ela.
No filme, Theodore (Joaquin Phoenix) é um solitário e melancólico escritor que não consegue superar o fim de seu casamento com Catherine (Rooney Mara) e tem sua solidão preenchida pela inteligência artificial Samantha (Scarlett Johansson), que vai aos poucos se revelando ser mais do que apenas uma voz em um computador e cria profundos laços afetivos e até românticos com seu dono.
Claro, o namoro tem lá seus problemas, parte deles derivado do fato de que uma das partes é uma inteligência artificial sem corpo, mas outros são simplesmente problemas comuns que surgem em qualquer relacionamento, como distanciamento emocional ou ciúmes. Neste ponto, a direção de Spike Jonze é bem cuidadosa em não julgar os personagens, tratando a relação de forma completamente normal. Tanto que quando eles começam a trocar palavras mais, digamos, picantes, a câmera se afasta, nos deixando apenas com a tela escura enquanto ouvimos as palavras dos dois, como se fosse um momento tão íntimo que devêssemos observá-los ou para nos deixar imaginando que estão fazendo, além disso nos faz compartilhar da experiência sensorial dos dois personagens já que basicamente o que tem um do outro é a voz.