A chamada “segunda fase” dos filmes da Marvel no cinema vinha me decepcionando bastante. Era de se esperar que depois do grandioso Os Vingadores (2012), que consolidava com competência o universo cinematográfico compartilhado projetado pelo estúdio, os filmes-solo de seus personagens se desviassem um pouco da fórmula feijão com arroz da primeira fase e ousassem mais com seus personagens, nos mostrando mais de suas personalidades e relações com outros ou até mesmo que ousassem com o próprio universo, fazendo as ações isoladas de cada um dos filmes produzir transformações que reverberassem em todos outros. Nada disso lamentavelmente aconteceu com o fraco Homem de Ferro 3 (2013) e o competente, mas formulaico Thor: O Mundo Sombrio (2013). Felizmente este ótimo Capitão América 2: O Soldado Invernal chega para mudar isso, trazendo uma narrativa melhor construída que traz novas dimensões ao seu protagonista e muda significativamente o universo Marvel das telonas.
terça-feira, 27 de maio de 2014
Crítica - Capitão América 2: O Soldado Invernal
A chamada “segunda fase” dos filmes da Marvel no cinema vinha me decepcionando bastante. Era de se esperar que depois do grandioso Os Vingadores (2012), que consolidava com competência o universo cinematográfico compartilhado projetado pelo estúdio, os filmes-solo de seus personagens se desviassem um pouco da fórmula feijão com arroz da primeira fase e ousassem mais com seus personagens, nos mostrando mais de suas personalidades e relações com outros ou até mesmo que ousassem com o próprio universo, fazendo as ações isoladas de cada um dos filmes produzir transformações que reverberassem em todos outros. Nada disso lamentavelmente aconteceu com o fraco Homem de Ferro 3 (2013) e o competente, mas formulaico Thor: O Mundo Sombrio (2013). Felizmente este ótimo Capitão América 2: O Soldado Invernal chega para mudar isso, trazendo uma narrativa melhor construída que traz novas dimensões ao seu protagonista e muda significativamente o universo Marvel das telonas.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
Crítica - A Grande Vitória
Tenho que confessar que tenho um
fraco por esses filmes de esportes com histórias de superação, principalmente
aqueles que envolvem artes marciais, já que eu mesmo pratiquei durante muitos e
participei de competições. Por mais que sejam formulaicos, rasteiros e
previsíveis, muitas vezes é difícil que eu não consiga me relacionar com
algumas das experiências dos personagens desse tipo de filme, como falei em meu
texto sobre o ótimo Rush: No Limite da
Emoção (2013). Apesar do viés positivo e da boa vontade, no entanto, devo
dizer que este A Grande Vitória é tão
problemático e equivocado sob tantos aspectos que é realmente muito difícil
achar qualquer coisa apreciável aqui.
A trama conta a história do
atleta Max Trombini (Caio Castro), jovem de família humilde com problemas de agressividade
na infância que é colocado pela mãe no judô e através do esporte, sua vida se
transforma.
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Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
quarta-feira, 12 de março de 2014
Crítica - Alemão
O cinema nacional mais comercial parece ter encontrado vocação para determinados tipos de filmes, como comédias ou biografias, mas outros, como suspense, parecem relegados ao segundo plano, gerando produtos cujos resultados são no mínimo constrangedores como os horrendos Segurança Nacional (2010) e Federal (2006). Claro, ano passado tivemos o excelente O Lobo Atrás da Porta que circulou por várias mostras e festivais, mas o cinema brasileiro ainda está longe de ser um prolífico produtor do gênero e este Alemão não contribui em nada para seu desenvolvimento.
Usando a invasão do Morro do Alemão como pano de fundo, o filme conta a história ficcional (como o letreiro inicial faz questão de apontar) de Samuel (Caio Blat), Branco (Milhem Cortaz), Danilo (Gabriel Braga Nunes) e Carlinhos (Marcelo Melo Jr), policiais do serviço de inteligência que moram infiltrados no morro para coletar informações sobre os traficantes do local para a iminente invasão. Quando suas identidades são expostas a Playboy (Cauã Reymond), o traficante que comanda o morro, eles se refugiam na pizzaria de Doca (Otávio Müller), também um policial infiltrado. Presos lá dentro enquanto os traficantes os procuram, os cinco precisam encontrar um modo de sair do morro antes que a invasão comece para repassarem a inteligência recolhida para a polícia.
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Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
segunda-feira, 10 de março de 2014
Crítica - South Park: The Stick of Truth
A animação South Park não vinha tendo sorte em suas adaptações para
videogames. Os resultados eram normalmente caça-níqueis simplórios que falhavam
em capturar o espírito da série e em suas próprias mecânicas de jogo.
Felizmente, depois de muitos atrasos, a falência da primeira produtora (a THQ),
a passagem para a Ubisoft e mais atrasos, é finalmente possível dizer que este
RPG desenvolvido pela Obsidian é, enfim um produto digno da série animada.
A trama pega o gancho sugerido no
fim do episódio triplo da última temporada Song
of Ass and Fire, que zoava Game of
Thrones, mas ver esses episódios não é essencial para entender o que se
passa aqui. Na história, os garotos estão engajados em uma espécie de LARP (live-action role play), uma variante do
tradicional RPG de mesa no qual os jogadores agem diretamente ao invés de jogar
dados. Divididos entre humanos, liderados por Cartman, e elfos, liderados Kyle,
as duas facções brigam pelo controle do Bastão da Verdade (que é apenas um
galho), cabe então ao jogador, na pele do garoto (ou garota) que acabou de
chegar na cidade, desequilibrar este “épico” conflito. Claro, como de costume
na série, a brincadeira sai do controle e ganha proporções épicas e absurdas
envolvendo abduções alienígenas, gnomos das cuecas, zumbis nazistas, um passeio
pelo ânus do Sr. Escravo e toda sorte de bizarrices que South Park sabe criar tão bem.
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Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
sábado, 8 de março de 2014
Crítica – 300: A Ascensão do Império
O primeiro 300 (2006) era um filme de ação bacana, com um protagonista carismático, uma estética interessante, cenas de ação bem empolgantes e uma história que, apesar de simples, era bem conduzida, redonda e fechada. Assim sendo, foi com muita desconfiança que me aproximei deste 300: A Ascenção do Império, uma espécie de continuação/prelúdio do filme de 2006 já que ao mesmo tempo em que trata de eventos anteriores ao primeiro, também aborda fatos simultâneos e posteriores ao filme de Zack Snyder.
A trama foca no general grego Temístocles (Sullivan Stapleton) que precisa montar as defesas gregas para a vinda dos persas e tenta convencer os espartanos a cederem sua frota naval para que ele possa enfrentar Artemísia (Eva Green), a temível capitã da marinha persa, enquanto que o rei-deus Xerxes (Rodrigo Santoro) avança por terra depois de derrotar Leônidas (Gerard Butler) e seus 300.
A verdade é este filme é praticamente uma repetição do primeiro trocando apenas as batalhas em solo por batalhas ao mar, de resto é praticamente igual. O protagonista percebe a chegada dos persas, tenta pedir ajuda e esta lhe é negada. Sem escolha, reúne um pequeno grupo de soldados para tentar conter os avanços dos persas. Durante a batalha, repele onda após onda de ataque inimigo, surpreendendo seu líder, que pede um intervalo para negociações no qual pede que o herói junte-se a ele. Eu poderia continuar por várias linhas descrevendo com detalhes como este filme é praticamente um plágio do anterior, mas que isso pouco importaria se ele realmente fosse capaz de entreter ou divertir, algo que, infelizmente, não acontece.
O protagonista é meramente um genérico do rei Leônidas desprovido de qualquer personalidade. O ator Sullivan Stapleton até tenta imitar o tom altivo e os urros ríspidos do rei espartano em seus intermináveis discursos sobre liberdade e democracia (temas já abordados no primeiro filme), mas sem qualquer carisma e um texto que não tem as mesmas frases de efeito icônicas e poderosas do filme anterior. O vilão Xerxes até tem sua origem explicada aqui, mas é tudo tão rápido que em questão de poucos minutos ele já se torna o gigante de voz grossa que conhecemos no filme anterior sem que sua jornada nos cause nenhum impacto.
Melhor sorte tem a atriz Eva Green que constrói sua Artemísia como uma mulher violenta, implacável e manipuladora, quase como uma Lady Macbeth sanguinária, que não hesita em fazer o que for preciso para conseguir o que quer, tendo como um de seus pontos altos uma brutal cena de sexo na qual o ato se confunde com uma luta.
As cenas de ação tentam reproduzir os embates sangrentos e exagerados do primeiro filme, mas pesam a mão no uso da câmera lenta e da computação gráfica que gera litros e litros de sangue pouco convincente que jorram a cada golpe desferido. Praticamente cada ataque, cada morte é paralisada e estendida quase ao infinito pelo artificio da câmera lenta e se no primeiro filme isso servia para ressaltar a brutalidade das lutas, aqui parece como um cacoete estilístico vazio que é repetido a até a exaustão tornando-se tedioso e deixando a ação truncada, artificial e sem fluidez, fazendo aquilo que deveria ser empolgante se transformar em um exercício de paciência.
300: A Ascenção do Império é apenas uma repetição vazia e preguiçosa daquilo que o filme anterior nos trouxe. Aqueles ávidos por ver lutas e sangue talvez consigam aproveitar, mas aos demais o filme tem muito pouco a oferecer.
Nota: 4/10
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
Crítica – Tudo Por um Furo
Apesar do péssimo título nacional não deixar claro, este Tudo Por Um Furo é uma continuação da ótima comédia O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy (2004), o que é uma pena já que algumas piadas dependem do conhecimento do primeiro filme para funcionar. Não que seja um produto que não se sustenta por conta própria, mas quem não viu o primeiro filme provavelmente passará batido por certos momentos que fazem graça em cima de eventos ou piadas do filme anterior.
A trama se passa alguns anos depois do primeiro, agora no fim dos anos 70, com Ron Burgundy (Will Ferrell) separado de sua esposa, Veronica (Christina Applegate), depois de ser preterido em uma promoção no trabalho. Agora a única chance do âncora em voltar ao topo é aceitar emprego em um novo canal que irá transmitir apenas notícias 24 horas por dia e, para isso, precisará reunir novamente sua equipe de repórteres formada pelo caipira Champ (David Koechner), o conquistador Brian (Paul Rudd) e o patologicamente estúpido Brick (Steve Carrell). Em seu caminho estará o charmoso repórter Jack (James Marsden) e sua produtora Linda (Meagan Good).
O passar dos anos não mudou muita coisa em Ron e sua turma, eles continuam um bando de sujeitos estúpidos, egocêntricos, imaturos, machistas e preconceituosos. No entanto, diferente de porcarias como Gente Grande 2 ou O Concurso que celebram, endossam e reproduzem uma miríade de estereótipos ofensivos, Tudo Por um Furo não quer nos fazer rir as custas de uma redução preconceituosa e rasteira, mas do ridículo e da burrice daqueles que proferem essas ofensas. Afinal, Ron e seus amigos proferem absurdos homéricos sem sequer perceberem os enormes equívocos que cometem e achando absolutamente normal tudo que dizem. Isso fica bastante claro na hilária cena em que Ron vai jantar na casa de Linda e para tentar “se misturar” com a família negra passa a repetir diversas gírias raciais ofensivas, provocando a ira de todos sem que o estúpido repórter compreenda os motivos da raiva, se considerando uma ótima visita.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
Crítica – Walt nos Bastidores de Mary Poppins
Com tanta reverência em torno de sua figura, é de espantar que Walt Disney até hoje não tenha sido retratado em um filme produzido pelo estúdio com seu nome. Na verdade este Walt nos Bastidores de Mary Poppins é muito mais sobre P. L. Travers, a criadora de Mary Poppins, do que o próprio Disney, mas ainda assim é a primeira vez que um filme aborda eventos da vida do dono do estúdio, trazendo-o como um dos personagens.
A trama acompanha o processo de produção do filme Mary Poppins(1964) e as dificuldades de Walt Disney (Tom Hanks) em convencer Travers (Emma Thompson) a vender os direitos de sua obra para a realização do filme. Altamente protetora, a autora discorda de praticamente tudo que o dono de estúdio lhe propõe para o filme e mesmo com todas as tentativas de Disney, dos roteiristas e compositores, a escritora parece inflexível em ceder a personagem e suas razões vão sendo desnudadas conforme o filme progride.
Os flashbacks da infância de Travers se revelam um recurso bastante irregular do filme. Por um lado temos uma ótima performance de Colin Farrel como o banqueiro pai da escritora e como seu trabalho vai aos poucos dando indícios de sua decadência devido à bebida. Parecendo inicialmente um pai bastante ligado às filhas, brincando e contando histórias, vamos percebendo que seus contos imaginativos são fruto de um escapismo nem um pouco saudável que acaba se transformando em alcoolismo. Por outro lado, muitas vezes os flashbacks são usados apenas para revelar um paralelismo entre a Travers do presente e do passado, tentado demonstrar, de maneira rasteira e óbvia, que por trás de sua rigidez ela continuaria aquela mesma menina triste querendo agradar o pai. Além disso, esses usos despropositados acabam quebrando o ritmo da narrativa.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
Crítica – Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum
A trama é levemente baseada na vida do músico Dave Van Ronk (1936-2002), músico importante do cenário da musica folk de Greenwich Village nos anos 60 de onde saíram artistas famosos como Bob Dylan. O filme acompanha Llewyn Davis (Oscar Isaac) e seus percalços para tentar vencer como músico. Sem dinheiro, Llewyn vive como um eremita dormindo na casa de amigos enquanto espera seu agente mandar material para o famoso empresário Bud Grossman (F. Murray Abraham), que pode fazer sua carreira deslanchar.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
Crítica – 12 Anos de Escravidão
A trama segue a história real de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um homem negro livre que, em 1841, foi sequestrado e vendido como escravo e por doze anos viveu como trabalhador escravo em diversas propriedades dos Estados Unidos. A partir daí o filme irá mostrar não apenas a jornada de Solomon, mas como a escravidão é um construto social aberrante que desumaniza e degrada tanto vítima quanto algoz, permitindo a barbárie e a violência imperem.
Afinal, mesmo um fazendeiro menos impiedoso como Ford (Benedict Cumberbatch) que tenta tratá-los com gentileza ainda os vê como uma propriedade da qual pode dispor como quiser e mesmo todos os confortos que fornece não muda o fato que ainda assim estão todos cativos ali e desprovidos de liberdade, sujeitos aos caprichos de seu senhor e aos arroubos violentos dos capatazes. A naturalização deste comportamento brutal e desumano fica terrivelmente clara no incômodo plano-sequência em que Solomon é mantido preso pelo pescoço em uma corda, debatendo-se em agonia, e todas as pessoas ao seu redor, tanto escravos quanto membros da “casa grande”, seguem com suas atividades sem se importar com o homem às portas da morte que agoniza diante deles. Crianças brincam, mulheres lavam roupa e a esposa de Ford o observa da varanda como se visse um boi a ser abatido e não um ser humano.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
Crítica – Clube de Compras Dallas
Na década de 80 ser diagnosticado com AIDS era praticamente receber uma sentença de morte iminente, pouco se sabia sobre como tratar a doença e muitos medicamentos ainda estavam em fase de testes e traziam em si uma enorme quantidade de contraindicações que poderiam até mesmo acelerar a morte do paciente. Isso sem falar em todo o preconceito que havia em torno dos portadores da doença, devido à falta de conhecimento da população sobre como ela se espalhava. Clube de Compras Dallas trata desse período, quando AIDS ainda era considerada uma doença de gays e as pessoas eram abertamente homofóbicas.
A história é centrada em Ron Woodroof (Mattew McConaughey) um eletricista que leva uma vida desregrada em consumo de álcool, drogas e praticando sexo sem proteção com diversas parceiras. Tudo isso desmorona quando, em 1985, Ron é diagnosticado com AIDS recebendo a notícia de que provavelmente estará morto em um mês. Desesperado, resolve se submeter ao tratamento experimental da droga AZT, que ainda estava sendo testado na época, mas o medicamento apenas o deixa mais debilitado. Assim, Ron segue em busca de outras formas de tratamento e encontra medicamentos aparentemente mais eficazes, mas que são ilegais nos Estados Unidos. Sem outra escolha, Ron começa a traficar os medicamentos para o país e tem a ideia de revendê-los para outras pessoas com a doença, logo o negócio se expande e ele inicia uma parceria com o travesti Rayon (Jared Leto), também soropositivo, para fundar o Clube de Compras Dallas para distribuir medicamentos a soropositivos que pagarem uma taxa mensal.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pesquisador da área de cinema, mas também adora games e quadrinhos.
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