quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Crítica - Grandes Olhos

Análise Grandes Olhos

Review Grandes OlhosConfesso que me aproximei com desconfiança deste Grandes Olhos, já que há pouco mais de uma década o diretor Tim Burton tem trabalhado no piloto automático e praticamente se transformou em uma paródia chata de si mesmo (assim como tem acontecido com Johnny Depp). No entanto, o retorno às biografias parece ter feito bem ao diretor e trouxe uma bem-vinda mudança de ares a um realizador que estava se deixando dominar por seus próprios cacoetes estilísticos. Pode não ser tão bom quanto seu outro esforço biográfico, Ed Wood (1994), ou aquele que considero seu último grande filme, Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (2003), mas é decididamente um sinal de que Burton é capaz de se redefinir enquanto artista e tomar de volta as rédeas de sua carreira.

A trama acompanha a trajetória da pintora Margaret Keane (Amy Adams) que em 1950 vai para São Francisco depois de deixar o esposo. Lá conhece seu futuro marido, o também pintor Walter Keane (Christoph Waltz). Quando as pinturas de Margaret começam a fazer sucesso, seu marido reclama para si a autoria dos quadros e ela, temendo perder a fonte de renda, decide aceitar a mentira e continua pintando enquanto seu marido receba o crédito. Com o tempo a mentira começa a pesar na consciência de Margaret, ao mesmo tempo em que o marido vai se tornando progressivamente mais agressivo na manutenção de sua farsa.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Crítica - A Teoria de Tudo

Análise A Teoria de Tudo

Review A Teoria de TudoO físico Stephen Hawking tem uma história de vida incrível. Não apenas pelo modo como foi capaz de mudar a ciência o modo como pensamos o tempo e o espaço, mas por fazer isso tudo sob o julgo de uma brutal doença degenerativa que provavelmente teria acabado com a motivação de pessoas menos resolutas. No entanto, este A Teoria de Tudo não é exatamente sobre isso, mas sobre a relação do físico com a esposa, Jane, enquanto o resto fica para segundo plano.

A trama acompanha Hawking (Eddie Redmayne) a partir da juventude, enquanto fazia doutorado em Cambridge e conheceu Jane (Felicity Jones). A partir daí vemos a relação dos dois florescer enquanto o físico lida com o descobrimento e agravamento de sua doença. A escolha pelo romance, no entanto, acaba diluindo a força da história de Hawking, já que torna secundário aquilo que havia de mais particular para abraçar uma tradicional história de "boy meets girl" (ou garoto encontra garota, em bom português). Entendo que para tornar atrativo ao grande público que desconhece o físico seria necessário adequar a história a um formato mais familiar, um "filme de gênero".

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Crítica - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo

Análise Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo

Review Foxcatcher: Uma História que Chocou o MundoBaseado na história real de um brutal crime, este Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo, é um intenso estudo sobre rivalidade, ciúme e orgulho que levados às últimas conseqüências destroem as vidas de três homens.

A trama gira em torno de Mark (Channing Tatum), campeão olímpico de luta greco-romana que, apesar dos triunfos, vive com dificuldades financeiras e à sombra do irmão mais velho Dave (Mark Ruffalo), também um lutador e campeão olímpico. Quando Mark é abordado pelo misterioso milionário Frank du Pont (Steve Carell) para treinar em sua fazenda com todo o equipamento e auxílio financeiro que puder dispor, o lutador crê que sua oportunidade finalmente chegou. No entanto, aos poucos vai percebendo que seu benfeitor não é exatamente aquilo que imaginava.

Tatum traz uma certa inocência e um olhar beócio ao ser personagem,  tanto que quando ele senta diante da televisão para assistir um vídeo com a história dos du Pont sua postura é igual à de um criança. Por outro lado também há uma grande medida de ressentimento reprimido por seu irmão no personagem, não apenas por Dave ter um reconhecimento que ele não tem, mas porque ele parece saber que não é capaz de ser tão bom quanto o irmão. Apesar disso, não deixa de nutrir um amor genuíno pelo irmão, a quem vê como uma figura paterna, tanto que por mais de uma vez desconta sua raiva e frustração no próprio corpo ao invés de descontá-la em outros. Assim sendo, é fácil entender como ele se torna presa fácil para alguém como du Pont que sabe exatamente que botões pressionar para trazer Mark para o seu lado.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Crítica - Depois da Chuva


O cinema brasileiro já realizou vários filmes sobre o período da nossa ditadura militar, mas poucos deles abordaram o período da redemocratização pós-ditadura e os desafios que se impunham a um país que precisava rever seus processos políticos e redefinir seu projeto de nação. É justamente neste cenário de tensões e incertezas que o longa baiano Depois da Chuva irá se situar.

A trama acompanha Caio (Pedro Maia) um adolescente que começa a se envolver com política através da tentativa de formar um grêmio em seu colégio, ao mesmo tempo em que se aproxima da colega Fernanda (Sophia Corral).

O principal acerto do filme é conseguir captar muito bem o espírito da época, em como as coisas eram incertas e diferentes propostas e perspectivas ideológicas disputavam espaço e apoio do público para definir os rumos que o país seguiria. Claro, a reconstituição extremamente competente da época retratada, mas isso pouco valeria se o filme não conseguisse nos mergulhar neste universo de modo a compreendermos o que tudo aquilo significava para aqueles personagens.

Crítica - Livre


Algumas vezes precisamos de um tempo só nosso. Precisamos nos afastar daquilo que nos cerca e enfrentar a nós mesmos, nossas angústias, nossos demônios. Algumas coisas ninguém pode nos ajudar a definir e precisamos resolver por conta própria. É justamente sobre esse tipo de jornada de autoconhecimento que trata este Livre, dirigido por Jean-Marc Valée (Clube de Compras Dallas).

A narrativa acompanha a história real de Cheryl (Reese Witherspoon), americana que decidiu percorrer sozinha a Pacific Coast Trail (PCT), uma trilha que atravessa os Estados Unidos de norte a sul. A viagem é motivada por uma série de problemas pessoais e em sua caminhada, precisará refletir sobre seus problemas e superar as dificuldades que a natureza selvagem lhe impõe.

Como está sozinha durante boa parte do filme, é o trabalho de Whiterspoon que carrega o filme, trazendo esta que é sua melhor performance desde Johnny e June (2005). Sua Cheryl é uma mulher perdida, consumida por erros e arrependimentos do passado que impõe a caminhada a si mesma como uma espécie de penitência e a atriz convoca muito bem o sentimento de perdição, dor, raiva e solidão que acometem a personagem. Ao seu lado, temos uma participação pequena, mas significativa de Laura Dern como a mãe de Cheryl, com uma personalidade sempre otimista e expansiva, é fácil entender sua importância na vida da protagonista e porque sua ausência é tão sentida por ela, ao ponto de levá-la à autodestruição.

Crítica - Os Pinguins de Madagascar


Os pinguins eram possivelmente os personagens mais legais do primeiro Madagascar (2005) e suas continuações, então era questão de tempo até que ganhassem seu próprio longa-metragem. O problema em transformar coadjuvantes em protagonistas é que muitas vezes não há uma história que valha a pena ser contada somente com esses personagens. Embora sofra desse mal, no entanto, o filme ainda consegue divertir pelo carisma dos personagens.

Na trama, o quarteto de pinguins Capitão, Kowalski, Rico e Recruta caem na mira do maligno polvo Dave, que quer se vingar do grupo (e de todos os pinguins) por terem feito as pessoas do zoológico se esquecerem dele. Para deter o vilão terão a ajuda da Vento Norte, a agência secreta dos animais que é liderada pelo cão Secreto.

A trama é bobinha, bastante simples e também previsível, é possível prever cada movimento e reviravolta da história a quilômetros de distância, bem como as batidas lições de moral sobre como cada um tem seu valor e a importância de saber lidar com diferenças.

Crítica - Invencível


Baseado na história real do velocista Lou Zamperini este Invencível dirigido por Angelina Jolie é mais uma história de superação e de triunfo do espírito humano sobre todas as dificuldades. É uma história poderosa, mas lamentavelmente sabotada por uma condução que, apesar de bem intencionada, parece mais preocupada em arrancar lágrimas pelo sofrimento do protagonista do que efetivamente construir um retrato interessante do personagem.

O filme acompanha a história de Zamperini (Jack O'Connell) velocista que serviu durante a Segunda Guerra Mundial em um avião bombardeiro. Quando o avião é abatido, Zamperini e dois companheiros passam semanas à deriva no oceano em um bote salva-vidas. Como se isso não fosse o bastante, eles são resgatados por um navio japonês que os prende, fazendo-os passar o resto da guerra em um campo de prisioneiros.

O principal problema é o retrato raso que o filme faz de seu protagonista. Desde as primeiras cenas da sua infância o filme vai estabelecendo-o como mártir em potencial em uma profusão de diálogos que falam sobre a importância de sobreviver sob condições ruins e como Lou é capaz de suportar qualquer coisa. Daí para frente o filme se acomoda em fazer apenas isso, nos mostrar o calvário do personagem enquanto ele sofre todo tipo de violência e humilhação. É como se o filme apontasse sua câmera e nos dissesse "olhe lá, ele está sofrendo, se emocione", mas fica difícil se engajar quando tudo que temos diante de nós é pedaço de carne sem personalidade. Jolie consegue muito bem capturar seu sofrimento, mas nunca penetra em seu íntimo

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Crítica - Whiplash: Em Busca da Perfeição

Análise  Whiplash: Em Busca da Perfeição

Review  Whiplash: Em Busca da PerfeiçãoMais do que um filme sobre virtuosismo artístico ou busca pelo sucesso, este Whiplash: Em Busca da Perfeição traz um debate sobre que tipo de formação nossa sociedade está oferecendo e qual é o verdadeiro preço da excelência.

A trama gira em torno de Andrew (Miles Teller), um jovem baterista que entra para um prestigioso conservatório em Nova Iorque em uma obstinada busca por ser um excelente músico. Para isso, se aproxima daquele que considera o melhor do local, o veterano maestro Terence Fletcher (J. K. Simmons), cujo método de ensino consiste de uma constante guerra psicológica. Suas ações são brutais e incansáveis, passando de qualquer limite do que é são ou aceitável, mas possivelmente também os leva para além de suas limitações.

O filme nos apresenta uma aterradora relação professor/aluno que poderia ser facilmente descrita como "Nascido Para Matar no conservatório". A técnica de Fletcher é implácavel colocando os músicos em constantes disputas entre si enquanto o professor exige mais e mais de suas performances, ofendendo-os, agredindo-os até que tenham literalmente derramado sangue, suor e lágrimas sobre suas baterias e, ainda assim, Fletcher quer mais.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Crítica - Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba


O primeiro Uma Noite no Museu (2006) era, na melhor das hipóteses, um passatempo descartável, mas não tinha nada realmente digno de nota. Apesar disso, conseguiu faturar uma continuação, que era apenas uma repetição expandida do primeiro filme. De um modo ainda mais incompreensível chegamos a este terceiro filme que é basicamente o total esgotamento da fórmula iniciada no primeiro.

No filme, Larry (Ben Stiller) percebe que há algo errado com a relíquia que dá vida aos objetos do museu. Para salvar todos, ele precisa levar o príncipe Ahkmenrah (Rami Malek) e sua relíquia para o Museu Britânico, onde estão expostas as múmias de seus pais, os únicos que conhecem seus mistérios. Em meio a tudo isso, Larry precisa se reaproximar do filho (de novo), já que ele não parece estar disposto a entrar para uma faculdade.

Tentar preencher os 97 minutos de filme com apenas este fiapo de trama é talvez o problema principal do filme, já que tudo segue um ritmo morno, sem energia ou criatividade, faltando o clima de aventura dos outros dois. Os personagens são todos os mesmos dos dois filmes anteriores e repetem as mesmas piadas, o que parece uma decisão pra lá de preguiçosa se levarmos em consideração a mudança de cenário.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Crítica - Êxodo: Deuses e Reis


A história bíblica de Moisés e a fuga dos escravos hebreus do Egito já foi tema de vários filmes como Os Dez Mandamentos (1956) ou a animação O Príncipe do Egito (1998), agora o diretor Ridley Scott resolve apresentar a sua versão com este Êxodo: Deuses e Reis.

O filme começa com Moisés (Christian Bale) já adulto e um dos generais do faraó Seti (John Turturro) ao lado do irmão de criação e herdeiro do trono Ramsés (Joel Edgerton). Quando vai investigar o início de uma insurgência de escravos hebreus encontra o ancião Nun (Ben Kingsley) e descobre a verdade de sua origem. A revelação o faz ser exilado por Ramsés e em seu exílio encontra com Deus, apresentado aqui pela figura de um garoto chamado Malak (Isaac Andrews). Respondendo ao chamado divino, Moisés retorna para libertar seu povo.

Christian Bale traz aqui sua habitual competência como Moisés, apresentando-o como um homem cheio de dúvidas e incertezas que constantemente questiona sua fé e até mesmo os desígnios divinos. Seu Moisés não é um fanático religioso, tampouco um herói estóico e passivo que espera ordens divinas, mas um homem falho, que caminha entre a fé e a razão, dividido entre suas obrigações com a família e as com seu povo. Embora seu percurso seja o de uma tradicional jornada de herói, ao construí-lo como um homem complexo e cheio de contradições se torna mais fácil se relacionar com o personagem.