quarta-feira, 15 de abril de 2015

Crítica - Frank


Confesso que me aproximei com cautela deste Frank. A estranha premissa conseguiu atiçar minha curiosidade, no entanto temia que a ideia terminasse diluída e resultasse em um "filme de uma piada só" ou então que o resultado fosse um desses filmes indie que é esquisito apenas por ser esquisito e tratasse os personagens como tipos engraçadinhos e bonitinhos, ignorando seus problemas sob um olhar condescendente. Felizmente Frank evita ambos problemas e o resultado é um filme com um ritmo singular que consegue equilibrar risos e tristeza em igual medida, além de levantar reflexões interessantes sobre arte, o mundo da música e problemas mentais.

A narrativa segue o Jon (Domhnall Gleeson), um jovem aspirante a músico que por acaso encontra a banda indie Soronprfbs (isso não é um erro de digitação, o nome é esse mesmo). A banda é composta por um grupo de esquisitos liderados pelo ainda mais esquisito Frank (Michael Fassbender), um homem que passa todo tempo vestindo uma enorme cabeça de papel machê. Apesar do primeiro show junto com a banda não dar certo, Jon é posteriormente chamado para se juntar a eles enquanto eles se preparam para gravar um novo disco e assim o jovem vai com eles morar em uma cabana no interior. 

Crítica - O Dançarino do Deserto

Análise  O Dançarino do Deserto

Review O Dançarino do DesertoHollywood parece realmente interessada em denunciar os excessos do atual governo do Irã, em especial dos problemas que emergiram após a última eleição presidencial. Depois de 118 Dias, que estreou mês passado, agora este O Dançarino do Deserto vem falar dos excessos cometidos pelo governo durante os protestos sobre a reeleição de Ahmadinejad. Claro, os Estados Unidos certamente tem razões bem particulares para denunciar os excessos deste governo, no entanto, não tira a importância que é trazer essas violações à luz.

Aqui acompanhamos a história de Afshin Ghaffarian (Reece Ritchie) um jovem iraniano que desde pequeno exibia uma paixão pela dança. Contrariando as normas vigentes que consideram a dança um ato de imoralidade ele cria uma companhia de dança clandestina com colegas de faculdade. Conforme as tensões aumentam por causa das eleições presidenciais, sua companhia passa a ficar sob os olhos das autoridades, colocando as vidas de todos em risco.

Crítica - Chappie

Análise Crítica - Chappie

Review - ChappieO diretor sul-africano Neill Blomkamp chamou a atenção de todos com sua ótima alegoria para o preconceito e segregação racial em Distrito 9 (2009), seu filme seguinte, Elysium (2013) dividiu opiniões, embora eu o considere satisfatório. Este Chappie, no entanto, representa um grande deslize do diretor já que não consegue funcionar nem como um drama existencial nem como filme de ação.

A trama se passa na África do Sul em um futuro próximo no qual a força policial foi substituída por robôs. O criador desses robôs, o cientista Deon Wilson (Dev Patel) está convencido que pode ser capaz de criar um autômato dotado de livre-arbítrio, uma inteligência artificial genuína, capaz de aprender e pensar por conta própria. Sua chefe, a executiva Bradley (Sigourney Weaver), não acha a ideia viável e o engenheiro Vincent (Hugh Jackman com um mullet digno do MacGyver) vê o trabalho de Deon como uma ameaça ao protótipo bélico que tenta aprovar. Ignorando as ordens dos superiores, Deon cria o robô assim mesmo e tudo se complica quando ele é sequestrado e obrigado a deixar sua criação com um grupo de bandidos que desejam usar Chappie (Sharlto Copley) para cometer crimes. 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Crítica - Cada Um Na Sua Casa


A amizade entre uma criança e uma adorável criatura na qual ambos aprendem valiosas lições de vida não é uma premissa exatamente original, mas é uma ideia que o cinema ocasionalmente resgata e este Cada Um Na Sua Casa recicla mais uma vez.
 
A trama acompanha Oh (Jim Parsons) um alienígena da atrapalhada raça Boov, que invade a Terra para se esconder de uma temível ameaça. Os problemas começam quando Oh sem querer transmite a localização dos Boov para seus inimigos e para evitar uma catástrofe precisará da ajuda  de Tip (Rihanna) uma garota que tenta reencontrar a mãe depois de separadas durante a invasão.
 
A trama é simples, mas falta um senso real de perigo ou urgência já que se trata de uma corrida para salvar o mundo. Eu sei que é um filme infantil e que as coisas não podem ficar sérias demais, mas animações como Os Incríveis (2004) mostram que é perfeitamente possível fazer o público ter uma noção palpável de perigo sem que tudo se torne pesado demais para os pequenos. Além disso algumas coisas soam um pouco forçadas, como o modo que Oh transmite a mensagem para os inimigos (afinal que dispositivo manda mensagens para um número ilimitado de usuários e tem uma área de efeito ilimitada) ou reviravolta perto do fim que praticamente invalida a jornada da dupla, já que os inimigos os localizariam na Terra de qualquer jeito. A explicação do porque os Boovs eram perseguidos soa incoerente, se o motivo de tudo era a recuperação de um determinado item, então como as duas raças sentaram para a negociação de paz que permitiu ao líder Boov obter o dito item? O livro que inspirou a animação deve preencher algumas dessas lacunas, mas uma adaptação deve se sustentar por conta própria.

sábado, 4 de abril de 2015

Crítica - Vício Inerente

Análise Vício Inerente

Review Vício InerenteAntes de mais nada preciso dizer o quanto sou fã do diretor Paul Thomas Anderson, alguns de seus filmes como Magnólia (1999), Sangue Negro (2007) e O Mestre figuram fáceis entre os meus favoritos de todos os tempos. Então é sempre com muita expectativa que entro para conferir um novo trabalho seu e com este Vício Inerente não foi diferente.

Baseada no romance homônimo de Thomas Pynchon, a trama se passa nos anos 70 acompanha o detetive particular Larry "Doc" Sportello (Joaquin Phoenix fazendo um ótimo cosplay de Wolverine), um hippie que passa boa parte do seu tempo usando drogas, que é abordado pela ex-namorada Shasta (Katherine Waterston) a investigar o desaparecimento de seu amante, o barão imobiliário Michael Wolfmann (Eric Roberts), que pode ter sido vítima de um golpe de sua ciumenta esposa.

Temos aqui vários ingredientes de um típico film noir: um detetive, uma personagem feminina que pode ser aliada ou inimiga, policiais durões e um crime aparentemente banal que esconde uma conspiração muito maior. No entanto este não é um filme típico, mas algo que eu chamaria de "noir para maconheiros". Sportello não é um investigador inteligente, perspicaz ou mesmo safo, ele é um sujeito em constante estado de estupor, confuso, com pensamentos bagunçados e que tem dificuldade em se manter coerente e seu percurso é tão rocambolesco como sua própria cabeça.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Crítica - O Ano Mais Violento

Análise O Ano Mais Violento

ReviewEste O Ano Mais Violento é basicamente um filme de máfia sem os elementos que normalmente se espera de um filme de máfia. É um testamento à confiança e talento de um cineasta quando ele resolve tratar algo que já foi tão reproduzido e ao invés de confortavelmente embarcar nas convenções dos gêneros ou subgêneros com os quais está trabalhando, resolve seguir uma lógica própria que se conforma com o universo e personagens que se quer desenvolver e não com expectativas e relações extra-textuais pré-fabricadas. Digo isso porque aqueles que entrarem para ver este filme esperando apenas um "filme de máfia" estarão cometendo um erro tão grande quanto as pessoas que foram assistir Amantes Eternos (2014), de Jim Jarmusch,  esperando apenas um "filme de vampiro". Se, no entanto, conseguir abandonar noções pré-concebidas e se deixar levar pelo que J.C Chandor quer fazer aqui, certamente irá aproveitar este relato soturno e melancólico de um homem que tenta não agir como um criminoso.

A trama se passa no inverno de Nova Iorque em 1981, estatisticamente um dos anos de maior criminalidade da cidade. A história segue o imigrante Abel (Oscar Isaac) que tenta expandir seu negócio de óleo, mas uma disputa de território entre outros distribuidores, bem como um indiciamento de um promotor (David Oyelowo) que parece focado apenas em Abel e problemas com sindicatos parecem se colocar no caminho do empresário.

Crítica - Velozes e Furiosos 7


Faz algum tempo que a franquia Velozes e Furiosos se afastou do tema dos rachas de rua, mas com esta sétima entrada a franquia também se afasta de fazer filmes sobre seres humanos. Sim, porque os heróis e vilões deste filme são deuses indestrutíveis capazes de sobreviver a qualquer coisa, não importa o quão grave, apenas com alguns arranhões ou até mesmo sem consequência alguma, resultando no primeiro exemplar da franquia que poderia ser enquadrado enquanto filme de super-herói. Não digo isso enquanto forma de desmerecê-lo, pelo contrário, é justamente esse senso de ridículo que torna o filme tão divertido, todos tem plena consciência de que se trata de algo exagerado e absurdo, cujo único objetivo é nos entreter com essas aventuras cartunescas.

A história começa imediatamente após o fim do filme anterior com o perigoso Deckard Shaw (Jason Statham) iniciando sua vingança contra a equipe de Dom (Vin Diesel) depois do que fizeram com seu irmão Owen (Luke Evans). Para lidar com esta nova ameaça, precisarão da ajuda do misterioso Sr. Ninguém (Kurt Russell) que irá colocá-los em uma missão para recuperar um poderoso software de vigilância que pode ajudar a localizar Shaw.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Crítica - Cinderela

Análise Crítica - Cinderela

Review - CinderelaSeja por falta de ideias ou pela certeza de retorno financeiro, a Disney tem investido bastante em novas adaptações de contos de fadas e histórias famosas, muitas delas já adaptadas anteriormente em animações, com resultados que vão do minimamente aceitável, como Oz: Mágico e Poderoso (2013), ao completamente execrável, como o Alice no País das Maravilhas (2010) cometido por Tim Burton. Felizmente este Cinderela se destaca acima dos demais e é certamente o melhor desse ciclo recente de novas adaptações.

A trama tentar se manter fiel ao conto com a jovem Ella (Lily James) sendo explorada por sua madrasta, Lady Tremaine (Cate Blanchett), e suas duas meio-irmãs, mas apesar dos abusos mantém sua personalidade gentil e bondosa. Sua sorte parece mudar quando o príncipe Kit (Richard Madden) anuncia um baile para todo o reino.No entanto, Ella precisará de ajuda se quiser ir ao baile.

O filme investe em uma atmosfera fantástica desde o uso de uma paleta cheia de cores saturadas, passando pelo design dos castelos e paisagens que conferem uma natureza onírica aos ambientes e figurinos. Ainda assim é louvável o esforço do diretor Kenneth Branagh em fazer o máximo possível com cenários e ambientes físicos deixando a computação gráfica preencher apenas aquilo que seria impossível realizar. Os efeitos digitais em geral conseguem convencer, em especial com os ratos que acompanham a protagonista. Assim, há uma constante sensação de encantamento diante de tudo que acontece, inclusive diante da esperada cena com a Fada Madrinha (Helena Bonham Carter), e o fato de conseguirmos nos deslumbrar com esta história mesmo já sabendo o que acontece é uma evidência do senso de espetáculo preciso que a obra possui.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Crítica - Ponte Aérea


Manter um relacionamento não é uma tarefa simples, requer diálogo, atenção e paciência constantes e se já é difícil fazer tudo isso estando próximo um do outro, tudo pode se complicar quando se está a cidades de distância e é exatamente esse tipo de complicação que veremos neste Ponte Aérea.

A trama acompanha o casal Amanda (Letícia Colin) e Bruno (Caio Blat) que se conhecem por acaso quando um voo atrasa. O problema é que vivem em cidades diferentes, ele no Rio de Janeiro e ela em São Paulo e a distância, bem como suas personalidades opostas parecem dificultar a consolidação do relacionamento.

O filme brinca com a velha rivalidade entre Rio e São Paulo, mas não vai muito além de estereótipos regionais, ele é um carioca relaxado e sem grandes ambições que vai levando a vida sem grandes preocupações, ela é uma paulista agitada e constantemente estressada, além de obcecada pelo sucesso profissional. No entanto, ao invés de estimular a rivalidade, o filme tenta conciliar as coisas demonstrando como cada cidade tem seu charme. A fotografia ajuda a estabelecer as oposições entre as duas cidades, enquanto o Rio é uma cidade mais colorida, repleta de espaços abertos e paisagens naturais, São Paulo apresenta uma paisagem urbana tomada por prédios altos, marcada pelas superfícies de concreto e vidro e uma paleta de cores mais frias e menos saturadas, mas que ainda assim consegue achar alguma beleza nessa selva de pedra, sem fazê-la soar opressiva.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Crítica - O Sétimo Filho

Análise Crítica - O Sétimo Filho

Review - O Sétimo Filho
Um filme que tem Jeff Bridges como um cavaleiro alcoólatra e Julianne Moore como uma bruxa que vira dragão deveria ser ao menos divertido, certo? Infelizmente nem os dois carismáticos e veteranos atores conseguem salvar este O Sétimo Filho de ser um moroso festival de clichês.

O filme nos coloca para acompanhar o jovem fazendeiro Tom (Ben Barnes), o sétimo filho de um sétimo filho, que é recrutado pelo caça-feitiços Gregory (Jeff Bridges), o último remanescente de uma ordem devotada a combater o mal. Aparentemente os sétimos filhos tem capacidades acima das de um homem comum, embora o filme nunca explique isso, mas, vamos fingir que isso faz algum sentido, já que nem chega a ser um problema. Juntos eles precisam combater Malkin (Julianne Moore) uma poderosa bruxa que escapou de seu confinamento e está juntando as mais poderosas criaturas sobrenaturais para dominar o mundo durante a duração de um fenômeno que deixa a lua vermelha e amplia seus poderes sombrios.