segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Crítica - Beasts of No Nation


 
Vou ser direto, Beasts of No Nation, longa-metragem original do Netflix, é um filme desagradável. Não que seja um filme ruim, longe disso, mas ele trata de algumas verdades brutais sobre nosso mundo e sobre eventos que, apesar de encenados, reproduzem com incômodo realismo a trajetória tacanha das crianças soldado em nações africanas. Não é algo fácil de digerir, não é agradável acompanhar essa história de violência e desesperança, mas não havia outro modo de falar a respeito disso senão por o dedo na ferida e fazê-la sangrar, se o filme não nos incomodasse, se não nos tirasse de nossa zona de conforto, não estaria fazendo direito o seu trabalho e se nada nesse filme de incomodar, te chocar ou te deixar agoniado, diria que você tem sérios problemas de empatia e deve procurar rápido um profissional de saúde mental.

Baseado no romance homônimo de Uzodinma Iweala, a narrativa acompanha Agu (Abraham Attah), um garoto que vê sua vila ser invadida depois que uma guerra civil explode em seu país. Quando todos ao seu redor são mortos, Agu foge da vila, mas é encontrado por um comando da facção rival e seu Comandante (Idris Elba) o obriga a se tornar um soldado. A partir daí acompanhamos como essa criança vai aos poucos sendo transformada em um sanguinário soldado.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Crítica - The Witcher 3: Hearts of Stone


A prática do DLC se tornou hoje praticamente obrigatória para quase todos os jogos blockbusters lançados. A questão é que na maioria das vezes não passam caça-níqueis que apenas repetem as mesmas coisas do game principal, não acrescentando nada à narrativa ou à jogabilidade, ou são tão breves que nem valem o custo. Este Hearts of Stone, primeiro DLC pago de The Witcher 3: Wild Hunt (antes disso foram liberados 16 pequenos DLCs gratuitos) não é nenhuma dessas coisas e mantêm o alto nível de qualidade e a promessa feita pela desenvolvedora CD Projekt Red de que os DLCs pagos do game (há mais um previsto para fevereiro) realmente valeriam a pena.

A narrativa se passa durante os eventos da campanha original e é um dos pontos fortes da expansão e coloca Geralt de Rívia em confronto com o intrigante Olgierd von Everec. Não quero estragar muito da história aqui, mas é um hábil conto sobre oportunidades perdidas, a ilusão de livre arbítrio e uma série de outras coisas, sendo simultaneamente um romance, uma história de terror e um estudo de personagem. Além de von Everec, somos introduzidos a outros personagens igualmente bem construídos como o misterioso Gaunter O'Dimm e o reencontro com a médica Shani, que apareceu no primeiro game da série.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Crítica - Operações Especiais



Quando entrei na sala de cinema para conferir este Operações Especiais temi que fosse algo não vergonhoso quanto o terrível Federal (2010). A verdade é que não chega a ser tão ruim, no entanto, tem problemas demais para funcionar bem como deveria.

A trama acompanha Francis (Cleo Pires), uma recepcionista que decide entrar para a polícia civil depois de presenciar um assalto no hotel em que trabalha. A vida de policial, no entanto, não é tão fácil quanto ela imagina, já que é mandada para uma cidade no interior do Rio de Janeiro na busca de traficantes que fugiram da capital depois da ocupação das favelas. Lá terá de lidar com as próprias inseguranças, com o machismo de seus colegas de trabalho e, claro com a criminalidade do local.

O filme acerta nas cenas de ação que são muito bem filmadas e com uma abordagem bastante realista de como a polícia procede durante tiroteios e mesmo em meio ao caos ou em velozes perseguições cheias de cortes e com a câmera em constante movimento nunca perdemos a sensação de espacialidade da cena e sempre temos clareza do que está acontecendo. No início do filme, quando Francis ainda está tensa e insegura de sua posição a câmera está sempre próxima do seu rosto, dando uma sensação de confinamento e de que ela está acuada, nos colocando no estado mental da personagem.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Crítica - A Colina Escarlate


Análise A Colina Escarlate

Review Crimson PeakDepois do divertido filme de robôs gigantes Círculo de Fogo (2013), o diretor Guillermo Del Toro retorna ao universo do sobrenatural que já tinha abordado em filmes como A Espinha do Diabo (2001) e O Labirinto do Fauno (2006) com este A Colina Escarlate.

A trama se passa no início do século XX e acompanha a jovem aspirante a escritora Edith (Mia Wasikowska) que desde criança é assombrada pelo fantasma de sua mãe morta que lhe alerta para o perigo da "colina escarlate". Quando seu pai morre sob circunstâncias misteriosas, ela decide se casar com o carismático, mas à beira da falência, nobre britânico Thomas Sharpe (Tom Hiddleston) e se muda com ele para sua propriedade na Inglaterra. Lá ela usará sua herança para tentar ajudar o marido e sua irmã, Lucille (Jessica Chastain), a reconstruírem o negócio da família que consiste em minerar uma resistente argila vermelha das terras da família. No entanto, conforme o tempo passa, eventos estranhos começam a acontecer na decrépita mansão da família e Edith começa a desconfiar que o marido e a irmã provavelmente guardam segredos bastante sombrios.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Crítica - Transformers: Devastation



Apesar de gostar dos dois games dos Transformers desenvolvidos pela High Moon Studios (War for Cybertron e Fall of Cybertron), me incomodava o foco praticamente exclusivo no combate à distância, já que os jogos seguiam o modelo de tiro em terceira pessoa. Pra mim uma das possibilidades mais legais de se ter um universo de robôs gigantes que mudam de forma é justamente vê-los saindo na porrada e esses jogos meio que me negavam isso, dando apenas um pouco efetivo golpe corporal para cada personagem. Meus desejos de pancadaria robótica desenfreada, no entanto, foram atendidos por este ótimo Transformers: Devastation, jogo desenvolvido pela Platinum Games (Bayonetta, Metal Gear Rising: Revengeance), que além de tudo faz uma afetuosa homenagem à animação original (também conhecida como G1).

A trama é básica, Megatron e seus Decepticons encontram um antigo artefato de Cybertron capaz de "ciberformar" nosso planeta, cabe aos Autobots liderados por Optimus Prime deter o vilão e salvar o mundo. Depois de uma fase inicial que te obriga a alternar entre os personagens, o jogador fica livre para escolher entre Optimus, Bumblebee e Sideswipe, conforme avançamos também é possível habilitar Wheeljack e o dinobot Grimlock.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Crítica - Peter Pan


 
Ultimamente Hollywood tem se esforçado para transformar praticamente qualquer coisa em franquia cinematográfica, criar um grande universo que possa ser explorado e construído ao longo de vários filmes e produtos derivados, criando marcas que se tornem garantias de retorno financeiro. O problema, como apontei em meu texto sobre Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, é que nem todo material se presta a dar origem a um universo expansível ou ofereça base para que tome ampla liberdade com seus personagens sem que eles percam a essência que os torna tão interessantes.

Filmes como Malévola (2014) ou Hannibal: A Origem do Mal (2007), já mostraram que tentar retornar à origem de personagens muito icônicos muitas vezes acaba enfraquecendo esses personagens (como na origem de Hannibal Lecter) ou lhes retira suas características fundamentais ao ponto de não sermos mais capazes de ver ali aquele personagem que tanto adorávamos (como em Malévola) e o que resta é apenas alguém com o mesmo nome e muito parecido com ele em uma narrativa genérica que podia ser feita em qualquer universo com qualquer personagem. Este Peter Pan lamentavelmente cai na segunda categoria.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Crítica - A Travessia

Análise Crítica - A Travessia
Review - A Travessia
Quando falei sobre Evereste mencionei que uma das coisas que me incomodou no filme era que ele parecia se esforçar pouco para nos fazer compreender o que movia aqueles personagens a tentar tal façanha e isso prejudicava nosso engajamento com eles. Este A Travessia felizmente não padece do mesmo mal e ao longo das duas horas de projeção conseguimos claramente entender as razões para o equilibrista Philippe Petit (Joseph Gordon-Levitt) ficar fascinado em realizar seu número entre as torres do World Trade Center. Claro, é uma construção mais pautada em níveis emotivos e sensoriais, mas, sejamos sinceros, explicar em termos lógicos de modo convincente porque alguém quereria se pendurar em uma corda bamba no alto de um arranha-céu seria uma tarefa bastante ingrata.

Baseado na autobiografia de Petit (que também inspirou o documentário vencedor do Oscar Man on Wire), o filme conta seus primeiros dias como artista de rua até o momento em que fez sua histórica performance no World Trade Center. É uma tradicional história de superação, da luta de um homem para superar os obstáculos em busca de um sonho, algo que o diretor Robert Zemeckis já fez muito bem em Forrest Gump (1994), mas também tem elementos de um filme de roubo (ou heist movie) com os personagens montando a equipe para o "golpe", a invasão às torres para armar os cabos,  planejando, e então lidando com os imprevistos que aparecem.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Crítica - Horas de Desespero

Análise Horas de Desespero

Review Horas de Desespero
O título nacional deste Horas de Desespero (No Escape no original) dá a impressão de ser um daqueles "filmes B" de suspense que são repetidos à exaustão nas madrugadas de sábado no Super Cine da Globo e, bem, é exatamente isso.

No filme acompanhamos o engenheiro Jack (Owen Wilson) é transferido de seu trabalho para um novo cargo na Ásia e leva a família junto. Chegando lá, além de precisarem lidar com a mudança, a família é pega de surpresa quando um golpe de estado explode no país e o hotel em que eles estão é tomado por revolucionários que começam a executar todos os presentes. Assim, começam uma corrida desesperada não apenas para fugirem do hotel, mas para saírem do país.

A primeira coisa que salta aos olhos é modo como tal país é representado, primeiro porque nunca é especificado se estamos na Indonésia, Camboja, Laos, Tailândia ou qualquer outro país da região, provavelmente porque os realizadores acharam que era tudo igual e não fazia diferença (e também para não despertar reações negativas de nenhum desses países, já que certamente visam a distribuição internacional). Além disso, durante a primeira meia hora o filme irá fazer questão de mostrar quanto o país é atrasado, pouco desenvolvido e sua população é composta por um bando de primitivos incultos que são atrasados até nas suas referências culturais ao mundo ocidental, como o motorista que é fã de Kenny Rogers.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Crítica - A Possessão do Mal


E lá vamos nós para mais um terror barato (financeira e artisticamente) ao estilo found footage que traz tudo aquilo que todos os outros filmes nesse estilo fazem ao ponto de serem quase indistinguíveis e basicamente tudo que eu tinha falado sobre o péssimo A Forca vale também para este A Possessão do Mal ao ponto em que eu pensei em simplesmente dar um "copiar e colar" no texto e apenas mudar o nome do filme. Mas como não sou adepto do autoplágio (ou qualquer tipo de plágio para falar a verdade) e verdadeiramente creio que o esforço analítico de uma obra fílmica sempre pode acrescentar algo ao nosso entendimento da arte, da vida ou de nós mesmos, então vamos pensar um pouco a respeito desse filme e ver o que sai.

O filme acompanha o documentarista Michael King (Shane Johnson), um homem que acabou de perder a esposa e resolve fazer um filme para provar que não existe nenhum tipo de ocorrência sobrenatural. A filmagem é motivada pelo fato de que ele deveria ter viajado com a esposa no período em que ela foi acidentalmente atropelada, mas ela se recusou devido ao conselho de uma cartomante, então o marido culpa a tal charlatã e decide mostrar que não há nada de sobrenatural no mundo. Para tal resolve a se sujeitar a todo e qualquer ritual de magia negra, conjuração demoníaca, necromancia, enfim, qualquer coisa que pareça terrível.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Crítica - Perdido em Marte


Análise Perdido em Marte

Review Perdido em MarteO último filme realmente bom de Ridley Scott tinha sido O Gângster (2007) e de lá para cá entregou resultados irregulares em filmes como Prometheus (2012) e Êxodo: Deuses e Reis (2014), mas com este Perdido em Marte, Scott volta a demonstrar que ainda é capaz de produzir grandes obras.

Baseado no romance de Andy Weir, o filme acompanha Mark (Matt Damon), um astronauta que é acidentalmente abandonado em Marte quando sua equipe evacua o planeta durante uma violenta tempestade. Sem capacidade de comunicação com a Terra ou com sua equipe e com um estoque limitado de comida e água, Mark encontra um modo de se manter vivo neste ambiente inóspito e precisa descobrir um meio  de contatar a NASA para que saibam que ainda está vivo.

É interessante como o filme consegue criar uma atmosfera constante de perigo e incerteza acerca do destino do personagem sem precisar criar grandes situações ou um clímax atrás do outro. O roteiro tem consciência que o próprio isolamento e o ambiente inóspito do planeta Marte são obstáculos suficientemente severos para a sobrevivência de qualquer ser humano.