terça-feira, 24 de novembro de 2015

Crítica - Chico: Artista Brasileiro


O documentário biográfico sobre personalidades da música já virou uma espécie de filão comercial da produção documental brasileira, já foram feitos filmes sobre os Novos Baianos, Tom Jobim, Ney Matogrosso e tantos outros, então não seria diferente com Chico Buarque.
Dirigido por Miguel Faria Jr (que já tinha comandado uma produção sobre Vinícius de Moraes), o documentário faz um retrato de Chico Buarque construído basicamente pelo próprio Chico. Claro, o diretor se faz presente através da montagem, da seleção de vídeos e fotos de arquivo e da escolha de artistas que cantam algumas das músicas de Chico, mas a principal fonte de informação do longa é o próprio cantor e dada a personalidade carismática e articulada do artista, é fácil entender o motivo de deixá-lo em cena o maior tempo possível. Nesse sentido, chega a ser curiosa a ausência do quase onipresente Nelson Motta, constantemente consultado em produções do gênero e cuja presença já estava se tornando um clichê aborrecido e criando um perigoso monopólio sobre a construção da nossa historiografia musical.

Chico fala de si, de sua complicada relação com o pai, da busca por um desconhecido irmão na Alemanha, do labor na composição de suas músicas e romances, dos motivos da "lenda" de sua aversão aos palcos ou das estratégias para evitar a censura de seus trabalhos. Sua fala é calma e vai tateando com cuidado pelos eventos relatados, demonstrando o vasto repertório cultural do artista. Além de reconstruir a própria história, Chico também relata partes da história do Brasil e evita cair em construções simplórias ou frases feitas, como o momento em que trata da censura e do regime militar e lembra que este governo não foi algo imposto à força por um pequeno grupo de pessoas, mas algo que teve apoio de parcela significativa da população e cujas ações refletiam ideias e valores daqueles que apoiaram a ascensão do regime.

Do mesmo modo é bastante ponderado ao tratar do surgimento dos vários gêneros musicais popularescos, rejeitando a noção de que são produtos pobres, bregas ou que subtraem nossa riqueza cultural. Na verdade, Chico vai no caminho contrário, reconhecendo que são gêneros que dialogam com as experiências e visões de mundo de várias camadas da sociedade que durante muito tempo não eram ouvidos ou não tinham espaço da indústria fonográfica, entendendo que são sim manifestações culturais importantes e autênticas, cuja pluralidade apenas nos enriquece, ao contrário de muitos jornalistas do meio que vira e mexe lamentam como esses formatos de nicho mais popular "empobrecem" a agenda cultural brasileira.

As fotos e vídeos de arquivo remontam a repercussão de sua obra, como também encontros e momentos marcantes da vida do músico, relembrando também algumas de suas apresentações mais icônicas, como sua performance de Roda Viva em um festival de música. É também permeado por vários números com músicos como Ney Matogrosso, Péricles, Adriana Calcanhoto, Mart'nália e Milton Nascimento interpretam canções famosas de Chico, demonstrando todo o alcance, força e capacidade expressiva de sua obra musical.

Assim sendo, Chico: Artista Brasileiro traça um panorama bastante competente do legado cultural de Chico Buarque e nos aproxima do olhar do artista ao permitir que ele nos conte a própria história. È verdade que evita abordar momentos mais polêmicos ou muito íntimos de sua vida, mas ainda assim consegue nos lembrar dos motivos pelos quais a obra e a pessoa de Chico continuam a nos fascinar.

Nota: 8/10

Veja aqui o trailer do filme:

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Crítica - American Ultra: Armados e Alucinados


Análise American Ultra: Armados e Alucinados

Review American Ultra: Armados e Alucinados
O que aconteceria se tentássemos mesclar as histórias de Jason Bourne com uma típica comédia de maconheiros ao estilo de Cheech e Chong ou Harold e Kumar? American Ultra: Armados e Alucinados existe justamente para resolver essa dúvida, o problema é que a resposta dada por ele é incrivelmente decepcionante.

A história acompanha Mike (Jesse Eisenberg), um jovem sem ambições que passa o tempo todo chapado ao lado da namorada, Phoebe (Kristen Stewart). O que Mike não sabe é que ele foi fruto de uma experiência do governo para criar um superagente e as autoridades competentes o consideraram perigoso demais e o tornaram um alvo. Agora, de posse de suas  recém-descobertas habilidades ele precisa sobreviver ao ataque de seus inimigos.

O tom inconsistente é uma das coisas que primeiro incomoda no filme, que parece indeciso entre levar tudo a sério e construir uma espécie de crítica aos excessos dos órgãos de inteligência ou abraçar o "humor de maconheiro", partindo para o absurdo e a falta de noção. O resultado é um filme perdido que nunca consegue ser plenamente eficiente em nenhuma das abordagens, é superficial demais para ser levado a sério e falta criatividade no absurdo para ser verdadeiramente engraçado.

sábado, 21 de novembro de 2015

Crítica - Jessica Jones 1ª Temporada




A primeira temporada de Demolidor se saiu muito bem em nos apresentar ao lado mais "urbano" dos super-heróis da Marvel, trazendo uma abordagem mais sombria e violenta ao universo audiovisual concebido pela editora. Este Jessica Jones, segunda série de um projeto conjunto entre a Marvel e o Netflix, continua a construir de modo competente esse ambiente mais maduro dos heróis urbanos. Vou tentar evitar o máximo de spoilers aqui, mas possivelmente irei entregar algumas pequenas informações, então se deseja assistir sabendo o mínimo possível de antemão, melhor retornar aqui depois de ter visto os treze episódios.

A trama desta primeira temporada é baseada na minissérie Alias escrita por Brian Michael Bendis e acompanha Jessica Jones (Krysten Ritter), que se tornou detetive particular depois de uma breve tentativa de usar sua superforça para ser uma super-heroína. Traumatizada depois de ter sua mente controlada pelo misterioso Kilgrave (David Tennant), que a obrigou a fazer coisas terríveis e abusou dela física e mentalmente, Jessica tenta reconstruir sua vida, mas as marcas deixadas pelo vilão não permitem que ela leve uma vida tranquila. A situação se agrava quando ela recebe um caso envolvendo uma estudante desaparecida que a faz pensar que Kilgrave talvez esteja mais perto do que pensa.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Crítica - Jogos Vorazes: A Esperança - O Final

Análise Jogos Vorazes: A Esperança - O Final

Review Jogos Vorazes: A Esperança - O Final
Depois da questionável decisão de dividir o terceiro e último livro da saga Jogos Vorazes em duas partes (o livro não é tão longo assim, diferente, por exemplo de Harry Potter e as Relíquias da Morte) e de uma primeira parte arrastada que parecia fazer todo esforço possível para não levar a trama adiante, este capítulo final consegue encerrar a franquia de modo bastante digno, apesar de alguns probleminhas aqui e ali.

Começando praticamente no ponto em que o filme anterior parou, com Katniss (Jennifer Lawrence) se recuperando depois do ataque de Peeta (Josh Hutcherson), que aparentemente sofreu algum tipo de lavagem cerebral durante seu cativeiro na capital de Panem. Com o agravamento da guerra, Katniss decide que ela mesma deve ir até a capital para eliminar o presidente Snow (Donald Sutherland), mas Alma Coin (Julianne Moore), líder da revolução, parece ter seus próprios planos para Katniss.

O filme acerta no clima sombrio, carregado de desesperança e desencanto, transmitindo todo o peso que aquela guerra e derramamento de sangue causam na protagonista. Assim como nos filmes anteriores, este último capítulo continua a tratar como uma guerra não se faz somente em um nível físico, mas também retórico, com ambos os lados construindo seus discursos de modo a demonstrar sua superioridade moral sobre o adversário, tentando assim angariar o maior número de apoiadores possível e desestabilizar o inimigo.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Crítica - Malala


Resenha Malala

Review Malala
O documentário Malala chega ao Brasil em um momento importante, já que depois de o tema do ENEM ser violência contra a mulher, uma turba de conservadores resolveu fazer pouco do problema e ainda negar a situação, o filme mostra como isso persiste no mundo inteiro.

Malala é uma jovem paquistanesa que quase foi morta pelo Talibã depois de reclamar da proibição do regime ao acesso feminino à educação. Depois do atentado ela se mudou com a família para a Inglaterra e se tornou uma militante dos diretos da mulher, viajando o mundo para tratar do acesso das mulheres à educação.

O filme reconstrói o passado da jovem através de belas sequências animadas que revelam como as coisas se desenvolveram até o atentado contra ela, ao mesmo tempo em que acompanha sua vida no presente, mostrando sua atuação como ativista, bem como sua vida pessoal e relação com a família.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Crítica - Amizade Desfeita


Resenha Amizade Desfeita

Review UnfriendedUltimamente entrar numa sala de cinema para assistir a um filme de terror no estilo found footage é algo que me faz temer pela minha sanidade. Não porque esses filmes me deixam como medo, mas pelo fato de serem tão ruins que tenho a sensação de que eles vão acabar me provocando algum dano cerebral. Nesse sentido, este Amizade Desfeita acaba se saindo um pouco melhor do que porcarias homéricas como A Possessão do Mal ou A Forca, o que não é muito difícil, é verdade, mas ainda assim surpreende pelo modo como traz ideias bem sacadas para um formato já desgastado e abusado. Isso, no entanto, acaba não sendo suficiente para salvar o filme.

A história se passa em tempo real e inteiramente na tela do computador da adolescente Blaire (Shelley Hennig), que conversa via webcam com um grupo de amigos quando o grupo começa a ser contatado pelo perfil da Laura (Heather Sossaman), uma amiga deles que se matou há um ano depois de um vídeo constrangedor dela foi postado na internet. De início eles acham que é apenas alguém pregando uma peça, mas aos poucos vão percebendo que há algo de muito sombrio acontecendo.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Crítica - Aliança do Crime



Desde o sucesso do primeiro Piratas do Caribe, Johnny Depp vem repetindo o mesmo tipo esquisito em praticamente tudo que tem feito ultimamente e público provavelmente está percebendo o piloto automático do ator dado o enorme fracasso dos seus três últimos filmes como protagonista (Mortdecai: A Arte da Trapaça, Transcendence: A Revolução e O Cavaleiro Solitário). Logicamente não estou considerando aqui trabalhos nos quais ele fez pequenas pontas, como o recente Caminhos da Floresta, mas ultimamente colocar Depp à frente de um filme tem sido uma aposta ingrata. O ator, no entanto, parece disposto a provar mais uma vez seu talento ao se transformar em um chefão do crime neste Aliança do Crime, a questão é que o filme não parece a altura de seu esforço.

Inspirado pela história real de James "Whitey" Bulger (Johnny Depp), mafioso que fez um acordo com o FBI para se tornar um informante, ajudando-os a eliminar seus competidores enquanto ficava livre para espalhar suas atividades, tornando-se um dos maiores criminosos de Boston em um período que vai dos anos 70 aos 90.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Crítica - Como Sobreviver a um Ataque Zumbi


Análise Como Sobreviver a um Ataque Zumbi

Review Como Sobreviver a um Ataque ZumbiApesar do que o título parece sugerir, este Como Sobreviver a um Ataque Zumbi não é exatamente uma paródia de filmes de zumbi tal como Todo Mundo Quase Morto (2004) ou Zumbilândia (2009), estando mais próxima do besteirol adolescente nos moldes de Superbad: É Hoje (2007) ou Sex Drive: Rumo ao Sexo (2008), só que com a adição de zumbis à mistura.

Seguimos aqui o trio de escoteiros formado por Ben (Tye Sheridan, que vai ser o Ciclope no vindouro X-Men: Apocalipse), Carter (Logan Miller) e Augie (Joey Morgan), que são constantemente alvo de gozação dos colegas justamente por serem escoteiros. Quando o grupo vai para o que deveria ser seu último acampamento em conjunto, acabam topando com um surto zumbi e precisam usar suas habilidades para sobreviverem à infestação e fugirem da cidade.

É tudo muito dentro do padrão das comédias adolescentes, com um grupo de protagonistas considerados "perdedores" desesperado para perder a virgindade e serem aceitos pelos "descolados". Claro que ao longo do percurso irão aprender a acreditar em si mesmos e que não precisam se conformar aos parâmetros de ninguém. Apesar de lugar-comum, embarcamos na história graças ao clima de camaradagem que o filme estabelece entre o trio, em especial Augie, que rouba a cena com seu constante otimismo e ingenuidade. Tye Sheridan, por sua vez, faz o típico adolescente tímido e certinho, enquanto que Halston Sage (a Lacey de Cidades de Papel) é adorável como o interesse amoroso de Ben, mas infelizmente aparece pouco.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Crítica - Olmo e a Gaivota


Análise Olmo e a Gaivota

Review Olmo e a Gaivota
Depois de chamar a atenção com o lírico e sensível Elena, a diretora Petra Costa junta esforços com a cineasta Lea Glob para construir um cuidadoso estudo das relações entre um casal durante o período da gravidez. Acompanhamos  Olivia (Olivia Corsini), uma atriz que ensaia com seu marido, o também ator Serge (Serge Nicolai), uma montagem da peça A Gaivota de Chekhov. Seus planos, no entanto, são modificados com a descoberta de uma inesperada gravidez que acaba apresentando riscos e a obriga a ficar de repouso em casa durante boa parte do período da gestação.

A obra borra as fronteiras entre a ficção e o documentário ao acompanhar a gravidez real da atriz Olivia Corsini ao mesmo tempo em que ela e o marido estão interpretando versões ficcionalizadas de si mesmos em cenas claramente roteirizadas. Claro que muitas das angústias e conflitos entre os dois certamente emergiram das vivências reais do casal, mas também fica evidente desde a primeira cena em que Olivia descobre a gravidez e há uma câmera dentro do banheiro com ela e outra do lado de fora filmando o marido que estamos diante de algo encenado.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Crítica - 007 Contra Spectre


Mais uma vez dirigida por Sam Mendes depois do ótimo 007: Operação Skyfall (2012), esta nova aventura do agente James Bond parece encerrar a quadrilogia iniciada em 007: Cassino Royale (2006) e traz constantes referências a eventos e personagens dos filmes anteriores. Ver ou lembrar dos outros três filmes que trazem Daniel Craig como o famoso espião, no entanto, não é um requisito indispensável para acompanhar esse filme, mas certamente irá adicionar algumas camadas de entendimento.

Nessa nova aventura, Bond (Daniel Craig) segue as últimas instruções da falecida M (Judi Dench) para localizar um perigoso terrorista, que revela ligações com a sombria organização Spectre, liderada pelo misterioso Oberhauser (Christoph Waltz). Ao mesmo tempo, o novo M (Ralph Fiennes) enfrenta a desconfiança do novo chefe dos serviços de inteligência britânica, C (Andrew Scott, o Moriarty da série Sherlock), que deseja encerrar o programa 00 e substituir os agentes de campo por drones e vigilância digital.