O
documentário biográfico sobre personalidades da música já virou uma espécie de
filão comercial da produção documental brasileira, já foram feitos filmes sobre
os Novos Baianos, Tom Jobim, Ney Matogrosso e tantos outros, então não seria
diferente com Chico Buarque.
Dirigido
por Miguel Faria Jr (que já tinha comandado uma produção sobre Vinícius de
Moraes), o documentário faz um retrato de Chico Buarque construído basicamente
pelo próprio Chico. Claro, o diretor se faz presente através da montagem, da
seleção de vídeos e fotos de arquivo e da escolha de artistas que cantam
algumas das músicas de Chico, mas a principal fonte de informação do longa é o
próprio cantor e dada a personalidade carismática e articulada do artista, é
fácil entender o motivo de deixá-lo em cena o maior tempo possível. Nesse
sentido, chega a ser curiosa a ausência do quase onipresente Nelson Motta,
constantemente consultado em produções do gênero e cuja presença já estava se
tornando um clichê aborrecido e criando um perigoso monopólio sobre a
construção da nossa historiografia musical.
Chico
fala de si, de sua complicada relação com o pai, da busca por um desconhecido
irmão na Alemanha, do labor na composição de suas músicas e romances, dos motivos
da "lenda" de sua aversão aos palcos ou das estratégias para evitar a
censura de seus trabalhos. Sua fala é calma e vai tateando com cuidado pelos
eventos relatados, demonstrando o vasto repertório cultural do artista. Além de
reconstruir a própria história, Chico também relata partes da história do
Brasil e evita cair em construções simplórias ou frases feitas, como o momento
em que trata da censura e do regime militar e lembra que este governo não foi
algo imposto à força por um pequeno grupo de pessoas, mas algo que teve apoio
de parcela significativa da população e cujas ações refletiam ideias e valores
daqueles que apoiaram a ascensão do regime.
Do
mesmo modo é bastante ponderado ao tratar do surgimento dos vários gêneros
musicais popularescos, rejeitando a noção de que são produtos pobres, bregas ou
que subtraem nossa riqueza cultural. Na verdade, Chico vai no caminho
contrário, reconhecendo que são gêneros que dialogam com as experiências e
visões de mundo de várias camadas da sociedade que durante muito tempo não eram
ouvidos ou não tinham espaço da indústria fonográfica, entendendo que são sim
manifestações culturais importantes e autênticas, cuja pluralidade apenas nos
enriquece, ao contrário de muitos jornalistas do meio que vira e mexe lamentam
como esses formatos de nicho mais popular "empobrecem" a agenda
cultural brasileira.
As
fotos e vídeos de arquivo remontam a repercussão de sua obra, como também
encontros e momentos marcantes da vida do músico, relembrando também algumas de
suas apresentações mais icônicas, como sua performance de Roda Viva em um festival de música. É também permeado por vários
números com músicos como Ney Matogrosso, Péricles, Adriana Calcanhoto,
Mart'nália e Milton Nascimento interpretam canções famosas de Chico, demonstrando
todo o alcance, força e capacidade expressiva de sua obra musical.
Assim
sendo, Chico: Artista Brasileiro
traça um panorama bastante competente do legado cultural de Chico Buarque e nos
aproxima do olhar do artista ao permitir que ele nos conte a própria história. È
verdade que evita abordar momentos mais polêmicos ou muito íntimos de sua vida,
mas ainda assim consegue nos lembrar dos motivos pelos quais a obra e a pessoa
de Chico continuam a nos fascinar.
Nota:
8/10
Veja aqui o trailer do filme:
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