Nas
épocas de festas sempre aparecem alguns filmes oportunistas que querem usar o
clima de feriados como Dia dos Namorados, Natal ou Ano Novo para arrancar uns
trocados do público. É fácil reconhecer esse tipo de produto caça-níqueis:
normalmente trazem um apanhado de artistas famosos de diferentes idades, para
chamar atenção do maior número possível de pessoas, cada um com um conflito
bastante típico deste tipo de evento, para que cada um tenha algo com o que se
relacionar, e termina com a reafirmação de valores associados à data, amor e
romance no Dia dos Namorados, família e união no Natal e assim por diante. O Natal dos Coopers é exatamente esse
tipo de caça-níqueis preguiçoso e rasteiro feito para apelar ao "espírito
natalino" dos frequentadores de cinema sem se esforçar para oferecer nada
de interessante.
A
trama acompanha o casal Charlotte (Diane Keaton) e Sam (John Goodman), que
depois de quarenta anos de casamento decidem se separar, mas para não
"estragar o Natal" escolhem não contar nada para os filhos Hank (Ed
Helms) e Eleanor (Olivia Wilde). Hank e Eleanor tem seus próprios problemas,
ele perdeu o emprego há algum tempo e mantém isso em segredo da família, ela
não aguenta o julgamento da mãe por ser solteira e resolve levar com ela para o
jantar de natalino um estranho que conheceu no aeroporto, o soldado Joe (Jake
Lacy). Temos ainda mais uma dúzia de outros personagens, cada um com sua trama,
todas bastante superficiais, com cada um não ocupando mais do que uns vinte
minutos de tela, além de completamente previsíveis e baseadas em todos os
lugares-comuns que já vimos em filmes desse tipo.
Depois
de dar o tratamento Dynasty Warriors
à franquia Zelda em Hyrule Warriors,
a desenvolvedora Omega Force agora se volta para levar a série de RPGs Dragon Quest ao seu estilo de combates
massivos e cheios de ação com este Dragon
Quest Heroes: The World Tree's Woe and the Blight Below (sim o título é
tudo isso).
A
história acompanha personagens novos à franquia, Luceus e Aurora, cavaleiros à
serviço do também inédito Rei Doric. Quando uma calamidade toma o reino e torna
os monstros amigáveis em inimigos, eles precisam viajar pelo globo para
restaurar a mítica árvore Yggdrasil, encontrando ao longo da jornada
personagens clássicos dos diferentes episódios da franquia, transportados
acidentalmente para este mundo devido à calamidade que assola o mundo. É uma
narrativa bem tradicional de luz contra trevas, bastante parecida com a maioria
dos RPGs japoneses, mas funciona por causa do carisma dos personagens e das
divertidas interações entre eles, principalmente para os fãs de longa data da
franquia.
Depois
de estrear com ótimos filmes como O Sexto
Sentido (1999) e Corpo Fechado
(2000), o cineasta M. Night Shyamalan cavou uma vala para si mesmo ao engatar
uma série de fracassos de público e crítica a partir do praticamente
indefensável A Dama na Água (2006)
que tornou ele um sinônimo tão grande de fracasso que seu nome chegou a ser
omitido nos materiais de divulgação de seu filme anterior, o execrável Depois da Terra (2013). Assim chegamos a
este A Visita, que finalmente nos
lembra o quanto ele pode ser bom, apesar de ainda apresentar muitos problemas
similares a trabalhos anteriores.
A
premissa é bem simples, os adolescentes Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed
Oxenbould) vão viajar para passar uma semana na casa dos avós que moram no
interior dos Estados Unidos e que eles nunca conheceram. A ideia de Becca é
usar a viagem para filmar um documentário sobre sua família e tentar dissipar
um rancor antigo que sua mãe (Kathryn Hahn) tem com os pais. Ao chegarem na
fazenda dos avós, no entanto, coisas estranhas começam a acontecer e os irmãos
começam a acreditar que os avós estão guardando algum segredo tenebroso.
O
documentário biográfico sobre personalidades da música já virou uma espécie de
filão comercial da produção documental brasileira, já foram feitos filmes sobre
os Novos Baianos, Tom Jobim, Ney Matogrosso e tantos outros, então não seria
diferente com Chico Buarque.
Dirigido
por Miguel Faria Jr (que já tinha comandado uma produção sobre Vinícius de
Moraes), o documentário faz um retrato de Chico Buarque construído basicamente
pelo próprio Chico. Claro, o diretor se faz presente através da montagem, da
seleção de vídeos e fotos de arquivo e da escolha de artistas que cantam
algumas das músicas de Chico, mas a principal fonte de informação do longa é o
próprio cantor e dada a personalidade carismática e articulada do artista, é
fácil entender o motivo de deixá-lo em cena o maior tempo possível. Nesse
sentido, chega a ser curiosa a ausência do quase onipresente Nelson Motta,
constantemente consultado em produções do gênero e cuja presença já estava se
tornando um clichê aborrecido e criando um perigoso monopólio sobre a
construção da nossa historiografia musical.
Chico
fala de si, de sua complicada relação com o pai, da busca por um desconhecido
irmão na Alemanha, do labor na composição de suas músicas e romances, dos motivos
da "lenda" de sua aversão aos palcos ou das estratégias para evitar a
censura de seus trabalhos. Sua fala é calma e vai tateando com cuidado pelos
eventos relatados, demonstrando o vasto repertório cultural do artista. Além de
reconstruir a própria história, Chico também relata partes da história do
Brasil e evita cair em construções simplórias ou frases feitas, como o momento
em que trata da censura e do regime militar e lembra que este governo não foi
algo imposto à força por um pequeno grupo de pessoas, mas algo que teve apoio
de parcela significativa da população e cujas ações refletiam ideias e valores
daqueles que apoiaram a ascensão do regime.
Do
mesmo modo é bastante ponderado ao tratar do surgimento dos vários gêneros
musicais popularescos, rejeitando a noção de que são produtos pobres, bregas ou
que subtraem nossa riqueza cultural. Na verdade, Chico vai no caminho
contrário, reconhecendo que são gêneros que dialogam com as experiências e
visões de mundo de várias camadas da sociedade que durante muito tempo não eram
ouvidos ou não tinham espaço da indústria fonográfica, entendendo que são sim
manifestações culturais importantes e autênticas, cuja pluralidade apenas nos
enriquece, ao contrário de muitos jornalistas do meio que vira e mexe lamentam
como esses formatos de nicho mais popular "empobrecem" a agenda
cultural brasileira.
As
fotos e vídeos de arquivo remontam a repercussão de sua obra, como também
encontros e momentos marcantes da vida do músico, relembrando também algumas de
suas apresentações mais icônicas, como sua performance de Roda Viva em um festival de música. É também permeado por vários
números com músicos como Ney Matogrosso, Péricles, Adriana Calcanhoto,
Mart'nália e Milton Nascimento interpretam canções famosas de Chico, demonstrando
todo o alcance, força e capacidade expressiva de sua obra musical.
Assim
sendo, Chico: Artista Brasileiro
traça um panorama bastante competente do legado cultural de Chico Buarque e nos
aproxima do olhar do artista ao permitir que ele nos conte a própria história. È
verdade que evita abordar momentos mais polêmicos ou muito íntimos de sua vida,
mas ainda assim consegue nos lembrar dos motivos pelos quais a obra e a pessoa
de Chico continuam a nos fascinar.
O
que aconteceria se tentássemos mesclar as histórias de Jason Bourne com uma
típica comédia de maconheiros ao estilo de Cheech e Chong ou Harold e Kumar? American Ultra: Armados e Alucinados
existe justamente para resolver essa dúvida, o problema é que a resposta dada
por ele é incrivelmente decepcionante.
A
história acompanha Mike (Jesse Eisenberg), um jovem sem ambições que passa o
tempo todo chapado ao lado da namorada, Phoebe (Kristen Stewart). O que Mike
não sabe é que ele foi fruto de uma experiência do governo para criar um
superagente e as autoridades competentes o consideraram perigoso demais e o
tornaram um alvo. Agora, de posse de suasrecém-descobertas habilidades ele precisa sobreviver ao ataque de seus
inimigos.
O
tom inconsistente é uma das coisas que primeiro incomoda no filme, que parece
indeciso entre levar tudo a sério e construir uma espécie de crítica aos
excessos dos órgãos de inteligência ou abraçar o "humor de
maconheiro", partindo para o absurdo e a falta de noção. O resultado é um
filme perdido que nunca consegue ser plenamente eficiente em nenhuma das
abordagens, é superficial demais para ser levado a sério e falta criatividade
no absurdo para ser verdadeiramente engraçado.
A
primeira temporada de Demolidor se
saiu muito bem em nos apresentar ao lado mais "urbano" dos super-heróis
da Marvel, trazendo uma abordagem mais sombria e violenta ao universo audiovisual
concebido pela editora. Este Jessica
Jones, segunda série de um projeto conjunto entre a Marvel e o Netflix, continua
a construir de modo competente esse ambiente mais maduro dos heróis urbanos.
Vou tentar evitar o máximo de spoilers
aqui, mas possivelmente irei entregar algumas pequenas informações, então se
deseja assistir sabendo o mínimo possível de antemão, melhor retornar aqui
depois de ter visto os treze episódios.
A
trama desta primeira temporada é baseada na minissérie Alias escrita por Brian Michael Bendis e acompanha Jessica Jones
(Krysten Ritter), que se tornou detetive particular depois de uma breve
tentativa de usar sua superforça para ser uma super-heroína. Traumatizada
depois de ter sua mente controlada pelo misterioso Kilgrave (David Tennant),
que a obrigou a fazer coisas terríveis e abusou dela física e mentalmente,
Jessica tenta reconstruir sua vida, mas as marcas deixadas pelo vilão não
permitem que ela leve uma vida tranquila. A situação se agrava quando ela
recebe um caso envolvendo uma estudante desaparecida que a faz pensar que
Kilgrave talvez esteja mais perto do que pensa.
Depois
da questionável decisão de dividir o terceiro e último livro da saga Jogos Vorazes em duas partes (o livro
não é tão longo assim, diferente, por exemplo de Harry Potter e as Relíquias da Morte) e de uma primeira parte arrastada
que parecia fazer todo esforço possível para não levar a trama adiante, este
capítulo final consegue encerrar a franquia de modo bastante digno, apesar de
alguns probleminhas aqui e ali.
Começando
praticamente no ponto em que o filme anterior parou, com Katniss (Jennifer
Lawrence) se recuperando depois do ataque de Peeta (Josh Hutcherson), que
aparentemente sofreu algum tipo de lavagem cerebral durante seu cativeiro na
capital de Panem. Com o agravamento da guerra, Katniss decide que ela mesma
deve ir até a capital para eliminar o presidente Snow (Donald Sutherland), mas
Alma Coin (Julianne Moore), líder da revolução, parece ter seus próprios planos
para Katniss.
O
filme acerta no clima sombrio, carregado de desesperança e desencanto,
transmitindo todo o peso que aquela guerra e derramamento de sangue causam na
protagonista. Assim como nos filmes anteriores, este último capítulo continua a
tratar como uma guerra não se faz somente em um nível físico, mas também
retórico, com ambos os lados construindo seus discursos de modo a demonstrar
sua superioridade moral sobre o adversário, tentando assim angariar o maior
número de apoiadores possível e desestabilizar o inimigo.
O
documentário Malala chega ao Brasil
em um momento importante, já que depois de o tema do ENEM ser violência contra
a mulher, uma turba de conservadores resolveu fazer pouco do problema e ainda
negar a situação, o filme mostra como isso persiste no mundo inteiro.
Malala
é uma jovem paquistanesa que quase foi morta pelo Talibã depois de reclamar da
proibição do regime ao acesso feminino à educação. Depois do atentado ela se
mudou com a família para a Inglaterra e se tornou uma militante dos diretos da
mulher, viajando o mundo para tratar do acesso das mulheres à educação.
O
filme reconstrói o passado da jovem através de belas sequências animadas que
revelam como as coisas se desenvolveram até o atentado contra ela, ao mesmo
tempo em que acompanha sua vida no presente, mostrando sua atuação como
ativista, bem como sua vida pessoal e relação com a família.
Ultimamente
entrar numa sala de cinema para assistir a um filme de terror no estilo found footage é algo que me faz temer
pela minha sanidade. Não porque esses filmes me deixam como medo, mas pelo fato
de serem tão ruins que tenho a sensação de que eles vão acabar me provocando
algum dano cerebral. Nesse sentido, este Amizade
Desfeita acaba se saindo um pouco melhor do que porcarias homéricas como A Possessão do Malou A Forca, o que não é muito difícil, é
verdade, mas ainda assim surpreende pelo modo como traz ideias bem sacadas para
um formato já desgastado e abusado. Isso, no entanto, acaba não sendo
suficiente para salvar o filme.
A
história se passa em tempo real e inteiramente na tela do computador da
adolescente Blaire (Shelley Hennig), que conversa via webcam com um grupo de
amigos quando o grupo começa a ser contatado pelo perfil da Laura (Heather
Sossaman), uma amiga deles que se matou há um ano depois de um vídeo
constrangedor dela foi postado na internet. De início eles acham que é apenas
alguém pregando uma peça, mas aos poucos vão percebendo que há algo de muito
sombrio acontecendo.
Desde
o sucesso do primeiro Piratas do Caribe,
Johnny Depp vem repetindo o mesmo tipo esquisito em praticamente tudo que tem
feito ultimamente e público provavelmente está percebendo o piloto automático
do ator dado o enorme fracasso dos seus três últimos filmes como protagonista (Mortdecai: A Arte da Trapaça, Transcendence: A Revolução e O Cavaleiro Solitário). Logicamente não
estou considerando aqui trabalhos nos quais ele fez pequenas pontas, como o
recente Caminhos da Floresta, mas
ultimamente colocar Depp à frente de um filme tem sido uma aposta ingrata. O
ator, no entanto, parece disposto a provar mais uma vez seu talento ao se
transformar em um chefão do crime neste Aliança
do Crime, a questão é que o filme não parece a altura de seu esforço.
Inspirado
pela história real de James "Whitey" Bulger (Johnny Depp), mafioso
que fez um acordo com o FBI para se tornar um informante, ajudando-os a
eliminar seus competidores enquanto ficava livre para espalhar suas atividades,
tornando-se um dos maiores criminosos de Boston em um período que vai dos anos
70 aos 90.