sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Crítica - Chatô: O Rei do Brasil



Com uma produção que durou quase vinte anos, diversos processos judiciais por dívidas e uso indevido de verba captada via editais, além de escabrosas histórias de bastidores (muito bem contadas neste ótimo texto da revista Época)  que provavelmente renderiam um filme por si só. Tanta coisa depunha contra o filme que chega a ser surpreendente constatar que, sim, Chatô: O Rei do Brasil é razoavelmente bom, embora certamente teria mais impacto se tivesse sido finalizado e lançado lá pelos anos 90 quando começou a ser produzido.

Depois de tantos anos ouvindo histórias sobre como a megalomania do diretor Guilherme Fontes afundou a produção e a deixou inviabilizada em dívidas, era fácil imaginar que o filme resultaria em uma obra bagunçada, cheia de pretensões e sem direcionamento, mas ao me deparar com o produto final, percebo que o resultado não foi esse. A obra tem um olhar muito bem definido, tem uma voz clara à respeito do que quer dizer e, embora derrape aqui e ali, consegue alcançar o que quer.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Crítica - No Coração do Mar


 
No Coração do Mar baseia-se na história real que inspirou o romancista Herman Melville a escrever Moby Dick, que veio a se tornar uma das mais emblemáticas obras da literatura de língua inglesa. Apesar de não ser uma adaptação direta da obra de Melville, o filme toca em muitos temas semelhantes aos abordados pelo escritor em seu trabalho.

A narrativa conta os eventos que ocorreram na expedição do baleeiro Essex que partiu para o Oceano Pacífico à caça de baleias para extração de óleo e outros recursos. A trama acompanha o imediato Owen Chase (Chris Hemsworth, mostrando aqui que seria um ótimo Edward Kenway de Assassin's Creed: Black Flag), um marinheiro com experiência na caça de baleias, mas que é preterido na vaga de capitão por um dos herdeiros de companhia marítima, o inexperiente e arrogante George Pollard (Benjamin Walker), e ambos passam a se detestar mutuamente. Ao se dirigirem a partes pouco exploradas do oceano nas quais será mais fácil caçar baleias, a embarcação encontra uma enorme e poderosa baleia que coloca todos em risco.

Crítica - À Beira Mar


Análise À Beira Mar

Review À Beira Mar
Devo dizer que apesar de apreciar muito o trabalho de Angelina Jolie como atriz, o mesmo não posso de dizer de seu trabalho como diretora. Não vi seu primeiro filme atrás das câmeras, Na Terra do Amor e do Ódio (2011), mas seu trabalho seguinte, Invencível (2014), me soou demasiadamente superficial e carregado de excessos apesar de belissimamente filmado. Já este À Beira Mar, seu terceiro esforço como diretora, continua belissimamente filmado, mas também traz os mesmos problemas do trabalho anterior com ainda mais intensidade.

A obra acompanha Vanessa (Angelina Jolie) e Roland (Brad Pitt), um casal em crise que vai passar férias no litoral da França. Enquanto Roland tenta lidar com seu bloqueio criativo que o impede de escrever, Vanessa passa seus dias observando um pescador na costa e o jovem casal, Lea (Melanie Laurent) e François (Melvil Paupaud), que está hospedado no quarto ao lado.

Muitos dos detratores deste filme irão centrar seus argumentos no fato de ser muito lento ou de não ser nada mais do que uma banal discussão de relação (a famosa DR) de mais de duas horas. Nenhum desses dois atributos, no entanto, é o problema, afinal a trilogia iniciada em Antes do Amanhecer (1995) é inteiramente baseado em duas pessoas falando sobre si e suas visões de mundo e são belíssimos filmes, graças aos personagens complexos e diálogos bem estruturados. O mesmo pode ser dito do sueco Força Maior, um competente estudo de personagem que se baseia inteiramente nas tragicômicas conversas de um casal em férias.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Crítica - O Presente




Creio que mais de uma vez aqui (nos textos sobre Aliança do Crime e Êxodo: Deuses e Reis) falei que não me impressionava com o trabalho do ator Joel Edgerton, apesar de não considerá-lo um profissional ruim. Pois isso mudou ao vê-lo neste ótimo O Presente, suspense que também foi escrito e dirigido pelo ator.

Na história, o casal Simon (Jason Bateman) e Robyn (Rebecca Hall) se muda para uma nova cidade em busca de recomeço depois de uma crise no relacionamento. Na cidade, eles reencontram um antigo colega de escola de Simon, o estranho Gordo (Joel Edgerton). O amigo inicialmente mostra-se prestativo ao casal, mandando presentes e visitando-os, mas aos poucos a presença constante e inesperada dele na residência do casal vai se tornando não apenas incômoda, como também ameaçadora, principalmente quando problemas passados entre ele e Simon começam a emergir.

Apesar de todo trio entregar ótimas performances, é Edgerton que se destaca com sua composição ambígua, fazendo seu personagem flutuar entre o sujeito carente e patético e um stalker perigoso, nos deixando incertos quanto às suas intenções, elevando o suspense e a tensão toda vez que está em cena. Bateman impressiona pelo modo como vai aos poucos se despindo de sua tradicional persona boa-praça e vai mostrando que Simon talvez não seja tão inocente quanto inicialmente pensamos. Já Rebecca Hall faz de Robyn uma mulher fragilizada por um trauma recente que flutua entre o medo e a pena de Gordo, principalmente ao ver o modo como o marido o trata.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Crítica - O Natal dos Coopers



Nas épocas de festas sempre aparecem alguns filmes oportunistas que querem usar o clima de feriados como Dia dos Namorados, Natal ou Ano Novo para arrancar uns trocados do público. É fácil reconhecer esse tipo de produto caça-níqueis: normalmente trazem um apanhado de artistas famosos de diferentes idades, para chamar atenção do maior número possível de pessoas, cada um com um conflito bastante típico deste tipo de evento, para que cada um tenha algo com o que se relacionar, e termina com a reafirmação de valores associados à data, amor e romance no Dia dos Namorados, família e união no Natal e assim por diante. O Natal dos Coopers é exatamente esse tipo de caça-níqueis preguiçoso e rasteiro feito para apelar ao "espírito natalino" dos frequentadores de cinema sem se esforçar para oferecer nada de interessante.

A trama acompanha o casal Charlotte (Diane Keaton) e Sam (John Goodman), que depois de quarenta anos de casamento decidem se separar, mas para não "estragar o Natal" escolhem não contar nada para os filhos Hank (Ed Helms) e Eleanor (Olivia Wilde). Hank e Eleanor tem seus próprios problemas, ele perdeu o emprego há algum tempo e mantém isso em segredo da família, ela não aguenta o julgamento da mãe por ser solteira e resolve levar com ela para o jantar de natalino um estranho que conheceu no aeroporto, o soldado Joe (Jake Lacy). Temos ainda mais uma dúzia de outros personagens, cada um com sua trama, todas bastante superficiais, com cada um não ocupando mais do que uns vinte minutos de tela, além de completamente previsíveis e baseadas em todos os lugares-comuns que já vimos em filmes desse tipo.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Crítica - Dragon Quest Heroes



Depois de dar o tratamento Dynasty Warriors à franquia Zelda em Hyrule Warriors, a desenvolvedora Omega Force agora se volta para levar a série de RPGs Dragon Quest ao seu estilo de combates massivos e cheios de ação com este Dragon Quest Heroes: The World Tree's Woe and the Blight Below (sim o título é tudo isso).

A história acompanha personagens novos à franquia, Luceus e Aurora, cavaleiros à serviço do também inédito Rei Doric. Quando uma calamidade toma o reino e torna os monstros amigáveis em inimigos, eles precisam viajar pelo globo para restaurar a mítica árvore Yggdrasil, encontrando ao longo da jornada personagens clássicos dos diferentes episódios da franquia, transportados acidentalmente para este mundo devido à calamidade que assola o mundo. É uma narrativa bem tradicional de luz contra trevas, bastante parecida com a maioria dos RPGs japoneses, mas funciona por causa do carisma dos personagens e das divertidas interações entre eles, principalmente para os fãs de longa data da franquia.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Crítica - A Visita

Análise A Visita

Review A Visita
Depois de estrear com ótimos filmes como O Sexto Sentido (1999) e Corpo Fechado (2000), o cineasta M. Night Shyamalan cavou uma vala para si mesmo ao engatar uma série de fracassos de público e crítica a partir do praticamente indefensável A Dama na Água (2006) que tornou ele um sinônimo tão grande de fracasso que seu nome chegou a ser omitido nos materiais de divulgação de seu filme anterior, o execrável Depois da Terra (2013). Assim chegamos a este A Visita, que finalmente nos lembra o quanto ele pode ser bom, apesar de ainda apresentar muitos problemas similares a trabalhos anteriores.

A premissa é bem simples, os adolescentes Becca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould) vão viajar para passar uma semana na casa dos avós que moram no interior dos Estados Unidos e que eles nunca conheceram. A ideia de Becca é usar a viagem para filmar um documentário sobre sua família e tentar dissipar um rancor antigo que sua mãe (Kathryn Hahn) tem com os pais. Ao chegarem na fazenda dos avós, no entanto, coisas estranhas começam a acontecer e os irmãos começam a acreditar que os avós estão guardando algum segredo tenebroso. 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Crítica - Chico: Artista Brasileiro


O documentário biográfico sobre personalidades da música já virou uma espécie de filão comercial da produção documental brasileira, já foram feitos filmes sobre os Novos Baianos, Tom Jobim, Ney Matogrosso e tantos outros, então não seria diferente com Chico Buarque.
Dirigido por Miguel Faria Jr (que já tinha comandado uma produção sobre Vinícius de Moraes), o documentário faz um retrato de Chico Buarque construído basicamente pelo próprio Chico. Claro, o diretor se faz presente através da montagem, da seleção de vídeos e fotos de arquivo e da escolha de artistas que cantam algumas das músicas de Chico, mas a principal fonte de informação do longa é o próprio cantor e dada a personalidade carismática e articulada do artista, é fácil entender o motivo de deixá-lo em cena o maior tempo possível. Nesse sentido, chega a ser curiosa a ausência do quase onipresente Nelson Motta, constantemente consultado em produções do gênero e cuja presença já estava se tornando um clichê aborrecido e criando um perigoso monopólio sobre a construção da nossa historiografia musical.

Chico fala de si, de sua complicada relação com o pai, da busca por um desconhecido irmão na Alemanha, do labor na composição de suas músicas e romances, dos motivos da "lenda" de sua aversão aos palcos ou das estratégias para evitar a censura de seus trabalhos. Sua fala é calma e vai tateando com cuidado pelos eventos relatados, demonstrando o vasto repertório cultural do artista. Além de reconstruir a própria história, Chico também relata partes da história do Brasil e evita cair em construções simplórias ou frases feitas, como o momento em que trata da censura e do regime militar e lembra que este governo não foi algo imposto à força por um pequeno grupo de pessoas, mas algo que teve apoio de parcela significativa da população e cujas ações refletiam ideias e valores daqueles que apoiaram a ascensão do regime.

Do mesmo modo é bastante ponderado ao tratar do surgimento dos vários gêneros musicais popularescos, rejeitando a noção de que são produtos pobres, bregas ou que subtraem nossa riqueza cultural. Na verdade, Chico vai no caminho contrário, reconhecendo que são gêneros que dialogam com as experiências e visões de mundo de várias camadas da sociedade que durante muito tempo não eram ouvidos ou não tinham espaço da indústria fonográfica, entendendo que são sim manifestações culturais importantes e autênticas, cuja pluralidade apenas nos enriquece, ao contrário de muitos jornalistas do meio que vira e mexe lamentam como esses formatos de nicho mais popular "empobrecem" a agenda cultural brasileira.

As fotos e vídeos de arquivo remontam a repercussão de sua obra, como também encontros e momentos marcantes da vida do músico, relembrando também algumas de suas apresentações mais icônicas, como sua performance de Roda Viva em um festival de música. É também permeado por vários números com músicos como Ney Matogrosso, Péricles, Adriana Calcanhoto, Mart'nália e Milton Nascimento interpretam canções famosas de Chico, demonstrando todo o alcance, força e capacidade expressiva de sua obra musical.

Assim sendo, Chico: Artista Brasileiro traça um panorama bastante competente do legado cultural de Chico Buarque e nos aproxima do olhar do artista ao permitir que ele nos conte a própria história. È verdade que evita abordar momentos mais polêmicos ou muito íntimos de sua vida, mas ainda assim consegue nos lembrar dos motivos pelos quais a obra e a pessoa de Chico continuam a nos fascinar.

Nota: 8/10

Veja aqui o trailer do filme:

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Crítica - American Ultra: Armados e Alucinados


Análise American Ultra: Armados e Alucinados

Review American Ultra: Armados e Alucinados
O que aconteceria se tentássemos mesclar as histórias de Jason Bourne com uma típica comédia de maconheiros ao estilo de Cheech e Chong ou Harold e Kumar? American Ultra: Armados e Alucinados existe justamente para resolver essa dúvida, o problema é que a resposta dada por ele é incrivelmente decepcionante.

A história acompanha Mike (Jesse Eisenberg), um jovem sem ambições que passa o tempo todo chapado ao lado da namorada, Phoebe (Kristen Stewart). O que Mike não sabe é que ele foi fruto de uma experiência do governo para criar um superagente e as autoridades competentes o consideraram perigoso demais e o tornaram um alvo. Agora, de posse de suas  recém-descobertas habilidades ele precisa sobreviver ao ataque de seus inimigos.

O tom inconsistente é uma das coisas que primeiro incomoda no filme, que parece indeciso entre levar tudo a sério e construir uma espécie de crítica aos excessos dos órgãos de inteligência ou abraçar o "humor de maconheiro", partindo para o absurdo e a falta de noção. O resultado é um filme perdido que nunca consegue ser plenamente eficiente em nenhuma das abordagens, é superficial demais para ser levado a sério e falta criatividade no absurdo para ser verdadeiramente engraçado.

sábado, 21 de novembro de 2015

Crítica - Jessica Jones 1ª Temporada




A primeira temporada de Demolidor se saiu muito bem em nos apresentar ao lado mais "urbano" dos super-heróis da Marvel, trazendo uma abordagem mais sombria e violenta ao universo audiovisual concebido pela editora. Este Jessica Jones, segunda série de um projeto conjunto entre a Marvel e o Netflix, continua a construir de modo competente esse ambiente mais maduro dos heróis urbanos. Vou tentar evitar o máximo de spoilers aqui, mas possivelmente irei entregar algumas pequenas informações, então se deseja assistir sabendo o mínimo possível de antemão, melhor retornar aqui depois de ter visto os treze episódios.

A trama desta primeira temporada é baseada na minissérie Alias escrita por Brian Michael Bendis e acompanha Jessica Jones (Krysten Ritter), que se tornou detetive particular depois de uma breve tentativa de usar sua superforça para ser uma super-heroína. Traumatizada depois de ter sua mente controlada pelo misterioso Kilgrave (David Tennant), que a obrigou a fazer coisas terríveis e abusou dela física e mentalmente, Jessica tenta reconstruir sua vida, mas as marcas deixadas pelo vilão não permitem que ela leve uma vida tranquila. A situação se agrava quando ela recebe um caso envolvendo uma estudante desaparecida que a faz pensar que Kilgrave talvez esteja mais perto do que pensa.