terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Crítica - O Filho de Saul



Filmes sobre o holocausto ou a realidade nos campos de concentração já foram feitos aos montes e chego a desconfiar que não há muito que possa ser acrescentado aos discursos já existentes sobre o tema. Não que a relevância de se falar sobre isso tenha se esgotado, mas que existem poucas possibilidades de contar uma história ficcional acerca disso e dar ao público algo que eles nunca viram antes. Este O Filho de Saul certamente não faz isso e toca em muitas questões que já vimos em uma série de outras produções, mas o importante nele nem é sobre o que ele é, mas como ele é ao tratar disso.

O filme acompanha Saul (Geza Rohrig) um judeu húngaro que vive em um campo de concentração com um sonderkommando. Estes eram uma categoria diferente de prisioneiro que trabalhava sob ordens dos oficiais nazistas executando os trabalhos que os alemães consideravam indignos ou inferiores, como limpar as câmaras de gás ou enterrar os prisioneiros mortos. Para manter o sigilo sobre as operações de extermínio os sonderkommandos eram mantidos em isolamento dos outros presos e eram substituídos de tempos em tempos, com os antigos membros sendo executados e prisioneiros recém chegados sendo colocados na função.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Crítica - Anomalisa



Em seus roteiros Charlie Kaufman sempre investiu no surreal e no fantasioso como um modo de deixar transparecer nossas angústias e inseguranças, foi assim em filmes como Quero Ser John Malkovich (1999) e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004) e também se aplica a este Anomalisa, animação em stop-motion que usa o próprio meio para falar de isolamento e depressão.

O filme acompanha Michael Stone (David Thewlis), um palestrante que viaja o país para ensinar sobre atendimento ao cliente. Apesar de todo seu discurso sobre relacionamento com cliente e lidar bem com o outro, Michael é um homem solitário, cheio de angústias e incertezas.

Seu distanciamento do mundo e das pessoas fica claro pelo modo como ele parece ignorar ou não se importar com o fato de que todos à sua volta são completamente iguais e tem a mesma voz (Tom Noonan). Suas conversas parecem sempre ao redor de assuntos demasiadamente triviais e desinteressantes e ele se movimenta de um ambiente fechado a outro, dando uma impressão de claustrofobia.

A única coisa que consegue lhe tirar do marasmo é quando ele ouve uma voz diferente no corredor de seu hotel e vai atrás dela, conhecendo Lisa (Jennifer Jason Leigh do recente Os Oito Odiados). Assim como Michael, Lisa é uma pessoa solitária, cheia de traumas e sem muito traquejo social. Juntos eles vão compartilhando suas inseguranças, tropeçando aos poucos um no outro, são diálogos esquisitos, por vezes desconexos, mas extremamente sinceros ao marcarem a aproximação das neuroses dessas duas pessoas.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Crítica - Trumbo: Lista Negra



A paranoia anticomunista e a pesada perseguição àqueles que exibiam qualquer proximidade desses ideais marcaram o período do pós segunda guerra e da guerra fria  nos Estados Unidos. Na época havia uma paranoia extrema em relação ao comunismo e qualquer um que demonstrasse partilhar deste pensamento era perseguido, preso e considerado um traidor. Isso aconteceu também em Hollywood, na qual muitos atores, diretores e roteiristas foram presos e proibidos de trabalhar por sua afiliação ao partido comunista, colocados na infame lista negra de Hollywood. Este Trumbo: Lista Negra conta a história de um desses profissionais, o roteirista Dalton Trumbo, responsável pelo texto de filmes como Spartacus (1960), que mesmo banido achou um modo de continuar trabalhando.

O filme começa em 1947, justamente quando os Estados Unidos começava a voltar suas atenções para a União Soviética e o comunismo passava a ser visto como uma ameaça ao "modo de vida americano". Trumbo (Bryan Cranston) e mais alguns colegas são intimados pelo congresso a dar explicações sobre seu envolvimento com o partido comunista e os sindicatos de profissionais do cinema, sendo ao fim presos apenas por sua ideologia, mesmo sem terem cometido crime algum. Depois de cumprir pena ele tenta voltar a Hollywood, mas seu nome está na infame lista negra e ele não consegue trabalhar. Assim, decide procurar estúdios de baixo escalão para oferecer seu trabalho por um valor menor e trabalhando sob pseudônimos.

Mad Max: Estrada da Fúria volta às salas de cinema

 
 
A Warner Bros anunciou que o excelente Mad Max: Estrada da Fúria, que figurou na nossa lista de melhores filmes do ano passado, vai voltar às salas de cinema com exibições em 3D, 4D, IMAX e 35 mm. Se você não o viu quando estava nos cinemas, essa é uma ótima oportunidade, já que este é daqueles filmes que merecem ser vistos em tela grande. Confiram abaixo as cidades que estão exibindo o filme:

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Crítica - Pai em Dose Dupla

 


Will Ferrell e Mark Wahlberg já tinham mostrado que funcionam como dupla cômica no divertido Os Outros Caras (2010) dirigido por Adam McKay (do igualmente ótimo A Grande Aposta). Vê-los voltar a dividir a cena numa comédia era algo bastante promissor, mesmo sem McKay na cadeira de diretor, mas este Pai em Dose Dupla lamentavelmente não consegue repetir o mesmo êxito da parceria anterior da dupla.

Ferrell vive Brad, um homem sensível e retraído que é encantando com a paternidade e que sempre quis ter filhos, mas é infértil. Seus sonho de ser pai se concretiza através dos filhos de sua esposa Sara (Linda Cardellini, a Laura Barton de Vingadores: Era de Ultron) que aos poucos começam a aceitá-lo como pai. Sua posição, no entanto, é ameaçada quando o pai biológico das crianças, o metido a machão Dusty (Mark Wahlberg), retorna à cidade disposto a recuperar o afeto dos filhos, iniciando uma disputa entre os dois pela atenção das crianças.

Este é uma daquelas "comédias de uma piada só" já que todo o humor gira em torno das armações de Dusty e Brad para se sabotarem ou tentando parecer superior ao outro. A maioria das situações se desenvolve de modo bastante previsível e com um pouco de atenção é possível antecipar a maioria das piadas. Isso não impede que aqui e ali o filme consiga arrancar bons risos (a maioria delas está no trailer), seja pelo humor físico, como na cena em que Brad tenta pilotar a moto de Dusty, ou seja pelos diálogos puramente nonsense, como as histórias absurdas que o chefe de Brad, Leo (Thomas Haden Church), ocasionalmente conta.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Crítica - Caçadores de Emoção: Além do Limite


Análise Crítica - Caçadores de Emoção: Além do Limite


Review - Caçadores de Emoção: Além do Limite
A ideia de fazer um remake do clássico de ação Caçadores de Emoção (1991) da diretora Kathryn Bigelow (de Guerra ao Terror e A Hora Mais Escura) e estrelado por Keanu Reeves e Patrick Swayze me parecia um esforço inútil e provavelmente fadado a fracassar. Primeiro porque o filme de 1991 continua a se sustentar muito bem hoje, não precisando de nenhum tipo de atualização e segundo porque ele praticamente já tinha recebido um remake na forma de Velozes e Furiosos (2001), tornando o esforço de uma nova versão ainda mais irrelevante. Sério pessoal, a trama e o desenvolvimento do primeiro Velozes e Furiosos é idêntica a de Caçadores de Emoção, apenas substituindo o surfe por corridas. A questão é que mesmo tendo em mente todo o potencial que esse filme tinha para dar errado, ainda assim eu não esperava por algo tão ruim quanto ele de fato é.

Assim como no filme original, acompanhamos o jovem agente do FBI Johnny Utah (Luke Bracey, o Comandante Cobra de G.I Joe:Retaliação) em sua investigação por uma gangue que comete crimes audaciosos. Suas suspeitas o levam para o mundo dos esportes radicais no qual conhece o misterioso Bodhi (Edgar Ramirez, que também está em cartaz no igualmente fraco Joy: O Nome do Sucesso), que pode ser o líder da gangue. O atleta busca completar uma série de façanhas conhecidas como as "Oito de Ozaki", proezas tidas como impossíveis, mas que se alcançadas deixariam uma pessoa em tal comunhão com o planeta que ele alcançaria o nirvana (o espiritual, não a banda) e, além disso, Bodhi acredita que cumprir o desafio salvaria o mundo, pois sua a comunhão com o planeta permitiria que o mundo se curasse das feridas causadas pela humanidade. Não contente, Bodhi decide fazer "oferendas" ao planeta para ser auxiliado em sua jornada e assim comete crimes como destruir uma madeireira ou implodir uma mina.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Crítica - Joy: O Nome do Sucesso



Quando escrevi sobre O Lado Bom da Vida falei na capacidade do diretor David O. Russel em tornar interessantes histórias que poderiam facilmente descambar para algo banal e aborrecido. Lamentavelmente nada disso acontece neste insosso Joy: O Nome do Sucesso que, apesar do bom elenco e da competência técnica, não nos engaja como deveria.

A trama é baseada na vida de Joy Mangano (Jennifer Lawrence) uma jovem divorciada que luta para sustentar os filhos e a família desequilibrada cujos integrantes estão sempre em pé de guerra. A solução para seus problemas vem na ideia que ela para uma invenção, um esfregão com maior capacidade de limpeza e que pode se torcer sozinho. A partir de então acompanhamos seus percalços para fazer seu negócio vingar, tudo enquanto ainda continua a ser atormentada por seus parentes.

É uma típica história de superação, da jornada da pobreza à riqueza e de continuar seguindo em frente mesmo quando todos ao nosso redor nos colocam para baixo. A Joy é aquela típica mocinha sofredora, explorada por todos ao seu redor até que ela decide dar um basta em tudo. Já vimos essa história ser contada por Hollywood inúmeras vezes e este filme faz pouco para espantar a sensação de deja vu. O filme chega a tentar fazer alguns paralelos entre a jornada da protagonista e as histórias construídas em novelas, mas acaba abandonando as analogias no meio do caminho sem muita explicação.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Crítica - The Hunting Ground



Durante minha experiência com este The Hunting Ground me senti surpreso, embasbacado e então com raiva, muita raiva. A raiva é um sentimento inevitável ao acompanhar este poderoso documentário, pode vir cedo, pode vir mais tarde, mas é certo que ela irá chegar até você. A menos, claro, que você seja um psicopata desprovido de qualquer capacidade empática.

Dirigido por Kirby Dick, o documentário trata do endêmico problema do abuso sexual dentro dos campi das universidades dos Estados Unidos. É o tipo de documentário no qual o tema e a construção retórica deste chamam mais atenção do que a forma ou estilo com a qual são contadas. Se bem que com dados tão arrasadores, a obra não precisa de muitas firulas estilísticas para chamar nossa atenção e estas poderiam inclusive nos distrair da potente argumentação que está sendo construída aqui.

A narrativa vai demonstrando como as universidades estadunidenses se mostram mais preocupadas em proteger suas imagens, e consequentemente sua renda, do que em resolver o problema do estupro. Isso as leva a culpabilizar as vítimas, ignorar queixar e não punir os responsáveis, criando uma cultura de impunidade que apenas contribui para que o problema continue a acontecer ao ponto em que estatisticamente quase uma em cada cinco universitárias é vítima de algum tipo de violência sexual.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Oscar 2016 - Lista de Indicados

 
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas divulgou hoje a lista de indicados para a 88ª edição dos Oscars. Liderando a lista de indicações temos o drama O Regresso, dirigido por Alejandro Iñarritu, com 12 indicações, seguido por Mad Max: Estrada da Fúria, dirigido por George Miller, com 10. Tivemos ainda a surpresa de ver a belíssima animação brasileira O Menino e o Mundo, dirigido por Alê Abreu, sendo indicada ao prêmio de melhor animação, quase que compensando a injustiça foi terem deixado Que Horas Ela Volta? fora da lista de indicados a melhor filme estrangeiro. Outra surpresa foi a esnobada ao roteirista Aaron Sorkin, responsável pelo texto de Steve Jobs, que tinha a indicação praticamente dada como certa, principalmente depois de receber o Globo de Ouro. A cerimônia de entrega acontece no dia 28 de fevereiro e será apresentada pelo comediante Chris Rock. Como muitos dos indicados ainda não estrearam aqui no Brasil, iremos atualizar aos poucos esta página com links para textos sobre os indicados conforme eles forem chegando.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Crítica - A Grande Aposta



Famoso por dirigir algumas comédias com Will Ferrell como O Âncora (2004) e sua continuação Tudo Por Um Furo (2013), Adam McKay já tinha se aventurado a falar sobre a crise imobiliária nos Estados Unidos no divertido Os Outros Caras (2010), também com Will Ferrell. Se em Os Outros Caras o comportamento negligente e criminoso dos grandes bancos e agências financeiras era pano de fundo para uma trama policial cômica com ares de paródia de Máquina Mortífera (1987), neste A Grande Aposta, os absurdos que levaram ao estouro da bolha imobiliária estão no centro de tudo.

A trama baseada em fatos reais segue um grupo de investidores que descobre que o mercado imobiliário e as vendas de títulos de empréstimos são baseados em números inconsistentes que eventualmente levarão a economia para o buraco. Com isso, percebem uma oportunidade de faturar comprando títulos de seguro para receberem em caso das dívidas não serem pagas, o que representa um lucro potencial que passa da casa do bilhão.

O filme apresenta argumentos seguros para demonstrar como a situação era insustentável, mas ninguém percebeu por estarem ocupados ganhando dinheiro fácil, creditando a crise a um misto de burrice e mau caratismo. Também não economiza em demonstrar como cada setor da sociedade possui sua parcela de culpa pelo que aconteceu, dos bancos às autoridades e também os cidadãos que consumiam e pegavam empréstimos que sabiam que não poderiam pagar.