domingo, 10 de julho de 2016

Crítica - As Montanhas se Separam

Análise Crítica - As Montanhas se Separam


Review - As Montanhas se Separam
Montanhas são um símbolo de resistência e resiliência diante da passagem do tempo. Muitas se formaram bem antes dos primeiros seres vivos saírem dos oceanos, existem até hoje e provavelmente continuarão a existir mesmo quando a humanidade não habitar mais este planeta. Assim, quando o cineasta chinês Jia Zhang-ke intitula seu novo filme como As Montanhas se Separam, há uma clara intenção de falar sobre a passagem do tempo e o desgaste que ele inevitavelmente promove nas relações humanas, levando ao afastamento entre pessoas que outrora pareciam tão próximas.

A trama acompanha Tao (Tao Zhao), uma jovem cujo afeto é disputado pelos dois amigos, Jinsheng (Yi Zhang) e Liangzi (Jing Dong Liang). A partir disso, vamos vendo como essas pessoas e aquelas ao redor vão, ao longo de cerca de trinta anos, se afastando ou se reencontrando.

Como de costume em seus trabalhos, Zhang-ke filma com longos planos e poucos cortes e sua câmera está quase sempre focada em Tao (a quem acompanhamos durante a maioria do filme), registrando suas reações e contemplações com o mundo à sua volta. A atriz Tao Zhao é o centro emocional do filme, como uma mulher que parece encontrar felicidade e serenidade na solidão. Estando quase sempre no foco das cenas, Zhao traz bastante nuance e delicadeza para a sua personagem em seus três períodos, primeiro como uma jovem sagaz e cheia de energia, depois como uma mãe cheia de ansiedade e conflito pela relação complicada com o filho distante e depois como alguém em paz consigo mesma no belíssimo desfecho.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Crítica - The Technomancer

Análise The Technomancer


Review The Technomancer
Tive uma relação esquisita com esse The Technomancer, RPG de ação criado pela desenvolvedora Spiders (de Bound by Flame). Por um lado eu conseguia identificar nele uma série de problemas em vários aspectos do produto, por outro eu simplesmente perdia a noção do tempo em busca de "mais uma quest" ou "só até subir mais um nível" (e dificilmente parava por aí). Assim, mesmo com muitos problemas, confesso que o game realmente me manteve engajado e interessado ao longo das cerca de 30 horas da campanha.

A trama se passa em um futuro no qual o planeta Marte foi colonizado pela terra por conta de seus recursos naturais. Com as dificuldades do ambiente marciano, a Terra abandonou as colônias e seus habitantes passaram séculos vivendo à mercê das corporações extratoras de água, já que eles controlam o mais essencial e escasso dos recursos do planeta vermelho e governam suas cidades. No centro de tudo está o technomancer Zachariah, uma espécie de mago tecnológico com poderes elétricos, que descobre os segredos ocultos de sua ordem e recebe a tarefa de usar seu conhecimento para tentar contatar a Terra e por um fim à guerra civil entre as corporações de água.

O game tem uma história bem interessante, com diferentes grupos disputando o controle dos recursos de Marte e até mesmo algumas reviravoltas que me pegaram de surpresa. A ambientação é uma mistura de Mass Effect (mas com uma pegada mais cyberpunk) com Mad Max, misturando as cidades futuristas com enormes desertos habitados por mutantes deformados por causa da radiação da atmosfera marciana. O design de criaturas também é competente criando uma série de monstros bizarros que realmente parecem coisas de outro mundo.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Crítica - Julieta



Em seu vigésimo longa-metragem o direto espanhol Pedro Almodóvar retorna ao seu universo costumaz das neuroses femininas. Com uma trama sinuosa que muitas vezes flerta com o suspense investigativo, este Julieta é fundamentalmente uma história sobre intimista sobre perda, luto e culpa.

Baseado em três contos interligados da escritora Alice Munro, a trama acompanha Julieta (Emma Suarez/ Adriana Ugarte) uma mulher que está prestes a deixar Madri para ir morar em Portugal com o companheiro. Seus planos mudam quando ela encontra uma conhecida na rua e recebe informações sobre a filha, Antía, que não via há mais de uma década, descobrindo não só que ela está bem, como está casada e tem três filhos. Ao descobrir tudo isso, ela desiste de viajar e começa a escrever uma "carta/diário" contando sua vida com o pescador Xoan (Daniel Grao), pai de Antía, sua complexa relação com a amante dele.

É uma narrativa sobre perda e ausência, na qual muita coisa acontece off camera, sutilmente sugerido ao invés de dito, quase como se Julieta estivesse ausente de sua própria vida e visse seus desdobramentos à distância. O filme caminha pelas memórias da protagonista como se nos guiasse por uma investigação e a música ajuda a evocar essa sensação de mistério e suspense quanto ao que levou o afastamento entre Julieta e a filha.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Crítica - A Era do Gelo: O Big Bang



Quinze anos depois de seu primeiro filme e quatro continuações depois, fica a sensação de que a franquia A Era do Gelo não tem mais para onde ir criativamente. Este quinto filme tenta disfarçar sua falta de ideias com o excesso de personagens, mas nem consegue nos distrair do estado de esgotamento em que está este universo.

A história começa quando o esquilo Scrat, em sua interminável busca por uma noz, encontra acidentalmente um disco voador (que está ali por estar ali e pronto), vai para o espaço e coloca um meteoro em rota de colisão com a terra. Agora Manny, Sid, Diego e seus companheiros precisam dar um jeito de lidar com a ameaça.

Os filmes A Era do Gelo sempre pareciam colocar o humor e as gags cômicas em primeiro lugar em relação à história, mas havia uma doçura e um ingenuidade envolvendo a jornada desses personagens que fazia tudo funcionar. Aqui isso não acontece, já que mesmo a jornada emocional de Manny em aceitar que a filha vai casar e deixar o lar, além de ser uma reprodução do clichê desgastado da "síndrome do ninho vazio", se perde entre uma infinidade de personagens que entram a todo momento em cena, mas tem pouco a acrescentar.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Crítica - American Horror Story: Freak Show



Não cheguei a acompanhar as temporadas anteriores da série de antologia (na qual cada temporada contem uma história isolada) American Horror Story, mas fiquei bastante curioso quando foi anunciado que esta quarta temporada teria a temática o circo de horrores. Além do potencial de imagens perturbadoras que podiam ser geradas dessa premissa, o uso de "aberrações" de circo é um material ótimo para se discutir a natureza do monstro e da monstruosidade. Afinal, o que é exatamente um monstro? É apenas uma pessoa ou criatura que não se conforma aos padrões de normalidade? Ou há um fator mais interno e mais profundo que determina quem é ou não um monstro? Nesse sentido, Freak Show faz jus ao potencial de sua premissa e busca entender onde está a verdadeira aberração do ser humano. SPOILERS são inevitáveis daqui para frente.

A trama acompanha a trupe de um "circo de horrores" que chega a uma cidadezinha na Flórida na década de 50. Liderados pela cantora alemã Elsa (Jessica Lange), a trupe vai à cidade recrutar uma nova integrante, ou melhor novas. As escolhidas são as gêmeas siamesas Bette e Dot (ambas Sarah Paulson) que dividem um único corpo com suas duas cabeças. A chegada das ditas aberrações provoca curiosidade e repulsa na pequena comunidade e o contato entre os artistas e os locais acaba despertando coisas muito mais monstruosas do que as deformidades físicas dos protagonistas.

domingo, 3 de julho de 2016

Jogamos o novo modo história de Street Fighter V



O lançamento de Street Fighter V foi problemático para dizer o mínimo. Além dos vários problemas com servidores e de matchmaking, havia também a questão da falta de conteúdo, já que o game trazia apenas um modo versus (local e online), um modo sobrevivência para um jogador e um modo com as histórias individuais de cada personagem que era incrivelmente curto, com apenas três ou quatro lutas em cada. A sensação é que o consumidor não tinha levado para casa um game completo e sim uma espécie de "beta de luxo" no qual eles tinham que contar com a boa fé da desenvolvedora Capcom em oferecer mais conteúdo e variedade em futuras atualizações.

Desde fevereiro o jogo recebeu algumas adições, como os desafios de personagem e alguns novos lutadores e cenários. Esta, no entanto, é atualização mais significativa que o game recebeu desde seu lançamento. Aqui temos a adição novos personagens, cenários, o funcionamento pleno da loja virtual e um novo e cinematográfico modo história ao molde daqueles vistos em Mortal Kombat X e Injustice: Gods Among Us com cerca de duas horas de duração.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Crítica - Procurando Dory



Apesar de adorar Procurando Nemo (2003) tenho que admitir que não estava muito empolgado para este Procurando Dory. Por mais que a Pixar tenha mostrado que sabe fazer continuações com os filmes da franquia Toy Story, as demais sequências feitas pelo estúdio tinham ficado abaixo dos originais, como ocorreu com Universidade Monstros (2013) e o horrendo Carros 2 (2011) e eu temi que a aventura de Dory se enquadrasse na segunda categoria. Felizmente isso não acontece e o filme é divertido e adorável, ainda que seja bastante similar ao anterior.

Na trama, Dory (Ellen DeGeneres) começa a ter lembranças de sua infância e resolve procurar os pais, que aparentemente vivem em um aquário no estado da Califórnia. Preocupados com a amiga desmemoriada, Marlin (Albert Brooks) e Nemo (Hayden Rolence) decidem acompanhá-la. Os problemas começam quando Dory é capturada por um grupo de cientistas e Marlin e Nemo precisam dar um jeito de resgatá-la do aquário.


domingo, 26 de junho de 2016

Crítica - Person of Interest: 5ª Temporada



"Todos morremos sozinhos, mas se você significou algo para alguém,se ajudou alguém ou amou alguém, se uma única pessoa lembrar de você, então talvez você nunca morra de verdade"

Essa frase, dita pela Máquina ao fim do último episódio de Person of Interest é uma síntese bastante acertada do olhar da série sobre (e da própria Máquina) sobre as relações humanas. Podemos estar distantes um do outro, desamparados no momento em que morremos, podemos achar que tudo é barulho e caos, não vermos "o grande esquema das coisas" ou como nossas vidas se encaixam uma na outra, mas no fim das contas nossas ações tem impacto naqueles ao nosso redor. O que fazemos, por menor ou sem significado que pareça, quem ajudamos, quem deixamos de ajudar, tudo isso contribui para construir ao mundo a nossa volta, somando-se ao conjunto de ações de cada indivíduo. Cada pessoa, ao seu modo, é importante e faz alguma diferença no mundo.

Confesso que temi por esta quinta e última temporada quando foi anunciado que ela teria apenas 13 episódios e não os 22 habituais, já que a redução poderia prejudicar os planos iniciais do criador Jonathan Nolan para encerrar a série. Felizmente, a temporada consegue ir direto ao ponto, trazer uma sensação de clímax iminente e ainda assim arrumar espaços para que possamos respirar, tudo isso sem que a trama pareça corrida ou apressada demais. A partir deste ponto SPOILERS são inevitáveis.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Crítica - O Caseiro



Confesso que fiquei intrigado com O Caseiro, filme nacional que pegava carona na clássica premissa da "casa mal assombrada". O terror não é um gênero muito abordado por grandes produções brasileiras, normalmente ficando mais restrito ao underground em produções como Mangue Negro (2008). Apesar de parecer bem interessante, O Caseiro acaba não conseguindo ser plenamente satisfatório por alguns problemas.

A trama é centrada em Davi (Bruno Garcia), um cético professor de psicologia que afirma que fantasmas não são algo sobrenatural e sim uma manifestação física de um trauma inconsciente. Sua visão de mundo é posta em teste quando uma aluna lhe pede para investigar estranhos fenômenos que acontecem em sua casa e que sua família credita ao fantasma de um antigo caseiro da propriedade, que teria cometido suicídio depois de assassinar a esposa e filha.

Com uma fotografia que dá predominância a tons de cinza, baixa saturação de cores e ambientes repletos de sombra e névoa, o filme estabelece bem um clima macabro e dá uma sensação de que coisas horríveis podem acontecer. A questão é que apesar da boa ambientação, há uma escassez de tensão ou sustos durante a projeção. Depois dos primeiros minutos estabelecerem o que está afligindo a família, imaginamos que assim que Davi chegar à casa, os fenômenos começarão a se manifestar sobre ele, mas ao invés disso temos mais uma longa cadeia de diálogos expositivos que explicam coisas que já sabemos.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Crítica - Independence Day: O Ressurgimento



O primeiro Independence Day (1996) não era lá grande coisa, mas funcionava como uma diversão descartável e descompromissada graças aos efeitos especiais que criavam uma destruição em larga escala e ao carisma de Will Smith. Vinte anos depois, esses efeitos especiais se tornaram lugar comum em grandes produções de Hollywood e Will Smith preferiu não voltar para a continuação. Assim, esse Independence Day: O Ressurgimento já nascia como um projeto desprovido daquilo que chamava atenção do primeiro (a inovação visual e o seu astro) deixando em dúvida se seria capaz de entregar algo que preste e a verdade é que realmente não consegue.

Vinte anos depois do primeiro filme, a Terra vem se preparando para uma nova ofensiva dos alienígenas, com David Levinson (Jeff Goldblum) liderando a força-tarefa responsável. O ex-presidente Whitmore (Bill Pullman) começa a ter visões envolvendo o retorno dos inimigos e avisa sua filha Patricia (Maika Monroe, do ótimo Corrente do Mal), mas ninguém lhe dá ouvidos, julgando ser estresse pós-traumático. Apesar de toda a preparação, nada estava à altura do novo ataque, que mais uma vez parece prestes a extinguir a raça humana.

Se a história anterior não era exatamente um primor narrativo, pelo menos ia direto ao ponto, rapidamente estabelecendo a ameaça e fazendo os arcos dos personagens convergirem rapidamente para dar prosseguimento à ação. Esse novo filme não consegue fazer nem isso e na marca dos quarenta minutos, de um total de cento e vinte, ainda está introduzindo seus personagens quando já deveria estar iniciando o conflito.