Montanhas são um símbolo de resistência e resiliência diante da passagem do tempo. Muitas se formaram bem antes dos primeiros seres vivos saírem dos oceanos, existem até hoje e provavelmente continuarão a existir mesmo quando a humanidade não habitar mais este planeta. Assim, quando o cineasta chinês Jia Zhang-ke intitula seu novo filme como As Montanhas se Separam, há uma clara intenção de falar sobre a passagem do tempo e o desgaste que ele inevitavelmente promove nas relações humanas, levando ao afastamento entre pessoas que outrora pareciam tão próximas.
A trama acompanha Tao (Tao Zhao),
uma jovem cujo afeto é disputado pelos dois amigos, Jinsheng (Yi Zhang) e
Liangzi (Jing Dong Liang). A partir disso, vamos vendo como essas pessoas e
aquelas ao redor vão, ao longo de cerca de trinta anos, se afastando ou se
reencontrando.
Como de costume em seus
trabalhos, Zhang-ke filma com longos planos e poucos cortes e sua câmera está
quase sempre focada em Tao (a quem acompanhamos durante a maioria do filme),
registrando suas reações e contemplações com o mundo à sua volta. A atriz Tao
Zhao é o centro emocional do filme, como uma mulher que parece encontrar
felicidade e serenidade na solidão. Estando quase sempre no foco das cenas,
Zhao traz bastante nuance e delicadeza para a sua personagem em seus três
períodos, primeiro como uma jovem sagaz e cheia de energia, depois como uma mãe
cheia de ansiedade e conflito pela relação complicada com o filho distante e
depois como alguém em paz consigo mesma no belíssimo desfecho.