Quando escrevi sobre O Som ao Redor (2013), trabalho anterior do pernambucano Kleber Mendonça Filho, falei sobre minha dificuldade em discorrer sobre o filme por não sentir que conseguiria dar conta da riqueza obra e fazer jus às suas qualidades. Pois a mesma sensação tomou conta de mim quando sentei ao computador para tentar falar sobre minha experiência com este Aquarius, que tem tanto a dizer sobre nossa sociedade, nossa relação com as cidades, com a história e com nossa memória coletiva e individual, que temo não ser capaz de dar conta do tanto que esse filme nos fala como indivíduos e como povo.
A trama segue Clara (Sônia Braga)
uma jornalista aposentada cujo modesto prédio, que fica de frente para a praia
de Boa Viagem, está sendo comprado por uma construtora para ser demolido e dar
lugar a um grande condomínio de luxo. A questão é que Clara, que viveu ali
quase que sua vida inteira, é a única que ainda não vendeu o seu apartamento
para a construtora e o jovem engenheiro responsável pelo projeto, Diego
(Humberto Carrão), começa a ficar impaciente com a insistência da senhora em
não deixar o seu lar.