quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Crítica - Animais Fantásticos e Onde Habitam

Análise Animais Fantásticos e Onde Habitam


Review Animais Fantásticos e Onde HabitamPor mais que tenha gostado dos filmes da franquia Harry Potter, quando soube do anúncio deste spin-off, Animais Fantásticos e Onde Habitam, minha reação foi "precisa mesmo?". A preocupação aumentou quando a Warner Bros anunciou a intenção de fazer dele uma trilogia e, depois ainda expandiu seus planos para um total de cinco filmes. A verdade é que mesmo com toda a desconfiança, o filme é um retorno encantador e divertido, ainda que com problemas, ao universo mágico da franquia.

A trama se passa nos anos de 1920 e leva o bruxo Newt Scamander (Eddie Redmayne) para Nova Iorque quando seus animais fogem e ele precisa correr pela cidade para encontrá-los e guardá-los em sua maleta. É também a história do auror Percival Graves (Colin Farell) que trabalha para a versão estadunidense do Ministério da Magia e investiga uma família de pessoas não mágicas que odeia o universo da magia.

De cara chama atenção o contraste entre as duas tramas principais do filme. De um lado temos Newt e seus amigos em uma aventura leve e pueril em busca de seres fantásticos, de outro uma trama sombria com morte, traumas, violência infantil e infâncias despedaçadas. Os filmes de Harry Potter sempre souberam equilibrar leveza e seriedade, mas lá eram os mesmos protagonistas que passavam por entre essas duas situações e tudo parecia orgânico. Aqui, com duas tramas em tons opostos correndo em paralelo e demorando para se encontrarem, fica a sensação de que pegaram ideias para dois filmes distintos e colocaram juntas para tentar preencher a minutagem necessária para um longa metragem. É esquisito e contrastante ver o Newt fazendo uma divertida dança de acasalamento para capturar uma criatura e logo em seguida vermos Credence (Ezra Miller) sofrer uma brutal violência psicológica.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Crítica - Um Estado de Liberdade



Muitas histórias já foram contadas sobre a Guerra Civil americana e os conflitos causados pela tentativa do sul do país em se separar do resto da União. Nesse sentido Um Estado de Liberdade conseguia se destacar ao resgatar uma história pouco conhecida de dissidência dentro do movimento de secessão que mostrava como mesmo no racista sul haviam pessoas progressistas. A questão é que mesmo com suas boas intenções, o filme tem muitos problemas que o impedem de ter o impacto que deveria.
                                 
A trama segue a história real de Newt Knight (Matthew McConaughey) um soldado do sul que resolve desertar depois de presenciar inúmeras mortes e se dar conta de que estão lutando apenas para que os ricos fazendeiros donos de escravos possam manter seus privilégios. Voltando à sua cidade natal, Newt percebe como a população é constantemente oprimida e saqueada pelos militares, que cobram abusivos "impostos de guerra". Cansado da exploração, ele decide resistir aos militares e acaba criando uma comunidade dentro dos pântanos composta por outros cidadãos descontentes e escravos fugidos.

Um dos principais problemas do filme é o ritmo. A trama demora a engrenar e se perde em vários segmentos episódicos de Newt ajudando pequenos camponeses. Só com quase uma hora de projeção é que finalmente se desenha o conflito principal que é a formação de sua "comunidade alternativa". A partir daí imaginei que a narrativa finalmente tomaria corpo, mas estava enganado, ela se torna ainda mais fragmentada e episódica. A cada uma ou duas cenas há um salto de anos (o filme inteiro se passa ao longo de uns quinze anos) sem que haja a devida contextualização para situar o espectador no que aconteceu nesse tempo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Crítica - Sob Pressão

Análise - Sob Pressão


Review Sob Pressão
Tenho que admitir que não tive muitas expectativas quando entrei para assistir a este Sob Pressão, já que parecia não ter muito a acrescentar ao subgênero do drama médico, tão vigorosamente explorado por séries de televisão estadunidenses, além de situá-lo no contexto brasileiro, em especial o de comunidades periféricas. A verdade é que embora não chegue a ser inovador, o filme funciona bem graças a sua habilidade em manejar a tensão e seu grupo de personagens que constantemente se encontra diante de dilemas e escolhas dificílimas.

O filme segue o médico Evandro (Júlio Andrade), chefe da unidade de cirurgia de um hospital situado em um morro carioca. Evandro está a mais de um dia trabalhando sem parar e quando pensa que terá algum momento de descanso, ambulâncias chegam ao hospital trazendo um policial e um traficante feridos em um recente tiroteio. Além de ser pressionado pela polícia para cuidar primeiro do policial, embora seu estado seja menos grave que o do traficante, ele também precisa lidar com outros feridos que chegam ao hospital e tomar decisões em relação ao uso dos recursos limitados (materiais e humanos) que tem ao seu dispor.

Crítica - Gente Bonita

Análise Gente Bonita


Review Gente Bonita
Apesar de ser constantemente tratado como uma festa de rua, nos últimos anos o carnaval de Salvador viu crescer cada vez mais o número e o tamanho dos camarotes privados, que comportam cada vez mais pessoas. Este Gente Bonita tenta justamente compreender a lógica desses espaços e de seus frequentadores.

O filme é todo filmado em pau de selfie e pelos próprios personagens, que de antemão já sabiam que suas imagens iriam parar neste documentário. Como muito da visão do diretor é impressa através da montagem, o documentário assume um risco já na seleção de seus personagens, já que se eles não rendessem haveria pouco a ser mostrado. Felizmente a maioria dos sujeitos filmados trazem momentos que de fato servem para levantar as discussões que o filme se propõe, sendo o grupo de três amigas o único que não "rende" muito material interessante (talvez fosse melhor deixá-las de fora do corte final).

domingo, 13 de novembro de 2016

Crítica - A Cidade Onde Envelheço

Análise A Cidade Onde Envelheço


Review A Cidade Onde EnvelheçoQuando se viaja para outro país é inevitável não sentir as diferenças de cultura, comportamento e vivências, assim como também o é a saudade do lugar que se deixou para trás. Diante desse sentimento de estar em um ambiente ao qual "não pertencemos", como é que o transformamos em lar? Como é esse processo no qual um lugar que tão externo a si se torna parte de si? São essas perguntas que este A Cidade Onde Envelheço tenta explorar.

Teresa (Elizabete Francisca Santos) é uma jovem portuguesa que decide vir para o Brasil e vai morar com a amiga, também portuguesa, Francisca (Francisca Manuel) em Belo Horizonte. Francisca tem receio em abrigá-la por apreciar morar sozinha, mas os modos expansivos e cheios de energia da amiga a contagiam e elas formam um laço conforme tentam desenvolver suas relações de pertencimento (ou não) com aquela cidade.

Chama a atenção o naturalismo do filme e a impressão de que não estamos vendo personagens ou situações encenadas, mas pessoas reais, errantes pela vida, e seu cotidiano. Não nos sentimos espectadores, mas colegas de quarto de Teresa e Francisca vivenciando suas experiências ao lado delas. Uma sensação que remete aos trabalhos do também mineiro André Novais e o seu Ela Volta na Quinta (2014).

sábado, 12 de novembro de 2016

Crítica - A História Real de um Assassino Falso

Análise A História Real de um Assassino Falso


Review A História Real de um Assassino Falso
"Porque continuo insistindo nisso?". Essa foi a pergunta que constantemente pulava em minha mente conforme avançava assistindo a este A História Real de um Assassino Falso. Uma comédia de ação produzida pela Netflix tão rasa e preguiçosa que o prospecto de simplesmente deixar de assistir era altamente sedutor.

O filme acompanha Sam (Kevin James), um homem infeliz com sua vida que encontra uma medida de alegria ao tentar escrever um livro de ação e espionagem. Ele usa seu alter-ego literário para projetar suas frustrações e se reimagina como um herói de ação infalível. Seu livro, no entanto, é constantemente rejeitado e a única pessoa disposta a publicá-lo é uma maluca editora de livros digitais. Sem alternativas, Sam aceita, mas a editora resolve tratar seu livro como uma autobiografia para alavancar as vendas. Obviamente, muitas pessoas acham que ele é um assassino real e a partir daí, Sam entra em muitas confusões.

Kevin James faz o mesmo tipo de idiota atrapalhado que faz em todos os seus filmes. Boa parte das piadas são gags óbvias que parecem escritas por aquele seu tio que sempre conta as mesmas piadas nos almoços de domingo, mas se acha um exímio comediante. Os poucos momentos engraçados são os que estão no trailer e mesmo suas tentativas em brincar com os clichês dos filmes de ação passam longe da sagacidade ou do nonsense de comédias bem mais divertidas como Chumbo Grosso (2007) ou Segurando as Pontas (2008).

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Crítica - Cinema Novo

Análise Cinema Novo


Review Cinema Novo
O movimento do Cinema Novo foi um dos mais importantes para o cinema brasileiro e é referência de nossa cinematografia tanto nacional quanto internacionalmente. Seus produtos até hoje continuam a impactar a produção nacional, assim como os valores defendidos por muitos cineastas que participavam do movimento ou eram contemporâneos a estes. Este Cinema Novo de Eryk Rocha tenta entender o espírito, a visão e as referências que guiavam os cineastas do período usando áudios e imagens de arquivo com falas desses realizadores, bem como as imagens e sons dos próprios filmes realizados por eles.

Seria muito fácil produzir um documentário com um caráter mais histórico e didático, com especialistas, historiadores e críticos falando sobre o que foi o Cinema Novo, quem fez e qual sua importância, mas esse não é o foco de Rocha aqui. Ele se importa mais com a potência estética e ideológica do movimento do que em uma narrativa histórica, daí sua escolha por algo narrado em, digamos, primeira pessoa, ou seja, da boca dos próprios cineastas do período como Joaquim Pedro de Andrade, Nelson Pereira dos Santos, Leon Hirszman e, claro Glauber Rocha, pai de Eryk. A escolha por esses depoimentos também facilita nossa aproximação com esses cineastas e evita um relato mais distanciado, mistificado ou mesmo demasiadamente reverente a eles, deixando que eles se apresentem a nós com suas ideias e contradições.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Crítica - Martírio

Análise Martírio


Resenha Martírio
Depois de denunciar o massacre às populações indígenas de Rondônia em Corumbiara (2014), o indigenista Vincent Carelli trata neste Martírio da situação dos Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, que ganharam o noticiário nacional depois de publicarem uma carta aberta falando que só deixariam suas terras depois de mortos. Assim como em seu filme anterior, Martírio mostra como o Estado, com o apoio de determinados setores da população, sistematicamente marginaliza e contribui para o extermínio dessas populações. Se visto ao lado de Corumbiara, mostra como isso é algo que atinge praticamente todas as populações indígenas do país.

O filme vai didaticamente mostrando como a questão dos Guarani-Kaiowá vem desde o fim da Guerra do Paraguai, quando suas terras foram anexadas ao Brasil e tratadas pelo Estado brasileiro como devolutas (ao invés de território indígena), sendo passada a pessoas de posses para a atividade agrícola. A partir daí, os indígenas se tornaram uma espécie de "inconveniente", sendo jogados de um lado para o outro em acampamentos que ficavam distantes de sua terra de origem enquanto o governo tentava "civilizá-los".

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Crítica - Pequeno Segredo

Resenha Pequeno Segredo


Review Pequeno Segredo
A história real de uma família que adota uma criança com HIV poderia verdadeiramente render um drama poderoso e inspirador, mas este Pequeno Segredo não consegue fazer nada de interessante com a premissa que tem em mãos, prejudicado por um texto raso e uma narrativa truncada e sem ritmo.

O filme segue a história real de Vilfredo (Marcello Anthony) e Heloísa Schurmann (Júlia Lemmertz) que adotaram a menina Kat (Mariana Goulart). Paralelamente também conta a história dos pais da menina, o neozelandês Robert (Erroll Shand) e a paraense Jeanne (Maria Flor), que contrai o vírus ao receber uma transfusão de sangue contaminado. Permeando as duas histórias está Barbara (Fionulla Flanagan), a amarga e xenófoba mãe de Robert.

Já nos primeiros minutos o filme mostra sua falta de ritmo e inabilidade em estabelecer seus personagens de maneira fluida e orgânica ao recorrer a três longas narrações em off de Heloísa, Kat, Robert. Cada uma delas serviria por si só como um bom início, mas ao usar as três em sequência, cria-se uma série de "falsos inícios" que levam cerca de vinte minutos só para efetivamente fazer o filme começar. Algo similar ao que acontecia no primeiro O Hobbit (2012), que tínhamos uma longa série de narrações sobre tópicos diferentes até que finalmente o filme começasse. Ainda por cima, essas narrações iniciais explicam muito, mas tem muito pouco a dizer sobre quem realmente são essas pessoas ou como elas se tornaram daquele jeito. Robert chega a dizer em dado momento que sempre partia quando a situação ficava desfavorável, mas o filme nunca se esforça em tentar entender de onde vem esse impulso do personagem.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Crítica - Horizonte Profundo: Desastre no Golfo

Análise Horizonte Profundo


Resenha Horizonte Profundo Desastre no Golfo
Quando escrevi sobre Terremoto: A Falha de San Andreas (2015) disse que "filmes catástrofe são normalmente mais focados na criação do espetáculo destrutivo do que em elaborar uma narrativa envolvente ou personagens interessantes". Quando temos ainda um filme catástrofe baseado em uma tragédia real, espera-se também uma certa medida de sentimentalismo em relação às pessoas que lutaram pela sobrevivência. A mistura por vezes funciona, como em O Impossível (2012), mas pesar a mão no sentimentalismo pode descambar fácil para um sensacionalismo apelativo e é isso que acontece neste Horizonte Profundo: Desastre no Golfo.

Baseado no incidente da plataforma Deepwater Horizon, o maior vazamento de petróleo a acontecer na costa dos Estados Unidos. O filme acompanha o engenheiro Mike (Mark Wahlberg) que vai trabalhar na plataforma e percebe que os executivos da companhia, ansiosos com os atrasos no cronograma, estão querendo pular as verificações de segurança. Obviamente tudo dá muito errado e os operários precisam dar um jeito de evitar um desastre maior e esvaziar a plataforma.