segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Crítica - Sully: O Herói do Rio Hudson



Fazer um filme baseado em uma tragédia (ou prevenção desta, como é o caso aqui) real é sempre uma faca de dois gumes. Por um lado o interesse que esse tipo de história desperta é, em certa medida, uma garantia de público. Por outro, sempre há o risco de se descambar para um maniqueísmo simplório ou de se pesar a mão no ufanismo e no drama (como o recente Horizonte Profundo: Desastre no Golfo). Felizmente o veterano Clint Eastwood evita esses problemas neste Sully: O Herói do Rio Hudson.

O filme acompanha o piloto Chesley "Sully" Sullemberger (Tom Hanks), que se tornou famoso por conseguir aterrissar um avião cheio de passageiros no Rio Hudson em Nova Iorque e salvar todos à bordo. Depois dos eventos, as ações de Sully e seu copiloto, Jeff Skiles (Aaron Eckhart), são postas em questão pelo comitê governamental responsável por investigar o caso, levantando a possibilidade de que suas ações tenham posto todos diante de um risco desnecessário.

O roteiro é esperto ao começar com Sully em seu hotel, já depois do acidente. O pouso forçado é um evento extremamente climático e impactante para ser mostrado já de início, quando o público ainda está "frio" seria desperdiçar a cena. Do mesmo modo, começar o filme no antes para culminar na aterrissagem provavelmente renderia algo pouco interessante e arrastado. O foco é menos na reconstituição da catástrofe e mais no modo como Sully lida com isso tudo. Do sentimento de sufocamento com a constante atenção (ou seria assédio?) midiático, ilustrado pelos constantes closes em seu rosto, e de sua inadequação ao status de herói, passando por suas dúvidas e inseguranças em relação às suas ações dentro do avião.

domingo, 27 de novembro de 2016

Crítica - 3%: Primeira Temporada



Review 3% (Três por cento) é prejudicado por um roteiro problemático
O anúncio de uma série brasileira feita pela Netflix foi recebido com grande expectativa. O serviço de streaming se tornou conhecido pelo alto nível das suas produções originais em ficção seriada e a ideia de um seriado nacional de ficção-científica cheio de subtextos políticos e sociais parecia algo ousado e à altura do padrão estabelecido pela Netflix. Não que estivéssemos esperando que este 3% já estreasse como algo no alto nível de série como House of Cards e Orange is the New Black, afinal os EUA tem uma tradição longa de séries, enquanto que a televisão brasileira, tradicionalmente mais focada na telenovela (e falo isso sem nenhum julgamento de valor acerca deste formato), ainda está começando a aprender a lidar com este tipo de produto. De qualquer modo, essa primeira temporada de 3% acaba tendo problemas demais em sua execução, o que impede que a experiência seja minimamente satisfatória.

A trama se passa em um futuro no qual a humanidade foi dividida em dois grupos, os cidadãos do continente são a maioria e vivem em extrema pobreza, largados à sua própria sorte, enquanto que uma minoria, os 3% do título, vive com toda riqueza em uma comunidade no oceano chamada Maralto. Quando completam 20 anos, os cidadãos do continente são submetidos a uma seleção chamada de "O Processo", na qual eles precisam superar uma série de provas complicadas para mostrarem que são dignos de integrarem a elite dos 3%. Aqueles que passarem irão para o Maralto, os que perdem ficam no continente.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Crítica - Jack Reacher: Sem Retorno

Análise Jack Reacher: Sem Retorno


Review Jack Reacher: Sem Retorno
Com o relativo sucesso do primeiro filme, Tom Cruise retorna como o ex-militar Jack Reacher neste Jack Reacher: Sem Retorno, uma continuação que, assim como o anterior, funciona como um passatempo descompromissado ainda que não ofereça nada de especial.

Na trama, Reacher (Tom Cruise) vai a Washington D.C visitar a major Turner (Cobie Smulders), mas descobre que ela foi presa, acusada de traição. Acreditando na inocência da amiga e que o exército está disposto a condená-la para enterrar de vez o caso, Reacher decide tirá-la da prisão e assim partem em uma viagem pelo país para provar sua inocência. Ao mesmo tempo, Reacher precisa lidar com a presença de Sam (Danika Yarosh), uma jovem que pode ser sua filha.

O filme é eficiente em criar a impressão de que os protagonistas estão acuados e que há um perigo real sobre eles. Isso não acontecia no primeiro, quando Reacher parecia sempre estar à frente de seus oponentes ao ponto de nada que eles fizessem soava como uma ameaça. Há a constante sensação de que eles estão isolados, sem ninguém para confiar exceto uns nos outros e a única arma que possuem é a própria astúcia. Inclusive cria situações bacanas nas quais as habilidades de Reacher em improvisar e investigar são constantemente exploradas. Além disso os combates refletem a natureza implacável e direta do protagonista que sempre se movimenta para causar o máximo de dano possível em seus inimigos e são beneficiados pelo fato de Cruise fazer a maioria de suas cenas de ação.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Crítica - A Chegada

Análise A Chegada


Resenha A Chegada
Não vai ser fácil ter que discorrer sobre este A Chegada de Denis Villenueve (responsável por Os Suspeitos e Sicario: Terra de Ninguém). Não digo isso apenas pela complexidade das ideias e conceitos que o filme tenta tratar, mas pelo impacto emocional que ele teve em mim. Tentar construir uma análise ponderada quando há um componente afetivo tão marcante ligado a um filme é bastante complicado.

A trama segue Louise (Amy Adams) uma brilhante linguista que é chamada pelo exército dos Estados Unidos para colaborar na tentativa de estabelecer contato com uma nave alienígena que aterrissou no interior do país. Ao lado dela está o cientista Ian (Jeremy Renner) e ambos precisam correr contra o tempo para entender o que querem os visitantes, já que naves semelhantes pousaram em outros lugares do mundo e outros países temem se tratar de uma invasão.

O filme acerta no modo como constrói de maneira econômica e direta a sensação de algo em escala global e o impacto que um evento como esse teria no planeta. Através de breves matérias jornalísticas ou conversas telefônicas dos membros da base em Louise passa a viver vamos percebendo como aquilo impacta a política, economia, o cotidiano e até as instituições religiosas. Tudo de maneira simples, mas bastante crível e imagino que coisas semelhantes às do filme se repetiriam se algo assim acontecesse em nosso mundo.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Crítica - Elis

Análise Crítica - Elis


Review - Elis
Faz algum tempo que o cinema brasileiro descobriu nas cinebiografias de músicos um grande filão comercial. Além do interesse do público em saber mais sobre a vida desses artistas, há também o próprio apelo de suas músicas para engajar e emocionar o espectador. Elis é o mais recente dessa leva de cinebiografias e mesmo seguindo uma estrutura bem tradicional a este tipo de filme, funciona graças ao talento de Andreia Horta com a personagem título, além da força da trajetória da cantora na música brasileira.

A trama segue Elis Regina (Andreia Horta), de sua chegada ao Rio de Janeiro até sua trágica morte por overdose (e isso não é spoiler pessoal). Ao longo da trama vemos algumas de suas parcerias mais marcantes como Jair Rodrigues (Ícaro Silva) e também seus relacionamentos com Ronaldo Bôscoli (Gustavo Machado) e Cesar Camargo Mariano (Caco Ciocler).

Assim como aconteceu em outras cinebiografias como Tim Maia (2015) ou Gonzaga: De Pai Para Filho (2013), o filme encontra alguns problemas ao abarcar um período tão grande na vida de seu biografado. Muita coisa que recebe destaque em dado momento é completamente esquecida no seguinte sem muita explicação. Um exemplo é o programa de Elis e Jair Rodrigues. Uma cena mostra o sucesso deles, a seguinte já diz que eles estão perdendo terreno para a Jovem Guarda, logo depois o Bôscoli e o Miele (Lúcio Mauro Filho) são trazidos para revitalizar o programa, mas assim que Elis e Bôscoli se envolvem romanticamente, o programa desaparece do filme por completo. Em muitos momentos também não há a sensação clara de quanto tempo passou entre uma cena e outra. Por vezes temos a impressão de um salto temporal grande, mas os diálogos se referem a eventos de cenas que ficaram para trás a um tempo considerável quase como se fossem recentes, o que  deixa a impressão de uma temporalidade bagunçada.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Crítica - American Horror Story: Roanoke

Análise American Horror Story: Roanoke


Review American Horror Story: Roanoke
O tema da sexta temporada de American Horror Story foi um segredo mantido a sete chaves até a sua estreia. Imagens dos sets vazadas na internet já indicavam a possibilidade da colônia perdida de Roanoke ser um elemento proeminente da nova temporada, mas esse nem foi a maior surpresa da estreia da nova temporada. O que realmente pegou todo mundo desprevenido foi o formato de "falso documentário" adotado no episódio de estreia. Avisamos que alguns SPOILERS da temporada são inevitáveis a partir desse ponto.

A temporada começa com um "falso documentário" no qual o casal Matt (André Holland) e Shelby (Lily Rabe) narra uma série de eventos tenebrosos que ocorreram em sua propriedade, no interior da Carolina do Norte, na qual fantasmas dos colonos de Roanoke vagavam e matavam que quer que se aproximasse. Entre os depoimentos vemos algumas dramatizações dos eventos contados, funcionando como flashbacks que mostram como Matt (Cuba Gooding Jr) e Shelby (Sarah Paulson) sobreviveram ao tormento.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Crítica - A Luta do Século

Análise Crítica - A Luta do Século


Review - A Luta do Século
Para quem é da Bahia ou de Pernambuco e acompanha o universo esportivo é difícil não conhecer a rivalidade entre os boxeadores Reginaldo Holyfield (baiano) e Luciano Todo Duro (pernambucano), que estende há mais de duas décadas. Mesmo longe do auge de suas formas físicas eles continuam a alimentar essa rivalidade e se enfrentarem nos ringues. O documentário A Luta do Século, tenta recuperar essa história de rivalidade esportiva, ao mesmo tempo que pensa no modo como nos relacionamos com nossos ídolos.

O documentário começa narrando a ascensão dos dois lutadores e a origem da rivalidade, passando pelos problemas pessoais que levaram suas carreiras a ficarem estagnadas ao ponto que explorar a rivalidade era a única cartada que tinham para continuarem lutando e ganhando a vida com o boxe. Inicialmente parece mais uma grande reportagem saída de um programa esportivo do que um documentário. Mesmo quando o filme sai do passado e se move para o presente, mostrando como vivem agora os atletas, ainda parece um daqueles quadros de "por onde andam?" de programas de esporte. A narrativa só ganha corpo quando Raimundão Ravengar, traficante baiano e ex-empresário dos dois, sai da cadeia em liberdade condicional e sugere que os dois marquem uma nova luta.

Vencedores do XII Panorama Internacional Coisa de Cinema


O XII Panorama Internacional Coisa de Cinema terminou nesta quarta-feira, 16 de novembro. Além da sessão de encerramento com a exibição do documentário A Luta do Século, de Sérgio Machado, que acompanha a história de rivalidade dos boxeadores Reginaldo Holyfield e Luciano Todo Duro, houve também a entrega dos prêmios aos filmes que participavam das diferentes mostras competitivas. O maior premiado da noite foi o documentário Jonas e o Circo Sem Lona que recebeu três prêmios mesmo ser levar a premiação do Júri Oficial. Confiram abaixo a lista de vencedores.

Crítica - Jonas e o Circo Sem Lona

Análise Jonas e o Circo Sem Lona


Review Jonas e o Circo Sem Lona
Durante a infância quem nunca se imaginou sendo um astronauta, caubói ou um trapezista de circo? Quem, quando criança, nunca imaginou poder viver uma vida aventurosa e sem grandes preocupações fazendo apenas o que gosta? O documentário Jonas e o Circo Sem Lona nos leva a um personagem que pensa exatamente assim, o garoto Jonas, que tem o sonho de ser um artista de circo e até monta um circo improvisado no quintal de sua mãe com a ajuda de amigos de escola.

Jonas é um garoto que mora na região metropolitana de Salvador, sua mãe e sua avó foram artistas de circo e um tio seu é dono de um e viaja o país fazendo espetáculos. O jovem também deseja se juntar ao circo, mas sua mãe, preocupada com seu futuro, quer ele na escola, mas permite que o garoto monte um circo no quintal e faça espetáculos ao lado de amigos em suas horas vagas.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Crítica - Animais Fantásticos e Onde Habitam

Análise Animais Fantásticos e Onde Habitam


Review Animais Fantásticos e Onde HabitamPor mais que tenha gostado dos filmes da franquia Harry Potter, quando soube do anúncio deste spin-off, Animais Fantásticos e Onde Habitam, minha reação foi "precisa mesmo?". A preocupação aumentou quando a Warner Bros anunciou a intenção de fazer dele uma trilogia e, depois ainda expandiu seus planos para um total de cinco filmes. A verdade é que mesmo com toda a desconfiança, o filme é um retorno encantador e divertido, ainda que com problemas, ao universo mágico da franquia.

A trama se passa nos anos de 1920 e leva o bruxo Newt Scamander (Eddie Redmayne) para Nova Iorque quando seus animais fogem e ele precisa correr pela cidade para encontrá-los e guardá-los em sua maleta. É também a história do auror Percival Graves (Colin Farell) que trabalha para a versão estadunidense do Ministério da Magia e investiga uma família de pessoas não mágicas que odeia o universo da magia.

De cara chama atenção o contraste entre as duas tramas principais do filme. De um lado temos Newt e seus amigos em uma aventura leve e pueril em busca de seres fantásticos, de outro uma trama sombria com morte, traumas, violência infantil e infâncias despedaçadas. Os filmes de Harry Potter sempre souberam equilibrar leveza e seriedade, mas lá eram os mesmos protagonistas que passavam por entre essas duas situações e tudo parecia orgânico. Aqui, com duas tramas em tons opostos correndo em paralelo e demorando para se encontrarem, fica a sensação de que pegaram ideias para dois filmes distintos e colocaram juntas para tentar preencher a minutagem necessária para um longa metragem. É esquisito e contrastante ver o Newt fazendo uma divertida dança de acasalamento para capturar uma criatura e logo em seguida vermos Credence (Ezra Miller) sofrer uma brutal violência psicológica.