Não existe uma maneira única de
lidar com a perda de um ente querido. Muitas vezes sequer há a superação
completa dessa perda e aquela ausência continua a ser sentida o resto da vida,
como uma ferida que nunca fecha. Ainda assim, a vida continua, é preciso seguir
em frente e é justamente sobre pessoas tentando reajustar suas vidas depois de
uma perda que esse Manchester à Beira Mar
trata.
O filme segue Lee (Casey
Affleck), um homem que trabalha como zelador de prédio e vive em um pequeno
quartinho. Sua vida é abalada quando ele retorna à sua cidade natal ao receber
a notícia da morte de seu irmão Joe (Kyle Chandler) e que o testamento dele o
aponta como guardião de seu filho adolescente, Patrick (Lucas Hedges). Agora ele
precisa lidar com sua nova situação ao mesmo tempo em que o retorno à cidade
desperta memórias de traumas antigos.
Casey Affleck faz de Lee um homem
que tenta se ocupar com os afazeres diários para não ter que confrontar a dor
da morte de irmão e outras dores passadas. Ele sempre parece taciturno e
focado, mas quando qualquer coisa interrompe seu fluxo ou lhe contraria, ele
imediatamente desmorona e reage de um modo desmedidamente agressivo, revelando
toda dor e frustração que há dentro dele, quase como se quisesse descontar tudo
aquilo em cima dos outros. Mesmo nas cenas em que parece sério e direto,
Affleck deixa transparecer em seu olhar opaco, perdido e em sua linguagem
corporal retraída e cabisbaixa o quanto Lee não está bem. A primeira metade do
filme vai entrecortando os eventos do presente com flashbacks do passado que vão mostrando o que levou ao seu
afastamento da cidade e quando a revelação vem, ela é tão potente e vívida que
nos atinge com força e nos deixa sem ar mesmo quando já esperávamos por uma
grande tragédia.